Compartilhe no Facebook
Com a saída de Mano
Menezes, a seleção brasileira, ou melhor, a patroa da equipe, CBF,
vai para o divã. Na prática, o técnico não tinha um desempenho
brilhante, nem deixará saudades para o torcedor, em que pese ter
tido apoio quase incondicional do maior grupo de comunicação do
país. Mas, para saber o que virá depois dele e o que significa a
alentada “virada filosófica”, é preciso retroceder um pouco na
recente história da seleção, que mostra como a direção do
futebol brasileiro reagiu até agora na troca de técnicos, sempre
negando aquilo que o anterior deixou (ou teria deixado).
Em 2006, Parreira
colocou em campo jogadores com adiposidade em excesso, o que refletiu
no desempenho do time. Cortar a balada e o descompromisso era a
palavra de ordem após o fracasso diante dos pés de Zidane e por
isso o símbolo do trabalho duro na seleção foi chamado, mesmo
nunca tendo sido técnico anteriormente. Dunga usou, na prática, a
receita moldada por Parreira em 1994, que não conseguiu repetir em
2006, e que Felipão também utilizou em 2002. “Fechou” o grupo,
formando uma dita família que implicou na convocação da jogadores
de qualidade duvidosa em função da “coerência” e “confiança”.
Diferentemente de seus antecessores, achou por bem ser escudo de seus
jogadores, topando com a imprensa e irritando o império global. Novo
insucesso em 2010, apesar de uma trajetória vitoriosa até o
Mundial, mesmo sem encantar.
Mano não conquistou a torcida nem com força da Globo |
Veio Mano Menezes,
segunda opção após a recusa de Muricy Ramalho, com a missão de
“renovar” a seleção (sim, há excessos de aspas nesse texto,
mas se tratando de prática e intenção da CBF e de seus
contratados, é preciso). Primeiramente, recusou a herança dos
atletas de Dunga, que não deixou muitos atletas jovens com
experiência de amarelinha para o ex-corintiano trabalhar. Mesmo
aqueles que teriam condições de continuar, não foram convocados
por Mano ou, quando foram, já era tarde.
Mas, como diria
conselheiro Acácio em suas ponderações de bar, uma coisa é ser
técnico da seleção, outra é ser comandante de um time, quando se
tem tempo pra treinar e impor um padrão. Não é à toa que os
treinadores de priscas eras usavam bases de um e/ou outro time para
dar consistência a um selecionado.
Depois de testar, tentar, e não
conseguir ser inovador, Mano perdeu para seleções fortes e só
ganhou de equipes menos qualificadas. Fracassou em Londres e, quando
tentava ajeitar seu time com dois volantes móveis e um quarteto
ofensivo, ganhou o Superclássico das Américas perdendo, com um time
B+ do Brasil, para um time C da Argentina. Não caiu pelo resultado
em si, mas a peleja não ajudou em nada a sua permanência.
A política e o
futuro
Como bem lembrou oNicolau, citando o Menon, há na saída de Mano uma questão
política. José Maria Marín tem mais simpatia pelo presidente da
Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero, para ser seu
sucessor. Mano é homem de Andres Sanches, diretor de seleções –
por enquanto – e homem de confiança de Ricardo Teixeira, que o
nomeou, assim como a Ronaldo no COL, para assegurar o seu “legado”.
Sanches é alguém cuja
trajetória mostra a habilidade de crescer em um tipo de cenário,
ver o cenário ruir, e depois seguir adiante como se nada tivesse com
o assunto. Fez parte da diretoria que levou o Corinthians ao
rebaixamento em 2007, sendo um dos parceiros principais de Kia
Jorabchiaan na gestão. Sucedeu Alberto Dualib e fez o corintiano
rapidamente esquecer o seu passado recente. Levado à CBF por Ricardo
Teixeira, foi fundamental para levar Mano, seu ex-comandado, para a
seleção brasileira. Tem um grande serviço prestado à CBF de
Ricardo Teixeera e à Globo ao ser o principal articulador da
implosão do Clube dos Treze.
Com esse currículo
político, claro que era (e é) uma ameaça aos planos de poder de
Marin, que tratou de escanteá-lo. Além do fator político puro, há
o desempenho técnico da equipe da Confederação, que também
influencia nos rumos do poder. E esse, sob a batuta de Mano, não ia
bem das pernas. Juntando-se os ingredientes, está pronta a receita
da troca de treinador.
A dúvida em relação
ao futuro da seleção é: o que vai importar de fato, um time que
ganhe e “cale a boca dos críticos” ou uma tentativa de
ressuscitar o futebol arte, magia, moleque (seguem adjetivos), aquele
que encanta mas não necessariamente ganha porque assim é o esporte?
Se seguirmos a lógica
do “fácil é o certo”, que costuma ser a cebefista, a opção
Felipão é a mais acertada. Foi ele quem assumiu o barco que
navegava em águas intranquilas na última vez que um técnico não
cumpriu um ciclo de quatro anos na seleção. Contudo, o fato de o
treinador só ser anunciado em janeiro abre margem a especulações
como o nome de Tite, que, vencedor do Mundial de Clubes, chegaria com
pompa e circunstância no comando do time verde-amarelo. Os mais
otimistas dirão que é o tempo necessário para convencer Pep
Guardiola, sendo que já tem até abaixo-assinado para que ele seja o
novo treinador do Brasil (ver aqui). E ao que parece, Guardiola gostou da ideia de treinar o Brasil. Ainda acho pouco possível, mas não
custa torcer.