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quarta-feira, dezembro 02, 2015

Os pingos nos is OU carmelita descalça no puteiro

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FHC, herói da Veja: Delcídio estaria em seus diários?
Ninguém aqui quer defender o PT, o governo Dilma, o Lula ou nunseiquelá, nunseiquelá, nunseiquelá. Não integramos suas assessorias de imprensa e, para esse tipo de defesa, sempre existem advogados bem dispostos - e (muito) bem remunerados. Mas, como observou meu colega jornalista Lobão (Rogério Castro), sobre as cobranças do "santo" Aécio Neves (PSDB) à presidente Dilma em relação à prisão do senador Delcídio Amaral (PT), "sei que não adianta explicar para quem não quer entender, mas não custa nada encher o saco dos cidadãos de bem, defensores da moralidade pública, que infestam as redes sociais: com a prisão de André Esteves, um ex-presidente do Banco Central de FHC assumiu o comando do BTG Pactual. Pô, parem de bancar a carmelita descalça dentro do puteiro!".

Exatamente. A esses "cidadãos de bem, defensores da moralidade pública, que infestam as redes sociais" e saem nas ruas com camisa da seleção brasileira, louvando militares, Bolsonaros e Malafaias, complemento o lembrete do Lobão com um belo texto que circula pela internet e é assinado por Maria Fernanda Arruda:


Está claro para vocês o desenrolar dos acontecimentos recentes ou querem que eu desenhe o fato óbvio de que o caso de corrupção que está sendo investigado na Lava-Jato não começou em 2003 e não se encerra na Petrobras!? [OBS: por favor, compartilhem até chegar ao Sr. Moro, porque parece que ele está por fora disso tudo aí.]"

Por hoje é só.


sexta-feira, março 27, 2015

Imprensa tucana (até no exterior!)

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FHC: fomos surpreendidos novamente!
O constrangedor episódio em que a sucursal brasileira da agência de notícias britânica Reuters deixou escapar, no meio de um texto publicado na internet, um recado do editor para alguém, consultando se uma informação desfavorável a Fernando Henrique Cardoso deveria ser suprimida (veja reprodução do texto publicado no fim desse post), confirmou aquilo que todos - pelo menos todos os jornalistas - já sabiam: o dedo do PSDB pesa na pauta, no conteúdo e na edição final do que é produzido por muitos meios de comunicação. Não, não é delírio de petista, mania de perseguição ou teoria da conspiração. Pra começar, o dito texto é uma entrevista com o citado morto-vivo FHC, que nada influi na política nacional (e nem mesmo em seu partido) desde que saiu da presidência da República para o lixo da História - e a publicação de (dispensáveis e inúteis) declarações suas na imprensa corrobora a influência tucana sobre a mídia. Segundo, a tal entrevista foi feita por Brian Winter, coautor de um livro exatamente com o entrevistado (!). E, por fim, o vazamento do comentário, que dá ideia do nível de vassalagem de nossa mídia ao PSDB e que atinge até (financeiramente?) uma sucursal de agência estrangeira. Delírio? Paranoia? Mistificação?

Goebbels: 'mentor' da mídia tucana
Com 21 anos de profissão, ao bater o olho no recado esquecido no meio da entrevista ("Podemos tirar, se achar melhor"), referindo-se a possível e "apropriado" corte da informação de que "o esquema de pagamento de propinas na Petrobras começou em 1997, no governo tucano [de FHC]", me pareceu um caso clássico de "acordo" em matéria "encomendada". Comecemos assim: um veículo de comunicação toma a iniciativa ou é pautado por "instâncias superiores" (PSDB?) a publicar textos/reportagens/entrevistas/notícias/notinhas maldosas/entrevistas insinuando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (provável e temido candidato em 2018) é o principal responsável pela roubalheira na Petrobras. A ordem é bater nessa tecla diariamente, por meses (ou anos) a fio, até que se concretize a máxima de Joseph Goebbels, ministro da propaganda no regime nazista de Adolph Hitler, de que "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade". Para estrear a série, fica acertada uma entrevista com FHC - até porque, inativo e pouco lembrado em seu ostracismo eterno, ele está sempre a postos e disponível para se prestar a esse tipo de coisa (disparar acusações sem provas). Mas há condições pré-combinadas num "negócio" desses.

Livro de Winter, 'submetido' a FHC
Uma delas é a escolha, a dedo, do entrevistador. Nada mais garantido, amigável e confortável do que um jornalista que escreveu, em coautoria com FHC, um (obviamente favorável!) livro sobre as memórias do ex-presidente tucano. Aliás, o método de produção dessa obra nos remete diretamente ao episódio grotesco do recado que escapou na edição da Reuters (o grifo é meu): "O autor da versão original, Brian Winter, entrevistou, pesquisou e submeteu o texto a Fernando Henrique" - de acordo com revelador texto de David Hulak, da Revista Será, que tem o mais do que sugestivo slogan "Penso, logo duvido". Então retornemos ao que eu disse sobre "acordo" em matéria "encomendada". É simples: você ouve o "cliente", digo, o entrevistado, e se compromete a só publicar o texto depois que ele leia a versão editada, ordene alterações ou não, e autorize a publicação. Nas redações, num código informal entre os profissionais, isso é totalmente proibido e, caso aconteça e seja flagrado, geralmente causa a demissão do jornalista. Porém, se os proprietários do veículo de comunicação têm interesse no "negócio" e autorizam tal "acordo" (tucanamente falando), resta apenas aos subordinados o cumprimento das ordens. Mas sem vazar recadinhos, de preferência!

PSDB manda e desmanda na mídia
A empresa britância tentou justificar dizendo que a frase, "publicada acidentalmente", é uma "pergunta" de um dos editores do serviço brasileiro da agência "ao jornalista que escreveu a versão original da matéria em inglês". Não convence ninguém - pelo menos entre os que têm décadas de experiência em redações. Porém, mesmo aceitando essa desculpa, o procedimento continua sendo aviltante e injustificável. Porque a consulta (seja lá de quem pra quem) é se uma informação negativa e comprometedora contra FHC e o PSDB deve ser suprimida da versão publicada para o leitor. E, não por acaso, a única informação ruim contra os tucanos num texto que detona o Lula e o PT pela mesmíssima denúncia da Petrobras. Agora, pra encerrar, deixo minha opinião: o tom do recado, com o verbo no plural ("Podemos tirar"), e com o destinatário no singular ("se [você] achar melhor"), me sugere fortemente que os editores finais do "trabalho sujo", digo, da entrevista, estavam cumprindo o acordo de submeter o texto ao "cliente" - FHC ou alguém do PSDB incumbido de resolver o assunto. Assim como Brian Winter, como observei no parágrafo acima, "submeteu o texto [do livro sobre FHC] a Fernando Henique". A gafe da Reuters taí, pra que não restem quaisquer dúvidas.

Mas, como diria Rita Lee, "quando a gente fala mal/ a turma toda cai de pau/ dizendo que esse papo é besteira". No que Raul Seixas complementaria: "eu não preciso ler jornais/ mentir sozinho sou capaz/ não quero ir de encontro ao azar". Nem eu!

P.S.: Antes que alguém me acuse de "paranoia, delírio e mistificação", adianto que as imagens acima não foram publicadas à direita por acaso, nem por mera coincidência.


A 'prova do crime': editores consultam alguém (FHC? PSDB?) sobre informação negativa e comprometedora

segunda-feira, outubro 06, 2014

Show de horrores - Parte II

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Mayara: 'mate um nordestino!'
Alguém aí se lembra da Mayara Petruso, aquela internauta que destilou publicamente todo o seu preconceito contra nordestinos, após a vitória de Dilma Rousseff, em 2010? "Nordestino não é gente, faça uma favor a SP, mate um nordestino afogado!", postou a moça numa rede social, naquela época. "Deem direito de voto para os nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho pra ganhar o bolsa 171", acrescentou. Pois é, show de horrores. Em 2013, ela recebeu uma punição de 1 ano, 5 meses e 15 dias de prisão, pena convertida em prestação de serviço comunitário e pagamento de multa, e declarou estar "arrependida".

