Time do Palmeiras levanta a primeira taça em sua nova e moderna arena
Como eu desconfiava (leia aqui), o lado alviverde da força venceu a Copa do Brasil. Ao contrário de 2014, quando o futebol paulista não ganhou nada (leia aqui), encerramos este ano com um título para o Santos (Campeonato Paulista), um para o Corinthians (Brasileiro) e um para o Palmeiras (Copa do Brasil), enquanto o São Paulo (de novo) termina uma temporada sem nada. A recuperação palmeirense, que, do quase rebaixamento para a Série B do Brasileiro há exatamente um ano, reergueu-se com um novo estádio, várias contratações, duas decisões disputadas este ano e um título conquistado, demonstra que a partir de agora haverá um novo "Trio de Ferro" no Estado, depois de seis anos de predomínio corintiano e santista.
Corinthians venceu o Brasileiro, oitavo título conquistado de 2008 pra cá
De 2008, quando o São Paulo ganhou seu último título importante, o Campeonato Brasileiro, pra cá, o Corinthians levantou oito taças (Mundial, Libertadores, Recopa Sul-Americana, dois Brasileiros da Série A e um da Série B e dois Paulistas), o Santos sete (Libertadores, Recopa Sul-Americana, Copa do Brasil e quatro Paulistas) e o Palmeiras, três (duas Copas do Brasil e um Paulista). No período, além do Brasileiro, o Tricolor venceu uma minguada Copa Sul-Americana. Detalhe: o São Paulo é único que nunca venceu uma Copa do Brasil, assim como foi o último a conquistar um título do extinto Torneio Rio-São Paulo, já nos anos 2000, quando na década de 1950 os três arquirrivais - e até a Portuguesa! - já tinham esse troféu. E se autointitula "soberano"...
Santos ergue o troféu do Paulistão: sempre revelando garotos bons de bola
O prognóstico realista, para os próximos anos, é ainda mais sombrio para os sãopaulinos. Imerso em crise administrativa e financeira, que reflete dentro de campo, o clube vê Corinthians e Palmeiras inflarem seus cofres com patrocínios forte e suas novas, modernas, acessíveis e multifuncionais arenas, que geram grandes contratações e, lógico, títulos, e o Santos mantendo sua rotina de revelar moleques bons de bola, que são vendidos a peso de ouro, e sempre beliscando um troféu aqui ou acolá. Neste fim de temporada, o Tricolor, milagrosamente, ainda tem chance de conseguir uma vaguinha da Libertadores. Mas, como já questionei aqui, pra quê disputar a Libertadores? Caindo no grupo de Palmeiras ou Corinthians, vai passar vexame (de novo)...
Fim de feira: Tricolor vê rivais campeões e é massacrado dentro de campo
E se o Goiás vencer o São Paulo no domingo, o Feliz Natal dos rivais será completo...
FHC, herói da Veja: Delcídio estaria em seus diários?
Ninguém aqui quer defender o PT, o governo Dilma, o Lula ou nunseiquelá, nunseiquelá, nunseiquelá. Não integramos suas assessorias de imprensa e, para esse tipo de defesa, sempre existem advogados bem dispostos - e (muito) bem remunerados. Mas, como observou meu colega jornalista Lobão (Rogério Castro), sobre as cobranças do "santo" Aécio Neves (PSDB) à presidente Dilma em relação à prisão do senador Delcídio Amaral (PT), "sei que não adianta explicar para quem não quer entender, mas não custa nada encher o saco dos cidadãos de bem, defensores da moralidade pública, que infestam as redes sociais: com a prisão de André Esteves, um ex-presidente do Banco Central de FHC assumiu o comando do BTG Pactual. Pô, parem de bancar a carmelita descalça dentro do puteiro!".
Exatamente. A esses "cidadãos de bem, defensores da moralidade pública, que infestam as redes sociais" e saem nas ruas com camisa da seleção brasileira, louvando militares, Bolsonaros e Malafaias, complemento o lembrete do Lobão com um belo texto que circula pela internet e é assinado por Maria Fernanda Arruda:
Está
claro para vocês o desenrolar dos acontecimentos recentes ou querem que
eu desenhe o fato óbvio de que o caso de corrupção que está sendo
investigado na Lava-Jato não começou em 2003 e não se encerra na
Petrobras!? [OBS: por favor, compartilhem até chegar ao Sr. Moro, porque parece que ele está por fora disso tudo aí.]"
