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sexta-feira, novembro 26, 2010

A coisa já tava russa pro velhinho manguaça...

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Polad Bülbüloglu foi um ídolo da música jovem soviética nos anos 1960, trasnformando-se depois num expoente da música romântica - uma espécie de Roberto Carlos dos comunistas, mais ou menos. Curioso é que, após a extinção da URSS, tornou-se político e embaixador do Arzebaijão na Rússia. Na foto acima, aparece cumprimentando o primeiro-ministro russo Vladimir Putin. Mas gostaria de registrar aqui um vídeo de 1967 com sua hilária interpretação da não menos hilária "Shake", musiquinha estilo "jovem guarda" (expressão que, ironicamente, foi criada por outro Vladimir russo, o Lenin). Polad se esmera na dancinha, nos gritos "ô-ô-ô-ô" e num intraduzível "arabá-papêrebê-pepepê", ou coisa que o valha. Porém, o mais bizarro é o velhinho manguaça que aparece lá pelo 01:22, com sua garrafa de vodka e batendo palma sem saber pra onde ou por quê. No finzinho do vídeo, ele nem espera a música acabar para abastecer o copo novamente:



Ps.: E pra quem ainda conjectura sobre a origem da expressão "trololó", comumente usada por José Serra, vai uma pista na voz do "feliz" barítono russo Eduard Khil, o "Senhor Trololó", em performance incrível, indescritível, inenarrável e inacreditável de 1976. Absolutamente imperdível:

Serra não larga o osso e Aécio rosna

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O beijo do Judas

Quando o derrotado José Serra apareceu no Congresso Nacional em Brasília, anteontem, a irritação dos tucanos que são aliados do senador eleito Aécio Neves foi visível. Sem compromissos programados, Serra deu as caras "aparentemente em busca de espaço na mídia", conforme o jornal Valor Econômico. Depois das eleições presidenciais, como era de se esperar, o racha no PSDB se aprofundou ainda mais. Os aliados de Serra e de Aécio trocam farpas publicamente. Quando Aécio criticou a hegemonia paulista e propôs uma "refundação" do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa de Serra, ao negar que o PSDB seja "muito avenida Paulista" ou precise ser refundado. Agora, a proposta de recriação da CPMF cava um novo abismo entre as duas facções tucanas.

Há três anos, quando a CPMF foi derrubada no Congresso, o partido já havia se dividido. Serra liderava a ala dos governadores tucanos favoráveis à continuidade da CPMF, enquanto senadores do PSDB e do DEM a combatiam. No cenário atual, o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, defende a volta da CPMF. Já Serra, agora sem cargos e de olho apenas na oposição, apelou para que o PSDB marche em bloco contra a volta do imposto, sob o risco de "quebrar" o partido. Para um dos principais deputados aliados a Aécio, Serra tenta, de forma "autoritária" e "à base de cotoveladas", liderar a fragilizada oposição. Até a serrista Folha de S.Paulo considerou a "visita-supresa" ao Congresso como o "primeiro passo do ex-governador de São Paulo para tentar ocupar a presidência do PSDB a partir de 2011".

O Valor Econômico publicou que "a postura de Serra, subindo o tom das críticas a Lula, foi interpretada pelos companheiros de partido como manifestação da intenção de comandar a oposição. Os tucanos que o acompanharam no Congresso dão como certo que Serra tentará disputar a Presidência da República novamente — projeto que não encontra entusiasmo no partido". Nisso, o deputado aecista Nárcio Rodrigues, presidente do PSDB mineiro, mandou um recado aos tucanos paulistas: "Vão ter que nos engolir. Fomos extremamente respeitosos à fila, concordando que em 2006 era a vez de Geraldo Alckmin e, em 2010, de Serra. Agora é a nossa vez". Das duas, uma: ou Aécio atropela Serra no PSDB ou sai e funda outro partido. Façam suas apostas.

quarta-feira, novembro 17, 2010

O verdadeiro mapa das eleições 2010

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Este mapa foi divulgado no Blog do Escrevinhador. Achei oportuno, por toda a discussão que houve em torno da "divisão" do Brasil entre eleitores de Dilma e Serra e que ainda precisa ser melhor compreendida. Foi elaborado pelo ilustrador Bruno Barros.

Nele as cores dos estados são nuançadas conforme o percentual de vermelho (votos em Dilma) e azul (votos em Serra). É interessante notar que praticamente não há diferença de tonalidade entre Mato Grosso e Pará, por exemplo. Ao mesmo tempo que as regiões onde o azul realmente predomina não são em estados tidos como emblemas do "desenvolvimento" e do Brasil "rico e educado", mas sim dois estados amazônicos e majoritariamente rurais, que são Acre e Roraima.


terça-feira, novembro 16, 2010

Mortes em rodovias no feriado: a culpa é do Lula

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A campanha de esgoto que o tucano José Serra fez este ano, nas eleições presidenciais, conseguiu trazer para os holofotes os setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira e acentuou à tensão máxima o ódio, o preconceito e a divisão raivosa entre nós. Como nunca antes na História desse país, a xenofobia entre compatriotas esteve tão explícita, orgulhosa e falando em tão alto e bom som.

Depois do revelador manifesto "São Paulo para os paulistas", que diz muito sobre o PSDB perpetuar-se no Palácio dos Bandeirantes desde 1995 (ou desde 1983, considerando que é praticamente o mesmo grupo que chegou ao poder com Franco Montoro), presenciamos a lamentável sequência de barbaridades no Twitter e a escalada oficial do preconceito em plena mídia de informação.

O mais recente (e triste) exemplo vem de Santa Catarina. No jornal da RBS, retransmissora da TV Globo no Sul do país, o comentarista Luiz Carlos Prates afirmou, sobre a alta incidência de mortes nas estradas no feriadão que se estendeu até segunda-feira (grifos nossos): "Antes de mais nada, a popularização do automóvel. Hoje, qualquer miserável tem um carro. O sujeito jamais leu um livro, mora apertado numa gaiola que hoje chamam de apartamento, não tem nenhuma qualidade vida, mas tem um carro na garagem".

Depois de dizer que o tal "miserável" ainda tem problemas matrimoniais e por isso desconta suas frustrações abusando da velocidade no trânsito, o comentarista volta à carga: "Popularização do automóvel, resultado deste governo espúrio, que popularizou pelo crédito fácil o carro para quem nunca tinha lido um livro. É isso".

Ou seja, o Lula é culpado por ter distribuído renda e dado o direito ao consumo e ao lazer aos "miseráveis analfabetos", culpados por todo e qualquer acidente de automóvel. Pelo o que dá a entender, os ricos, esses iluminados, nunca morrem nem matam ninguém no trânsito. Será?