E depois de tudo isso, o que acontece? A mesma coisa. "Se Dilma ganhar, vou inclusive concordar com os sulistas quando eles xingarem os nordestinos como fizeram em 2010", posta a internauta Luiza Neves. "Não queria ter preconceito regional não, mas nordestinos e nortistas não abrem mão de bolsa (tudo)... tão fodendo essa eleição", emenda Lorenzzo Warrak. "Esses nordestinos desgraçados parecem que não sabem que a culpa da falta de água é da lazarenta da Dilma", acusa Bruno Santiago. "Só aqueles nordestinos malditos que votam na dilma nossa espero chova la seca pra sempre", completa Lovato. A prova:



Não bastasse a inconsequência desses jovens, tem gente que deveria ter muito mais responsabilidade espalhando o preconceito explícito. Em Minas Gerais, um colunista social do jornal O Tempo, Paulinho Navarro, postou um comentário (também em rede social) propondo a divisão do País. E diz que a presidente Dilma Rousseff ficaria no Norte/Nordeste com "seus preguiçosos eleitores bolsistas", enquanto que "na banda de baixo" ficaria Aécio Neves e "demais trabalhadores esclarecidos", "continuando a botar lenha na produção deste país..." Pra quem duvida, segue a reprodução da postagem:


Mas o pior eu guardei para o fim: nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de triste memória, resolveu endossar o preconceito e declarou aos blogueiros Josias de Souza e Mário Magalhães, do UOL:

"O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados." 

"Essa caminhada do PT dos centros urbanos para os grotões é um sinal preocupante do ponto de vista do PT porque é um sinal de perda de seiva ele estar apoiado em setores da sociedade que são, sobretudo, menos informados."

"Geralmente é uma coincidência entre os mais pobres e os menos qualificados."

Bom, eu ia tecer algum comentário final. Mas confesso que, depois de ler todas essas declarações, não tenho nem vontade de escrever mais nada. Elas falam por si.

sexta-feira, abril 11, 2014

Pois é. E eu sou abstêmio. Mas ninguém acredita...

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(Ps.: Pela data da declaração, nota-se que foi feita com uma semana de atraso.)

sexta-feira, novembro 08, 2013

Ilações perturbadoras

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Livro encaixa 'quebra-cabeça'
Se o livro "O Príncipe da Privataria", de Palmério Dória (Geração Editorial, 2013), não traz fatos inéditos, bombásticos ou provas documentais explícitas como "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr, lançado com estrondoso sucesso pela mesma editora no fim de 2011, pelo menos tem o mérito de fundamentar ilações muito perturbadoras para nós, brasileiros, sobre a personagem Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil. Para além de qualquer picuinha partidária contra ou a favor do PSDB, da corrupção incomparável e inegável das privatizações nos anos 1990, da dilapidação evidente do patrimônio nacional, das tramoias pessoais e políticas de FHC e parceiros, da compra de votos na aprovação da reeleição, do caixa 2 nas campanhas eleitorais e da impunidade geral de todos os envolvidos, há um pano de fundo nisso tudo que costura de forma lógica as causas e consequências e que, para mim, gera muito mais perplexidade.

FHC levou Serra para o Cebrap
Como disse, as afirmações podem não ser inéditas, mas faltava uma obra que encaixasse todas as peças do quebra-cabeça sobre a mesa, para uma visão panorâmica. Palmério Dória mostra, com clareza e embasamento, que a ascensão e execução das práticas neoliberais no cenário político brasileiro, causadoras de prejuízos financeiros, patrimoniais e sociais incalculáveis, foi um longo processo - planejado, construído e financiado desde os anos 1960. No capítulo 2, que resume a trajetória de Fernando Henrique Cardoso da infância até o início na política, o livro nos dá a chave para entender a origem do projeto colocado em prática no governo federal entre 1995 e 2002, como ele chegou ao poder e por quê fez o que fez: "No mesmo ano de sua expulsão da USP, [FHC] funda com outros professores universitários perseguidos o Cebrap, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. (...) A FF, Fundação Ford, entidade com sede em Nova Iorque, [é a] financiadora do Cebrap em seu nascedouro." 

FF isola oposições aos EUA
Isto posto, começam as (incômodas) ilações: "James Petras, sociólogo que lecionou na Universidade de Binghamton, estado de Nova Iorque, bem como outros intelectuais americanos, acusam a Fundação Ford de agir como testa-de-ferro da CIA. Petras documentou doações da FF para organizações criadas pela CIA a fim de intervir na política interna de outros países. Mostra ainda que Richard Bissell, ex-presidente da FF, era ligado a Allen Dulles, diretor da CIA (...). Outra acadêmica, Joan Roelofs, em Foundations and Public Policy: The Mask of Pluralism (Fundações e Política Pública: A Máscara do Pluralismo), de 2003, diz que entidades como a FF ajudam a isolar movimentos de oposição aos interesses americanos. Lembra que o presidente do Conselho da FF de 1958 a 1965, John J. McCloy, descreveu a entidade como 'uma quase-extensão do governo americano'." Essa é a Fundação Ford, que financia a criação do Cebrap de Fernando Henrique Cardoso...

Do Cebrap? Teria sido a CIA
"Uma das funções da FF era visitar o Conselho de Segurança em Washington para ver quais projetos deveria financiar no exterior. Patrocinou ainda programas para desestabilizar a resistência às ditaduras na Indonésia e outros países", prossegue o livro. Em seguida, cita outra obra, "Quem pagou a conta? - A CIA e a guerra fria da cultura", da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders, que prova com documentos que a FF canalizava secretamente dinheiro da agência americana para áreas culturais. Palmério Dória nos convida a seguir um silogismo: "1. CIA dava dinheiro à Fundação Ford; 2. Fundação Ford dava dinheiro ao Cebrap; logo, 3. Cebrap recebeu dinheiro da CIA." E para quê? Dória recupera duas afirmações interessantíssimas feitas pelo cineasta Glauber Rocha nos anos 1970: "No Brasil, o gancho do Pentágono é o Cebrap, que funciona em São Paulo" e "Fernando Henrique Cardoso é um neocapitalista, um kennedyano, um entreguista."

A obra agradou financiadores
Para reforçar o encontro da "fome com a vontade de comer", ou seja, do eterno objetivo de interferência dos EUA nos rumos do governo brasileiro e do desejo de FHC de ascender politicamente (e ganhar muito dinheiro), Palmério Dória ressalta que, no livro "Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível", de 1997, "a jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni pontua que os americanos não estavam investindo dinheiro à toa. Fernando Henrique já havia prestado 'serviço de qualidade': com o economista chileno Enzo Faletto, acabava de lançar Dependência e Desenvolvimento na América Latina, defendendo a tese de que países em desenvolvimento ou atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de países ricos - por exemplo os Estados Unidos." Bingo. A obra impulsionou FHC a criar uma entidade (Cebrap) credenciada a receber os gordos investimentos da Fundação Ford, "quase-extensão do governo americano".

O livro de Brigitte H. Leoni
Neste ponto, Dória usa o sarcasmo para nos fazer raciocinar: "Menos de dois meses depois do AI-5, o país vivendo o auge da fúria da ditadura, com centenas de novas cassações, cárceres lotados, tortura comendo solta, Fernando Henrique se prepara para tornar-se 'personagem internacional', a dar aulas e conferências em universidades americanas e europeias, com respaldo da Fundação Ford." Mas havia quem desconfiasse. O sociólogo Gilberto Vasconcellos observou que o Cebrap era visto "equivocadamente como resistência de esquerda". E esse objetivo de ganhar espaço na esquerda - e na política - brasileira acompanhava um projeto de enriquecimento (o grifo é meu): "[No] livro de Brigitte, lemos que FHC, administrador do Cebrap, certa vez disse: 'Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas." (Pausa para meu pasmo).

Hora do 'acerto': FHC no poder
De acordo com Palmério Dória, a primeira parcela entregue pelo tesoureiro da Fundação Ford, Peter Bell, ao administrador do Cebrap, FHC, em fevereiro de 1969, foi de US$ 145 mil. "Nunca se divulgou o total, mas na USP dizia-se que pode ter chegado a US$ 1 milhão". Depois de ler tudo isso, penso que teríamos que usar uma dose cavalar de ingenuidade ou otimismo para considerar que o dinheiro da Fundação Ford (ou da CIA) foi apenas uma doação, e não um investimento. E que a ascensão política de Fernando Henrique Cardoso não teria sido nem um pouco construída por esse investimento. E que o topo dessa mesma carreira política, a tomada do poder como presidente da República do Brasil, não teria que dar uma contrapartida ao decisivo investimento. E que a contrapartida não seria, obviamente, o alinhamento do nosso governo federal de forma "ampla, geral e irrestrita" (e incondicional) aos interesses econômicos e políticos dos Estados Unidos. Delírio? Paranoia? Mistificação? Teoria da conspiração? Só isso? Quantos brasileiros/eleitores sabem dessa história?