Começando a ler "O reino que não era deste mundo", do historiador Marcos Costa (Editora Valentina, 2015), sobre o período imperial brasileiro no século XIX, me deparo com três expressões populares que resistiram ao tempo e ainda hoje usamos:
Maria vai com as outras - "[A] Rainha D.Maria I (...) vivia praticamente em estado de loucura no Brasil, completamente senil e para tudo dependente de suas amas, daí o surgimento da expressão 'maria vai com as outras'." A partir de então, o povo passou a usar esse termo para designar "uma pessoa que não tem opinião, que segue o comando dos outros, que se deixa convencer com facilidade" (leia aqui).
É um 'caxias' - "Filho do Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, regente do Império (...), [o Duque de] Caxias (...) aprendeu, sobretudo, a cultivar a sua fidelidade à Monarquia. Com a família elevada à cúpula do Exército brasileiro, além do pai regente, os tios José Joaquim de Lima e Silva e Manoel da Fonseca de Lima e Silva, respectivamente elevados à condição de Comandante de Armas da Corte e do Ministério da Guerra, em 1832, Luís Alves de Lima e Silva assume o posto de comandante das Guardas Municipais Permanentes (...), a tropa de elite do imperador. (...) Papel que desempenhou com extrema competência." Não por acaso, portanto, passamos a chamar de "caxias", desde aquela época, "pessoa que cumpre com extremo escrúpulo as obrigações do seu cargo, ou que exige de seus subordinados o cumprimento rigoroso das leis, regulamentos e determinações de serviço" (leia aqui).
Pra inglês ver - "O fim do trabalho escravo no Brasil e a sua substituição pelo assalariado, ambicionavam os ingleses, criariam no país um amplo mercado consumidor para os seus produtos industrializados. (...) O tráfico negreiro, no Brasil, depois da pressão dos ingleses, fora proibido desde 1831. Essa lei declarava livres todos os escravos vindos de fora do Império. (...) [Só que] Os interesses ligados à lavoura eram tão poderosos, que a lei, como tantas outras ainda em nossos dias, simplesmente... não saiu do papel, não pegou. A lei imposta foi responsável pela criação no vocabulário brasileiro de um jargão, reproduzido até hoje: 'pra inglês ver'." Estavam batizadas popularmente, a partir de então, as "leis ou regras consideradas demagógicas e que não são cumpridas na prática" (leia aqui).
Não é a toa, portanto, que o autor do livro conclui que periodicamente, no Brasil, o cenário político e de poder precisa "mudar para deixar tudo exatamente como estava"...
Quem eu devo, espera, porque eu pago!
E no momento eu estou todo enrolado
A quem devo, espera, porque eu pago!
E no momento eu estou todo enrolado...
Já não acredito em mais nada
Na vida só estou dando azar
Pra frente eu só vou quando eu tropeço
Ou se alguém me empurrar
Quando eu quero bicar alguém
Dizem logo: 'Suncê já está manjado!'
A pior coisa que tem no mundo
É pedir dinheiro emprestado
Quem eu devo, espera, porque eu pago!
E no momento eu estou todo enrolado
A quem devo, espera, porque eu pago!
E no momento eu estou todo enrolado...
Tô devendo a escola das crianças
O armazém que fiou bóia pra mim
A padaria da esquina E devo também no botequim
A casa já vai para seis meses
Devo a vizinhança um bom 'cacau'
Meu apelido aonde eu moro
Passou a ser cara de pau
Mas que o meu apelido aonde eu moro
Passou a ser...
Pode deixar que eu pago, eu já disse!
Deixa comigo, eu vou pagar, mas devagar, hein!
A maré aí não tá boa ainda
Segura a conversa, depois eu conto
Viiiige!
Deixa isso pra lá...
Falô!
Há uns 15 anos, ao entrevistar por telefone o Tom Zé, para o jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza, ele me perguntou sobre o que acontecia de mais relevante no Ceará, naquela época. Como eu era repórter do caderno de economia (e estava apenas fazendo um bico para o de cultura), comentei:
- Acho que uma coisa que o pessoal não tem ideia nas outras regiões do país é que grupos portugueses estão comprando várias extensões na costa cearense, construindo hotéis na beira do mar e cercando as praias, impedindo o acesso da população. É uma verdadeira privatização do espaço público.
Tom Zé soltou uma gargalhada no telefone e gritou para a esposa dele:
- Neusa! Vem aqui ouvir o que o repórter tá me contando: os portugueses venderam caro nossa independência e agora tão comprando o Brasil de novo, aos poucos!