Parabéns, José Serra. Colha com prazer o que você semeou:



Ps.: É sintomático que os lamentáveis comentários tenham vindo de Santa Catarina, estado que, a exemplo de São Paulo ("dos paulistas"), de Minas Gerais e do Paraná, também elegeu governador do PSDB. Vejam aí mais um exemplo da xenofobia que a campanha repulsiva dos tucanos fez emergir:

sábado, novembro 06, 2010

Uma ideia para Aécio

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O Aécio Neves está falando aos jornais em refundar o PSDB, para que o partido “recupere o seu sentido”. Eu não estou entendendo mais nada. Mas não foi o PSDB que saiu fortalecido dessas eleições? O partido que perdeu mas levou? Que governará a maior parcela de eleitores? Não foi o PSDB que inspirou, com seu candidato e segundo o próprio, a formação de uma “trincheira pela liberdade e pela democracia”? Por que refundar o que está dando tão certo?

Pois eu achei que isso era a coisa mais surpreendente que eu poderia ler na manhã de hoje. Mas não, imaginem. Quem conduziria esse processo? Notáveis do partido. Quem seriam esses notáveis, FHC? Sim, claro, FHC, juntamente com José Serra e Tasso Jereissati. Depois de me benzer, tentei entender o que é que está passando na cabeça do Aécio. Afinal, por que chamar para recriar as bases de um partido esse trio que, além de aposentado pelas urnas, consegue ser a reunião das figuras mais desagregadoras de que já ouvi falar?

Foi essa foto mesmo, dos sem-Serra, que eu não aguento mais a cara do cidadão

Aécio é um cara bacana, deve estar preocupado em arrumar assunto para os amigos veteranos, agora desocupados. Eu tenho uma ideia melhor, Aécio: chama mais um - por exemplo, o Caetano Veloso ou o Hélio Bicudo - e arma uma caxeta, buraco, truco, dominó, porrinha...

quinta-feira, novembro 04, 2010

A saudação dos canalhas

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Relendo a saga "O tempo e o vento", de Érico Veríssimo (uma edição do Círculo do Livro, de 1982), atentei para uma fala do personagem Rodrigo Terra Cambará, bisneto de "um certo capitão Rodrigo" e que torna-se um político corrupto da "côrte gaúcha" no primeiro governo de Getúlio Vargas, entre 1930 e 1945. Quando o presidente é deposto, ele volta às pressas para a imaginária cidade de Santa Fé, onde convalesce de um ataque cardíaco. Uma de suas amantes, Sônia, está hospedada num hotel e o político canalha pede ao amigo e alcoviteiro Neco que leve um bilhete dele para ela (o grifo é nosso):

Dobrou o papel, meteu-o num envelope e, sorrindo, entregou-o ao barbeiro:
- Capitão Neco, aqui está a mensagem. Veja se consegue passar as linhas inimigas... Se for preso, engula a carta. Viva o Brasil!


E eis que, para minha surpresa, o discurso do candidato José Serra, do PSDB (foto), após a confirmação de sua derrota nas eleições de 31 de outubro, terminou da seguinte forma (com novo grifo nosso):

- Por isso a minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua. Viva o Brasil!

Coincidência?

Pensamentos esparsos sobre Lula, Dilma, FHC e a oposição autofágica

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Lembro bem, quando Lula venceu a eleição de 2002, a primeira ação orquestrada da mídia foi tratar de “separá-lo" do PT. Isso se intensificou quando iniciou o governo com nomeações (como o Henrique Meireles) e medidas econômicas tidas como "ortodoxas", elogiadas como a continuidade de FHC – o que mostrou ser de grande prudência, já que uma mudança drástica fatalmente teria consequências indesejadas –, e ao mesmo tempo se falava em "radicais do partido" sempre desenhados como monstros rapinosos. O que se desenhou o tempo todo no discurso (e ainda permanece) foi que Lula estava acertando por continuar FHC e que isso acontecia contra a vontade de seus correligionários. A mídia, assim como a oposição, permaneceu cega quanto a todas as novidades que foram introduzidas, e acredito que haja aí uma boa dose de ilusão.

Nos tempos de FHC, aprendemos a acompanhar de perto a tal da "taxa de juros", que seria o grande instrumento do Estado para interferir na economia. Acho que muita gente chegou a acreditar (e ainda acredita) que o tal do tripé câmbio livre (praticado apenas no segundo mandato de FHC, diga-se), meta de inflação e superávit primário resuma o que o Estado pode fazer para interferir na economia. Talvez no mundo do Estado mínimo, desejado pelos tucanos, isso até seja de algum modo verdade. Não quero aqui desconsiderar que os grandes economistas tucanos ignorem a importância de outros fatores, mas é fato que a discussão ficava enrolada em torno desse ponto.

Também não há dúvida de que hoje a discussão está muito mais rica. Fala-se em infraestrutura, em microcrédito, em ampliação do mercado interno (vamos nos lembrar que foi Lula que fez os empresários brasileiros a aprenderem a lidar com a classe C e D, que passou a consumir) com o aumento do poder de compra dos salários mais baixos. Outra coisa que muitos não percebem: não creio que Lula seja contra privatizações "por princípio", mas sim porque quando o Estado não participa de igual para igual nas disputas no mercado os consumidores ficam à mercê de interesses privados (que naturalmente é o interesse das empresas). O Estado perde poder de pressão. Mas Lula mostrou, com a Vale, que o Estado deve defender seus interesses enquanto "sócio" que é da empresa (embora isso seja tratado como ingerência por muita gente).

Li isso por esses dias (não me lembro onde, que me perdoe a fonte não citada aqui). Enquanto FHC injetou dinheiro na economia pelo topo, por meio das privatizações, Lula injetou pela base, com microcrédito e aumento da renda das classes mais pobres. Por isso a política de FHC era essencialmente excludente (e o desemprego e as perdas salariais eram vistas como "o preço a se pagar pelo desenvolvimento") e a de Lula, essencialmente inclusiva. E mais segura, porque pulverizada, não concentrada.

O Bolsa Família, na verdade, embora importante, não é o grande diferencial. Dilma (e Serra também, vejam só) fala sempre nele porque sabe que é um programa que pegou, tem um potencial marqueteiro forte. Mas ela sabe muito bem que o principal está em outra parte.

