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Daniel Lírio, psicanalista, escritor e corintiano, não necessariamente nessa ordem, escreveu ao Futepoca com um artigo de sua autoria. Ele associa duas ilustres ausências, uma na eleição 2010 e outra na Copa do Mundo na África do Sul. Lula e Ronaldo.
abaixo em junho de 2005. Note-se que a
gravata e o terno do presidente são virtualmente os mesmos
A primeira vez sem Lula e Ronaldo na seleção
Daniel Lirio
No Brasil, há uma dessas coincidências que fazem a vida real muito mais interessante do que a ficção: copa do mundo e eleição presidencial ocorrem sempre no mesmo ano. Assim, a cada quatro anos, o país se passa a limpo, nosso passado, nosso futuro, nossos heróis. Os comandantes são coroados ou tornam-se vilões para a eternidade. A história recente da política e do futebol é protagonizada por duas personagens surpreendentes: Lula e Ronaldo.
Em 2010, houve a primeira eleição presidencial sem Lula dos últimos 50 anos, e a primeira copa sem Ronaldo dos últimos 20 anos. Nessas duas últimas décadas, portanto, eles ajudaram a escrever a história de nosso país, nossas vitórias, conquistas e, também, frustrações. Pode-se dizer que Lula saiu vitorioso de duas campanhas para presidente – três se incluir esta em que esteve ausente mas foi decisivo para eleger sua sucessora –, assim como Ronaldo foi eleito o melhor jogador do mundo três vezes; é o maior goleador da história das copas.
Foto: Juliana Paes/Divulgação-Flickr
Para além das conquistas, inteligência e capacidade de improviso, eles também foram marcados por momentos difíceis, dentro e fora de campo. Os escândalos, alianças inesperadas, denúncias e, principalmente, as contusões os obrigaram a cortar na carne – se ainda reconhecível, pode-se dizer que o corpo transfigurado de hoje é muito diferente do que na juventude. Apesar das dúvidas, eles ressurgiram; reinventando-se, descobriram novos atalhos no campo e retornaram mais alegres e confiantes do que nunca.
Esse enredo ficcional transcendeu o campo estrito de suas profissões, e eles se tornaram estrelas da mídia, no Brasil e no mundo. Lula virou filme e Ronaldo acaba de ser convidado para atuar em Hollywood, ao lado da atriz Juliana Paes. Onde quer que vá, Ronaldo é o “o cara”, sempre presente em jornais e noticiários de todo o globo. Por sua vez, qual empresa não sonharia em ter Lula como seu garoto propaganda? O fascínio desses personagens supera as críticas e elogios que bem merecem, e a imagem deles aparece por toda parte. É impossível evitá-la.
As personagens também coincidem pela infância pobre e pela paixão declarada ao Corinthians. Curiosamente, os papéis se invertem: no planalto, Lula joga futebol; na seleção, Ronaldo era chamado de “presidente”. Enfim, fora da seleção de 2010, eles nunca apareceram tanto na mídia, e de forma tão apaixonada... e apaixonante. Ficção e realidade confundem-se totalmente.
Agora com os dias contados, eles já avisaram que vão continuar jogando, sabe-se lá se na diretoria do Timão, ou em qualquer outra forma política de atuar pelo Brasil, ganhando e perdendo, sem perder a esportiva. O fato é que, nas últimas décadas quem duvidou que pudessem superar seus obstáculos pagou a língua; e quem poderá saber as surpresas que nos aguardam? Quem duvidava de uma copa no país, também duvidava do estádio do Corinthians e continua duvidando que o time conquiste a Libertadores da América. O mais sensato é apostar que Lula e Ronaldo permanecem no palco, surpreendendo. São Fenômenos.
Daniel Lirio é corintiano, escritor e psicanalista, não necessariamente nessa ordem. Escreveu ao Futepoca por considerar que é o único lugar em que poderia ser publicado.