Exatamente. O fino humor do músico, intérprete, compositor e performer baiano resumiu, em uma frase, o que dez comentaristas ou colunistas econômicos não conseguiriam (ou não ousariam) concluir. Mas me lembrei disso porque, hoje, ao ler uma notícia na inFernet, fiquei pensando o que o Tom Zé - que há dez anos lançou o CD "Estudando o Pagode - Na opereta Segrega Mulher e Amor", sobre machismo, papel da mulher e suas relações com o homem (ouça aqui) - comentaria sobre isso:
Sim: uma modelo sueca arrancou seis costelas por questão estética (leia aqui). Imagino o que o Tom Zé observaria sobre isso, se as costelas dariam origem a um novo ser, como Eva, que Deus criou a partir de uma costela que retirou de Adão, segundo a Bíblia. Vai daí, uma ideia (de jerico) puxa outra e me lembrei de um texto que li recentemente, da filósofa Marilena Chauí, como introdução ao trabalho clássico "O direito à preguiça", de Paul Lafargue. Ela observa que "ao ócio feliz do Paraíso segue-se o sofrimento do trabalho como pena imposta pela justiça divina e por isso os filhos de Adão e Eva, isto é, a humanidade inteira, pecarão novamente se não se submeterem à obrigação de trabalhar".
Chauí: condenação da preguiça faz com que desempregado se sinta humilhado, um pária
A filósofa observa ainda que "o laço que ata preguiça e pecado é um nó invisível que prende imagens sociais de escárnio, condenação e medo" e que isso gerou "as figuras do índio preguiçoso e do negro indolente", do "nordestino preguiçoso, a criança de rua vadia (vadiagem, aliás, o termo empregado para referir-se às prostitutas), o mendigo - 'jovem, forte, saudável, que devia estar trabalhando em vez de vadiar'; é ela, enfim, que força o trabalhador desempregado a sentir-se humilhado, culpado e um pária social". O que me faz pensar no taxista Juraci, o Pai Velho, como um subversivo...
'Vai trabalhar, vagabundo!/ Vai trabalhar, Criatura! DEUS permite a todo mundo/ Uma loucura...'
Prova maior de que o trabalho é um castigo divino é a ira de Deus ao expulsar o casal do Jardim do Éden, descrita no Gênesis. Ele diz a Adão: "Com sofrimentos te nutrirás todos os dias de tua vida (...). Com o suor de teu rosto comerás teu pão, até que retornes ao solo, pois dele foste tirado". E é ainda mais cruel com Eva: "Multiplicarei as dores de tua gravidez, na dor darás à luz filhos. Teu desejo te levará ao homem e ele te dominará" (será que isso inclui arrancar seis costelas para atrair a atenção?). Sobre essa pesada pena para a mulher, Marilena Chauí comenta: "Não é significativo que em muitas línguas modernas recuperem a maldição
divina contra Eva usando a expressão 'trabalho de parto'?". Aliás, falando em maternidade, vejamos esse cartum do argentino Quino:
Só que, após a reforma protestante e a revolução industrial, o ócio passou a ser condenado pelo ideal religioso, com a preguiça tornando-se um dos "sete pecados capitais", e econômico, com a valorização máxima do dito "tempo é dinheiro". Nisso aí, minha mente (preguiçosa) desanda a trabalhar (pela causa) e faz o link, agora, com um post que fiz, aqui no Futepoca, observando que a palavra trabalho vem do latim tripalium, um instrumento romano de tortura por empalamento, e que a palavra negócio vem de "negação do ócio". Marilena Chauí complementa: o latim labor, que origina a palavra trabalho em inglês e lavoura em português, significa "esforço penoso, dobrar-se sob o peso de uma carga, dor, sofrimento, pena e fadiga". Por outro lado, ócio, em grego, se diz scholé, de onde vem nossa palavra escola. Coisa que o Geraldo Alckmin (PSDB) costuma reorganizar, digo, fechar.
Tripalium (três paus): instrumento de tortura é origem da palavra trabalho
Então, num esforço para amarrar - ou não - tudo isso (costela, Adão e Eva, castigo, trabalho e valorização do ócio), puxo um samba do Adoniran Barbosa, "Conselho de mulher", em parceria com Oswaldo Moles e João Belarmino dos Santos, que eu citava no tal post:
Trecho falado: "Quando Deus fez o homem, quis fazer um vagulino que nunca tinha fome E que tinha no destino nunca pegar no batente e viver forgadamente O homem era filiz enquanto Deus anssim quis Mas depois pegou Adão, tirou uma costela e fez a mulé Deis di intão, o homem trabalha p'rela Vai daí, o homem reza todo dia uma oração:
'-Se quiser tirar de mim arguma coisa de bão, que me tire o trabaio; a muié não!'"