Agora, com a vitória de Dilma, estão tentando consolidar o entendimento de que ela ganhou roubado, porque quem moveu as peças foi o Lula, que agiu "ilegalmente", já que "um chefe de Estado" não pode ser líder de partido. Obviamente, um dos requisitos normais de um chefe de Estado é que ele seja líder de partido. Mas o que espanta é que essa ilegalidade só existe na cabeça deles. É tão disparatado isso que me vejo obrigado a imaginar a situação de um presidente disputando reeleição sem poder fazer campanha para si mesmo, já que o hábito de chefe de Estado não permite. Ouvi de um tucano ainda que "o FHC não fez isso" quando Serra disputou pela primeira vez a presidência. Não custa lembrar que nas três últimas campanhas presidenciais, FHC foi escondido pelo "seu" candidato, já que suas aparições sempre resultaram em perda de votos por parte daqueles em cuja defesa ele vem.

Além disso, todos os olhos gordos agora estarão sobre Dilma, a tentar capturar cada um de seus deslizes, cada ameaça de titubeio que será anunciada como fraqueza e incapacidade. Não faltará veneno a cada dia. Tentarão desrespeitar Dilma, como o fizeram tantas vezes com o "presidente analfabeto". E se qualquer líder político trombar com a Dilma, isso poderá ser eventualmente ignorado, mas cada gesto do Lula será interpretado como uma mensagem para Dilma, que sem ele não saberia o que fazer. Mais ou menos como um jogo de truco político.

Acabou a eleição, mas a campanha apenas começou, alertou o vampiresco Serra. Vem mais chumbo por aí, podemos esperar, e darão todo o espaço que Serra desejar para falar (já dão para o FHC, imagine para alguém não senil...).

Enquanto isso, fecham os olhos para o fato de que a oposição (anunciada como a grande vitoriosa dessas eleições, tipo "perdeu mas levou") está se devorando a si mesma. Serra já tenta matar o Aécio, que não é bobo mas não terá tanta bala na agulha quanto dizem. Serra também não terá tanto apoio assim de Alckmin, que não vai esquecer as rasteiras que levou do colega careca; ao contrário, o opus dei vai reduzir o serrismo em São Paulo ao "mínimo indispensável". FHC dá show de declarações non-sense, e mostra justamente a desunião do partido. Sergio Guerra e Eduardo Jorge fatalmente se enrolarão nos desdobramentos do escândalo do Arruda. "Líderes" outrora importantes como Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes foram excluídos da cena principal. O Kassab já fala em sair do DEM, que agoniza.

Há que trabalhar muito agora, pois ganhar espaço nas eleições municipais de 2012 será mais um passo importante para o gradual desaparecimento do DEM. Enquanto isso, estarão em estado de "vale tudo", em desesperto pela sobrevivência, apegados a um passado que não existe mais, mas que insiste em assombrar-nos.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Dilma venceria mesmo sem o Nordeste

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Não quero de modo algum minimizar a importância do voto nordestino, ao contrário. Mas é interessante ver que o peso do voto de estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde Dilma ganhou de lavada, já seria o suficiente para derrotar o candidato tucano.

Quer dizer, quem sustentar que foi o Nordeste que elegeu Dilma – afirmação que tem grande conteúdo de verdade, mas que geralmente é usada para reafirmar o velho preconceito contra o "voto do pobre" ou dos "analfabetos", já que nordestino por muitos "sulistas" é historicamente identificado com esses qualificativos – está intencional ou ingenuamente (sim, os tucanos também são enganados) ignorando a ampla votação que ela teve no Sudeste.

Veja os números do segundo turno:

Total de votos válidos: 99.462.514

Total de votos de Dilma: 55.752.092
Total de votos de Serra:
43.710.422

Votos de Dilma no Nordeste:
18.380.942
Votos de Serra no Nordeste:
7.673.776

Votos de Dilma excluindo o Nordeste:
37.371.157
Votos de Serra excluindo o Nordeste:
36.036.646

Assim, excluindo o Nordeste, Dilma venceria por 51% a 49%. Uma vitória apertada, mas ainda assim incontestável, por mais de 1 milhão de votos. Como o Nordeste existe, Dilma abriu a ampla vantagem de 12 milhões de votos.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Mudança de rumo na campanha de José Serra

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Para ver mais charges do Ohi, clique aqui.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Liberdade de imprensa no dos outros é refresco

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Liberdade de imprensa e de expressão é um dos temas frequentemente discutidos e reportados aqui no Futepoca, até porque somos nove profissionais da comunicação e o próprio blogue é mais um espaço a defender a pluralidade de informações e opiniões. Recentemente, o governo Lula vem sendo atacado por supostamente querer "controlar" ou, mais explicitamente, "amordaçar" a mídia. Mentira - e ninguém melhor para botar os pingos nos is do que o próprio presidente: "Muitas vezes, uma crítica que você recebe é tida como democrática, e uma crítica que você faz é tida como anti-democrática. Como se determinados setores da imprensa fossem acima de Deus e que ninguém (deles) pudesse ser criticado. (...) No Brasil, a imprensa deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e que tem um partido. E que falasse. Seria mais simples, mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada", disse Lula, para o site Terra.

"Mas eles preferem fingir que não têm lado e fazem crítica à todas as pessoas que criticam determinados comportamentos e determinadas matérias. (...) Quando nós tomamos a decisão de fazermos a Conferência da Comunicação, determinados setores da imprensa não quiseram participar e acharam que aquilo era anti-democrático. Eu não sei qual é a preocupação que as pessoas têm de a sociedade discutir comunicação. Mas o Brasil vai ter que estabelecer um novo marco regulatório de telecomunicações", acrescentou (veja a ÍNTEGRA AQUI).
Lula cutucou onde a ferida mais incomoda os donos do meio de comunicação: a apregoada liberdade de imprensa defendida por eles é totalmente relativa, pois o foco depende do lado político que eles defendem ou atacam. Mais precisamente sobre o candidato José Serra, do PSDB, conhecido pela hipocrisia com que defende a tal liberdade da imprensa ao mesmo tempo que não dialoga e chega mesmo a calar jornalistas que não o agradam.

Em 27 de setembro, a então candidata à presidente Marina Silva, do PV, já advertia: "Tenho ouvido reclamações nos últimos dias que o ex-governador José Serra tem ficado nervoso quando fazem perguntas que ele não gosta. Ouço também relatos de que há uma tentativa de intimidação dele aos jornalistas. Existem duas formas de tentar intimidar a imprensa. Uma é aquela que vem a público e coloca de forma infeliz uma série de críticas. Outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, o que dá na mesma coisa, porque o respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule. Serra constrange e tenta intimidar jornalistas". Não por acaso, Marina usa hoje seu blogue para criticar o "vale-tudo" de Serra nessa campanha eleitoral.

