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sexta-feira, junho 07, 2013

Por que o movimento pela redução da passagem dará em nada

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por William Maia*

Vendo as imagens da batalha de ontem na Paulista, uma pergunta não me saía da cabeça: por que só pararam a Paulista agora, se o reajuste vem sendo anunciado há meses? A resposta, como sempre, está no passado: em 2006, ainda no começo da gestão Kassab, participei de algumas manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus. Na época, o reajuste foi de R$ 2,00 para R$ 2,30. 
Tinha acabado de entrar na faculdade, não sabia de muita coisa, mas a causa me parecia justa e o movimento, democrático –qualquer um podia participar e não havia liderança hierarquizada clara. Os protestos começaram bem, fechamos a Paulista algumas vezes e bloqueamos o terminal Parque Dom Pedro; tudo de forma pacífica, a despeito da agressividade da polícia. 
Conforme os dias e semanas passavam sem que a Prefeitura desse o menor sinal de que poderia reverter o aumento, o público das passeatas foi minguando. Ainda assim, eram muitas pessoas, a maioria sem ligação com partidos ou sindicatos. Gente realmente interessada em um transporte público de qualidade a preço justo –ou a preço nenhum. Certo dia, fui a uma reunião da coordenação do movimento na sede do Partido Humanista, em Santa Cecília. 
Cheio de entusiasmo juvenil, me inscrevi para falar na plenária, e defendi que encarássemos a realidade e mudássemos a bandeira do movimento. Já não adiantava imaginar que o valor da passagem regredisse depois de tanto tempo. Portanto, deveríamos aproveitar aquela reunião de pessoas bem-intencionadas e defender investimentos na melhoria dos ônibus, no aumento da frota para mitigar as superlotações, e nos prepararmos para enfrentar um novo reajuste no futuro, ANTES que este entrasse em vigor. A chance de barrá-lo seria muito maior, evidentemente. 
A proposta foi bem aceita num primeiro momento, com discordâncias pontuais, até que tomou a palavra um militante da juventude do PCO (Partido da Causa Operária) – sim, eles existem –, que chamou o discurso pela melhoria das condições do transporte de “coisa de tucano”, e defendeu que continuássemos as passeatas pela redução da tarifa, que no mínimo manchariam a imagem do Kassab. Confusão instalada, todos falando ao mesmo tempo, troca de acusações etc. 
Eis que em determinado momento, alguém propõe uma votação para definir os rumos do movimento: continuaríamos as passeatas com cada vez menos pessoas ou buscaríamos uma alternativa? E foi então que a realidade me deu um tapa na cara. Vendo que a militância presente pendia para a segunda opção, os camaradas do PCO e outros descontentes começaram a retardar a votação, enquanto telefonavam chamando mais gente para comparecer à plenária e assim ganhar o controle do movimento. 
Fui embora e nunca mais voltei. 
Ali percebi que, apesar da boa intenção da maioria, não se tratava apenas de um movimento contra o aumento da passagem, mas de disputa de poder entre correntes do movimento estudantil, algumas delas, marionetes de partidos. Em 2009 e 2011, a coisa se repetiu. Protestos contra o aumento foram às ruas DEPOIS de o reajuste entrar em vigor. Começaram fazendo barulho e depois desapareceram. 
Dessa vez não será diferente.

A massa cheirosa paulistana se diverte

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Rosas para as dondocas, porrada no povo
Quinta-feira à noite na maior cidade da América Latina, capital do Estado mais rico do país. Enquanto a polícia do governo alckmista descia a porrada em estudantes e sindicalistas em plena Avenida Paulista, tucanos de todas as plumagens, puxa-sacos, novos ricos deslumbrados, potenciais atropeladores de ciclistas, artistas globais, pseudo-celebridades e espertalhões que seriam enquadrados fácil, fácil em muitos dos artigos do Código Penal se reuniam no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, para um jantar beneficente. Quem tiver estômago, confira a coluna de Mônica Bergamo de hoje, na Folha de S.Paulo - página E2, caderno Ilustrada.

Marido marqueteiro do PSDB é só um acaso
Está lá o (des)governador, sorridente, cobrando R$ 400 por pessoa para o projeto Padarias Artesanais, de sua querida esposa, Lu, que preside um tal de Fundo Social da Solidariedade. Mas a verdadeira padaria estava ali mesmo na festa tucana, produzindo a tal massa cheirosa da Eliane Catanhede - que, por mero acaso, é casada com um marqueteiro do PSDB. E, falando em matrimônio, o casal Geraldo e Lu Alckmin é aquele mesmo que não teve pudor de, investido das funções de governador e primeira-dama, cortar a faixa na inauguração da loja para milionários Daslu. Será porque a filha deles trabalhava na polêmica loja?

Política pública: inaugurar loja de contrabando
Aliás, o escândalo de contrabando na Daslu é, até hoje, "o segredo de Sophia" (Alckmin) - e talvez isso tenha alguma relação com a menção ao Código Penal no primeiro parágrafo... Mas não estraguemos a festa tucana, afinal, Geraldo Alckmin sempre foi um dos defensores mais aguerridos da "ética", da "moralidade" e dos "bons costumes" - vide o episódio em que algumas das "manifestantes" endinheiradas do Movimento Cansei (pausa para um sorriso maroto do Cláudio Lembo), como Ana Maria Braga e Regina Duarte (MEDO!) compareceram, naquela mesma época, ao casamento da  filhinha do governador.

Kherlakian entretendo tucanos no rega-bofe
Puro acaso, mera coincidência. Trololó petista, diria o probo e honesto José Serra. Voltemos, pois, ao que interessa, o rega-bofe tucano de ontem à noite, espécie de "baile da Ilha Fiscal" do Império Alckmin. A colunista Mônica Bergamo destaca a presença de Reinaldo Kherlakian, "cantor" e herdeiro da Galeria Pagé, na região da rua 25 de Março (olha o Código Penal aí outra vez...). Observa, com deleite, que ele cria "araras, minicavalos, cães, minivaca, burro, zebra e até um tigre-de-bengala" em sua casa (por que não tucanos?) e que "estreou ternos de João Camargo e Ricardo Almeida e sapatos Louboutin cravejados de cristais Swarovski, comprados em Nova York". Nada mais PSDB e massa cheirosa do que isso!

Claudia Raia reviveu glamour da Era Collor
Também estava lá Claudia Raia, cabo eleitoral de Fernando Collor em 1989, e Moacyr Franco, outro que mantém estreitas relações com o tucanato. Mas a nota engraçada da festa Alckmista foi que, no Estado mais rico do país, onde quem consegue sobreviver à dengue pode sucumbir à violência e criminalidade, que batem recordes há meses, até as dondocas estão alarmadas com a insegurança. "É uma coisa impossível o que está acontecendo", reclamou Regina Manssur, ex-Mulheres Ricas, programa educativo da TV Bandeirantes. "Alguma coisa tem que ser feita. Na questão da segurança, estou insatisfeita com o meu candidato", acrescentou a advogada, que, assim como Kherlakian, reside no Morumbi - o bairro campeão de assaltos na capital (e onde também está o Palácio dos Bandeirantes da festança de ontem, resumo da suprema vergonha que é a gestão tucana). Detalhe: o tal "candidato" da mulher rica, Alckmin, é o dos massacres de maio de 2006 e de relações cordiais com o PCC.