A Alca fazia parte do 'projeto'
Na campanha eleitoral de 2002, me lembro nitidamente de José Serra, escolhido pelo PSDB para suceder FHC na presidência (foi seu parceiro de exílio "dourado" no Chile, no Cebrap, no PMDB e na criação do PSDB), prometendo aliar o Brasil de imediato à Área de Livre Comércio das Américas, a finada Alca. Palmério Dória afirma que, "com a Alca (...), felizmente enterrada, estaríamos transformados em quintal verdadeiro dos Estados Unidos, não apenas metafórico. Não teríamos uma política externa independente, nem o equilíbrio comercial que constitui a China, 'nosso maior importador'. Antes nos limitávamos a Estados Unidos e Europa, 'e os dois foram para o buraco'. Agora, além da China, nos voltamos para toda a América Latina, ao passo que (...) Serra ataca Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Evo Morales". Sim, escapamos disso. Mas milhões de brasileiros/eleitores defendem o PSDB, o governo de FHC e seu entreguismo (ou seria "Dependência e Desenvolvimento"?). E os Estados Unidos espionam um governo federal finalmente - e felizmente - não alinhado aos seus interesses (sabe-se lá com que interesses!). Enquanto isso, a Fundação Ford e o Cebrap vão muito bem, obrigado.

domingo, outubro 06, 2013

Adesão de Marina a Campos é pior para Aécio do que para Dilma

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Marina Silva e Eduardo Campos: opção programática? (José Cruz/ABr)
Ex-senadora, que abraçou a tese da "perseguição política" para justificar entrada pragmática no PSB, dificulta a realização de um 2º turno ao não sair como candidata à presidência

Qual a diferença se for Aécio Neves, Eduardo Campos ou a Dilma? Tem diferença em relação ao modelo de desenvolvimento? Me parece que até agora todos estão no mesmo diapasão.” Era essa a opinião da então pré-candidata à presidência da República Marina Silva em entrevista concedida ao Estadão, em 23 de março deste ano. Em visita a Pernambuco, em maio, ela respondeu, ao ser indagada se haveria identificação programática com o PSB: "Vocês já perguntaram a ele (Campos) se ele tem identificação programática com a Rede?".

Marina respondeu ontem (6) a seu próprio questionamento de poucos meses atrás, após ver durante a semana o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, ser negado pelo TSE. Ela anunciou sua adesão ao PSB e à candidatura Campos ao Planalto em 2014, ainda sem dizer se seria vice ou candidata a algum outro cargo pelo partido.

Em seu discurso, por mais de uma vez fez referência às forças que impediram que seu partido fosse oficializado como tal, ainda que não nominasse quem seriam tais opositores, deixando à mídia tradicional tal papel. Mesmo quando houve uma pergunta direta de Kennedy Alencar sobre a frase atribuída a ela de que queria combater o “chavismo” representado pelo PT no poder, ela se esquivou.

Atribuir a culpa de uma estratégia equivocada às “forças ocultas” não é algo exatamente novo na política brasileira. Basta lembrar de Jânio Quadros. Culpar o juiz é uma tática velha também no futebol, quando jogadores, técnicos ou dirigentes querem desviar a atenção dos próprios erros e achar um inimigo externo. Mas a intenção de Marina ao ocupar boa parte do seu discurso com queixas sobre perseguição política é também justificar a entrada no PSB, um partido que tem vícios e virtudes semelhantes a quase todos os que compõem o quadro partidário brasileiro.

O problema é que toda a trajetória da ex-senadora até aqui, desde que saiu do PV, é fazer a crítica de cunho moral aos partidos. Suas atitudes conduzem a uma interpretação de que o cenário institucional brasileiro pode ser avaliado pela divisão simplista entre “bons” e “maus”, colocando em um plano secundário, por exemplo, uma reforma política discutida com a sociedade civil, que poderia sanar parte das falhas gritantes do sistema político-eleitoral. A formação da Rede era a reafirmação desse tipo de pensamento, de que seria possível jogar o jogo dentro das regras que estão aí, contanto que se juntassem os “bons”.

Frustrada sua expectativa, Marina teve que jogar o jogo sem se juntar necessariamente aos que achava serem os “bons”. E justificou isso com o discurso da perseguição, como se fosse quase uma legítima defesa. Citou em sua fala o poeta Thiago de Mello, mas poderia ter feito referência a Raul Seixas: 'A arapuca está armada/E não adianta de fora protestar/Quando se quer entrar em buraco de rato/De rato você tem que transar”. Afinal, uma adesão "programática" não se decide em uma madrugada, a não ser que o "programa" seja algo frágil.

Com a união, levará parte de seus apoiadores para Campos, ainda desconhecido de parte do eleitorado. Contudo, verá alguns deles migrarem para Dilma, perdendo também a confiança de outros que optarão pelo branco/nulo, já que acreditaram que ela seria “diferente”, não entrando na peleja a qualquer custo. O fato de abrir mão da candidatura à presidência para exercer um papel teoricamente menor não é apenas uma questão de abdicação ideológica, como tenta sugerir, mas cálculo político pragmático, já que as outras opções acarretariam vários riscos com arranhões ainda maiores à imagem (caso de filiação ao PPS, linha auxiliar tucana, por exemplo) ou absoluta falta de estrutura para uma empreitada do tamanho de uma candidatura presidencial, se a escolha fosse pelo PEN ou PHS. A Marina de 2013 sabe que não pode sustentar uma campanha apenas “sonhática” pela internet, já que os 20% de votos válidos alcançados em 2010 a fizeram sentir de perto a possibilidade de chegar ao poder.

No cenário de 2014, obviamente o principal beneficiário é Eduardo Campos, que ganha visibilidade com um fato político grandioso e tem chances de avançar em um segmento, o dos jovens que estão nas redes e não necessariamente na Rede, simpatizantes de Marina. No entanto, o maior perdedor é Aécio Neves. Para ele, seria melhor que a ex-senadora saísse como candidata a presidente, reproduzindo um cenário semelhante ao de 2002, no qual quatro candidaturas fortes levaram a eleição para o segundo turno, algo que se repetiu, com diferenças, em 2006. Em 2010, ainda que fossem apenas três os candidatos competitivos, o segundo turno foi possível porque não havia possibilidade de reeleição para o então presidente Lula, o que criava dificuldades para sua candidata, Dilma Rousseff.

O cenário atual pode remeter à eleição de 1998, quando FHC venceu ainda no primeiro turno, enquanto Lula, mesmo com 31,6% dos votos, não conseguiu levar a eleição à segunda volta porque havia somente mais um postulante competitivo, Ciro Gomes, com 10% ao final. A diferença é que, agora, com dois candidatos que nunca disputaram a presidência antes, as dificuldades são maiores para a oposição, com um grande risco de parte do eleitorado, cansado da polaridade entre PT e PSDB, optar pela terceira via de Eduardo Campos. Como Dilma tem mais popularidade e votos do que os rivais na atual situação, o quadro se torna sombrio para Aécio, que teria uma tarefa dupla: forçar um segundo turno e bater um candidato que, até certo ponto, tem um perfil parecido com o seu, agora fortalecido pela adesão da ex-senadora.

Se Marina agiu com o fígado, como pensam alguns, ao embarcar na canoa de Campos para tentar atingir Dilma, pode ter ferido de morte as pretensões de Aécio.

Publicado originalmente na revista Fórum.

sábado, setembro 08, 2012

Balão de ensaio ou piada? Ronaldo Fenômeno vice de Aécio Neves em 2014

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Saiu na coluna de Bruno Astuto, na revista Época desse fim de semana: “O sonho de Aécio é ter um novato a seu lado na chapa: o ex-jogador Ronaldo Nazário. A conversa ainda é prematura. Em tom meio sério e meio de galhofa, Ronaldo foi sondado sobre sua vontade de concorrer como vice de Aécio. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que apadrinha o mineiro, também não se opõe à ideia. O tucano quer que, de qualquer modo, ele participe ativamente da campanha”.

Ronaldo, aquele mesmo que a Globo ama, cultiva boas relações no meio político. Mora próximo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em Higienópolis, e costuma se encontrar com o tucano para conversas regadas a uísque e partidas de pôquer, ao que consta. Diz também ter boas relações com Lula, com quem teve um entrevero na malfadada Copa de 2006, mas parece que é entre os tucanos que se sente de fato à vontade.

