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Não é novidade pra
ninguém que a semana foi péssima para o candidato do PSDB à
prefeitura de São Paulo, José Serra. Primeiro, a pesquisa
Datafolha, divulgada na quarta-feira, mostrava uma queda de cinco
pontos de sua candidatura e, dois dias depois, o Ibope já apontava
um empate
técnico do tucano com Fernando Haddad na segunda colocação.
Agora, a campanha serrista tem como objetivo garantir a ida do eterno
presidenciável ao segundo turno, ainda que o tom agressivo possa
prejudicá-lo – e muito – em uma eventual segunda volta.
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Pesquisas não têm deixado Serra feliz |
Mas, a essa altura, as
opções de estratégia para o PSDB são poucas. Junto com o petista,
Serra tem o maior tempo no horário eleitoral e, mesmo assim, minguou
nas pesquisas. Analisando os dados do Datafolha, ele perdeu votos em
quase todos os estratos da população, exceção feita àqueles que
ganham entre 5 e 10 salários mínimos, onde cresceu três pontos.
Mesmo assim, nessa faixa Russomano cresceu seis, enquanto Haddad e
Chalita oscilaram positivamente dois pontos cada.
Embora o crescimento de
Haddad e a queda de Serra possam sugerir que o petista cresceu em
cima do provável eleitorado tucano, isso pode ser verdade apenas em
parte. Na faixa daqueles que ganham até dois salários mínimos, por
exemplo, o Datafolha mostra Haddad crescendo nove pontos, exatamente
a soma do que perderam Russomano (2) e Serra (7). Entre aqueles que
se declaram simpatizantes do PT (25% dos entrevistados), Haddad
cresceu 15 pontos, enquanto Russomano perdeu quatro, e Serra, seis.
Já entre tucanos (9% dos pesquisados), Serra perdeu 15 pontos e
Russomano ganhou 16, enquanto o petista perdeu 3 pontos. Ou seja, os
dados podem indicar que Haddad tem, sim, tirado votos do candidato do
PRB, que tem compensado essa perda ao tirar votos do pessedebista,
mantendo-se estável.
O Ibope vai no mesmo
sentido, mostrando que Serra estaria cada vez mais
confinado
eleitoralmente em seu reduto, o centro expandido de São Paulo.
Antes do horário eleitoral, 59% de seus eleitores estavam nessa
região e, agora, são 69%. Ele perde votos e vê sua rejeição
aumentar no resto da cidade e, com Haddad crescendo e Russomano com
um eleitorado que parece consolidado, sua estratégia para ir ao
segundo turno é se firmar como o “anti-PT”, explorando a
rejeição do partido em São Paulo e tentando mostrar ao eleitorado
conservador ser a melhor opção para derrotar os petistas. Não é à
toa que os ataques contra a campanha de Haddad começaram cedo demais
nas hostes tucanas, destoando dos programas de rádio e TV dos
rivais.
No entanto, as
estratégias dos adversários não favorecem o estilo agressivo de
Serra. Chalita, por exemplo, bate na tecla da “terceira via”,
condenando o suposto Fla/Flu entre PT e PSDB (o que tem favorecido
mais Russomano do que o próprio peemedebista, como
lembra
Rodrigo Vianna). Enquanto isso, Haddad prega o “novo”, mostrando realizações
suas como ministro, mas o “novo” permeia também outras
candidaturas. Assim, nada parece mais antigo aos olhos do eleitor do
que a candidatura tucana, que carrega ainda o ônus de uma
administração mal avaliada como a de Kassab. O jeitão da campanha
tucana na TV e no rádio também cheira a mofo.
A esperança de
Serra pode ser Haddad
Como Maluf, um candidato competitivo de outras épocas, Serra desfila uma série de
realizações (“obras”) na televisão. Usando, aliás, um método
semelhante, bastante criticado pelos adversários em tempos idos, a
tal “apropriação” de feitos alheios: obra que ele iniciou,
projetos pegos no meio do caminho ou finalizados em sua gestão, tudo
passa a ficar no mesmo bolo e figura como realização exclusivamente
sua. Até os CEUs, obra da ex-prefeita Marta Suplicy, viraram “CEUs
do Serra”, um jogo duplo que pode significar que os “seus” CEUs
são melhores que os originais (difícil dizer, já que ele não
finalizou nenhum em seu curto período como prefeito) ou que podem
ter sua criação vinculados a sua obra e graça. Vendo a propaganda
tucana, tem-se a impressão que Serra governou a cidade por oito
anos, participando ao mesmo tempo do governo do estado. Um político
“onipresente” mas que, aos olhos do eleitor, parece bastante
ausente...
Assim, a grande
esperança de Serra ir ao segundo turno pode estar justamente no
crescimento de Haddad. Caso o petista continue avançando, vai tirar
votos do atual líder das pequisas, principalmente nas franjas da
cidade, e as pesquisas mostram que esse espaço de crescimento
existe. Se o tucano conseguir estancar a sua queda, é
possível que o crescimento do petista desidrate o desempenho de Russomano e mantenha os dois candidatos, do PRB e do PSDB, em patamares mais próximos,
dando chances de Serra ir à rodada final.
E, com um Haddad mais "robusto" nas pesquisas, o discurso antipetista faria mais sentido para parte do eleitorado paulistano que rejeita o partido. Novamente, o medo seria a mola propulsora do tucano. Obviamente, o cenário idílico para Serra seria Haddad não ultrapassá-lo, mas o histórico das eleições paulistanas, já citado
aqui, e o andar da carruagem mostram essa possibilidade bem distante. Diante disso, restaria ao tucano se credenciar como o mais indicado para bater o PT.
Mesmo indo desgastado
para o segundo turno, o tucano provavelmente apostaria no vale-tudo
já usado em outras ocasiões e, ao menos, evitaria repetir o vexame
de Geraldo Alckmin em 2008. A propósito, outra
aposta do PSDB reside justamente nas aparições de Alckmin. Para
quem não lembra, sua presença foi decisiva na vitória de Serra em
2000, quando o tucano disputava a ida para o segundo turno com Marta
e Maluf. No entanto, a recíproca não foi verdadeira nas eleições
de 2008, ocasião em que os serristas não se esforçaram pelo
candidato do seu partido e Kassab deixou o atual governador de São
Paulo fora do segundo turno. Ali, Alckmin teve
22,48% dos votosválidos, enquanto Serra tem atualmente 26,5% (descontando indecisos,
brancos e nulos, segundo o Datafolha). Será esse o piso eleitoral
tucano em São Paulo ou o buraco seria mais embaixo?