Sendo assim, por estarmos a poucos dias do segundo turno da eleição presidencial, penso ser interessante apontar esse jogo sujo (mais um) da chamada "grande mídia" brasileira, que tenta construir um Lula "ditador" e "censor" contra o verdadeiro merecedor desses adjetivos, o candidato tão protegido e blindado pelos próprios meios de comunicação. Reproduzo abaixo uma reveladora sequência de eventos que mostram o quão defensor da liberdade de imprensa José Serra é (e que poderia ser ainda pior, se investido do poder de presidente da República), a partir de uma lista feita pelo jornalista Antônio Biondi para o blogue O Escrevinhador. Vale a pena ler até o final. A arrogância e tirania impressionam pela constância e pelo descontrole emocional:

29 de maio de 2009
Vítima: Estadão/ repórter Sandro Villar. Escreveu o Estadão: "A entrevista coletiva foi tumultuada. A segurança reprimiu os jornalistas com certa dose de truculência. O governador fugiu das perguntas políticas. Ao ser perguntado pelo repórter do Estado se faria dobradinha com Aécio Neves na eleição para a presidência, Serra se irritou. "Pensei que você veio para perguntar sobre o hospital", respondeu (em referência a uma pauta publicada). Um segurança agarrou o repórter na frente do governador, que condenou a atitude do jornalista (!) e soltou um sonoro palavrão impublicável. Villar declarou, em correspondência a Luis Carlos Azenha: "Não faz muito tempo surgiram informações de que o Serra foi submetido a um cateterismo realizado secretamente na calada da noite. Eu queria perguntar isso ao governador para ele desmentir ou não. Mas, pela segunda vez, fui agredido pela segurança de Sua Excelência. Protestei e disse que nem na época da ditadura militar fui tratado com tanta truculência".

10 de maio de 2010
Vítima: Rádio CBN/ comentarista Miriam Leitão. Em entrevista pela manhã, Miriam perguntou se o presidenciável respeitaria a autonomia do Banco Central ou se presidiria também a instituição, caso vencesse a eleição. Serra primeiro respondeu que a suposição da jornalista era "brincadeira". Em seguida, disse, ríspido: "Você acha isso, sinceramente, que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência!". Questionado se interviria na instituição ao se deparar com um erro, Serra interrompeu Miriam: "O que você está dizendo, vai me perdoar, é uma grande bobagem".

10 de maio de 2010
Vítima: Rádio Nacional. Relato da Folha de S. Paulo: "Um repórter da Rádio Nacional, emissora estatal, perguntou se o tucano acabaria com o Bolsa Família. Serra reagiu de forma ríspida. 'Por que a pergunta? Porque disseram para você que eu vou acabar? Então eu gostaria de saber a fonte. Isso é uma mentira total', afirmou. Em outro momento de irritação, Serra não quis detalhar sua posição referente à divisão dos royalties do pré-sal. 'Não vou ficar repetindo.' Assessores de Serra procuraram repórteres para pedir desculpas pelo tom do tucano, que chegou ao evento com 40 minutos de atraso".

22 de junho de 2010
Vítima: TV Cultura/ mediador Heródoto Barbeiro. "Como o estado poderia prestar serviço não cobrando pedágios tão caros como são cobrados no estado de São Paulo? A gente viaja por aí e as pessoas reclamam que para ir de uma localidade à outra custa R$ 8,80″, questionou o jornalista. "Você tá transmitindo o que o PT vive dizendo", acusou Serra. O candidato afirmou que o modelo de privatização de rodovias de São Paulo passou por mudanças em seu governo. "Nós mudamos o modelo de concessões e os pedágios baixaram em relação aos elementos anteriores". Ao final da discussão, Serra classificou as indagações do jornalista de "trololó petista" e condenou Barbeiro por não apresentar resultados do governo tucano em São Paulo. "Essas perguntas têm sempre de vir acompanhadas de resultados", exigiu o tucano. Logo depois, Barbeiro deixou a bancada do programa, dando lugar a Marília Gabriela.

Julho de 2010
Vítima: Rádio Mirante AM, do Maranhão/ repórter Mário Carvalho. Serra irritou-se quando foi perguntado sobre o que faria para diminuir sua rejeição no Nordeste. Respondeu: "Onde você viu essa informação? Você está fazendo campanha para Dilma". "No Ibope e no Datafolha", disse Carvalho. "De qual emissora você é?", inquiriu Serra. "Da Mirante AM". "Não é rádio do Sarney? Eu não sei aonde você viu isso. Vamos fazer uma coisa, você quer fazer propaganda pra Dilma? Eu acho legítimo que sua rádio e você faça campanha para Dilma. Não tenho nada a me opor. Agora não venha falar mentira. Tudo bem, faz a campanha direto", despejou, gritando, o candidato do PSDB.

16 de julho
Vítima: TV Globo/ Fábio Turci. Segundo Mino Carta, o repórter dirigiu à Serra uma pergunta sobre juros. O perguntado não escondeu sua irritação, e indagou com a devida veemência: "De onde você é?". Turci esclarece ser da Globo. E Serra, de pronto: "Ah, então desculpe".

7 de agosto de 2010
Vítima: TV Cultura/ Gabriel Priolli. No final da tarde, Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo, chamou Priolli à sua sala para comunicá-lo de seu afastamento da direção de jornalismo da emissora. O episódio aconteceu apenas 5 dias depois de Priolli assumir o cargo. Ele havia encomendado uma reportagem sobre pedágios no estado de São Paulo. A Folha escreveu sobre o episódio: "Nos corredores da emissora e na blogosfera, circula a informação de que, por trás da saída de Priolli, está uma reportagem sobre problemas e aumento nos pedágios. A reportagem teria sido 'derrubada' – jargão para o que não é veiculado – por Mello. 'A reportagem não foi ao ar na quarta-feira por uma razão simples: não estava pronta', diz Mello. 'Eram ouvidos só [Geraldo] Alckmin e [Aloísio] Mercadante. Em período eleitoral, somos obrigados a ouvir todos os candidatos. Foi isso que fizemos', acrescenta." Escreveu o Observatório da Imprensa: "Explicações complicadas terão que ser dadas pelo candidato à presidência José Serra – acusado de ter pedido a cabeça dos jornalistas."

23 de agosto de 2010
Vítima: TV Brasil. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, se irritou com uma pergunta de uma jornalista da TV Brasil, emissora estatal, sobre o fato de a propaganda na TV completar uma semana hoje e a expectativa
do tucano de conseguir reagir nas pesquisas. "Pergunta lá pro seu pessoal na TV Brasil. Eles têm uma opinião", disse Serra.