Ficou célebre um jantar do Fenômeno em julho de 2010, com José Serra e FHC. À época, ele justificou: “Pra ficar claro, não é apoio político. Eu e meus companheiros no Corinthians só demos sugestões para políticas públicas de apoio ao esporte”, escreveu. “Faremos isso com outros candidatos também.” Não houve o prometido jantar nem com Marina Silva, nem com Dilma Rousseff, segundo o ex-atleta, por “problemas de agenda” das candidatas. Talvez a diferença seja que, com os tucanos, o encontro fora marcado antes de a campanha pegar fogo...

No início deste ano, foi cogitada a sua possível candidatura a vereador em São Paulo, mas o Fenômeno teria achado pouco. Se Romário é deputado federal, ele se contentaria em ser vereador? À frente do Comitê Organizador Local da Copa (COL) em São Paulo, ele miraria um lugar na Câmara ou, como já se insinua agora, um cargo de vice de Aécio Neves.

O Fenômeno tem uma carreira como boleiro digna das jornadas de herói, ressurgindo quando menos se esperava. Mas sua trajetória depois da aposentadoria deixa muitas dúvidas no ar. É empresário, lida com empresas e imagem de jogadores em sua atividade profissional, mesmo assim, não viu qualquer conflito de interesses em ter que lidar com o mesmo nicho como presidente do COL, indicação do nada saudoso Ricardo Teixeira, com quem Ronaldo mantinha ótimas relações.

O também ex-jogador Tostão foi enfático em relação à nomeação: “Ronaldo, por não ter tido preparo técnico, não demonstra condições para o cargo nem para ser membro do comitê organizador da Copa. Ele precisa também decidir se quer ser empresário do esporte ou dirigente esportivo. Há um nítido conflito de interesses. Para um atleta se tornar um ótimo profissional em outro cargo relacionado ao futebol, precisa, além de se preparar bem, executar integralmente a nova atividade. Não pode ser por bico, por vaidade, por diversão ou apenas para faturar mais. Tem ainda de abandonar os trejeitos, a pose e o estrelismo da época de jogador.” E mais: “Infelizmente, as pessoas são mais reconhecidas e escolhidas por prestígio, por serem amigas do rei, do que por conhecimentos técnicos. O que prevalece, na maioria das vezes, é a ética do mercado e da política, o corporativismo e o toma cá dá lá.”

Ricardo Teixeira sabia que a imprensa é toda de Ronaldo, o PSDB, obviamente, também sabe, mas fica meio evidente a falta de quadros no ninho tucano. Resta saber de que forma o Fenômeno decidirá entrar na vida política. Dada a coerência, não é de se estranhar que ele possa até adotar outro partido. Melhor decidir logo, porque pode ser que seu amigo Luciano Huck já esteja na fila...

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Aeroportos, ônibus e contradições

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O tema desta terça-feira foi a privatização dos aeroportos feita pelo governo federal na segunda. Foram vendidas participações nos aeroportos de Guarulhos, o maior do país, Campinas e Brasília, em leilão realizado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O governo comemorou o alto valor alcançado, R$ 24,5 bilhões no total, com um ágio médio de 347% nas três operações.


De um lado, os tucanos, com o perdão do trocadilho aviário, pavoneiam-se do PT ter caído em si e aceitado o evangelho privatista. Do outro lado do espectro político, o pessoal à esquerda ficou deveras escandalizado com o que consideram uma traição da presidenta. Afinal, o debate sobre as privatizações, com o PT de Lula e Dilma como nacionalistas estatistas e o PSDB de Alckmin, Serra e FHC como vendilhões da pátria, foi um dos pontos altos das duas últimas campanhas eleitorais – a cena mais marcante (ou patética) fica para Geraldo Alckmin usando camisa da Petrobras e colete do Banco do Brasil.


Antes de mais nada, uma questão técnica. O que foi feito não foi bem assim uma privatização. Quer dizer, foi: o governo vendeu parte das ações dos aeroportos, mas a Infraero manteve 49% deles. Ou seja, a União continuará sendo sócia de todos. Os vencedores do leilão ficam com a concessão de operação por prazo determinado. No caso de Guarulhos, por exemplo, foram R$ 16,21 bilhões por 20 anos. O patrimônio continua sendo parcialmente da União, mas será tocado pela iniciativa privada. Como nas estradas. Ou, mais próximo ainda, nas concessões de ônibus urbanos.


O João Villaverde, nesse post sensato, argumenta que politicamente não faz diferença, o que até é verdade. Mas na prática, faz muita. Nesse sentido, se tiver que me escandalizar com alguma concessão, sinto muito mais prejuízo em ter pouco controle sobre os ônibus urbanos, por exemplo. Peguei avião um número de vezes que cabe nas duas mãos – e devo estar acima da média do brasileiro. Ônibus, meu chapa, todo mundo pega – e não vejo essa chiadeira toda a respeito.


Mas sou exceção nas hostes esquerdinhas. De minha parte, não sou necessariamente contra privatizações. Sou contra certas privatizações. Vender a Petrobras, pelamor, é uma ideia ridícula, como foi ridícula a venda da Vale. Primeiro, porque junto com a empresa foram vendidos contratos de exploração de minérios válidos por décadas. Vendeu-se o solo brasileiro, patrimônio natural (e esgotável) de nosso povo. Isso, sou contra.


Pior: na década e 90, governo tucano e mídia fizeram uma campanha intensa para desvalorizar as estatais. É meio você querer vender seu carro e sair por aí dizendo no boteco que ele não presta. Pois é, o preço cai. O aeroporto de Guarulhos é gigante, importante e coisa e tal, mas ninguém tem a ilusão de que ele valha mais do que a Vale do Rio Doce valia quando foi vendida. Pois pagou-se por ele R$ 16,21 bilhões, contra R$ 3,3 bilhões na Vale. Não dá pra comparar o dano causado à nação por essas duas decisões.


O Nassif, nesse post curto, levantou outras questões que diferenciam o modelo de privatizações dos anos 90 e o concretizado ontem:

1. A Infraero mantem 49% do capital.

2. O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) financiará exclusivamente os investimentos previstos. Nos anos 90 financiava a compra.

3. Os recursos arrecadados serão destinados a aeroportos menores.

Vamos combinar que é beeeem diferente? Todo mundo pode ser contra privatizar aeroporto, empresa, estrada e o diabo – ou querer vender até escola primária. Ninguém precisa concordar com nada do que a Dilma diz – por exemplo, ao dizer que “agora esperamos uma administração eficiente dos aeroportos”, duvido que os funciários da Infraero concordem com a presidenta. Com certeza, se trata de mais uma das tantas e tantas contradições dos governos petistas e cada um vai avaliar com seus botões se é o bastante para se considerar a gestão uma decepção e levar seu voto para outras paragens. Mas é obrigação não ser leviano e nem desonesto no debate.

quinta-feira, julho 21, 2011

Folha Poder e Observatório Político de FHC: Separados no nascimento?

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Folha Poder e Observatório Político, lançado nesta quinta-feira, 21, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: separados no nascimento?


Antes que alguém responda: segundo software de edição de imagens, o azul da Folha é composto pode 68% de ciano e 8% de magenta (sistema CMYK). O do iFHC é 63% ciano e 3% amarelo.

sábado, junho 18, 2011

FHC 80 se diz 'tonto' e plagia Lula: 'eu não sabia'

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Talvez animada pela grande repercussão dos 80 anos do músico, cantor e 'maconheiro' João Gilberto, no início do mês, a "grande" imprensa (grande só no nome) resolveu aproveitar para fazer um desagravo a outro de seus queridinhos, o sociólogo, ex-presidente da República e 'maconheiro nasal' Fernando Henrique Cardoso, que também está completando oito décadas. O jornal O Globo se esmerou na bajulação em seu sítio virtual, com um "especial multimídia" sobre FHC (não confunda com outra droga, o já citado THC), trazendo artigos baba-ovísticos e exagerados de Mirian Leitão e Merval Pereira, charges do Chico Caruso, repercussão com os "mentores" do Plano Real e - o melhor (ou pior) de tudo - uma favorável entrevista com o célebre tucano homenageado.

