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Quase não acontece com os sóbrios. Mas com os bêbados, segundo a literatura, é comum. O churrasco está marcado para as 12h, ou o pessoal chegou para assistir o jogo, que começa em 10 minutos, ou o aniversário estava todo programado mas o cunhado Gervásio se atrasou e só chegou com a cerveja agora. E cada uma das latinhas ou das garrafas long neck está quente.
Maldade. Estão, provavelmente, à temperatura ambiente -- exceto pelas vezes em que o precioso líquido dourado descansou dentro do porta-malas sob o sol escaldante de um congestionamento metropolitano.
Antes de desejar ser um esquimó na próxima encadernação, ou de se aventurar a encarar as primeiras doses do fermentado de malte do jeito que está, em uma perigosa incursão no reino dos laxantes involuntários, conheça a luz no fim do túnel, o ar fresco dentro de um forno, o hipoglós da assadura...
Avalie as condições materiais disponíveis, considere que a necessidade é a mãe da inventividade e motor da inovação, e não estrague o convescote por tão pouco. Listamos, a seguir, cinco estratégias para sair dessa enrascada. Antes, um bônus -- que se fosse bom, viria no fim.
Calma, calma. Sei que você pintou por aqui confiante no "ca" de cachaça do Futepoca. É que esta primeira opção tem uma certa função de
disclamer, de aviso de que é preciso considerar que nem só de pão líquido o homem viverá. O convívio com amigos e familiares queridos também é importante e tem seu valor. Aproveitar o momento inebriado de sobriedade pode ser uma novidade assustadora para você, mas não é missão impossível. Lembre-se de que
48% da população brasileira não bebe. E só 22% bebem uma vez por semana ou mais. Pode ser uma aventura antropológica, um mergulho de autoconhecimento, e numseiquelá, numseiquelá, numseiquelá.
Para quem não quiser ser tão radical, aplique as seguintes variantes autoexplicativas: "não beba cerveja até que gele naturalmente", "não beba cerveja até que alguém traga uma gelada da venda da esquina", "não beba cerveja, mas vinho", "não beba cerveja, mas destilados em shots cowboy" etc.
Método: Sobriedade OU Polivalência.
Ganho de tempo: 0 ou infinito.
Material necessário: Não se aplica
Cuidado: Se feita muito em cima da hora e a depender do que você tinha prometido a quem vinha, sua fama de organizador de eventos sociais pode terminar abalada ou correr o boato de que você se converteu a alguma religião nova...
Contra: Se eu estivesse pensando nisso, você não estaria lendo isso aqui, né?
1. Gelar cerveja embrulhada com papel toalha molhado no frizer
Se você não quis ou não pôde considerar a alternativa zero, aí vai a primeira. Em vez de jogar tudo no congelador de uma vez, separe poucas unidades para priorizar o material que dará início aos trabalhos. Picote duas folhas de papel toalha para cada unidade e molhe, mas não a ponto de encharcar e deixar pingando. Com o papel banhado, embrulhe a embalagem da cerveja. Ocorre que, se estiver embebido, crescem os riscos de as paredes de seu frizer ganharem, por causa disso, uma camada extra de gelo, antecipando a próxima limpeza no eletrodoméstico. Em contrapartida, nenhum ganho de desempenho é alcançado com a medida.
Consta que, passados 15 minutos, estreiam as embalagens inaugurais do certame.
É que a água em torno do vidro ou do alumínio faz uma função mais eficiente na condução térmica do que o ar de dentro do congelador.
Mas há controvérsias.
Método: condutor térmico
Tempo total: 15 a 30 minutos
Ganho de tempo: 10 a 25 minutos
Material necessário: papel toalha, frizer, água suficiente para molhar sem deixar pingando.
Cuidado: É imperativo não esquecer tudo no congelador, já que estoura a garrafa ou fica choca a bebida sagrada. Isso quase não acontece (todo dia) com embriagados e esquecidos de plantão. Zelo também na apuração da temperatura ao medir com a mão se já está alcançado o patamar desejável, porque o papel toalha molhado dá a impressão de que o conjunto está pronto, por estar muito mais frio do que o conteúdo do embrulho. O tempo decorrido é indicador mais eficaz. Por fim, como sabem todos os que já receberam, na mesa do bar, uma garrafa gelada demais, acontece de a cerveja ter alcançado temperatura baixa demais para ser destampada de pronto, acarretando o congelamento ou até o derramamento no ato da abertura (por variação de pressão interna).