Pogréssio, pogréssio Eu sempre iscuitei falar Que o pogréssio vem do trabaio Então amanhã cedo nóis vai trabaiá
Quanto tempo nóis perdeu na boemia Sambando noite e dia, cortando uma rama sem parar Agora iscuitando o conselho da muié Amanhã vou trabaiá, se Deus quisé (Mas Deus não qué!)
Taí: se a mulher agora também está arrancando costela, o homem podia entregá-la pra Deus como "quitação de débito", acabar com a obrigação do trabalho e voltar ao ócio sagrado - uma vez que, como lembra Adoniran, no Paraíso "Deus não quer" que peguemos no batente! Outra coisa: trabalho é opressão. Naquele mesmo post que fiz sobre a falaciosa "dignificação do homem", alguém lembrou muito apropriadamente, nos comentários, que - não por acaso - os nazistas punham placas nos portões de entrada dos campos de concentração com a frase "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta").
Frase nos campos de concentração 'ensinava': 'O trabalho liberta'
Ou, como acrescentou o já citado Tom Zé, em "Esquerda, Grana e Direita" (ouça aqui):
"Quando o trabalhador cresce na sociedade
E tem a oportunidade de ser protagonista da história
Ele pratica o método do opressor
Porque foi o único método que aprendeu
Então, ele só sabe agir como o opressor
Arrastão de Paulo Freire"
E, falando no "Elogio ao ócio" (outro texto clássico, dessa vez de Bertrand Russell - acesse clicando aqui), me cai na mão exatamente neste momento um exemplar da revista "Cidade", publicação do Shopping Center Cidade Jardim, com um texto de Adriana Nazarian intitulado "O que fazer? NADA", que afirma: "Ter horas livres - em uma época em que nada parece ser tão livre assim - pode ser mal visto. Para dar conta da demanda, que também exige vida pessoal bem equilibrada, eliminamos da rotina algo fundamental: o ócio".
Ilustração da matéria da revista 'Cidade' (feita por Catarina Bessell)
A revista ouve três especialistas que reforçam que "praticar o nada é essencial":
"É fácil achar que o mundo vai se afastar de nós caso a gente dê uma pausa na produção, mas se permitir esses momentos faz com que a parte inconsciente do cérebro organize todas as ideias às quais estivemos expostos. Aprender a desconectar é perceber que nós não podemos - nem devemos - participar de absolutamente tudo. Nossa cultura prega a ilusão de que podemos ter tudo, mas isso acaba colocando o foco apenas no que não temos." - David Baker, fundador e editor da revista "Wired', escritor e professor
"Praticar o fazer nada é crucial para equilibrar a fisiologia e a cognição. (...) O descanso e, sobretudo, o sono são essenciais para limpar o cérebro de toxinas, repor metabólitos despendidos na vigília e processar memórias. (...) Ao contrário do que muitos pensam, o sono não é um simples descanso, mas tem papel ativo na saúde mental e física. O ócio é parte fundamental da experiência humana e precisa ser preservado." - Sidarta Ribeiro, neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
"Silêncio significa fazer perguntas, e nós criamos barulho e bagunça justamente para evitar as grandes questões e propósitos da vida. Não abrir espaço para esses momentos é como viver sem dormir, sem deixar o motor esfriar antes de mais uma corrida. Hoje, a maioria das pessoas atribui a felicidade ao alcance de metas. Com isso, vivem infelizes (...)." - Yonatan Shani, diretora do Kabbalah Centre do Brasil
Ignácio de Loyola Brandão: 'A melhor coisa de não fazer nada é, em seguida, repousar'
Ah, tem outro texto que me vem à mente agora, uma crônica do Ignácio de Loyola Brandão publicada no jornal "O Estado de S.Paulo" no ano passado (leia aqui), que proclama:
"Não que eu não faça nada somente no sábado ou domingo de manhã, nos feriados ou nas férias convencionais. Não faço nada quando decido: agora, não vou fazer nada. Isto significa liberdade. Quantos de vocês tomam estas decisões? Não fazer nada, contudo, não significa que em seguida você vai se esfalfar para tirar o atraso. Nem pensar. A melhor coisa de não fazer nada é, em seguida, repousar do nada fazer. Perceber que está feliz por não ter feito nada. Não sentir culpa por não fazer nada."