"Nunca na História desse país" se viu tantas loas e confetes para o aniversário de um ex-presidente da República em nossa imprensa. O esforço para tirar FHC do limbo, em quilos de vassalagem e beija-mão midiáticos, me levam, como jornalista, à exacerbação da vergonha alheia. Mas, sem querer comentar as dúzias de bobagens, incoerências e delírios ditas mais uma vez por Fernando Henrique (até em respeito à sua idade e também poupando as velas do blogue para um defunto que não compensa), separei dois trechos muito reveladores, que, das duas, uma: ou comprovam sua senilidade ou atestam a sua cara de pau. No primeiro, ele diz que assinou a manutenção do sigilo dos documentos oficiais (que tanta dor de cabeça está dando agora à presidente Dilma Rousseff) no último dia de seu mandato (!), sem ler (!!), e que só se tocou disso um ano depois (!!!):


FH - Nesta discussão que está aí hoje [sobre a manutenção do sigilo eterno para documentos de Estado]... Foi no dia 31 de dezembro de 2002, último dia do governo. Porque tem dois canais, ou vem pela Casa Militar ou vem pela Casa Civil. Bem, quando veio esse negócio, eu disse [depois]: não é possível que eu tenha assinado isso. Aí chamei o Pedro Parente: vê se é possível que eu tenha assinado isso. Reconstituiu, não passou pela Casa Civil. Foi pela Casa Militar. Sem a assinatura do general Cardoso. Mas eu não sabia. E uma coisa me chama a atenção: nunca nem o Itamaraty nem as Forças Armadas falaram nesse assunto comigo, nunca pressionaram.

O GLOBO - Então o senhor assinou sem ver? E quando soube?

FH - Quando saiu no jornal, um ano depois. Como eu assinei um negócio proibindo eternamente?



Buenas, se o senhor, que assinou, não sabe, muito menos eu ou o repórter que o entrevistou! Vai ver que, se foi em 31 de dezembro, tava muito desesperado pra abrir a champanhe no Reveillón, ou distraído pela dolorida tarefa de ter que passar a faixa para o Lula no dia seguinte, sei lá. Mas essa desculpinha é de lascar - e ninguém vai repercutir isso. Imaginem se fosse o Lula dizendo tal absurdo, o carnaval que a mídia ia fazer... Aliás, para exemplificar isso, é só perceber, na expressão que grifei em negrito no trecho reproduzido acima, que o sociólogo que fala francês tem todo o direito de dizer que não sabia de nada, ao contrário do torneiro mecânico que o sucedeu, achincalhado quando usou a mesma justificativa. Mas passemos ao segundo trecho que resolvi destacar da entrevista do O Globo, ainda mais eloquente em termos de FHC:


FH - É muito cansativo esse negócio de ser presidente, não sei por que o pessoal quer tanto... (risos)

O GLOBO - Por que o senhor quis tanto?

FH - Pois é, por engano. (ri)

O GLOBO - Duas vezes, presidente?

FH - Eu sou meio tonto...



Impressionante. Diante de tão comovente declaração, é justo considerar que tonto foi quem votou nele. E mais tonto quem votou duas vezes!

Gente diferenciada - e agora despreparada
Conhecido por criar neologismos arrogantes como fracassomaníacos ou neobobos, FHC não perdeu a oportunidade de lançar mais uma nomenclatura na entrevista publicada hoje. Talvez indignado com a "gente diferenciada" que ameaça invadir o bairro onde ele reside em São Paulo, Higienópolis, com a estação do metrô que será construída lá, o ex-presidente octogenário inventou a expressão "gente despreparada" para essa ralé que, ao contrário de seus "iluminados" colegas do mundo acadêmico, foi obrigado a (com tom de asco) "lidar" quando governava o Brasil:


FH - Acho que, em parte, a liderança presidencial tem de ser intuitiva, veja o Lula, mas, quando você tem um pouco mais de capacidade de análise, fica vendo por que as pessoas estão fazendo isso ou aquilo. Ao mesmo tempo que desculpa umas, condena outras.

O GLOBO - Mas isso faz ficar mais pessimista ou otimista a respeito do mundo?

FH - Mais realista. Não digo pessimista porque dá para avançar. Meus colegas acadêmicos puro-sangue sempre ficavam um pouco horrorizados de ver como é que eu lidava com o que, para eles, é uma gente despreparada. Eu dizia que eles não eram preparados para umas coisas, mas muito bem preparados para o que eles fazem.



De fato, a soberba desses tucanos de Higienópolis sempre consegue um jeito de se superar. E eu, sem capacidade de análise e assumidamente sem qualquer tipo de preparo (para me sentir superior), encerro este post com a única coisa que gostaria de dizer ao aniversariante FHC: "-Credo."

sábado, novembro 06, 2010

Uma ideia para Aécio

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O Aécio Neves está falando aos jornais em refundar o PSDB, para que o partido “recupere o seu sentido”. Eu não estou entendendo mais nada. Mas não foi o PSDB que saiu fortalecido dessas eleições? O partido que perdeu mas levou? Que governará a maior parcela de eleitores? Não foi o PSDB que inspirou, com seu candidato e segundo o próprio, a formação de uma “trincheira pela liberdade e pela democracia”? Por que refundar o que está dando tão certo?

Pois eu achei que isso era a coisa mais surpreendente que eu poderia ler na manhã de hoje. Mas não, imaginem. Quem conduziria esse processo? Notáveis do partido. Quem seriam esses notáveis, FHC? Sim, claro, FHC, juntamente com José Serra e Tasso Jereissati. Depois de me benzer, tentei entender o que é que está passando na cabeça do Aécio. Afinal, por que chamar para recriar as bases de um partido esse trio que, além de aposentado pelas urnas, consegue ser a reunião das figuras mais desagregadoras de que já ouvi falar?

Foi essa foto mesmo, dos sem-Serra, que eu não aguento mais a cara do cidadão

Aécio é um cara bacana, deve estar preocupado em arrumar assunto para os amigos veteranos, agora desocupados. Eu tenho uma ideia melhor, Aécio: chama mais um - por exemplo, o Caetano Veloso ou o Hélio Bicudo - e arma uma caxeta, buraco, truco, dominó, porrinha...

quinta-feira, novembro 04, 2010

Pensamentos esparsos sobre Lula, Dilma, FHC e a oposição autofágica

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Lembro bem, quando Lula venceu a eleição de 2002, a primeira ação orquestrada da mídia foi tratar de “separá-lo" do PT. Isso se intensificou quando iniciou o governo com nomeações (como o Henrique Meireles) e medidas econômicas tidas como "ortodoxas", elogiadas como a continuidade de FHC – o que mostrou ser de grande prudência, já que uma mudança drástica fatalmente teria consequências indesejadas –, e ao mesmo tempo se falava em "radicais do partido" sempre desenhados como monstros rapinosos. O que se desenhou o tempo todo no discurso (e ainda permanece) foi que Lula estava acertando por continuar FHC e que isso acontecia contra a vontade de seus correligionários. A mídia, assim como a oposição, permaneceu cega quanto a todas as novidades que foram introduzidas, e acredito que haja aí uma boa dose de ilusão.

Nos tempos de FHC, aprendemos a acompanhar de perto a tal da "taxa de juros", que seria o grande instrumento do Estado para interferir na economia. Acho que muita gente chegou a acreditar (e ainda acredita) que o tal do tripé câmbio livre (praticado apenas no segundo mandato de FHC, diga-se), meta de inflação e superávit primário resuma o que o Estado pode fazer para interferir na economia. Talvez no mundo do Estado mínimo, desejado pelos tucanos, isso até seja de algum modo verdade. Não quero aqui desconsiderar que os grandes economistas tucanos ignorem a importância de outros fatores, mas é fato que a discussão ficava enrolada em torno desse ponto.

Também não há dúvida de que hoje a discussão está muito mais rica. Fala-se em infraestrutura, em microcrédito, em ampliação do mercado interno (vamos nos lembrar que foi Lula que fez os empresários brasileiros a aprenderem a lidar com a classe C e D, que passou a consumir) com o aumento do poder de compra dos salários mais baixos. Outra coisa que muitos não percebem: não creio que Lula seja contra privatizações "por princípio", mas sim porque quando o Estado não participa de igual para igual nas disputas no mercado os consumidores ficam à mercê de interesses privados (que naturalmente é o interesse das empresas). O Estado perde poder de pressão. Mas Lula mostrou, com a Vale, que o Estado deve defender seus interesses enquanto "sócio" que é da empresa (embora isso seja tratado como ingerência por muita gente).

Li isso por esses dias (não me lembro onde, que me perdoe a fonte não citada aqui). Enquanto FHC injetou dinheiro na economia pelo topo, por meio das privatizações, Lula injetou pela base, com microcrédito e aumento da renda das classes mais pobres. Por isso a política de FHC era essencialmente excludente (e o desemprego e as perdas salariais eram vistas como "o preço a se pagar pelo desenvolvimento") e a de Lula, essencialmente inclusiva. E mais segura, porque pulverizada, não concentrada.

