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quinta-feira, setembro 27, 2007

Cena insólita

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Futebol também vive de maniqueísmo e generalizações e, aqui no Brasil, os são-paulinos convivem com o rótulo de "time de elite" (estou esperando minha riqueza há anos...) e os curintianos, "time do povão". Pois então: ontem, por volta das 8 da noite, peguei um busão em São Bernardo e desci na inóspita e escura praça que dá acesso à estação Pedro II do metrô. Meio ressabiado (porque, repito, o lugar é meio barra pesada), tratei de apressar o passo quando, de longe, notei que um grupo discutia aos berros ao lado de uma banca de revista. Em pé, um "burguês" de meia idade, careca, de óculos, roupa fina, casaco de couro, celular último tipo, limpo e perfumado, discutia apoplético com quatro mendigos que estavam sentados em uma mureta, no canteiro do gramado elevado. Que, como a maioria dos mendigos, estavam sujos, rasgados, mal-cheirosos e alegremente bêbados. Pensei: "-Isso vai dar merda, a polícia vai aparecer daqui a pouco pra proteger o 'cidadão de bem' - o careca". Mas não podia evitar de passar pela confusão, pois eles estavam parados em frente a única entrada do metrô a que eu tinha acesso. Quando fui me aproximando, percebi que a inusitada "briga de classes" era por causa de futebol. E, para meu espanto, um dos mendigos se levantou e enxotou o careca, gritando: "-Vai embora, curintiano! Cai fora! Aqui você tá na ala são-paulina!". E os quatro mendigos ficaram gritando "-É tricolor!" enquanto o "burguês" entrou na banca de revistas resmungando alguma coisa parecida com "bambis". E eu segui meu caminho, ruminando essa cena digna de Buñuel...