Sonho da elite paulistana é reviver a 'Redentora'
Diante de tanta violência, a canseira do Movimento Cansei deu as caras: "Estamos cansados de ver tragédias horrendas acontecendo", reclamou a dondoca Helena Mottin, nas (grandes) fuças do (des)governador. O melhor foi o comentário do magnata da Galeria Pagé, Kherlakian: "Ele (Alckmin) não tem culpa. O que ele pode fazer? Tem que modificar todas as leis. Teria que começar lá no Congresso". Muito bom, muito bem. O sonho dessa gente é mesmo fechar o Congresso, botar os milicos no poder e todos esses petralhas na cadeia. Mandar a "gente diferenciada" pra longe de Hiegienópolis. Marchar com  a família e com Deus pela "liberdade". Polícia? Só pra bater em estudantes e sindicalistas e pra matar jovens pobres e negros. Um brinde, Dona Lu! Viva a vossa padaria! Viva a massa cheirosa!

E paro por aqui, porque não aguento ficar tanto tempo tampando o nariz.

quinta-feira, junho 06, 2013

Celibato e o Estatuto do Nascituro. É (também) disso que se trata

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O Estatuto do Nascituro é uma aberração. Muitos textos por aí já provaram isso por A+B, então não vou discorrer sobre os detalhes do projeto em si É tão descabido que, se aprovado, deverá ter muitos e muitos artigos considerados inconstitucionais. Não que algo que eventualmente restar não seja prejudicial à sociedade, claro que será, mas não acredito que impedir o tratamento de uma mulher com câncer seja constitucional.

Alguns textos. São só alguns exemplos, certamente há outros excelentes por aí.

"Bolsa-estupro: o crime patrocinado", de Letícia F., do blog Cem Homens
"Estatuto do Nascituro: a mulher que se foda", de Clara Averbuck
"Estatuto do Nascituro: mulheres são apenas um vaso de planta", do Leonardo Sakamoto
"O Estatuto do Nascituro e o terror", da antropóloga Debora Diniz

O que quero nesse meu pitaco é tentar chegar à essência da ideia de obrigar uma mulher a carregar um filho que não deseja, seja porque ele morrerá ao nascer, seja porque ela foi estuprada, seja porque a continuação da gravidez irá matá-la (e, curiosamente, matar o bebê, já mais desenvolvido e capaz de sofrer, junto).
Essa essência certamente não é pro-vida. Não é a favor da vida da mãe, nem à vida dessa criança depois que ela nasce. É claro que não. Eles intitulam-se "pró-vida" mas não é esse o cerne de sua ideologia.

Na verdade, um dos pilares que sustentam o PL 478/2007 é a ideia de que Deus deve decidir quem vive e quem morre. Oras, para isso a resposta é fácil: deixe de usar antibióticos, não vá para o hospital em caso de AVC nem realize exames de check up. Assim Deus estará decidindo sobre a vida de todos.


Ah, não, aí não. Aí devemos usar todos os recursos disponíveis para manter uma vida. Aliás, na hora de permitir que uma pessoa morra com decência, eles não deixam. A pessoa é obrigada a ficar ligada a aparelhos mesmo se não quiser. Vamos tomar um lado aí, pessoal! Ou Deus quer ou não quer decidir livremente quem morre. Se não pode salvar a vida de uma mulher com um embrião na barriga, também não pode reanimar depois de um ataque cardíaco.

Mas vamos deixar essa contradição aí e avançar um pouco. Quer dizer, retroceder. No parágrafo acima, eu argumento em cima do discurso deles, de que Deus existe e não apenas planeja o Universo de maneira macro – as leis da física, os elementos que constituem a matérias, essas coisas – como tem capacidade para cuidar da vida e da morte de 7 bilhões de pessoas. Bom, eles acreditem no que quiserem, claro, mas é bom lembrar que eu não acredito, e muita gente não acredita, e que impor uma lei baseada nas crenças de um grupo, por majoritário que ele seja, é antidemocrático.

"Ah, mas somos maioria". Pode ser, mas como a democracia não é a ditadura da maioria, isso não importa. Estude só um pouquinho sobre o que constitui democracia, por favor. A propósito, há muitas pessoas que acreditam em Deus e que não partilham do tipo de crença ou “linha filosófica” adotada pelos “inspiradores” do Estatuto.

Bom, até agora assumi que o aborto seria realizado por absoluta necessidade, mesmo que o embrião tenha sido concebido dentro das leis de Deus (de novo, só pra ficar dentro do argumento deles). Mesmo essa gravidez honrada e pura pode ser punida. Mas fica pior.Também será punida a vítima de estupro que não quiser manter uma gravidez resultante da violência, obrigada a gerar um filho que não quer. Isso mesmo se a vítima for para todos os efeitos uma criança. Nesse caso, ela poderá ser punida com a morte também, já que seus corpos não estão preparados para uma gravidez. Guardemos esse fato também.

Agora, uma palavra sobre o aborto de maneira geral, aquele que é permitido em muitos países e possibilita que a mulher escolha não levar adiante uma gravidez indesejada. Essa discussão, que pareceu um dia que ia avançar, está no limbo. Acho até que quem leva à frente o Estatuto do Nascituro deve saber que ele não pode ser aplicado, que é inconstitucional, que haverá protestos. Não me parece descabida a ideia de que o PL é, na verdade, um subterfúgio para atrasar as discussões sobre a descriminalização do aborto. Por que, né?, basta um avancinho na área de direitos reprodutivos da mulher, mesmo que seja retórico apenas, pra esse pessoal "pró-vida" (todas as aspas aqui) reagir com virulência.

Mas então. Por que, pra esse pessoal, não pode ter aborto por vontade da mulher? Bom, porque quem faz sexo tem que arcar com as consequências de seus atos. O discurso é de que, se a pessoa não quer filhos, deve usar métodos contraceptivos. Só que, estatisticamente, os métodos falham. Pílulas falham, os números que encontrei variam de 1% a 6% de falha. Camisinha falha ainda mais, entre 10% a 20%. Vasectomia e laqueadura também falham! Tudo isso é dado conhecido. A mulher usa dois métodos contraceptivos e ainda assim há uma possibilidade de gravidez. Em termos populacionais, esses casos não podem deixar de ser considerados. Pessoas ficam grávidas sem querer. E esses números aparecem em sites "pró-vida" também, vejam só, ou seja, os parlamentares sabem disso.

Então não, não dá pra achar que as pessoas vão evitar gravidez com 100% de certeza. E daí? Daí que o PL não pune apenas a irresponsabilidade. Ele pune pura e simplesmente o sexo.

Todo sexo será castigado


Não sei em que mundo esse pessoal vive. Enquanto deveria haver dentro das igrejas uma discussão profunda sobre a sexualidade (os padres pedófilos e pastores estupradores não me deixam mentir), eles querem impor sua filosofia celibatária para toda a sociedade! Vou falar de novo: o celibato não funciona nem dentro das igrejas que o pregam, que são instituições para onde as pessoas vão por livre e espontânea vontade (estou falando dos sacerdotes aqui, não dos fiéis), sabendo que não poderão fazer sexo ou que só o farão para fins reprodutivos. Esses caras escolhem viver assim, e muitos não conseguem. Por que acham que a sociedade de uma maneira geral conseguiria fazer sexo apenas para reprodução?