O Bolsa Família, na verdade, embora importante, não é o grande diferencial. Dilma (e Serra também, vejam só) fala sempre nele porque sabe que é um programa que pegou, tem um potencial marqueteiro forte. Mas ela sabe muito bem que o principal está em outra parte.

Agora, com a vitória de Dilma, estão tentando consolidar o entendimento de que ela ganhou roubado, porque quem moveu as peças foi o Lula, que agiu "ilegalmente", já que "um chefe de Estado" não pode ser líder de partido. Obviamente, um dos requisitos normais de um chefe de Estado é que ele seja líder de partido. Mas o que espanta é que essa ilegalidade só existe na cabeça deles. É tão disparatado isso que me vejo obrigado a imaginar a situação de um presidente disputando reeleição sem poder fazer campanha para si mesmo, já que o hábito de chefe de Estado não permite. Ouvi de um tucano ainda que "o FHC não fez isso" quando Serra disputou pela primeira vez a presidência. Não custa lembrar que nas três últimas campanhas presidenciais, FHC foi escondido pelo "seu" candidato, já que suas aparições sempre resultaram em perda de votos por parte daqueles em cuja defesa ele vem.

Além disso, todos os olhos gordos agora estarão sobre Dilma, a tentar capturar cada um de seus deslizes, cada ameaça de titubeio que será anunciada como fraqueza e incapacidade. Não faltará veneno a cada dia. Tentarão desrespeitar Dilma, como o fizeram tantas vezes com o "presidente analfabeto". E se qualquer líder político trombar com a Dilma, isso poderá ser eventualmente ignorado, mas cada gesto do Lula será interpretado como uma mensagem para Dilma, que sem ele não saberia o que fazer. Mais ou menos como um jogo de truco político.

Acabou a eleição, mas a campanha apenas começou, alertou o vampiresco Serra. Vem mais chumbo por aí, podemos esperar, e darão todo o espaço que Serra desejar para falar (já dão para o FHC, imagine para alguém não senil...).

Enquanto isso, fecham os olhos para o fato de que a oposição (anunciada como a grande vitoriosa dessas eleições, tipo "perdeu mas levou") está se devorando a si mesma. Serra já tenta matar o Aécio, que não é bobo mas não terá tanta bala na agulha quanto dizem. Serra também não terá tanto apoio assim de Alckmin, que não vai esquecer as rasteiras que levou do colega careca; ao contrário, o opus dei vai reduzir o serrismo em São Paulo ao "mínimo indispensável". FHC dá show de declarações non-sense, e mostra justamente a desunião do partido. Sergio Guerra e Eduardo Jorge fatalmente se enrolarão nos desdobramentos do escândalo do Arruda. "Líderes" outrora importantes como Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes foram excluídos da cena principal. O Kassab já fala em sair do DEM, que agoniza.

Há que trabalhar muito agora, pois ganhar espaço nas eleições municipais de 2012 será mais um passo importante para o gradual desaparecimento do DEM. Enquanto isso, estarão em estado de "vale tudo", em desesperto pela sobrevivência, apegados a um passado que não existe mais, mas que insiste em assombrar-nos.

quarta-feira, novembro 03, 2010

A piada do dia OU fala mais, FHC, fala mais!

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Na Folha de S.Paulo, materinha surreal: "FHC diz não endossar mais PSDB que não defenda a sua história" (uma pausa para o espanto: !!!!!!!!!! e outra para a gargalhada incontida: kkkkkkkkkkkk!). Minha nossa senhora, será que não tem um assessor, um parente, um amigo ou alguma outra alma caridosa pra poupar o homem de tanto vexame? Eu, sinceramente, estou ficando com vergonha alheia do Fernando Henrique Cardoso. Um ex-presidente do Brasil! Quanta papagaiada sai da boca do cidadão, Deus pai! Porém, no meio de tantos disparates, pelo menos uma verdade o tucano disse: "(Serra) Não fez diferente do que se esperaria de Serra como um candidato". Exatamente! Mas vamos aos melhores - ou piores - momentos de sua nova sequência de patacoadas estapafúrdias (os grifos são nossos):

"Não estou disposto mais a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história. Tem limites para isso, porque não dá certo. Tem de defender o que nós fizemos. A privatização das teles foi bom para o povo, para o Tesouro e para o país. A privatização da Vale foi um gol importante, porque, além do mais, a Vale é uma empresa nacional. A privatização da Embraer foi ótima. Então por que não dizer isso? Por que não defender? Privatizar não é entregar o país ao adversário, pegar o dinheiro do povo e jogar fora. Não. É valorizar o dinheiro do país. Tudo isso criou mais emprego, deu mais renda para o Estado." (Deu mais renda para o Estado?!!??? Como assim?!?)

"O presidente Lula desrespeitou a lei abundantemente. Do ponto de vista da cultura política, nós regredimos. Não digo do lado da mecânica institucional - a eleição foi limpa, livre. Mas na cultura política, demos um passo para trás, no caso do comportamento [de Lula] e da aceitação da transgressão, como se fosse banal." (Então o Serra avacalha vergonhosamente a campanha e, pra variar, a culpa é do Lula...)

"Aqui está havendo outra confusão. Pensar que a democracia é simplesmente fazer com que as condições de vida melhorem. Ela é também, mas não se esqueça que as ditaduras fazem isso mais depressa." (Ah, entendi: melhorar as condições de vida é só um detalhe, nada de muito essencial ou indispensável.)

"O Estado é laico, e trazer a questão religiosa para primeiro plano de uma discussão política não ajuda. Todas as religiões têm o direito de pensar o que queiram e de pregar até o comportamento eleitoral de seus fieis. Mas trazer a questão como se fosse um debate importante, não acho que ajude." (Ué, então o Serra errou? Isso não seria um bom título, senhor editor?)

"A pesquisa é útil não para você repetir o que ela disse, mas para você tentar influenciar no comportamento, a partir de seus valores. Suponha uma pesquisa sobre privatização em que a maioria é contra. A posição do líder político é tentar convencer a população [do contrário]." (Outro momento de sinceridade: pesquisa só serve para influenciar votação. Na cara larga!)

"Aqui, fora da campanha, só o governo fala. Quando fala sem parar, o caso atual, e sob forma de propaganda, fica difícil de controlar. No meu tempo, também era o governo que falava. Como não tenho o mesmo estilo e não usava uma visão eleitoreira o tempo todo, não aparecia tanto." (Nossa, o maior pavão de nossa política diz que não gostava de aparecer! Cara larga hors concours!)

"O que a mídia em geral transmitiu ao longo desses oito anos? Lula, violência e futebol." (Bom título para um blog. Aliás, trocando violência por cachaça, fica bem parecido com o nosso. O que você tem contra a gente, Fernandinho?)

"Esses 44 milhões [votação de Serra no domingo] não são do PSDB. É uma parte da sociedade brasileira que pensa de outra maneira. E não se pode aceitar a ideia de que são os mais pobres contra os mais ricos. Nunca vi uma elite tão grande: 44 milhões de pessoas." (Como se a elite, a mídia e o extremismo político de direita não influenciassem ninguém...)

"No tempo que cheguei lá, eu escrevi o que ia fazer e fiz. Nunca mudei o rumo. O Lula mudou o rumo." (Sim, não mudou "nada". Só disse, ao assumir o cargo: esqueçam tudo o que eu escrevi".)

"O Lula deixou de falar em trabalhador para falar em pobre. Mudou. Nós descobrimos uma tecnologia de lidar com a pobreza, mas estamos por enquanto mitigando a pobreza." (Mas qual o problema de o pobre ser o foco do governo? Tirar 28 milhões da linha da miséria é "mitigar" a pobreza?)

"Está se perfilando, no PT e adjacências, uma predominância do olhar do Estado, como se o Estado fosse a solução das coisas." (Mas se não for o Estado, quem vai olhar por nós? Os empresários?)

"A nossa tradição é de corporativismo estatizante, e isso está voltando. É uma mistura fina, uma mistura de Getúlio, Geisel e Lula. O Lula é mais complicado que isso, porque é isso e o contrário disso. Como é a metamorfose ambulante, faz a mediação de tudo com tudo." (Hã?!!?)

"A crise global deu a desculpa para o Estado gastar mais." (Sim, qual o problema disso? Foram os bancos públicos e o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, que nos protegeram da crise, os Estados Unidos estão tentando criar um BNDES para sair do caos.)