15 de setembro de 2010
Vítima: CNT/Gazeta/ entrevistadores Márcia Peltier e Alon Feurwerker. Serra irritou-se durante gravação e ameaçou deixar o programa "Jogo do Poder", da CNT, comandado por Márcia Peltier e Alon Feurwerker. Ele não gostou de perguntas feitas e depois de dizer que estavam "perdendo tempo" com aqueles assuntos, passou a discutir com Márcia. Disse que, em vez de tratarem do programa de governo, estavam repetindo "os argumentos do PT". Em seguida, levantou-se para deixar o estúdio. "Não vou dar essa entrevista, você me desculpa. Faz de conta que não vim", disse Serra, reclamando que a entrevista não era um "troço sério". Logo depois, pediu que os equipamentos fossem desligados e disparou: "Isso aqui está um programa montado." A apresentadora negou com firmeza a acusação e teve uma conversa reservada com Serra. Só então o candidato aceitou voltar ao estúdio.

28 de setembro de 2010
Vítima: Folha de S.Paulo/ repórter Breno Costa. Em Salvador, diálogo entre o repórter Breno Costa, da Folha, e o candidato do PSDB. "Candidato, nesses últimos dias de campanha, qual deve ser a [sua] estratégia?". Resposta de Serra: "Certamente não é perder tempo com matéria mentirosa como a que você fez". Sobre a matéria, explicação da Folha: "Serra referia-se à reportagem que mostrou ressalvas feitas por técnicos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo no ano de 2009, quando ele era governador. As objeções técnicas do TCE-SP, que aprovou suas contas, referiam-se a ações que, hoje, fazem parte da lista de promessas do tucano".

13 de outubro de 2010
Vítima: Valor Econômico/ repórter Sérgio Bueno. O repórter fez pergunta sobre Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto. E ouviu do candidato: "Seu jornal faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral. Eu sei que, no caso, vocês não têm interesse na Casa Civil, naquilo que foi desviado. Seu jornal, pelo menos, não tem. Agora, no nosso caso, nós temos". Horas depois, a diretora de redação do Valor, Vera Brandimarte, ensinou: "O jornalista [Sérgio Bueno] só estava fazendo o trabalho dele, que é perguntar. Todos os candidatos devem estar dispostos a responder questões, mesmo sobre temas que não lhes agradem".

Que esses fatos lamentáveis ajudem os eleitores a pensar muito bem até o próximo dia 31.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Prossegue a campanha de esgoto do PSDB

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Daí eu pergunto, senhor José Serra: isso é ser "do bem"?

domingo, outubro 24, 2010

Patética capa da Veja comprova: a munição acabou

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Uma única coisa me contenta na patética capa da Veja desta semana: a história é tão bizarra, tão non-sense, que comprova que as "cartadas finais" da mídia serrista para virar a eleição, na verdade, não existem. É verdade que isso pode ser perigoso. Sem munição, Serra pode ser capaz de tudo. E não se sabe o efeito que "tudo" pode ter, quando não há tempo para retrucar. Há que ficar a postos.

Para economizar nosso tempo, copio abaixo o post em que o Luis Nassif desconstroi a bravata da ocasião. Quem quiser ler lá no blog dele, clique aqui.

E quando tudo passar, em nome de nossa sanidade e das futuras gerações, teremos a obrigação de fazer um cuidadoso levantamento do que foi essa campanha eleitoral, sobretudo nesses dois últimos meses. Definitivamente, não pode passar em branco.

Veja e a estratégia de Mister M

AS ILUSÕES PERIGOSAS DA REVISTA MISTER M

Veja blefa mais uma vez: não existe fita provando que Abramovai falou o que não disse. Não existe grampo legal nem perícia nem nada. Só cascata.

Veja publicou uma reportagem de 1.581 palavras das quais apenas 14 realmente interessariam se fossem verdadeiras: "Não agüento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho para fazer dossiês". A suposta frase foi atribuída ao secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovai, ganhou destaque na capa da revista, que circulou no sábado, e reproduzida instantaneamente no programa de José Serra na TV.

Se fosse verdadeira, a frase revelaria um fato gravíssimo, de interesse público e com evidentes repercussões no processo eleitoral. Seria motivo para uma rigorosa investigação policial e uma ação do Ministério Público, com vistas a esclarecer que pedidos seriam esses, a quem aproveitavam, quais seriam os alvos, quem seriam os agentes e os mandantes da produção de dossiês.

Ocorre que nem a frase foi pronunciada nem Veja tem como sustentar a veracidade do que destacou na capa (gostosamente reproduzida por Estadão, Globo e Folha). A negativa de Abramovai está escondida no quinto dos nove longos parágrafos da matéria.

Trata-se de mais uma reportagem ao estilo Mister M, que tem caracterizado a produção recente da que já foi a mais importante revista brasileira. É o jornalismo ilusionista, que recorre a uma série de truques para distrair a atenção do leitor e fazê-lo acreditar nos poderes mágicos da reportagem mentirosa.

O primeiro truque, clássico, é socorrer-se do testemunho de sua fonte, o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior. Veja sabe que Tuma Júnior não tem credibilidade para sustentar uma acusação desse teor. Ele foi afastado do governo numa investigação sobre seu envolvimento na concessão fraudulenta de vistos a estrangeiros. É um rancoroso.

O outro truque de Veja é misturar o suposto de diálogo entre Abramovai e Tuma Júnior com uma fitalhada de conversas pela metade envolvendo o próprio Tuma, o ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto e sua chefe de gabinete Gláucia de Paula.

Veja recebeu mesmo algumas fitas. Malandramente, porém, a revista induz o incauto a acreditar que as 14 palavras atribuídas a Anbramovai fazem parte do mesmo lote de fragmentos de conversas gravadas.

Veja dá-se ao desplante de afirmar que as conversas teriam sido "gravadas legalmente", como tantas outras fitas que chegam às redações desviadas ilegalmente de inquéritos policiais e do Ministério Público. Nesse caso, a revista teria de informar de que inquérito ou ação penal elas teriam sido extraídas, mas não pode fazê-lo porque sabe que isso é falso.

Elas reproduzem fragmentos de conversas entre mais de duas pessoas. Não são grampos, são escutas ambientais, feitas por alguém presente no local da conversa – e Romeu Tuma Júnior é o mínimo múltiplo comum de todas essas conversas.