Sobre isso, aproveito para citar uma frase de outro escritor, Charles Bukowski:
"Gosto de olhar os meus gatos, eles me acalmam (...). Você sabia que os gatos dormem 20 das 24 horas do dia? Não se admira que tenham melhor aparência do que eu."
E arremato com mais literatura, indo direto ao ponto com uma frase de Marguerite Duras:
“É preciso ser muito forte pra não fazer nada.”
Buenas, depois de tanto "trabalho" pra pular da modelo que tirou as costelas pro Tom Zé e a privatização de praias brasileiras pelos portugueses, de Adão e Eva e Marilena Chauí para um instrumento de tortura romano e um samba de Adoniran Barbosa, passando pelos campos de concentração nazistas e voltando ao Tom Zé para desembocar nos especialistas e escritores que corroboram a valorização do ócio, vou conceder à minha ociosa inteligência o direito à preguiça. E verei se amanhã "vou trabaiá, se Deus quisé"... "Mas Deus não qué!"
Imagem divulgada por Luís Fabiano ontem, antes de enfrentar o Figueirense
Em janeiro de 2012, Serginho Chulapa, o maior artilheiro do São Paulo, com 242 gols, opinava, sobre Luís Fabiano, que voltava ao clube: "Acho que tem tudo para me passar, para me alcançar, ainda mais agora, que voltou a fase boa dele. Torço para que isso aconteça e acho que o recorde foi feito para ser quebrado" (leia aqui). Na época, depois de marcar seu primeiro gol na volta ao Tricolor contra o Libertad, em outubro de 2011, o chamado "Fabuloso" já estava com 126 gols e precisava de mais 117, nos quatro anos seguintes de contrato, para ultrapassar Chulapa (o segundo colocado é Gino, com 233 gols). Um ano depois, em fevereiro de 2013, a diferença já havia caído para 80 gols, e Luís Fabiano mostrava-se otimista: "Acho que dá [para ultrapassar Serginho Chulapa e ser o maior artilheiro do clube]. É uma grande possibilidade, se eu fizer 30 e tantos gols nesses últimos dois anos, eu alcanço. Acho que dá, é algo que pode ser alcançado, se eu não me machucar e ter uma sequência. É uma coisa a se pensar" (leia aqui). Pois é, não deu.
'Fabuloso' marca e beija o símbolo do clube, ontem: despedida no Morumbi
Ontem, contra o Figueirense, Luís Fabiano abriu o placar e chegou a 212 gols com a camisa sãopaulina (leia aqui). Foi a última vez que marcou pelo clube no estádio, no qual é o segundo maior artilheiro pelo Tricolor, com 125 gols (só ficando atrás justamente de Serginho Chulapa, que fez 135 ali, jogando pelo time da casa). Não é possível cravar que tenha sido a última partida do "Fabuloso" pelo São Paulo, pois chegou a afirmar que não enfrentará o Goiás no derradeiro compromisso da equipe pelo Brasileirão, quando pode conquistar vaga na Copa Libertadores, mas depois voltou atrás (leia aqui). "Foi bom enquanto durou, até breve. Espero voltar como colaborador ou alguma coisa, porque a ligação com esse time é muito grande ", despediu-se o centroavante, já candidatando-se a um futuro emprego pós-pendura de chuteiras. Pelo o que se especula, Luís Fabiano vai ganhar mais de R$ 1,5 milhão mensais na segunda divisão da China, num contato de dez meses - algo que faria até o velho Serginho Chulapa voltar aos gramados, sem dúvida...
O engraçado é que essa bolada de grana, mais a expressão "foi bom", usada pelo jogador na despedida do São Paulo, remete a um trecho da letra de uma música do Ultraje a Rigor intitulada "Terceiro" ("Terceiro! Pra mim tá louco de bom!"), a mesma colocação que Luís Fabiano ficou entre os maiores artilheiros do clube. E, como se ilustrasse muitos jogos em que o centroavante "sumiu" em campo (principalmente os decisivos), a letra diz: "Se eu me esforço demais vou ficar cansado/ Já dá pra enganar eu ficando suado/ Se reclamarem eu boto a culpa no patrocinador". Então tá explicado: como o São Paulo está há um ano e meio sem patrocinador master, "Fabuloso" estava sem esse artifício - e o jogo de ontem foi o 171º dele pelo clube no Morumbi, número oficial do "migué". No fim, o artilheiro só igualou Serginho Chulapa no número de expulsões (leia aqui). Zàijiàn, Luís Fabiano!