Porque no fim é isso: trata-se da punição do sexo. Pior, a punição do sexo até quando ele não é consentido.  E, pelamor, é punição até quando o sexo eventualmente segue os preceitos que eles acham corretos, mas que resultem numa gravidez de feto anencéfalo. Ou ainda que a mulher descubra-se doente e não possa se tratar. Aí a criança pode morrer, mas só se a mãe for junto.

Bom, punição para a mulher, né? Para o homem não muda pica nenhuma. Então é o controle total sobre o corpo feminino, mas nada muda para o homem. Ou será que o pai deverá ser proibido de tratar uma doença durante a gravidez?

Não tenho palavras para descrever a crueldade disso. Falta vocabulário.

Por último, um comentário sobre o começo da vida. Meus queridos religiosos: podemos discutir isso até o fim dos tempos. Nunca haverá consenso. Jamais. Então ficamos assim. Vocês seguem o que acreditem. Se as mulheres religiosas não quiserem abortar, não abortem! Deixe que as discussões laicas decidam os direitos reprodutivos das mulheres que não pensam assim. Juro, não tem ninguém querendo passe livre para abortar aos 8 meses de gestação. O limite de 12 semanas é usado largamente em todo o mundo, há motivos para isso. Ah, o medo é de uma epidemia de aborto? Desconheço. Aliás, os dados do Uruguai mostram que o número de abortos diminuiu depois da descriminalização da prática.

Resumindo: esses parlamentares não se importam com a vida dessas mulheres, que em muitos casos estará completamente arruinada por conta da imposição de manter a gravidez. As crianças, então, que se danem. Logo depois de nascerem poderão passar fome à vontade. Ouvirão várias críticas às ajudas governamentais das quais estão usufruindo porque o próprio Estado as obrigou a vir ao mundo. Se eventualmente vierem a cometer crimes, essas crianças e jovens enfrentarão a ameaça da diminuição da maioridade penal.

Eu queria saber, mesmo, o que importa de verdade para esses parlamentares.


Agora, muitos adendos

1 - Está rolando uma petição contra o Estatuto do Nascituro. Sempre duvido da eficácia desse tipo de abaixo-assinado, mas acho que não custa assinar.

2 - Homens, aprendam uma coisa: gravidez é uma merda. Sério, uma merda. Não existe gravidez sem sintoma desagradável, o que existe é mãe que finge para si mesma que eles não existem. Juro que se (que o deus desse pessoal me livre) eu ficasse grávida por conta de um estupro e não pudesse abortar, eu tentaria em casa (ou, privilegiada classe média que sou, iria para o Uruguai ou para Portugal fazê-lo), porque os enjoos, dores e outros problemas só são suportáveis com muita vontade de ter um filho. E eu tenho um.

3 - DUVIDO que muitos pastores não mandem as filhas abortarem em segredo para manter as aparências.

4 - Há igrejas que não pregam o sexo apenas como meio de reprodução. Quando menciono "pastores" de maneira genérica, estou falando desses que acham que sexo é sujo.

5 - Tem o retrocesso científico também, sobre isso, ler aqui.

6 - O último argumento desse pessoal pró-vida é dizer: imagina se sua mãe tivesse te abortado! Juro que não consigo entender esse pensamento. Se minha mãe tivesse me abortado eu não existiria e pronto. Qual o problema? Antes de existir eu não existia e tava tudo bem com o mundo. Que vaidade é essa de achar que não nascer é uma tragédia?

Nem 1.000 nem 1. E Muricy já incomoda o He-Man

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Pois é. Pelo jeito, ao contrário do que escrevi, o Túlio (ex-)Maravilha vai acabar fazendo seu suposto milésimo gol antes de o São Paulo ultrapassar os 999 já marcados no Brasileirão dentro do Morumbi. Ontem, como eu já previa no post sobre a goleada sofrida para o Atlético-MG (dizendo que aquilo não seria "o último vexame de 2013"), o time - time?!?!? - de Ney Franco sofreu a humilhação de perder em casa para o Goiás, que estava na zona de rebaixamento e não tinha uma vitória sequer em três jogos, tendo levado um vareio de 5 a 0 do Cruzeiro logo na primeira rodada. Pior: o São Paulo finalizou 23 vezes (VINTE E TRÊS VEZES!) e não conseguiu marcar nem um golzinho, condenando ao fiasco a campanha divulgada no site do clube que alardeou o possível gol 1.000, em Brasileiros, no próprio gramado - o que iludiu e convenceu quase 9 mil infelizes a testemunhar a vergonha (mais uma) no estádio.

Como o jogo começou às 19h30, cheguei em casa a tempo de acompanhar apenas os 15 minutos finais, pelo rádio. Nenhuma surpresa: locutor, comentarista e repórteres de campo frisavam a todo instante o futebol apático, descoordenado, inofensivo, feio e lamentável do São Paulo. Anteontem, com a notícia de que Juan assumiria a titularidade na lateral-esquerda (e também sem novidade jogou pessimamente ontem) eu já havia postado aqui no blog: "Vai mudar alguma coisa com os NULOS Douglas e Juan nas laterais? Com os sofríveis Lúcio, Tolói ou Edson Silva na zaga? Com os pouco produtivos Luís Fabiano ou Aloísio como centroavantes? Rodrigo Caio? Maicon? Negueba? Silvinho?" A partida de ontem respondeu as perguntas: sim, vai mudar - pra pior! E vai sobrar para o Ney Franco. Além das vaias, a torcida gritou o tempo todo: "É Muricy!". E dizem que o recém-desempregado treinador, que levou um pé do Santos, parece estar disposto a encarar novamente o bafo (de cana) do Juvenal Juvêncio em seu cangote...

Questionado sobre o clamor dos torcedores, o "He Man" Ney Franco garantiu: "Eu tenho força!" Mas, com esse time horrível e sem opções no elenco ou perspectiva de contratações, o prazo de validade do treinador parece menor do que o Nelson Ned. A informação de que Muricy Ramalho passará duas semanas em férias nos Estados Unidos dá a entender que ele já conversou com o Velho Barreiro, digo, o Juvenal Juvêncio, que o aconselhou a aguardar quietinho os próximos jogos (e maus resultados) do São Paulo e o fim do recesso futebolístico por causa da Copa das Confederações. Ou seja: o mesmo dirigente que mandou Muricy embora e que, desde aquela intempestiva atitude (mais uma), viu o time fracassar por quatro temporadas seguidas (e no início da atual), agora, meia dúzia de técnicos depois, não tem pudor de recorrer justamente a quem demitiu. TUDO ERRADO. Nem Muricy, nem Tite, nem Cuca, nem Pepe Guardiola, nem Deus podem fazer algo de útil com esse timinho do São Paulo. Pelo menos enquanto Juvenal estiver lá.



Aldo Rebelo quer mais Estado na gestão esportiva

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Flagrado com o prato cheio, o futepoquense
Nicolau esconde-se atrás do cabelo
Para arrepio dos liberais e alegria dos esquerdinhas, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, é um intervencionista. A revelação, não tão surpreendente se considerarmos sua filiação ao PCdoB, foi feita para um grupo de onze blogueiros e blogueiras de esportes, entre eles este que vos escreve. Realizada em São Paulo, a coletiva foi um convite do ministério para debater as Copas das Confederações e do Mundo que o país abrigará.

O palmeirense Rebelo defendeu que o Estado tenha maior participação na gestão do futebol e de outros esportes, um espaço de influência para “impor determinados limites para a proteção do interesse público e do interesse nacional. A não ser que alguém prove que não há interesse público nem nacional na prática do desporto. Eu acho que há, e muito, não só no futebol”, defendeu.