Se Veja tivesse a fita com a frase atribuída na capa a Abramovai – as 14 palavras que realmente interessam – este áudio já estaria circulando, no site da própria revista, na rede de blogs auxiliares da desinformação, na CBN, no Jornal Nacional e no programa de José Serra.

Antes que o desavisado preste atenção a esse detalhe, está na hora de chamar uma dançarina ao palco. Ricardo Bolina, o perito multiuso, entra em cena para atestar a veracidade das gravações obtidas com exclusividade por Veja. Seu lado é apresentado em fatias, é um biquíni que mostra muito mas esconde o essencial: ele não comprova coisíssima nenhuma.

Vamos exibi-lo quadro a quadro, como está no facsimile da revista:

1) O perito recebeu dois arquivos de áudio

2) O perito tem de verificar se as vozes de Luiz Paulo Barreto e Pedro Abramovai ocorrem nessas amostras e se houve algum tipo de montagem

3) O perito constata que não houve alteração ou trucagem nos arquivos

4) O perito constata que as vozes dos arquivos conferem com as de Abramovai e Barreto, numa comparação com entrevistas dos dois personagens veiculadas na televisão.

Percebeu o truque? Nem o perito diz nem veja mostra que o áudio examinado contém as 14 palavras que realmente interessam e que foram peremptoriamente negadas. Diz apenas que recebeu uma gravação com a voz de Abramovai dizendo sabe-se lá o quê.

Há muito tempo que Veja não faz jornalismo, faz prestidigitação, fiando-se em duas máximas: as mãos são mais rápidas que os olhos; se colar, colou.

É triste lembrar que esta já foi a mais importante e mais acreditada publicação da imprensa brasileira. Veja não passa hoje de uma revistinha mandraque, para iludir os incautos e os que pagam para assistir seu espetáculo mambembe.

sábado, outubro 23, 2010

Campanha repulsiva afugenta até eleitor tucano

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É natural que muitos dos leitores do Futepoca nos "acusem", nos comentários, de ser "petralhas" e de só defender o governo Lula, o PT e suas candidaturas. Deixamos bem claro, no "Quem escreve", que, em nosso coletivo de nove jornalsitas, "na política, sem tanta homogeneidade, todos pendem para a esquerda". Porém, justamente pela sinceridade, transparência e coragem de assumir um determinado posicionamento, muitas das reflexões, observações e/ou opiniões políticas de nossas postagens são desqualificadas e ironizadas, mesmo quando procedentes. Chego a pensar que, só se alguém aqui fosse eleitor do PSDB ou simpatizante dos tucanos, alguns desses textos iriam adquirir, para uma parcela dos leitores, maior "credibilidade".

Vai daí que, navegando pela internet, encontrei o blogue de um tucano assumido, o jornalista Paulo Nogueira (foto), ex-editor assistente da Veja, editor da Veja SP, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora Abril e diretor da Editora Globo. No post "A tomografia da fita crepe", ele resumiu, sem condescendência: "A campanha de Serra é repulsiva, e acabou por afugentar do PSDB gente que, como eu, tradicionalmente opta pelo partido". O texto é tão lúcido - e isento - que resolvi transcrever na íntegra:

Alguém se surpreendeu com as últimas pesquisas, que parecem consolidar a caminhada de Dilma rumo ao Palácio do Planalto? Eu não. A campanha de Serra é repulsiva, e acabou por afugentar do PSDB gente que, como eu, tradicionalmente opta pelo partido.

O episódio (...) no Rio é apenas mais um de uma lista de pequenas trapaças de Serra. Ele é provavelmente a primeira pessoa no mundo a fazer tomografia por receber uma fita crepe na cabeça. O médico que o atendeu disse, constrangido, que o exame acusara o que todo mundo já sabia. Não havia problema nenhum.

Serra aproveitou para fazer fotos no hospital, em meio a extemporâneas e descabidas declarações de paz e amor hippie. “Não entendo política como violência”, disse ele. Serra entende política como uma forma de triturar todo mundo para chegar à presidência. O melhor quadro do PSDB para suceder FHC era Pedro Mallan, que foi sabotado de todas as formas por Serra.

Serra quer muito ser presidente. O problema é que os brasileiros não querem que ele seja. Em farisaísmo, a tomografia da fita crepe equivale à célebre frase de Monica Serra segundo a qual Dilma é a favor de matar criancinhas. Não conheceríamos a capacidade de jogar baixo de Monica se um repórter não estivesse presente para registrar a ação maldosa da candidata a primeira-dama.

Dilma deve ganhar menos pelos seus méritos e até menos pelo apoio do Lula do que pelos vícios da campanha vale-tudo de Serra. Ele tem que sair de cena para que o PSDB se renove.

É possível que ele arraste Aécio na queda, agora que repousam sobre o mineiro as esperanças de operar uma reviravolta. Dilma bateu Serra no primeiro turno em Minas, e Aécio disse que vai mudar isso. Faz alguns mandatos já que quem ganha em Minas leva a presidência, e por isso as esperanças se reabriram. Só falta Aécio combinar com os mineiros.

A última pesquisa mostra que a distância de Dilma sobre Serra em Minas se ampliou em vez de diminuir. Serra talvez possa culpar Aécio se a virada não aparecer, e assim prosseguir, como um interminável Galvão da política, mais alguns anos em sua louca cavalgada rumo à presidência, num titânico duelo de vontades contra os brasileiros.

quinta-feira, outubro 21, 2010

José Serra e o atentado da bolinha de papel

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Nesta quarta-feira, dia 20, um atentado vitimou o candidato tucano a presidência da República José Serra. Durante uma caminhada no Rio de Janeiro, a entourage do nobre estadista – formada em boa parte, segundo relatos, de seguranças grandalhões – entrou em conflito com representantes da horda de bárbaros famélicos que vêm para destruir a cultura e a civilização (by Laerte) que atende pelo nome de Partido dos Trabalhadores. Na confusão, um dos bárbaros atingiu Serra na cabeça com um objeto terrível, uma arma dos novos tempos. O ataque, que provocou imensa comoção nos meios de comunicação, levou o candidato a suspender sua agenda.

Os dados não são conclusivos, mas de acordo coma trajetória feita pelo projétil e pela reação do nobre candidato demonstradas nessa reportagem do SBT, tratava-se de uma BOLINHA DE PAPEL. Veja no vídeo abaixo, aos 34 segundos.

Outro momento digno de nota acontece a 1 minuto e 6 segundos: Serra recebe um telefonema, cerca de vinte minutos depois do ataque, e, ato contínuo, começa a sentir-se mal por conta do selvagem golpe desferido pelos monstros petistas. O candidato foi levado até um hospital, onde o médico Jacob Kligerman explicou que o golpe havia sido na região occitoparietal (se eu ouvi direito), mas que não houve ferimento aparente. Serra foi submetido a uma TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA para evitar complicações. Ufa!


