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Pato marcou o primeiro, Guerrero o segundo (Luis Moura/Gazeta) |
Neste domingo, contra o
Bragantino, o Corinthians conseguiu seu quinto empate consecutivo
entre Paulistão e Libertadores. Foi também o terceiro 2 a 2
consecutivo na competição estadual, o que é ainda mais curioso.
Muita gente tem lamentado a volta da “Empatite” que vitimou a
equipe em tempos idos. Mas, se bem me lembro, a doença trazia uma
penca de zeros nos placares, o que não tem sido a tônica. O mal
pode ser o mesmo, mas o vírus causador sofreu uma mutação que trouxe novos sintomas.
O ataque tem funcionado
razoavelmente, com seis gols em três jogos (e 1 nos trocentos mil
metros da Bolívia, que dificulta avaliações) e mais um punhado de
chances criadas (na altura, Sheik perdeu dois que mostraram porque
ele me parece em marcha acelerada rumo ao banco). Mas a defesa começa
a preocupar. Pode ser a combinação de falta de ritmo e má condição
física de Paulo André e Fábio Santos, os dois mais velhos (sem
contar Alessandro, que não jogou ontem), com
o desentrosamento de
Gil e Edenilson. Ou talvez seja só a ruindade de alguns
destes personagens, que vinha sendo escondida pelos méritos
coletivos de uma equipe bem armada e determinada. Duas outras
possibilidades. Uma, que Gil e Paulo André têm características
parecidas, mais para os antigos quarto-zagueiros. Funcionarão melhor
com Chicão, que leva mais jeito para camisa 3. Estes três problemas
podem ir na conta da diretoria, pela montagem do elenco – e pela
perda do promissor Marquinhos – que ficou com poucas opções no
miolo.
Outra possibilidade,
mais tática, parte do reconhecimento de uma tentativa de Tite que
mudou um pouco o posicionamento do meio-campo. Ralph tem aparecido
mais no ataque, o que parece ser encorajado pelo chefe. Contra o
Braga, a transmissão televisiva diz que Tite cobrou os meias para
ajudarem mais na marcação na meia cancha, ajudando a cobrir o
volante. Os frequentes erros na zaga podem ser resultado dessa
mudança na organização coletiva – ou pode ser tudo um pacotão
de problemas.
Essa mudança, se não
se tratar de um delírio provocado pela súbita diminuição de
álcool em meu sistema após o carnaval, pode indicar experiências
para encaixar no time titular as contratações para o meio e ataque
– onde a diretoria trabalhou muito e bem. Imaginei um time num tipo
de 4-4-2 inglês, com Renato Augusto e Danilo marcando pelos lados
sem a bola e armando e trocando de lugar na transição ofensiva
(vimos os dois juntos por alguns minutos em Oruro, mas a altitude
destruiu Danilo antes que conclusões fossem possíveis). Nessa
formação, os dois volantes teriam mais companhia na marcação e
mais espaço para avanços – que eu imaginei utilizado
só por Paulinho, mas pode ser que Tite queira tentar incluir
Ralph no revesamento ofensivo. Com isso, caberiam Guerrero como
referência e Pato como segundo atacante, se movimentando pelo
ataque, voltando para buscar a bola e achar espaços para partir em
velocidade, o que faz muito bem. No papel, parece bom.
No entanto, minha
fértil imaginação foi desmentida por Tite no final do jogo de
ontem. Quando vi que Guerrero entraria no lugar de Douglas (que foi
bem, mas cansou), imaginei o time exatamente desse jeito, mas o que
se viu foi Renato Augusto ocupando a faixa central do 4-2-3-1 e
Guerrero e Pato revesando de forma muito descordenada entre a
centroavância e o lado do campo. Não rolou bem e o gol de empate só
saiu pelo vacilo de um zagueiro do Braga que achou por bem botar a
mão a bola na área.
Um destaque para a
eficiência do Bragantino em bater: a certa altura, eram 20 faltas
contra 5 do Corinthians, número realmente pitoresco.
Tragédia de Oruro
Andei totalmente sem
vontade de escrever sobre futebol desde a imbecilidade que ocorreu na
Bolívia e vitimou um garoto de 14 anos. Resumo de minha opinião
sobre o fato, sempre com o foco de encontrar a melhor maneira de
impedir que esses tipo de coisa aconteça novamente:
- Há uma dimensão
coletiva e uma individual que devem ser abordadas. A tragédia só
acontece porque existe conivência com a violência por parte da
Conmebol e dos times. Logo, as punições coletivas são importantes
para abordar este aspecto. Mas acho fundamental dar destaque ao
aspecto individual da coisa: um ou um grupo de cretinos levou bombas
para uma multidão, com ou sem o intento de dispará-las contra
outras pessoas. Eles devem pagar de acordo com a lei, ou haverá
impunidade. Se realmente foi o rapaz que se entregou à Justiça em
Guarulhos, ele tomou uma atitude corajosa. Mas merece as penas
cabíveis.
- Que todos os
envolvidos paguem e que isso se torne padrão em todas as competições
da Conmebol. Isso inclui o Corinthians, pela torcida, mas também o
San José, como mandante e responsável pela segurança. Nenhuma
punição será questionada por mim se tornar-se regra a ser
obedecida por todos. E, como dito acima, o imbecil (ou imbecis) que se
tornou assassino também deve estar na conta.
- O aspecto punitivo é
importante, mas também é fundamental que se modifiquem as condições
de segurança. Em nenhuma aglomeração humana deve ser permitida a
entrada com materiais potencialmente mortais. Precisamos parar de
tratar o futebol como uma dimensão a parte e exigir medidas de
segurança.
- Qualquer ataque ou insinuação ao Corinthians ou corintianos como "assassinos", como um torcedor do Bragantino chamou o Tite, é injusta e altamente escrota. O mesmo vale para o San José.
(Modificado às 10h40 do dia 26/2)