A afirmação veio em resposta sobre a relação entre o governo federal – que tem como representantes máximos na organização da Copa o próprio Rebelo e a presidenta Dilma Rousseff, ambos ex-participantes de organizações de luta contra a ditadura militar –, ao lado da CBF de José Maria Marin, ex-deputado pela Arena acusado de contribuir para o assassinato do jornalista Vladmir Herzog. A resposta, sem mencionar o nome de Marin, revela uma marca  entrevistado, afeito ao hábito de embutir mensagens indiretas em suas respostas.

Rebelo minimizou as desavenças, dizendo que as relações entre governo, Fifa, Comitê Organizador Local (presidido por Marin) e os patrocinadores “têm sido muito boas”. Não negou que o diálogo é precário e que haja diferenças de ideias, “mas que não interferem na realização da Copa”.

“Defendo que haja limitação de tempo e número de mandatos para dirigentes de entidades ligadas ao esporte. Se você tem número limitado de mandatos para presidente da República, prefeitos, governadores, por que não pode ter também para o presidente de uma federação?”, indagou o ministro. Ricardo Teixeira, antecessor de Marin e principal articulador da atual estrutura do futebol, passou 23 anos à frente da CBF.

Atentem para o celular do ministro com a capinha do Palmeiras
“Eu vejo entidades que têm dificuldades de prestar contas do dinheiro público. Não é porque vai tirar ou desviar dinheiro. É pela própria competência de prestar contas desse dinheiro. Se você profissionaliza, você valoriza as suas marcas”, continuou o ministro, em mais recados.

Em outro momento da entrevista, falou da necessidade de mudanças no calendário, tema sensível para as federações e para os clubes. Segundo ele, é necessário uma temporada com mais jogos para os pequenos times do país, que sofrem por não ter o que disputar em dois terços do ano, e menos compromissos para os grandes, que disputam perto de 20 jogos a mais que os europeus e não conseguem internacionalizar suas marcas com excursões e pré-temporadas. Não disse, no entanto, o que o ministério efetivamente fará para contribuir com as mudanças – falou apenas em “mediar” o debate.

Como político experimentado, Rebelo revela-se um entrevistado escorregadio. Auxiliado pelo formato do encontro, com cada blogueiro querendo aproveitar sua pergunta e não interferir demais na resposta que outros aguardam, desliza pelos assuntos com referência históricas e sociológicas interessantes, mas pouco práticas.

Por exemplo, Aldo foi perguntado sobre o porquê da privatização/concessão do Maracanã, arrematado pelo Consórcio Maracanã SA, formado pela IMX, Odebrecht Participações e Investimentos e pela norte-americana AEG Administração de Estádios por R$ 181,5 milhões, não ocorrer antes da reconstrução do estádio, que custou mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Aldo dá uma volta ao mundo em centenas de palavras para chegar no final e dizer: qual era a pergunta mesmo?

Em linhas gerais, seu discurso valoriza o legado da Copa em termos de infraestrutura para as localidades e das novas oportunidades de negócios que ela pode proporcionar, inclusive o para o futebol como modalidade de negócio, mas revela preocupação com o legado esportivo do evento, temendo a elitização e o distanciamento do povão do esporte que só se consagrou no país graças à paixão que despertou nas massas desde o início do século 20.

“A Copa pode melhorar a estrutura do futebol brasileiro e elevar a renda dos clubes pela qualificação da gestão, ou pode também elitizar o futebol, transformá-lo numa "ópera", de ricos e da classe média, que vão ali como uma diversão e não porque têm paixão pelo futebol, o que seria lamentável. E também não daria um bom destino para o futebol. O futebol só se transformou no que é porque foi abraçado pelo povo”, afirma o ministro.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Por que essa insistência em fazer a Copa com 12 sedes? Menos sedes não seria mais vantajoso?

Poderia ser mais vantajoso fazer só em São Paulo. Se pegarmos Itaquera, o Palestra, o Morumbi, Ribeirão Preto, Prudente, São José do Rio Preto e outros estádios, faríamos provavelmente uma Copa melhor que a da Espanha em 1982. No entanto, temos um país com toda sua diversidade geográfica, somos um continente, com metrópoles espalhadas de norte a sul. Uma no coração da selva, outra no coração do Pantanal, outra no extremo Sul, e o Nordeste cheio delas.

Se queremos uma Copa do Mundo no país, vamos fazer em todo o Brasil. Não é difícil fazer Copa em Manaus ou Cuiabá, difícil foi fundar e construir as duas cidades. Para fazer o forte na boca do Rio Negro, as pedras tiveram que ser transportadas de Portugal, lá por 1600. Difícil foi a jornada do Raposo Tavares, que saiu de São Paulo e percorreu esse roteiro todo em dez anos, passando inclusive por Manaus. Esse era o desafio nosso e estamos fazendo.

Desafio vai ser transformar esses estádios, que não costumam receber jogos oficiais, em estádios cheios. Brasília, por exemplo, não costuma ter grandes públicos. Como fazer para eles serem rentáveis depois da Copa?

Nesse sentido, é bom lembrar que Brasília nem existia, foi fundada nos anos 1960. Se vamos construir um estádio na capital do país, ele tem de ser compatível com sua vocação, sua trajetória, e acho que o estádio é isso. Não creio que tenha vocação para elefante branco. Ele vai ter todos os jogos importantes? Provavelmente não.

Wembley (em Londres) é um estádio com esse conceito, um monumento ao futebol no qual acontecem oito, dez jogos por ano. Vive mais de eventos, casamentos, museus, restaurantes, bares, visitação. O estádio de Brasília, o de Manaus, o de Cuiabá ou do Rio Grande do Norte serão estádios, terão jogos, e também eventos.

Em Natal a empresa que constrói já está vendendo os espaços internos pelo melhor preço da cidade. É um espaço como tem hoje no Morumbi. Estive lá outro dia e o Juvenal Juvêncio (presidente do São Paulo FC) me disse que arrecadam R$ 50 milhões por ano em venda e aluguel de espaços para academias, bancos, lojas. Isso vai acontecer no país inteiro. O de Fortaleza já é a sede da Secretaria Estadual de Esportes e da Diretoria de Engenharia e Arquitetura do Estado. Tem auditórios, eventos e todos eles vão funcionar mais ou menos desse jeito.

Lamentavelmente a questão do público no Brasil não é só desses estádios. Veja o público dos jogos do Campeonato Paulista, do Carioca, do Gaúcho. Não se pode falar só dos campeonato menores. Vi jogo do Fluminense no estadual com menos de mil pessoas. Mais da metade dos clubes do Rio Grande do Sul tiveram menos de mil pessoas nos jogos. Então, esse é um problema de todo o Brasil e deve ser enfrentado assim.

Por que não privatizaram o Maracanã antes da reforma? Além disso, as pessoas que tinham camarotes perderam o direito a eles. Isso vai acontecer em outros lugares?

Eu não conheço cada uma dessas realidades estado por estado. Sei que há estado em que o estádio é privado: o do Corinthians, do Atlético-PR, do Inter. Alguns são novos. Outros, reformas. Nesses casos, o governo emprestou dinheiro do BNDES para a reforma ou construção, para o consórcio ou empresa, não para os clubes, o que é proibido. Cobrando todas as garantias que são exigidas de qualquer tomador do BNDES, sem diferença. E num volume muito menor do que os empréstimos que o BNDES faz para outros setores, como telefonia.

