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Eu precisava escrever sobre o empate do Palmeiras com o Atlético-PR em 2 a 2 na Arena da Baixada no sábado, 20. A linha era dizer que, se o empate aos 48 do segundo tempo era alívio pra crise, crise não havia, pois. Os dias passaram, a gripe (não-suína, segundo o atendimento médico) me pegou de jeito, e ficou claro que não era bem assim.
Foi por isso que fiquei tentando buscar um motivo para entender porque o treinador do Palmeiras Vanderlei Luxemburgo anda tão agitado.
Ele teme perder o emprego. Qualquer técnico temeria depois de eliminado da principal competição do ano disputada pelo clube que comanda. Mesmo acostumado à pressão, sua intensidade e a aparente proximidade da degola no meio da temporada são novidade para o engravatado técnico em times nacionais. Ele declarou, em solidariedade ao rival Muricy Ramalho, ter ficado escandalizado pela dispensa sofrida pelo atual tricampeão brasileiro. Apesar das farpas trocadas por mais de uma vez entre eles, a pressão maior com menos canais de proteção na mídia criou um inusitado sentimento de classe.
Se outros técnicos preferem se calar, se isolar, jurar que vão trabalhar duro para mudar as coisas,
Por que Luxemburgo tem tanto medo de ser demitido?
Bruno Venâncio
O parceiro Venâncio, de OChiqueiro, faz sua críticaTodo mundo gosta de fazer textos sobre as trajetórias, os clubes por onde passaram técnicos e jogadores, assim como os títulos conquistados. Uma visão de bar que se oferece é justamente a saída, a hora em que a porta se abre só pro bêbado sair, seja por força do dono, cansado do inconveniente, seja por vontade própria, rumo ao próximo estabelecimento aberto.
Em um esforço de resgate histórico sujeito a esquecimentos ou fontes imprecisas, parti para um levantamento de todas as dispensas do treinador. Se houver erros, avisem que prometo corrigir.
Luxemburgo foi demitido apenas de um clube brasileiro no meio da temporada desde sua chegada ao Bragantino, em 1989. Houve ainda uma demissão pela seleção, outra por time estrangeiro e uma terceira no início de temporada, por atrito com diretoria. De resto, saltos de um lado para o outro com direito a grita e críticas ao clube que fica.
O começoDepois dos títulos da segunda divisão do Brasileiro em 1988, veio o estadual de 1990, ambos com o Bragantino. O resultado expressivo levou a um convite para dirigir o Flamengo, no ano seguinte – abrindo espaço para Carlos Alberto Parreira levar o clube da
terra da linguiça à final do campeonato nacional.
O chamado do clube do coração, onde o então lateral-esquerdo atuou profissionalmente – apesar de ter iniciado sua
carreira no Botafogo – era irrecusável. Mas ele saiu ainda em 1991, depois de eliminado na Libertadores pelo Boca Juniors. Quando pediu demissão, saiu se queixando da falta de estrutura do clube. Vale assinalar que o time do veterano Júnior e das revelações Paulo Nunes, Marcelinho, Zinho e Djalminha seria campeão carioca e brasileiro depois da saída do comandante. Para os fãs, ele
deu forma àquela geração.
Mais famaEm Campinas, Luxemburgo passou pelos dois times da cidade. Primeiro pelo Guarani e, na sequência para a Ponte Preta. Do Bugre para a Macaca, nem na
trajetória oficial fica claro o motivo (detalhe: vale conferir um suposto convite para treinar a seleção brasileira em 1992).
A saída para a Ponte Preta foi para comandar o supertime de estrelas montado pela co-gestão Palmeiras-Parmalat. Com contratações de peso, o escrete comandado por Octacílio Gonçalves, o Chapinha, oscilava. A turma do amendoim – que só ganharia tal alcunha com Luís Felipe Scolari – esperneou até tirar o paranaense do cargo.
A primeira saída do Palestra Itália foi praticamente um intervalo.