Contra: Independentemente das controvérsias, pouco tempo é poupado, há risco de esquecer tudo no frizer e estourar a garrafa ou a latinha, não resolve quando só está disponível um isopor ou cooler com gelo, e tem eficácia maior com menos unidades. Ainda é menos sustentável, mas quem tem sede por vezes não consegue se preocupar com as árvores.
2. Sal no gelo
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O gelo é amigo, mas não dura muito (http://ashhurst8.blogspot.com.br/) |
Aquela aula de química do segundo ano do ensino médio que você bolou explica porque você não sabia disso. O truque é simples. Num recipiente com gelo, adiciona-se água e sal. Uma xícara para cada cinco litros resolve. Há quem seja mais determinado e prefira concentrações maiores. Se puser álcool de cozinha, consegue-se resultado ainda mais rápido. Tudo porque o ponto de fusão da água fica rebaixado a -4ºC, inferior aos 0ºC mantidos pelo gelo, acelerando as trocas de calor com a cerveja.
Uma alternativa para pequenas quantidades é fazer a alquimia em uma bacia ou vasilha pequenas e deixar o processo andar
dentro do congelador. O tempo vai ser mais ou menos o mesmo, com a vantagem de não precisar drenar a água derretida tantas vezes.
Método: Baixar ponto de fusão da água
Tempo total: 10 a 15 minutos.
Ganho de tempo: de 25 a 30 minutos.
Material necessário: Gelo, sal e, se quiser, álcool de cozinha, além de um recipiente para fazer a magia acontecer.
Cuidado: Com esse procedimento, o gelo vai derreter mais rapidamente, e você vai precisar de mais, a depender da duração do evento. Precisará drenar o excesso de água mais cedo. Também é preciso cautela no uso do sal. Se for um churrasco, na sanha de breja gelada, pode-se terminar sem sal grosso para temperar as carnes (isso nunca me aconteceu) -- exceto se o público-alvo for de hipertensos, mas aí você não estaria tão preocupado com a cerveja, certo?
Contra: Gelo derrete mais rápido, e vai demandar a aquisição ou produção de mais gelo.
3. Serpentina
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Use com sabedoria |
Hit dos anos 1970 e 1980, as serpentinas ressuscitaram em períodos mais recentes, deixando a bomba manual de outrora por soluções automatizadas. A cerveja ou o chopp passa por uma serpentina de cobre ou alumínio que, por sua vez, precisa estar mergulhada em gelo. Com uma bomba, o líquido é pressionado, do contrário, a carbonificação vai fazer tudo espumar e quase nada sair na outra ponta -- exceto uma mousse cremosa de tão aerada, iguaria que, imagino, não esteja no cardápio do seu evento.
O equipamento faz poucos milagres, e pode ser necessário esperar 15 ou 20 minutos para a temperatura baixar.
Houve quem tentasse produzir versão artesanal da traquitana, e
apelado para sopros à lá Louis Armstrong em uma das terminações para conseguir fazer a cerveja sair do outro lado, sem muito sucesso.
Agora, se você achou uma dessas na garagem dos seus velhos, é bom lavar e revisar a mecânica antes de levar para produção. Sujeira, oxidação de cobre ou alumínio (menos provável) e mesmo alguma ruptura na superfície são hipóteses plausíveis em um trem que ficou jogado por 20 anos no esquecimento.
Método: Aumentar a superfície de contato com o gelo
Tempo total: 15 minutos, fora a montagem.
Ganho de tempo: de 20 a 30 minutos.
Material: Gelo, serpentina e
Cuidado: Vê lá onde você achou essa serpentina antes de pôr pra usar, hein?
Contras: Você vai precisar de bastante gelo. Se a serpentina tiver bomba manual, vai precisar fazer uma forcinha. Se estiver mesmo com cerveja, vai ter um líquido menos gasoso e com menos colarinho no final. E a limpeza é mais chata também, envolvendo sempre algum desperdício.