Em Pernambuco, o estado cedeu uma área para uma empresa em São Lourenço da Mata, cidade da Grande Recife. Será construído, além do estádio, uma universidade, um shopping, um conjunto habitacional. Acho que são 200 hectares de área, e parte será uma reserva ambiental. Nessa cidade da Copa, várias atividades e serviços serão integrados e o estádio é um deles. Uma rodovia duplicada que já está pronta, um serviço de metrô que está chegando até o estádio. Em São Paulo, a zona leste tem o mais baixo IDH da cidade. A ida do estádio para lá iniciou um processo de transformação. Então, é uma coisa muito boa para a cidade e para a Zona Leste. E agora? Esqueci da pergunta (risos)...

Sobre a privatização do Maracanã.

Primeiro, quando você faz com dinheiro público, é criticado porque gastou dinheiro público. Se faz concessão, é criticado porque foi privatizado. É preciso saber o seguinte: o governo do estado vai ser remunerado? A concessão remunera o poder público? Porque elas estão sendo feitas em outros equipamentos, como aeroportos. O de Guarulhos foi concedido recentemente, todo ele construído com dinheiro público. Ou seja, às vezes o setor privado não está disposto a construir, só a fazer a concessão. O primeiro Maracanã foi construído também dessa forma. Tem que ver se na concessão há remuneração e em quanto tempo esse investimento vai ser amortizado.

Em 2007, quando o Brasil foi escolhido sede da Copa, os políticos presentes no dia comemoraram porque havia sete anos para planejar, escolher cidades, construir estádios. Estamos próximos, da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, e há muitos atrasos.

Temos no Brasil uma burocracia muito forte, bem assentada, que envolve órgãos de controle do Executivo, a Controladoria Geral da União (CGU), o Tribunal e Contas da União (TCU); o Ministério Público, o federal e os dos estados; as Defensorias Públicas; órgãos ambientais; o Iphan. Isso cria um coeficiente de atrito, de deslocamento em todas as decisões relacionadas a um empreendimento dessa natureza.

Todo planejamento já deveria levar em conta todas essas circunstâncias, mas é imponderável, você não sabe se sua obra vai ser paralisada por licença ambiental, por ação do MP ou por uma greve. Mas tenho segurança de que as obras serão concluídas dentro do prazo e nenhum atraso comprometerá a realização das Copas.

E que futebol brasileiro teremos no pós-Copa? Vai haver um processo como na Inglaterra, só para a classe média e daí para cima? O povo vai ser impedido de ver futebol?

Essa é uma batalha, não está decidido não. Há um processo econômico...

Por exemplo, uma arrecadação de R$ 7 milhões no jogo entre Santos e Flamengo, no Mané Garrincha em Brasília, é maravilhosa, mas um ingresso médio a R$ 150 não é um preço aceitável.

Principalmente para quem apoia e tem mais paixão pelo futebol, sinceramente não. Alguns defendem que haja uma elitização econômica e social, e justificam ideologicamente afastar o povo e os pobres dos estádios. Eu acho que é uma batalha, não está definido. A Copa pode melhorar a estrutura do futebol brasileiro, elevar a renda dos clubes pela qualificação da gestão ou pode também elitizar o futebol, transformá-lo numa ópera, de ricos e da classe média, que vão ali como uma diversão e não porque tem paixão pelo futebol, o que seria lamentável.

O futebol só se transformou no que é porque foi abraçado pelo povo, embota tenha chegado pelas mãos das elites. O futebol foi uma plataforma de inclusão dos pobres. A primeira celebridade pobre e negra no Brasil foi do futebol. Como um menino como o Friedenreich (filho de um comerciante alemão e uma lavadeira negra) poderia ascender, ser reconhecido e querido se não fosse pelo futebol? Ou o Fausto, que foi para a Copa do Mundo no Uruguai (1930) e voltou celebrado como a “maravilha negra”.

O futebol foi uma espécie de idealização da oportunidade. Aquilo que a educação não permitia, porque era muito restrita a uma parcela da população, o futebol de certa forma ofereceu. Todas as instituições na nossa sociedade que permaneceram e ganharam força foram criadas ou pelo mercado, ou pelo Estado. Corinthians, Palmeiras, Vasco, Flamengo não foram criados pelo Estado nem pelo mercado, mas pela sociedade.

Sobre o mercado, as imposições do organizador não acabam barrando as manifestações culturais?

Eu defendo que voltem, mas a questão é a seguinte: pressionada pelo Ministério Público, a própria CBF fez concessões nesse sentido. Como o evento é da CBF, ela pode dizer o que permite e o que não permite. É como se fosse uma festa organizada por um ente privado. Aqui em São Paulo ficou uma discussão: pode entrar bandeira ou não? E venda de cerveja? Ou seja, todo mundo pode beber cerveja em casa, com a família, na frente dos filhos. No estádio quiseram proibir. A prova de que essa questão não tem muita relação com a violência é que a violência vai sendo cada vez mais praticada distante dos estádios. Os grupos se encontram para brigar, para se matar, longe dos estádios. E se preparam tanto para a briga que não é problema do álcool. Eles priorizam a briga mesmo.

Voltando à questão das sedes fora dos grandes centros, estima-se que eles serão mantidas depois pelos eventos. E se não houver evento o suficiente para dar conta do custo da manutenção? Vai ter concessão para todos, o governo federal entrar com dinheiro público para manter os estádios em pé?

O esforço de construir infraestrutura esportiva do futebol não é só por causa da Copa. O Brasil precisava fazer isso, independente da Copa do Mundo. O Brasil é o país do mundo que tem o maior artilheiros de todas as Copas, que tem os maiores astros de Copas. E esse país que tem toda essa presença no futebol tem apenas 2% do “PIB” mundial do futebol. Ingleses têm 30%, os alemães, um pouco mais de 20%, os espanhóis, 18%, os italianos, uns 16%, e nós lá embaixo. O maior clube de massas do Brasil não tem um estádio próprio. Qualquer time de segunda ou terceira categoria da Espanha, Alemanha ou da Itália tem o seu estádio. E o Flamengo não tem. O Corinthians não tem, vai ter agora. Então, precisava criar essa infraestrutura, melhorar o nosso desempenho.

O país, no entanto, é muito desigual. Alguém se queixa: “Por que na Amazônia, no Centro-Oeste, no Nordeste?” Mas a desigualdade não é só do futebol. Se você for para a Amazônia, você sai de uma cidade da sede do município e anda centenas de quilômetros dentro do mesmo município. E você não pode ir nem de carro, só de avião ou de barco. Essa é a desigualdade do Brasil.

Isso é garantia de que vai haver essas obras de infraestrutura nesses lugares?

Para licenciar uma rodovia no Norte do país, é uma dificuldade muito grande. Mas lá, nessas capitais e metrópoles, existe uma economia capaz de sustentar um estádio. Em cidades como Natal, em torno de 1 milhão de habitantes, você tem atividade suficiente para preencher um espaço como a Areia das Dunas. Em Manaus, você tem essa possibilidade. Porque não é só um campo de futebol. O Vivaldo Lima era um campo grande, lá teve jogos da Seleção Brasileira, mas a Arena Amazônia tem a possibilidade de uma gama de serviços e de atividades que os antigos estádios não tinham.