(Vídeo via blog do Luís Nassif)

quarta-feira, outubro 20, 2010

José Serra: mentira, fraude e falsidade ideológica

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Nesta semana, a guerra de campanhas eleitorais trouxe de volta a polêmica sobre o candidato José Serra (PSDB) ter ou não diploma universitário. Segundo consta, ele sempre se apresentou como "engenheiro e economista", desde os primeiros cargos públicos que ocupou e campanhas eleitorais que disputou. Acontece que Serra nunca concluiu o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Sendo assim, é impossível que tenha qualquer curso de pós-graduação minimamente "validável" - o que levanta suspeitas sobre como teria sido possível dar aulas na Universidade de Campinas (Unicamp), de 1978 a 1983.

Ao abandonar o curso na Politécnica da USP e exilar-se no Chile, Serra teria feito um "Curso de Economia" na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), entre 1965 e 1966, especializando-se em Planejamento Industrial. Parece óbvio que um curso de graduação de dois anos não pode ser formal. Depois disso, fez "mestrado" em Economia pela Universidade do Chile, em 1968, onde seria "professor" até 1973. Em 1974, faria "mestrado" e "doutorado" em Ciências Econômicas na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, sem ter concluído faculdade.

No Chile e nos EUA não é exigido curso superior para fazer pós-graduação, o que não é permitido aqui no Brasil. Além disso, os cursos de pós-graduação que Serra cursou na Cornell não são strictu senso mas lato senso, como os fornecidos pela rede privada brasileira. Resumindo: não valem nada em termos acadêmicos. Bom, mas, no frigir dos ovos, deve-se considerar que, para sua carreira política, ter ou não graduação não faz diferença alguma. O problema é não ter e dizer que tem. E, ao dar aulas no ensino superior (sabe-se lá como conseguiu isso), configura-se crime.

Recentemente, o Conselho Regional de Economia da Paraíba fez interpelação judicial e pedido de enquadramento de José Serra no Artigo 47 do Decreto-Lei 3.688/41, sobre falsidade ideológica e charlatanismo, pelo "uso indevido da qualificação de economista pelo candidato, que não tem bacharelado em economia nem é registrado em qualquer Conselho Regional de nenhum estado brasileiro". O pedido foi endossado pelos Conselhos Regionais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Maranhão, Rondônia e Tocantins, e por dois membros do Conselho Federal de Economia. Porém, o Conselho Federal de Economia nunca se manifestou sobre isso.

Folheando o livro "O sonhador que faz", de Teodomiro Braga (Editora Record, 2002), encontrei a confirmação pela própria palavra de Serra:

(...) Em 1967, apesar de não ter feito graduação, eu entrei na Escola de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Chile, que era chamada Escolatina.

Como conseguiu ser admitido se não tinha graduação em economia?
Eles exigiram que eu fizesse um exame equivalente a todo o curso de graduação em Economia.

(Trehco extraído da página 102)

Um exame? Assim, simples? Sem graduação, como pôde ser admitido como professor pela Unicamp? Dilma Rousseff (PT) foi acusada de não ter mestrado nem doutorado pela Unicamp, e reconheceu isso. O que importa, na verdade, é que ela nunca deu aulas - o que até poderia ter feito, pois tem, pelo menos, graduação. Já José Serra atuou profissionalmente de forma indevida. É uma fraude. Porém, como a Unicamp pertence ao governo de São Paulo, comandando pelo PSDB, qualquer possibilidade de investigação ficará no campo de nossas ilusões. E a imprensa pró-Serra não fará o menor esforço para retirar a pedra de cima desse assunto.

terça-feira, outubro 19, 2010

Falar aos pobres

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Acabo de encontrar meu amigo George, brasileiro que vive em Londres. Ele me contou que seus amigos tucanos estão em polvorosa no Facebook. Em plena mobilização, clamam para que todos falem com suas empregadas, com os porteiros de seus prédios, com as faxineiras de suas avós ou com os seguranças e a mulher do cafezinho do trabalho... com toda essa gente aí, para não deixar a Dilma se eleger.

Quer dizer, estão conclamando o pessoalzinho – que fez escola particular e universidade pública, que tem bons empregos, que lê jornal, bem, que, em suma, não é analfabeto – a formar a opinião dos pobres... Na cabeça deles deve passar algo como: “Gente, eles são analfabetos, desinformados, não são más pessoas, mas não sabem o que fazem. Você que ‘trata bem’ e é até meio amigo do seu porteiro, pois fala com ele sobre futebol, não deixe ele cometer essa burrada de ignorante e votar na Dilma, faça ele votar em gente como a gente”.

Está claro que também estão respondendo ao apelo do candidato Serra de que cada um conquiste mais um voto e estão fazendo a parte deles com os pobres mais à mão, aqueles sobre os quais sentem que têm até alguma obrigação de influência. Herança genética dos tempos do cabresto?

Será que essa mobilização confirma a opinião de Maria Rita Kehl de que não há respeito pelo voto do pobre, que aprendeu a votar em causa própria em vez de votar pela causa de seus patrões, aquela exata opinião que lhe valeu a demissão de O Estado de S.Paulo?

sexta-feira, outubro 15, 2010

Serra: Direita, volver?

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No longínquo mês de maio deste ano, alguém que concorria à Presidência da República disse: "Do ponto de análise convencional, sim (sou de esquerda). (Se eleito) vou estar comprometido até o fundo da alma com os trabalhadores e os desamparados, (ser de esquerda) é ser aliado de empresas que gerem empregos".


Em 13 de outubro, o Radar Político, blogue político de O Estado de S.Paulo divulga um santinho do mesmo candidato. Mas é um santinho no mais stricto sensu jamais praticado em uma corrida à Presidência da República. "Neles esta estampada, como nos santinhos convencionais, a foto de Serra na parte da frente com o slogan 'Serra é do bem' e, atrás, a inscrição 'Jesus é a verdade e a Justiça' assinada pelo próprio candidato". Quando se escreve "assinado" é porque está posicionada uma assinatura em letra cursiva.