"Veja o discurso da Dilma de ontem [domingo]. Ela beijou a cruz." (Ah, tá: Serra desenterra a pauta medieval do aborto, dá voz aos piores e mais obscuros setores da sociedade, manda fazer santinho escrito "Jesus é a verdade", envolve a CNBB e até o Papa na campanha mais suja, pérfida e nojenta das últimas décadas e, para o FHC, o problema é a Dilma! Inacreditável.)

quarta-feira, setembro 29, 2010

Fontes da Folha são Datafolha e... repórter da Folha

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Todo mundo sabe que a credibilidade da Folha de S.Paulo está tão baixa quanto a do Fernando Henrique Cardoso, que disse à Reuters que vencer no 1º turno não será bom para Dilma Rousseff (!!!). Pois, agora há pouco, a Folha On Line publicou uma materinha intitulada "Mercadante aposta em popularidade de Lula na reta final da campanha" (coisa mais óbvia!), em que a cara de pau conhece novos patamares. Além de usar os números do não menos desacreditado Datafolha (desmentido sistematicamente pelos resultados do Ibope, Sensus e Vox Populi), o texto ainda usa aspas de apenas uma fonte. Sabem de quem? Daniela Lima, repórter do caderno "Poder", da... Folha de S.Paulo (!!!!). Está inaugurado o auto-jornalismo.

Ps.: Há dois anos, em setembro de 2008, às vésperas da eleição municipal em São Paulo, o Datafolha apontava empate entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, com 22%, atrás de Marta Suplicy, que tinha 37% (reprodução abaixo). Poucos dias depois, em 5 de outubro, Kassab teve 33,6% dos votos válidos, contra 32,8% de Marta e 22,5% de Alckmin, que ficou fora do 2º turno.

quarta-feira, junho 23, 2010

Ajuda mais, FHC!

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Dando prosseguimento à nossa campanha "Fala mais, FHC!", a coluna da Mônica Bergamo de hoje, na Folha de S.Paulo, traz a piada do ano. Segundo ela, "Fernando Henrique Cardoso confidenciou a interlocutor de sua mais absoluta confiança recentemente que tem sérias dúvidas sobre a possibilidade de José Serra vencer a eleição presidencial". O arremate é espetacular:

"E olha que estou tentando ajudar", disse o ex-presidente, atualmente em tour pelo exterior.

terça-feira, junho 08, 2010

Vale a pena ver (beber) de novo

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O Luizão já tinha escancarado o motivo numa hilária entrevista para o Lance!, há três anos, mas agora o próprio protagonista, Vampeta, confirma que estava manguaçado ao dar as famosas cambalhotas em plena rampa do Palácio do Planalto, na recepção à equipe que conquistou o pentacampeonato mundial para o Brasil, em 2002. "Tava bêbado, né, velho. Eu vim do Japão até o Brasil, campeão do mundo. A gente já bebe sem ganhar nada, imagina sendo campeão mundial. Vim tomando meu famoso Tang, que eu falo", entrega Vampeta, sem pudor (nem quero imaginar o que seja esse 'famoso Tang'...). Vale a pena dar um pause e congelar a imagem no 0:23, para ver a cara de bêbado do jogador quando levanta a mão e avisa que vai fazer merda, ou então no 0:31, quando ele dá com a testa no chão e desmaia. Não sou corintiano, mas sou fã desse cara. Figuraça. Confiram:

sexta-feira, abril 16, 2010

Em termos de emprego, Lula e FHC é Santos e Guarani

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O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) nesta quinta-feira, 15. Foi outro recorde de emprego gerado em março. Para abril, Carlos Lupi, titular da pasta, promete novo recorde.

Homem placa no centro de São Paulo anuncia vagas

O detalhe é que a partir da busca do jornalista Vitor Nuzzi pelos arquivos do acumulado de geração de empregos, temos os seguintes dados, a título de comparação entre governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Fernando Henrique Cardoso.

Recuperação econômica à parte, é bem verdade que Lula enfrentou apenas um ano – no máximo dois – de crescimento próximo de zero. Mas também é verdade que parte do cenário para que isso ocorresse tem méritos de políticas adotadas pela gestão – a maioria, políticas não macroeconômicas, registre-se.

Aos dados:

Período Saldo
de empregos
Média
anual
1995-2002 796.967 99.621
2003-2009 8.716.082 1.245.154

Sendo maldoso de um lado, arredonda-se para 8 milhões o resultado de 2003-2009. E, generosamente, facilita-se para o outro lado, inflando para 1 milhão as vagas do período 1995-2002. O resultado é: 8 para 1.

Opa! Oito a um é Santos e Guarani pela Copa do Brasil.

Com o acúmulo de 2010 de 700 mil empregos gerados, a diferença aumenta, porque somam-se 9,4 milhões de empregos. Em abril, a expectativa é de 340 mil contratações a mais do que demissões, de modo que o Brasil ultrapassaria em quatro meses todas as vagas criadas em 2009, o ano em que o país decresceu 0,2%.

E vejam que, nessa toada, mais um ou dois meses e o jogo vai ficar 10 a 1, quase a maior goleada dos Meninos da Vila até o momento, aplicada sobre o Naviraiense, também pela Copa do Brasil. Os santistas ganharam de 10 a 0, o que torna a comparação meio capenga, mas enfim.

Diferentemente de outros períodos, houve algum crescimento do salário médio de admissão. Quando há muita rotatividade, a tendência do ordenado médio é ser rebaixado, já que a pessoa sai de um lugar para ganhar menos em outro. No trimestre, aumentou 4,37% em relação a 2009. Talvez a crise tenha atrapalhado o parâmetro do ano passado.

Mas o ministro Lupi foi indiscreto na coletiva para dar seu parecer de torcedor pleno: "O maior segredo da aprovação do governo Lula é a valorização salarial. Quando a oposição descobrir isso, já terá perdido a eleição".

segunda-feira, abril 05, 2010

Triste fim de Policarpo Quaresma

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Hilário, pra dizer o mínimo, o texto de Dora Kramer no Estadão de hoje. Depois que o jornal deu um passa-moleque em José Serra, chamando-o de "candidato clandestino" em pleno editorial, a "jornalista" faz hoje um "desagravo" ao coitadinho do Fernando Henrique Cardoso, que foi proibido de aparecer no lançamento da candidatura presidencial do PSDB. Sob o título "Gente insolente" (sério, ela escreveu isso mesmo!), Dora reclama que "o tucanatinho acha que ele não fica bem na fotografia do vigoroso partido onde vicejam próceres cuja capacidade de distinguir credibilidade de popularidade é nenhuma". E prossegue, indignada: "Sabe o cunhado que vive dando vexame? Pois é. Os tucanos agora resolveram tratar Fernando Henrique nessa base. Segundo eles, 'pesquisas internas' indicam que FH não é benquisto pelo eleitorado. Atrapalha quando fala" (a mais pura verdade). Injuriada com o tratamento que o sociólogo recebe hoje, Dora Kramer chega a xingar no melhor estilo "bobo, feio e cara de mamão": "Esse pessoal lê umas pesquisas, ou vê um boboca de um analista, se assusta com os arreganhos de meia dúzia de adversários e acha que is só os autoriza a jogar no lixo o respeito devido a quem permitiu que o partido iniciasse sua trajetória de vida pela rampa do Palácio do Planalto". E ainda faz uma comparação absurda com o PT, que nunca quis esconder o Lula (mas por que catzo deveria???), e dá outro puxão de orelha no ex-governador paulista. "Se é sobre esse tipo de caráter que o candidato José Serra falou quando se referiu a brio, índole e solidariedade em seu discurso de despedida do governo de São Paulo, há incoerência no conceito".