O presidente da CBF, José Maria Marin, tem um histórico de conexão à ditadura...

A CBF, os órgãos que regulam o esporte no Brasil foram criados pelo Getúlio Vargas. Antes era tudo privado, o Estado não se metia. As maiores ligas do país, de São Paulo e Minas, não se entendiam. Quando a liga do Rio convocava a seleção, como em 1930, São Paulo não mandava ninguém. E vice-versa. Então, não tinha nenhuma seleção brasileira. Acho que só em 1919, quando o Brasil ganhou o primeiro sul-americano, houve um entendimento. Depois o Getúlio criou uma estrutura estatal para tratar do desporto.

Quando acabou o regime militar, as pessoas passaram a acusar que era entulho autoritário, porque o regime militar interferia no futebol, nomeava almirante, brigadeiro, e disseram que tinha de acabar com essa interferência. Só que essa interferência dos militares não seria a mesma da democracia. Quando você tirou o Estado, na democracia, deixou o futebol como uma coisa absolutamente privada, as federações estaduais e os clubes decidem tudo.

E defendo que o Estado tenha uma capacidade de intermediação desses interesses, de impor determinados limites, para a proteção do interesse público e do interesse nacional. A não ser que alguém prove que não há interesse público nem nacional na prática do desporto. Como eu acho que há e muito, não só no futebol.

O diálogo entre o ministério e o Comitê Organizador Local é precário?

Isso não está atrapalhando nada. A cooperação entre governo, Fifa, Comitê Organizador Local e os patrocinadores tem sido muito boa. Nós temos um representante do governo no Comitê Organizador Local. Só de cooperação, muitas coisas para a Copa que dependem do governo. Aeroporto, vigilância sanitária. concessão de visto de trabalho, segurança pública, telecomunicações. Nós participamos, não há nenhum desentendimento nesse aspecto. O que há são diferenças de ideias que não interferem na realização da Copa. Defendo que haja limitação de tempo de mandato e de número de entidades ligadas ao esporte. Defendo. Acho que se você limita os mandatos para presidente, prefeitos, governadores, por que não pode ter também para o presidente de uma federação?

Muitos clubes se queixam que jogam demais (20 partidas a mais do que a média europeia). Outros reclamam que jogam de menos (três meses e passam seis sem ter como pagar um jogador, inclusive os que ganham menos). O mundo do futebol profissional no Brasil é o mundo de baixa remuneração e de grandes dificuldades. Para um jovem que joga futebol, ter salário o ano inteiro para comprar leite, pagar aluguel e sustentar uma família, é muito difícil. As pessoas conhecem essa realidade aqui. Cobrem Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos e acha que esse é o mundo do futebol. Nunca chegou na porta de uma prefeitura, como eu cheguei, no interior do Brasil, onde estão jogadores com crianças no colo. Aí chega o técnico, que é outro jovem, e pergunta: “Deputado, o senhor vai falar com o prefeito?” Aí eu digo: “Já sei, a prefeitura não está pagando, atrasou o salário”. E eles: “Não, deputado, atrasou o almoço. Não almoçamos até agora”. Essa é a realidade de mais de 90% do futebol. Então eu digo, tem que ter um calendário maior para esse futebol e tem que ter calendário menor para o outro, que tem que jogar Libertadores, Paulista, Brasileiro, Copa do Brasil. Tem que ter equilíbrio entre isso.

___________________

Participaram da conversa, em ordem alfabética:

Danilo Gonçalo, do Jornalismo FC - http://jornalismofc.com/
Diego Garcia e Pedro Galindo, do Doentes por Futebol - http://www.doentesporfutebol.com.br
Fernanda de Lima, do Donas da Bola - http://www.donasdabola.com.br/
Leandro Canônico, do Meio de Campo - http://globoesporte.globo.com/platb/meiodecampo/
Fernando Cesarotti, do Impedimento - http://impedimento.org/
Marcos Antonio de Oliveira Teixeira, do Blog das Torcidas - http://www.blogdastorcidas.com.br/
Otávio Maia, do Esporte Fino - www.esportefino.net
Paula Máscara, pelo Fora de Campo - http://blogs.lancenet.com.br/foradecampo/
Ricardo Roca, do Futebol Arte - http://www.futebolarte.blog.br/

A transcrição teve ajuda substancial de Alessandra Alves, e a edição teve grande participação de João Peres e Paulo Donizette, os três da Rede Brasil Atual (www.redebrasilatual.com.br).

quarta-feira, junho 05, 2013

Antes do Túlio, São Paulo tenta o gol 1.000

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Enquanto o Túlio (ex-)Maravilha, 44 anos, processa o Botafogo por frustrar seu projeto de marcar o milésimo gol da carreira (nas contas dele) com a camisa do clube carioca, o São Paulo pode alcançar, hoje ou nas próximas rodadas, a marca de 1.000 gols feitos no Brasileirão dentro do estádio do Morumbi. Segundo a assessoria do clube, desde 1971, quando foi disputada a primeira edição do que a CBF convencionou chamar de Campeonato Brasileiro, substituindo o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Tricolor balançou as redes pela competição em seu gramado 999 vezes - não considerando os gols do jogo anulado (injustamente) pelo STJD na edição de 2005, na vitória por 3 a 2 sobre o Corinthians.

Pois é, do jeito que a coisa tá feia no (magro) futebol do São Paulo, que levantou uma única taça nas últimas quatro temporadas, qualquer marca envolvendo número de gols - como foi o centésimo do Rogério Ceni, em 2011 - já serve pra tentar empolgar a torcida. O site do clube organizou até uma campanha: quem acertar o autor e chegar mais perto do instante do milésimo gol, ganha uma camisa autografada (clique aqui para acessar). A expectativa fez com que o - contestado - centroavante Luís Fabiano esquecesse mais uma de suas contusões para voltar ao time hoje. Saindo ou não o milésimo contra o Goiás, vale recordar, para a torcida sãopaulina, cinco dos gols mais bonitos marcados pelo time no Morumbi, pelo Brasileiro:

Everton, de primeira, contra o Botafogo, em 1981:


Careca, um senhor golaço contra o Fluminense, em 1987:


Tilico faz o gol do título contra o Bragantino, em 1991:


Simplício, de calcanhar contra o Corinthians, em 2003:


Dagoberto arrancando contra o Internacional, em 2008:


Pinceladas cariocas - O embate RJ x SP no Brasileirão

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por Enrico Castro

Wellington e Carlinhos: fora do Flu?
Chegamos à terceira rodada do Brasileirão e, apesar do campeonato ainda estar em estágio embrionário, seria possível fazer algumas previsões, não fosse a temida janela de transferência para Europa, que, começando por Neymar, já está sacudindo os bastidores de diversas equipes. Só para citar alguns dos clubes que terão suas equipes enfraquecidas, o Fluminense pode ser devastado com as possíveis saídas de Wellington Nem, Carlinhos e Samuel, enquanto o Botafogo pode perder Jefferson e Dória, este para o Cruzeiro. O Atlético-MG já está se despedindo de Bernard, o Corinthians deve negociar Paulinho, Internacional pode vender Damião, e o Grêmio deve ficar sem Fernando. 
Flamengo iniciou 'sequência carioca' em 2009
A verdade é que, mesmo com baixas sensíveis, estas devem ser as equipes que não farão apenas papel de figurantes em 2013. Particularmente, aposto nos times do Rio de Janeiro, que vêm mostrando sua superioridade nos últimos anos, com três títulos contra apenas um de São Paulo. Por falar em quantidade de títulos, abro aqui um parêntesis para dizer que vou restringir a comparação feita nesta dissertação a RJ e SP. Esta área de abrangência faz-se necessária em razão dos demais estados estarem há anos luz de distância no que tange à quantidade de títulos brasileiros. Os únicos que interrompem a dobradinha RJ/SP e fazem alguma graça a cada 10 anos são os times de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com três e cinco títulos, respectivamente. Títulos de times dos demais estados acontecem com menos frequência que a passagem do cometa Halley pela órbita da Terra. 
Jornal paulista noticiando conquista do Santos após disputar 4 jogos
Apesar do RJ levar vantagem recente, historicamente SP leva a melhor. Se considerarmos apenas a era pós 1971, os times de Sampa conquistaram 18 títulos, enquanto os cariocas levantaram 13 canecos (maldito Bangu, que perdeu nos pênaltis a decisão para o Coritiba em 85...). Entretanto, se levarmos em conta a nova regulamentação da CBF, que passou a considerar campeão brasileiro todo e qualquer time que tenha vencido um torneio nacional meia-boca entre 1959 e 1970, onde em algumas ocasiões o “campeão” precisou disputar apenas quatro partidas, a diferença aumenta: SP 28 x 15 RJ. Sejam honestos, “paulistada”! Equiparar um título conquistado no atual formato do Campeonato Brasileiro com os do século passado, listados abaixo, é uma afronta! 
1960 – Palmeiras (quatro jogos, três vitórias e um empate) 
1963 – Santos (quatro jogos, quatro vitórias)
1964 – Santos (seis jogos, cinco vitórias e um empate)
1965 – Santos (quatro jogos, três vitorias e um empate) 
1966 – Cruzeiro (oito jogo, sete vitórias e um empate)
Guarani, primeiro time do interior a vencer o Brasileirão, há 35 anos
Estes torneios deveriam, no máximo, com muita boa vontade, terem a equivalência de uma Copa do Brasil. Se assim fosse, a diferença entre RJ e SP seria reduzida. Placar moral: SP 24 x 15 RJ. No duelo entre capitais, onde seriam descartados os títulos de Santos (8) e Guarani (1), o jogo está empatado: SP 15 x 15 RJ. Confesso que comecei a simpatizar com a visão por este prima. E para ratificar minha aposta nos times do RJ para este ano, apesar de ainda ser cedo, basta olharmos a tabela de classificação. Temos dois cariocas e um paulista no G4, sendo que o Fluminense tem um jogo a menos, tendo portanto a possibilidade de se tornar líder. Enquanto isso, na outra ponta da tabela, temos um paulista e nenhum carioca no Z4. Mero acaso?
Enrico Castro é tricolor (do Rio!), analista de sistemas, servidor público. Entende tanto de futebol que tem certeza que o Dimba (aquele mesmo do Goiás, Botafogo e etc) é um craque e brilharia na Champions League. Não é preciso dizer mais nada.

terça-feira, junho 04, 2013

Equivalência (na ruindade)

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Juan jogou muito mal em 2011
Se neste início de Brasileirão eu dizia que o São Paulo já estava entrando em campo com um a menos, pelo fato de Douglas ser titular, agora vai passar para uma fase ainda mais difícil neste "videogame", começando os jogos com dois desfalques: na lateral-esquerda, após a grave contusão no joelho que impedirá Carleto de jogar até 2014, o "morto-vivo reencarnado" Juan assume o posto. Sim, aquele mesmo que veio do Flamengo e jogou muito mal em 2011; que foi emprestado ao Santos, onde enfrentou ameaça de punição severa num caso esquisito de antidoping e terminou seus dias na Vila melancolicamente no banco de reservas; que voltou ao São Paulo e foi preterido do elenco, permanecendo no "exílio" de Cotia. Daí, depois do chilique de Juvenal Juvêncio, que afastou intempestivamente sete jogadores do elenco após as eliminações no Paulistão e na Libertadores deste ano, Juan foi retirado da "tumba" onde jazia, sendo recusado até pela Ponte Preta, e agora, do nada, ganha de presente uma titularidade que nunca mereceu no São Paulo.

O grosso Piris fazia a alegria de Neymar
Então, vejam "que beleeeeza" (como diria Milton Leite): o São Paulo Futebol Clube, hexacampeão brasileiro, tricampeão da Libertadores e tricampeão mundial, cantado em verso e prosa pela imprensa esportiva como tendo uma gestão "moderna e eficiente", "de primeiro mundo", e dono de "um dos elencos mais fortes do país" (não sei onde!), está há 5 anos - CINCO ANOS! - sem um lateral minimamente decente, nem direito e nem esquerdo. Desde a saída do (hoje ex-jogador) Júnior em 2008, e mesmo antes disso, com as improvisações do meia Souza como lateral-direito e do volante Richarlyson como lateral-esquerdo, o "melhor elenco" do país já carecia de jogadores qualificados (ou pelo menos de origem) em duas posições cruciais dentro de qualquer esquema tático do futebol moderno. É inaceitável.

Douglas: ruim até como reserva
E ficou ainda pior quando Juvenal jogou dinheiro fora trazendo de volta o também "morto-vivo" Cicinho (recém-rejeitado pelo Sport e também pelo São Paulo) e, principalmente, contratando os MEDONHOS Juan, Piris e Douglas - ou mesmo Cortez, que custou R$ 7 milhões e pegou a vaga de Juan no "exílio" de Cotia. Todos são equivalentes: NA RUINDADE. Graças a Deus, Piris, que fazia os santistas darem gargalhadas quando Neymar partia pra cima dele, está emprestado ao Roma. Juan, que a gente pensava ter se livrado, voltou e agora vai nos assombrar por um tempo como titular. E Douglas, um dos piores jogadores que já vi com a camisa do São Paulo nos mais de 30 anos que acompanho o clube, é xodó e tem vaga fixa no time de Ney Franco. Repito: é inaceitável. Um time que se propõe - corretamente, a meu ver - a jogar com dois pontas abertos no ataque, sem tanta obrigação de voltarem para compor a defesa, precisa ter dois laterais de ofício, prioritariamente marcadores e que saibam municiar os meias e o ataque.

No São Paulo, simplesmente não existem. Assim, simples! E o futuro imediato, mais uma vez, mostra-se muito nebuloso - e desanimador - pelos lados do Morumbi.

TEMPORADA FRACA - Não vi os dois últimos jogos pelo Brasileirão, por isso não postei nada aqui no Futepoca. A certeza é que a goleada sobre o Vasco não diz nada, pois o time carioca é hoje um dos candidatos ao rebaixamento, e o empate com o Atlético-MG, apesar do "heroísmo" do São Paulo por jogar a maior parte do segundo tempo com um a menos, também significa pouca coisa, pois os mineiros estão (com toda justiça) focados na Libertadores, onde as eliminações de Corinthians, Boca Juniors e Fluminense praticamente jogaram o título no colo do (competente) técnico Cuca. Ou seja, o time de Ney Franco só joga bem quando o adversário é mais fraco ou está desinteressado. De janeiro pra cá, só mostrou serviço durante os 35 minutos iniciais daquela partida contra o Atlético-MG pela Libertadores, até a expulsão de Lúcio, que decretou a virada e a derrota por 2 a 1 para o Galo. Fora isso, toda vez que pegou pedreira (o Santos com Neymar na Vila, o Corinthians completo, o Palmeiras no Morumbi e o Atlético-MG quando jogou pra valer), perdeu sem contestação ou empatou com futebol pífio. Essa é realidade.