4. Expresso
Esta você não sabia porque, durante a aula de física do terceiro ano, ficou de conversinha na última fileira... A chave aqui é um spray de ar comprimido, um
produto usado para limpar eletrônicos. O
tubo sai de R$ 30 a R$ 50. Ao virar o dispositivo de cabeça para baixo e acioná-lo, a diferença de pressão do ar ao sair da lata faz com que o jato alcance temperaturas bastante baixas. Isso permite retirar, da cerveja, o calor que tanto incomoda.
Abaixo são exibidos dois vídeos com métodos levemente diferentes. O primeiro, de um russo maluco que ensina pequenos hacks para se viver, sugere virar o tubo de cabeça para baixo e apontar o jato de ar diretamente sobre a garrafa. Quando você executar, convém praticar o sotaque usado pelo meliante no vídeo. Algo me diz que isso influencia no bom resultado da experiência.
Antes que alguém se lembre de que russos preferem vodca, há outro passo a passo
em imagens no formidável Instructables com ares de maior racionalidade. Em uma vasilha com tampa, as latinhas ou garrafas são colocadas. Faz-se um pequeno furo para inserção do canal de onde sai o jato de ar. Com o tubo de cabeça para baixo e vedação no orifício e na tampa do pote. Parece que o consumo do produto fica menos intenso.
Método: Variação térmica por descompressão de ar.
Tempo total: 1 minuto ou menos.
Ganho de tempo: 40 a 60 minutos
Material necessário: Tubo de ar comprimido em spray, talvez uma vasilha plástica com tampa, fita aderente e furadeira, além de um convidado que mantenha uma oficina de reparo de eletro-eletrônicos em casa e possa ceder um tubo para a nobre finalidade.
Cuidado: Melhor evitar de pôr o dedo na frente do jato de ar frio. E é melhor não prosseguir borrifando o ar depois que a temperatura da cerveja tiver sido alcançada, sob risco de, quem sabe, passar do ponto.
Contra: O método só aplica-se a poucas unidades, do contrário a despesa torna-se elevada. Ademais, a técnica é nada ecológica.
5. Rotação no gelo
A modalidade consiste em fazer a embalagem da cerveja, mergulhada em água a 0ºC, girar em seu próprio eixo a velocidade baixa e uniforme. Com isso, aumenta a superfície de contato com a água, intensificando trocas de temperatura entre o recipiente e o meio, favorecendo um resfriamento rápido e de forma homogênea. Ao girar tão direitinho, o gás carbônico se espalha, evitando riscos de explosões.
A
ferramenta foi desenvolvida por dois (ébrios) engenheiros da universidade da Flórida que se cansaram de ficar improvisando para gelar logo a cerveja.
Desenharam uma adaptação em uma parafusadeira e, diante disso, levantaram dinheiro em uma vaquinha virtual (via plataforma de crowdfunding) para
pôr o produto na rua. Custa US$ 30 no site. O dispositivo pode ficar dentro da água gelada e faz o serviço em 30 a 60 segundos.
De novo, o vídeo é autoexplicativo mesmo para quem não entende inglês.
Método: Convecção OU parafusadeira maluca
Tempo gasto: menos de 1 minuto.
Ganho de tempo: 40 a 60 minutos
Material necessário: Parafusadeira,
adaptada com uma terminação que se encaixe na latinha ou na garrafa; ou o respectivo protótipo vendido a US$ 30 em lojas virtuais da gringolância e, principalmente, uma máquina do tempo para providenciar isso umas seis horas (ou 30 dias do tempo de espera do frete) antes de esquecer de pôr a cerveja para gelar.
Cuidado: Sem testar antes, a geringonça pode fazer você passar vergonha. Embora a promessa seja a de risco zero de estouro ou de
cerveja espirrada para todas as direções, é saudável um pouco de parcimônia na hora de abrir o envólucro.
Contra: Indisponibilidade no Brasil. E, todas as vezes em que precisei contar com uma máquina do tempo, me dei mal. Tirando isso, é tudo tranquilo.
E você? Conhece algum método para gelar mais rapidamente a cerveja?