Mas o curioso é que, no mesmo dia em que Dora nos empurra esse amontoado de patacoadas, Emir Sader publica na Carta Maior o artigo "O Farol acha que você não tem memória". E vai direto ao assunto: "Triste figura a do FHC. Rejeitado por seus correligionários, considerado como alavanca para a oposição pela rejeição que sofre do povo brasileiro, funciona como clown, como personagem folclórica, lembrança de um passado que o governo luta para terminar de superar e a oposição para tentar esquecer e apagar da recordação dos brasileiros. Escondido pelos seus, repudiado pelos seus adversários, enterrado em vida pelos seus, tomado como anti-exemplo por seus adversários". Não contente, Sader faz questão de dar um recado às "viúvas" como Dora e de jogar a pá de cal no ex-presidente tucano: "Agora FHC tenta novo brilhareco, contra a opinião dos seus correligionários (nas palavras de uma de suas tantas viúvas nas imprensa, tratado como genro que a família quer esconder, porque só comete gafes, que favorecem o inimigo), francamente na onda anticomunista. Já tinha apelado para o 'sub-peronismo', para a denúncia do papel dos sindicatos no governo, agora ataca o desenvolvimento da China. Prefere seu neoliberalismo dos Jardins, aquele que quebrou o país três vezes no seu governo, que levou a taxa de juros – que seu candidato considera que hoje é alta, – a 48%, sem que este tenha protestado. Que fez o Brasil entrar em uma profunda e prolongada crise, de que só saiu no governo Lula". E ponto final. De fato, triste esse fim de Fernando Henrique, o neobobo de Higienópolis. E que papelão, hein, Dora Kramer! Faça o favor...

sexta-feira, março 26, 2010

Fala, FHC, que eu te escuto

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Prosseguindo com nossa campanha para que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fale o máximo que puder à imprensa nesse ano de eleições, ao contrário da vontade tucana, vamos à nova pérola do sociólogo que fala francês (o grifo é nosso):

- Nós temos que pensar: qual Brasil vamos inventar? Está faltando neurônio. O Brasil será grande no mundo quando fornecer conhecimento. No conjunto desses desafios, que são grandes, o importante na universidade, além de produzir modelos culturais, é começar a discutir o futuro, disse o "iluminado" político do PSDB, na quarta-feira (24/03), durante a palestra "Ensino Superior como área crítica e estratégica para o Futuro do Brasil", na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Essa conversa de neurônio me lembra a análise de um reitor baiano sobre o berimbau. Mas FHC não foi convocado a dar pitaco sobre o ensino brasileiro de graça. Para quem não sabe, há uma greve de professores em São Paulo, território do (des)governador e pré-candidato à presidente da República José Erra, digo, Serra. E FHC aproveitou o assunto para defender a famigerada meritocracia tucana, pois em São Paulo, em vez de Serra dar aumento de salário, escolhe os professores mais "bonzinhos" e "comportadinhos" para "merecer" um troquinho a mais.

- Hoje se tem uma greve em São Paulo em parte contra isso. Até hoje não se aceita que haja incentivo pecuniário para quem for melhor. Não acredito que a meritocracia possa substituir a democracia, mas acho que é preciso prestar atenção, pois ela pode significar um grande desafio: além de ter uma força econômica, baseia suas grandes decisões num sistema de mérito, defendeu FHC.

Palmas para o "iluminado" que ele merece! E o Futepoca aproveita para lançar aqui, a partir desse post, uma campanha que mobilizará a nação:

FALA MAIS, FHC!

quinta-feira, março 25, 2010

As desculpas pelo bloqueio da poupança ou como Covas salvou Serra de ser ministro de Collor

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Cristina Gallo/Agência Senado
O senador por Alagoas e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello parece hoje aquele veterano que joga mais leve e solto quando não tem a responsabilidade de atuar em uma equipe grande. Depois do período de "quarentena forçada", já que teve seus direitos políticos suspensos por oito anos, o parlamentar, em várias entrevistas, conta detalhes do passado (claro, sua versão dos fatos) e ataca antigos aliados e outros supostos colegas que negam tal condição. Em entrevista concedida aos jornalistas Cezar Motta e Adriano Faria, da Agência Senado, ele descreve episódios interessantes para quem se interessa pela história política do Brasil. Alguns episódios conhecidos, outros, reveladoras. Abaixo, alguns trechos:

Bloqueio da poupança

Eu nunca afirmei isso [que não iria mexer na caderneta de poupança]. Ao contrário, em um dos debates eu disse que o meu adversário é que iria confiscar as poupanças, justamente para evitar que a pergunta me fosse feita. O fato é que, quando todos da minha equipe viram que as contas correntes e a poupança receberam enormes aportes, concluímos que não bastava bloquear os títulos, não seria suficiente. E posso garantir que todos os candidatos tinham a mesma intenção. O PT, o PMDB. Tanto é verdade que, dois dias depois, economistas e políticos do PT paulista, alguns ex-colegas da ministra Zélia na Universidade de São Paulo (USP), a procuraram e disseram: "Era este exatamente o programa que queríamos aplicar. Só que, no nosso caso, o governo cairia no dia seguinte".

(Acima, Collor mostra seu senso de raposa política. Confessa ter posto Lula na parede para não ter que assumir que poderia mexer na poupança. Ou seja, acuse antes de ser acusado)

Fracasso do plano

Não, a população não sabotou. Ao contrário, uma pesquisa logo depois do plano mostrou que tínhamos 67% de aprovação. Erramos em uma série de pequenas coisas, que se tornaram grandes. Por exemplo, na administração da liberação do dinheiro no que chamávamos de "torneiras". Todo dia nos deparávamos com uma surpresa. Nossas reservas cambiais eram atacadas no mercado, e nós precisávamos delas. Muitas frentes estavam abertas, mas a grande resistência veio da Avenida Paulista, como disse, dos grandes industriais e empresários brasileiros, que não gostaram de perder suas reservas de mercado. Em nenhum momento tivemos problemas com sindicatos de trabalhadores ou partidos de oposição, embora o PT já fosse uma oposição forte e ativa. 

Quem sabotou foram os que queriam manter privilégios, aumentar preços e tarifas, a burocracia, os que se envolviam com a Cacex (Câmara de Comércio Exterior do Banco do Brasil, que estabelecia tarifas de importação e exportação). Enfim, era a mesma gente que me apoiou no segundo turno, que defendia a medidas que adotei. Mas logo percebi que defendiam as medidas em relação ao vizinho, mas não aceitavam que fossem adotadas em relação a eles próprios. Tanto que, quando o então presidente da CUT, Jair Meneguelli, foi ao Palácio falar sobre greves e movimentos contra o plano, eu lhe disse: "Não se preocupe, porque vocês, os trabalhadores, não desestabilizam o governo, mesmo com greves. Quem está realmente causando problemas são os seus patrões, os industriais".

(No trecho, Collor tenta se fazer de vítima da elite, discurso comprado por parte de seus ex-eleitores. A outra parte jura de pés juntos que votou nulo ou no Lula no segundo turno de 89... E sobre o apoio ao Plano, é fato. Muita gente não se indignou e, embora possa até ter ficado chateada por ter seu dinheiro bloqueado, só se mexeu de fato quando o Plano começava a fazer água.)

Delfim Netto

Recentemente, por exemplo, o Delfim Netto disse que não foi consultado na época do plano por ninguém da equipe. Realmente, ninguém da equipe o procurou, mas ele esteve comigo. Ele desmente e diz que, convenientemente, escolho só testemunhas já mortas. Mas há as esposas que estavam presentes. Este encontro foi na casa do ex-deputado Amaral Neto, e a d. Ângela, mulher dele, estava lá, um final de tarde, com o então deputado Ricardo Fiúza e o senador Roberto Campos. Eu os consultei sobre a situação da economia, e todos foram unânimes: com essa liquidez, nenhum plano anti-inflação dará certo. Disseram que seria decisiva a escolha do presidente do Banco Central. Era preciso um nome capaz, que o mercado respeitasse. Eu mencionei alguns nomes, e quando citei Ibrahim Eris, Delfim vibrou: "extraordinário nome, extraordinário nome, perfeito!". Já Roberto Campos não gostou: "Esse não pode, Delfim, é um fiscalista, seria um erro".

Logo depois, o Delfim foi ao Planalto, lépido e fagueiro, com aquele cabelo sempre bem penteado, bem barbeado, sorridente, e disse: "genial presidente, genial!! Nem eu com o AI-5 teria condições de fazer isso. Parabéns!" Hoje ele nega o encontro. Mas houve, e dou mais um detalhe da conversa. Ele me perguntou: "Mas esse dinheiro não vai ser devolvido, não é?" E eu respondi: "Sim, vai ser devolvido e com juros". Ele riu e duvidou: "Ah, mas isso eu quero estar vivo pra assistir".Pois o dinheiro foi devolvido e Deus permitiu a ele estar vivo para testemunhar. Ele desmente o encontro, mas explicou que apenas propôs o pagamento em títulos. Ou seja, sem querer, confirmou.


(Delfim que se explique, "nem no AI-5"...)

Acordo com o PSDB


Fechamos o acordo com o presidente do PSDB, o então deputado Franco Montoro, o partido nos apoiaria no Congresso, o Fernando Henrique seria chanceler e o José Serra seria o ministro da Fazenda. Viajei com tudo acertado, e quando voltei soube que o senador Mário Covas havia vetado tudo, anulado o acordo.

(Se o PSDB chegou à presidência, deve ao falecido Covas. Se dependesse dos luminares tucanos...)