Primeiro tomboEm 1995, de volta à Gávea. sairia por atritos com a diretoria e com o grupo em julho. Não encontrei relatos precisos que pontuem o termo empregado na ocasião, se foi demissão, pé-no-traseiro ou descontinuidade por incompatibilidade ético-profissional de parte a parte. Todo mundo entendeu como demissão, no meio da temporada, depois de uma derrota para o Santos. Comandando o ataque dos sonhos de Romário, Sávio e Edmundo, a guerra de egos venceu. Ao final daquele primeiro ano de governo Fernando Henrique Cardoso, Luxemburgo estava de volta ao alviverde paulistano.
O treinador disputou 15 jogos do Brasileirão daquele ano pelo Paraná Clube, de onde voltaria para o Palmeiras, no qual seria montado o time dos cem gols no Paulista, com Rivaldo, Djalminha, Luisão e Muller.
Da ética ao banco dos réusA nova saída seria em 1997, para o Santos. Cheio de discurso, o treinador foi para a Baixada só depois de vencido seu contrato com o Palmeiras, e lecionava sobre ética esportiva nas mesas redondas de TV.
Isso até o ano seguinte, quando topou um contrato melhor para sentar no banco de reservas do Corinthians que, naquele 1998, vinha com um time e tanto. Dali acumulou a seleção brasileira por um tempo, abriu mão do alvinegro para ser exclusivo do escrete nacional e foi para a Olimpíada de Sidnei, em 2000. Foi defenestrado pela CBF. Essa demissão deve ser levada em conta, mas não é de um clube brasileiro. Isso faz diferença para o ego de uma pessoa. Objeto de esperanças antes de assumir o cargo, foi também motivo de desilusão e alvo de tiroteio por parte da torcida e da mídia após o revés diante de Camarões com dois jogadores a menos na prorrogação das semifinais.
Foi logo depois de demitido que Luxemburgo teve de lidar com as acusações da CPI do Futebol no Senado, de 2000 a 2001.
O desemprego, Madri e a voltaDo fim da Olimpíada até 2001, contratado pelo Corinthians, há o único período de desemprego conhecido pelo profissional na fase analisada. No meio do ano seguinte haveria a troca da parques, do São Jorge para o Antártica, de volta ao Palmeiras, por conveniência – projeto melhor, planejamento mais profissional ou outros motivos do gênero.
No segundo semestre de 2002, Luxemburgo iniciou uma reestruturação do elenco, dispensando diversos atletas, mas não a concluiu. Foi embora ao receber o convite do Cruzeiro. Ele foi, e o time paulista não conseguiu se recuperar das reformas que deixaram um grupo rachado e a segundona foi o limite.
Para sair do time azul de Minas Gerais, só em fevereiro de 2004, demitido três meses depois do título brasileiro. O episódio da dispensa envolveu uma briga com a diretoria do Cruzeiro.
Dali, foi ao Santos, usado como trampolim e cama-elástica do sonho de treinar o Real Madrid. Não fosse o sonho de treinar um time da Europa, muitos dizem que o técnico teria aceito o dinheiro da MSI para comandar o Corinthians em 2005.
Na Espanha, sem falar castelhano e tendo de pôr ordem em um time de galáticos, o brasileiro foi mandado de volta, correndo como um toreiro inábil o faria de uma
tourada de Madri (parará-tim-bum-bum-bum). Mais uma demissão.
Luxemburgo foi acolhido novamente pelo Peixe, de onde sairia no final de 2007, para o Palmeiras. Novamente, na saída, não houve um clube demitindo o treinador.
Tá acabando, tá acabandoSeleção brasileira em setembro, conta de um jeito diferente. Cruzeiro em fevereiro . Real Madri em dezembro. A única vez em que Luxemburgo caiu no meio do ano em um clube brasileiro foi em julho de 1995, no Flamengo.
Tanto conforto na trajetória explicaria o medo de Luxemburgo agora? Ou será por também achar, talvez inconscientemente, o Muricy melhor do que ele próprio?
Corrigido às 14h25, a partir da memória do Olavo