O motivo por que o material foi produzido é mais importante do que o panfleto. Foi a necessidade de se afirmar cristão e instrumentalizar as acusações contra sua concorrente em temas sensíveis da parte dos católicos e evangélicos. Circulam boatos de que Dilma é a favor do aborto – e não da discriminalização das mães que recorrem à prática – e de que teria dito que "nem Cristo" lhe tiraria a vitória. Ambas as assertivas são falsas.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A curta caminhada
Usar setores da sociedade como trampolim eleitoral em uma conjuntura específica não é uma exclusividade de José Serra. Mas é preocupante quando se dá vazão, se aproveita e incentiva a disseminação de falsas informações que afetam o lado mais conservador e retrógrado da sociedade brasileira.

Para chegar até ali, o candidato do PSDB percorreu uma caminhada curta, com alguns degraus.

Houve a acusação da "República Sindicalista" , termo criado por Carlos Lacerda em um factóide histórico. Ele usou seus jornais para dizer que o então Ministro do Trabalho de Juscelino Kubitcek teria recebido uma carta de um ministro argentino prometendo armas para dirigentes de sindicatos brasileiros. Tudo para a instação de uma "República sindicalista". Era mentira, a carta não existiu.

Por trás da crítica aos setores ligados a entidades de representação de classe está uma postura extremamente carregada ideologicamente. É a ideia que apenas diretores de sindicatos empresariais poderiam ascender a cargos do primeiro e segundo escalões do poder Executivo.

Outro episódio dessa escalada foi o material do Instituto Plínio Correia de Oliveira – batizado em homenagem ao criador da Tradição, Família e Propriedade (TFP), um líbelo do ultraconservadorismo brasileiro – no comitê do PSDB.

Foram cinco meses para percorrer, no discurso, o espectro da política: da esquerda na "análise convencional" para o apoio da TFP.

O problema
Se Serra mantiver o crescimento apresentado nas pesquisas e sagrar-se vencedor na disputa, terá uma dívida de gratidão a saldar com esses setores conservadores. Seria futurologia do pretérito tentar vislumbrar como essa fatura seria paga. Muito menos importante do que cargos, a questão seriam políticas efetivas adotadas.

domingo, outubro 10, 2010

Olhando o Brasil de fora

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Dois dias atrás em Madrid, agora aqui em Bordeaux, França: a admiração pelo momento que vive o Brasil é enorme. Em 2001, quando vim à Europa pela primeira vez, só me perguntavam do Ronaldo. Agora todos querem saber como fizemos para dar o chapéu na crise e emplacar o melhor desempenho no mundo em relação aos seus efeitos.

Ontem, eu e Cristina Ortiz, a pianista brasileira com quem estou aqui trabalhando, fomos jantar na casa de um casal de americanos, com um casal de franceses (estes, já viveram no Rio como adidos culturais, conhecem muito bem nossa terra). Todos me perguntaram animados, sedentos por notícias da grande sensação mundial. Chegam a pensar que o Brasil erradicou todos os seus problemas, que vivemos no paraíso. Tive que explicar que, apesar de estarmos muito melhores, ainda temos problemas e contradições históricas para solucionar.

Comentaram como enxergam o Brasil como o país mais apto a negociar internacionalmente, não apenas pelo seu sucesso econômico, mas também pela sua tradição pacifista e postura independente, em episódios como os do Irã e de Honduras. Em Madrid, um amigo espanhol chegou a brincar que invertemos os papéis: são eles que têm crise econômica, desemprego de 20% e ganharam a Copa do Mundo.

Ou seja, nada como sair desse mar de boatos que tomou conta do Brasil para recuperar um pouco de clareza: até muito pouco tempo atrás, o orgulho de ser brasileiro se apoiava quase que só no futebol (e um pouquinho no samba e na cachaça). Agora, já podemos começar a ter orgulho da política.

Mudamos. Estamos mudando.

quinta-feira, outubro 07, 2010

José Serra não tolera um "delito" de opinião

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Ontem eu já tinha escrito aqui sobre mais um "ato democrático" do fascista e ditador José Serra, conhecido por ligar em redações pedindo a cabeça de jornalistas. É óbvio que não há indícios de interferência direta do nefasto político na demissão (agora confirmada) de Maria Rita Kehl (foto) do jornal O Estado de S.Paulo, devido a um artigo em que elogiava o programa federal Bolsa Família. Mas, considerando o que Serra fez com Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli na TV Cultura, tá com todo o cheiro de ser obra dele...

Hoje, o Terra Magazine publica uma entrevista de Maria Rita Kehl a Bob Fernandes. Ele pergunta se a demissão teve a ver com as eleições e a psicanalista vai direto ao ponto: "Acho que sim. Isso se agravou com a eleição, pois, pelo que eles me alegaram agora, já havia descontentamento com minhas análises, minhas opiniões políticas". Ela acrescenta que o motivo alegado foi "análise de comportamento e reação". "O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram", ironiza.

E aí ela reagiu com o óbvio: "Eu disse que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável...". Sobre o sentimento que fica, a psicanalista desabafa: "A imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um 'delito' de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expôs uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?".

Pois é. O problema é que José Serra nunca aceita uma opinião diferente. Principalmente em um jornal que confessa fazer campanha para ele.

quarta-feira, outubro 06, 2010

José Serra, o careca que manda cortar cabeças

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Todo jornalista que trabalha ou trabalhou em São Paulo já ouviu histórias sobre o fascista José Serra ter mandando demitir ou "botar na geladeira" profissionais que o desagradaram. Reza a lenda que ele telefona direto para o dono do meio de comunicação e pede a cabeça do jornalista, no que, muitas vezes, é atendido. São diversos casos ao longo dos anos, mas não é preciso ir muito longe: recentemente, repercutiram muito mal os afastamentos de Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli da TV Cultura, emissora estatal controlada pelo governo tucano em São Paulo, via Fundação Padre Anchieta. Ambos "ousaram" mexer na ferida dos pedágios absurdos cobrados pelas concessionárias paulistas - e se deram mal.

Agora, nova demonstração da truculência serrista: depois de publicar um artigo defendendo o programa Bolsa Família, do governo Lula (veja íntegra do texto abaixo), a psicanalista Maria Rita Kehl, que há poucos dias ganhou o prêmio Jabuti na categoria "Educação, psicologia e psicanálise" (com o livro "O tempo e o cão"), foi demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo. Uma decisão, no mínimo, suspeita. Mas, para os que sabem do que José Serra é capaz, não menos que previsível. E depois culpam o Lula por reclamar e tentar "tolher" a imprensa. Uma imprensa golpista, diga-se de passagem. Mas vamos ao artigo de Maria Rita Kehl, pois agora, mais do que nunca, é preciso ecoar a voz dessa corajosa e consciente brasileira:

DOIS PESOS…

Maria Rita Kehl

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família.

Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria?

Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer.

O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema.

Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País.

Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.