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Por que um título como o de hoje, um Estadual que muitos dizem desprezar
(embora seja fato que, se seus times ganhassem, a história seria
outra), consegue me emocionar? Não foram dois jogos parelhos na
final, o Santos mostrou sua superioridade técnica diante de um
Guarani valente, brioso, mas inferior. Mas não são só as duas
partidas que contam o que foi esse título. Trata-se de história,
história... O Santos se tornou hoje tricampeão (três vezes campeão
de forma consecutiva) do campeonato estadual mais disputado do país.
Um feito que, da última vez que foi conseguido, os donos da bola
eram Pelé, Edu, Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Lima, Rildo,
Toninho Guerreiro, Ramos Delgado... De lá pra cá, nenhum rival
conseguiu tal feito.
Quando o tri vem, e remete àquele esquadrão sessentista, lembro de Eduardo
Galeano, que disse, em
uma entrevista concedida a mim e ao amigo Nicolau: “Mas
a história é uma senhora que caminha devagar. É preciso ter
paciência. O resultado dessa articulação de vozes não aparece em
um ou nem mesmo em dez anos.” Essa tal de História, que caminha às
vezes em passos muito mais curtos do que desejamos, pesava e chegava
a assombrar quando eu era adolescente e vivia um jejum de títulos.
Mas ela andou, lentamente, deu as caras com aquele Giovanni mágico
de 1995, saiu um pouco mais da penumbra quando saímos da fila com
Diego e Robinho em 2002, e chegou a seu apogeu com esse espetacular
Neymar, que comanda um elenco valoroso que tem em Ganso outra estrela
que brilha de forma irregular, mas que faz sonhar quando traz luz aos
gramados.
Esse elenco que não tem medo de cara feia e nem de nenhum tabu. Não houve para o Santos a tal “maldição do centenário”, que se fez presente nos clubes que completaram a marca nos últimos vinte anos. O título está aí, e com Neymar como goleador máximo do campeonato paulista, com 20 gols, em um total de 108 com o manto santista, o que lhe garante a 16ª colocação entre os maiores artilheiros da história alvinegra. Também garantiu ao Peixe a marca de ter o maior número de artilheiros no Estadual. Em 23 vezes o Santos teve o goleador do Paulista.
Foram 58 gols em 23 partidas no campeonato paulista de 2012, média de 2,52 por peleja, fazendo jus à equipe profissional que mais fez gols no mundo. Mas dados e números dizem pouco quando se vê futebol bem jogado como aquele desenhado no primeiro gol peixeiro, em que Neymar serviu Elano que, de primeira, tocou para Allan Kardec fazer. Ou o retratado no tento de Neymar, que veio da direita do ataque para servir Juan, que deu um lindo drible da vaca no rival e serviu, em meio a seis defensores bugrinos, quem lhe deu o passe.
A bela história do Santos de ontem veio ao encontro do Santos de hoje. Que bom que eu pude esperar. Que bom que posso testemunhar.