Pergunto: vai mudar alguma coisa com os NULOS Douglas e Juan nas laterais? Com os sofríveis Lúcio, Tolói ou Edson Silva na zaga? Com os pouco produtivos Luís Fabiano ou Aloísio como centroavantes? Rodrigo Caio? Maicon? Negueba? Silvinho? É esse "um dos melhores elencos do país"? Tem certeza? Tá certo, o clube é o "da fé". Mas está cada vez mais difícil acreditar em algum milagre...

segunda-feira, junho 03, 2013

'Um, dois, três: o Guariba é freguês!'

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Outro dia falei aqui sobre a "ressurreição" do Clube Atlético Taquaritinga, time da minha cidade que teve seu auge entre 1983 e 1984, quando disputou a elite do futebol paulista e travou jogos memoráveis contra Palmeiras, Santos, São Paulo (incluindo a estreia profissional do atacante Muller, em 15/11/84) e Corinthians (vitória por 2 a 0 em 10/07/83, uma das maiores zebras da loteria esportiva). Foi a época em que o estádio Taquarão foi feito, uma obra sugerida pelo meu pai, Chico Palhares, que fez o projeto, marcou as estacas e trabalhou na construção, terminada em cima do prazo para  que o clube tivesse o direito de disputar da Primeira Divisão em 1983, pois a Federação Paulista exigia estádios com capacidade mínima para 15 mil torcedores.

Depois de se rebaixado em 1984, o CAT passou para a Divisão Intermediária, como se chamava a Segunda Divisão na época, e ali passou muitos anos, quase alcançando o retorno à elite do Paulistão em 1989 e 1992. Mas, como ocorreu com vários clubes tradicionais do interior de São Paulo nas últimas décadas (vide Guarani), que perderam fonte de renda e sustentação por inúmeros motivos, o Taquaritinga entrou em declínio. Nos anos 1990, chegou à Série B1-A (a extinta Quarta Divisão), conseguiu voltar à Série A-2 (a Segunda Divisão, na prática) mas, nos últimos três anos, a decadência foi incontrolável. Em 2010, foi rebaixado para a A-3 e, no ano seguinte, despencou para a Série B - um "buraco negro" que unificou a Quarta e a Quinta divisões do futebol paulista, com mais de 40 clubes e disputa semi-amadora.

Em 2012, estreando nessa que é a última divisão paulista, o Taquaritinga fez uma campanha horrível e chegou a ser considerado "o pior time do Estado de São Paulo". Ultimamente, o clube amargava o vexaminoso recorde de dois anos e três meses sem vencer uma partida sequer, desde março de 2011 (!). Mas agora, num esforço de vários abnegados da cidade, o time tenta um ressurgimento. Decidi ajudar. Eu não assistia um jogo do CAT desde 2009, quando fui ver uma derrota para o Juventus na Mooca, e um empate contra o União São João e mais uma derrota, dessa vez para o Monte Azul, ambos os jogos em pleno Taquarão. Por isso, neste feriado de Corpus Christi, comprei um kit com bolsa, camisa, boné, caneca, chaveiro e ingressos e levei meu pai, o desenhista do estádio, para ver CAT x Guariba. Comigo também estavam os amigos Marcelo Okada, Márcio Sala e Alexandre Varrone, que voluntariamente aderiram ao grupo que hoje comanda o clube.

E reforçando a torcida, que, com muito boa vontade, chegou a umas 100 "testemunhas", também estavam minha sobrinha Ana Helena, seu namorado, o "Dô", e seus irmãos Túlio e Bruno Milanezi. Este último levou à Taquaritinga o ex-jogador Lupércio, ídolo do CAT nos anos 1960, junto com o filho dele, Lupa, e a nora Vanessa. Todos, logicamente, também compareceram ao Taquarão. Pra completar, o pai da Ana, Túlio e Bruno, o meu cunhado "Beis" (Antonio José), que é oftalmologista, era o médico dentro do gramado (!!). Ou seja, tudo conspirava para a tão aguardada vitória, tanto que equipe da EPTV Ribeirão, retransmissora local da TV Globo, marcou presença. E não deu outra: CAT 3 x 1 Guariba, com direito à torcida gritando "olé" e "1, 2, 3: o guariba é freguês!".

Mas o melhor foi que registraram uma cena tradicional dos anos 1980 nas arquibancadas, o Chico Palhares, "pai" do Taquarão, soltando o grito: "Caaaaaattêêêêêêê....". Cliquem no link e confiram:

domingo, junho 02, 2013

Brasil 2 x 2 Inglaterra: Felipão dá a batuta a Neymar

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Neymar teve liberdade no primeiro tempo e foi bem (Foto: Bruno de Lima/Lancepress)
O Brasil fez um primeiro tempo surpreendentemente bom contra a Inglaterra para um time com pouco tempo de trabalho. Especialmente no primeiro tempo, quando criou uma penca de chances e consagrou o goleiro Hart, melhor do britsh team. O time teve 27 finalizações, sete delas de Neymar, o que mostra força ofensiva. Mas faltou botar pra dentro, claro.

Felipão armou um esquema todo voltado para Neymar, com a 10 às costas. Botou Hulk pela esquerda, Oscar pela direita e Fred na centroavância para deixar um espaço enorme para a flutuação do ex-santista. Nesse sentido, deu certo: Neymar jogou bem e criou as principais chances da seleção.

Não deixa de ter suas idiossincrasias, porém. Hulk ganhou fama jogando pela direita, onde corta pro meio e usa a potente canhota. Foi para a esquerda, não sei bem por que. Do outro lado, Oscar demorou um pouco a se adaptar à função de ponta, que criou uma dinâmica curiosa e pouco proveitosa com Daniel Alves, em que o rapaz do Chelsea, armador por natureza, ia para a linha de fundo e o lateral do Barça fechava como armador. Estranho.

A armação foi também um pepino da coisa. Paulinho não se achou, talvez pela insistência de Felipão na importância da marcação para os volantes, e pouco contribuiu para a criação de jogadas. Luiz Gustavo até foi melhor no quesito, mas não parece ser a sua. Com Oscar aberto na direita, o sacrifício mais doloroso do esquema feliponesco, a transição ofensiva enroscou um pouco, bastante atrapalhada também pela forte marcação dos ingleses.

Na segunda etapa, Felipão colocou Hernanes ao lado de Paulinho, naquela que seria minha dupla de volantes. A qualidade dos dois apareceu nos gols brasileiros, um de Fred em sobra de chute de Hernanes e outro em belo voleio do corintiano. Marcelo também entrou e deu muito mais qualidade na ala esquerda, mostrando que também é titular.

Depois do primeiro gol, no entanto, a Inglaterra lembrou que podia atacar e começou a criar chances. Apareceu aí certa fragilidade do setor defensivo e dois gols ingleses, um de Chamberlein e outro de Rooney, que podia vir jogar no Corinthians. Duas jogadas que mostram certa frouxidão na marcação dos jogadores de meio.

O time de Felipão mostrou coisas boas, especialmente quando deixou Neymar jogar. Faltam uns ajustes, definir os titulares e deixar o povo se entender dentro de campo. Não será um time genial, mas dá pra ganhar uns joguinhos.