Segundo o Dicionário Michaelis (versão online), brio significa, entre outras coisas, "sentimento da própria dignidade; ânimo esforçado; coragem, valentia". A história do futebol registra muitos casos em que isso determinou viradas, vitórias e conquistas inimagináveis. Pois esse brio foi despertado, ontem, na equipe do Palmeiras, ao conquistar um empate heroico e improvável com o Atlético-PR, em Curitiba, aos 49 minutos do segundo tempo. Num jogo emocionante, marcado por arbitragem polêmica e muitas confusões, o alviverde paulistano teve dois jogadores expulsos mas, ainda assim, partiu com tudo pra cima do adversário, na base da raça, e arrancou uma improvável igualdade no placar (em 3 x 3). Deu pra notar, na indignação e na determinação de cada palmeirense em campo, o chamado "sangue nos olhos", a fagulha que faltava pra incendiar um time que, até aqui, fez uma temporada vacilante, instável e apática, apesar das contratações feitas.
Enquanto assistia esse jogo, lembrei de outro, de 13 anos atrás. No Campeonato Brasileiro de 2002, o São Paulo, treinado por Oswaldo de Oliveira, engatou uma série espetacular de dez vitórias na primeira fase e tornou-se favorito ao título. A quarta dessas vitórias consecutivas ocorreu na 13ª rodada, contra o Santos, no Morumbi. Assim como o de ontem, foi um jogo marcado por arbitragem polêmica e confusões: três jogadores expulsos (dois do São Paulo), repetição de cobrança de pênalti após Rogério Ceni ter se adiantado para fazer a defesa, provocação do meia santista Diego, que foi comemorar seu gol sobre o símbolo do São Paulo e despertou a revolta de Fábio Simplício, e, no fim, um pênalti duvidoso que fez o Tricolor vencer por 3 x 2. Pois arrisco a dizer que essa derrota foi o que acendeu o brio do Santos - e que foi preponderante para que o time eliminasse o favorito São Paulo um mês depois, nas oitavas-de-final, ganhando corpo para seguir vencendo até o título.
Por isso, mudei minha opinião sobre a decisão da Copa do Brasil, que será disputada entre Palmeiras e Santos. Até ontem, o alvinegro praiano me parecia favorito absoluto, não só pelo excelente futebol apresentado neste segundo semestre, muito por responsabilidade do técnico Dorival Júnior, mas também pela apatia e instabilidade do time palmeirense. Só que, para mim, a partida heroica contra o Atlético-PR mudou esse panorama. Se o Palmeiras ficou mesmo "mordido" com os acontecimentos de ontem, em Curitiba, e permanecer "mordido" ao entrar em campo contra o Santos, na Vila Belmiro, poderá conquistar um resultado confortável - um empate ou mesmo uma derrota por diferença mínima e com gols fora de casa - para partir com tudo na última partida decisiva, jogando em seu estádio lotado. Porque o Santos, ao contrário, segue tranquilo, relaxado e confiante no (consistente) futebol que vem jogando. E isso pode ser muito perigoso... Veremos.
Esse é considerado um dos estilos mais antigos da Europa Ocidental, com raízes na Finlândia e tipicamente de origem caseira. Começou a ser produzido no início do século XVI por camponeses e o método de elaboração atual não foge muito ao que era naquela época. Segundo o site português (e parceiro) Cervejas do Mundo, "o resultado final fica próximo das German Hefeweizens apesar de, em termos de produção, assemelharem-se mais às Lambics belgas por serem fermentadas por bactérias e elementos existentes na atmosfera". Para experimentar, sugere-se as marcas Lamin Sahti, Finlandia Sahti (foto) ou Goose Island Sahti.
Desde sempre, como sãopaulino, ouço críticas veementes aos dirigentes do São Paulo Futebol Clube pela postura politicamente conservadora e elitista e pelo apoio à ditadura militar - época que um dos diretores do clube, Laudo Natel, chegou a ser governador de São Paulo e que o estádio do Morumbi teve ajuda (leia-se: dinheiro) do poder público para ser terminado. Até onde checamos aqui no Futepoca, é tudo verdade. Falamos da postura ostensivamente conservadora e elitista da torcida e da diretoria do São Paulo nesse post aqui, nesse aqui e mais esse aqui. E das ligações políticas comprometedoras e dos benefícios (públicos) para o Morumbi (particular) nesse post aqui, nesse aqui e esse aqui também.
Pois bem, em contraposição a essa pecha "direitista" do São Paulo, sempre vejo, da mesma forma, elogios ao Corinthians - o "time do povo", da "democracia" dos jogadores no início dos anos 1980. Falamos sobre isso aqui, aqui e mais aqui. Porém, precisamos tomar cuidado com o maniqueísmo nosso de cada dia. Tem muito sãopaulino (diretor, jogador ou torcedor) que não é conservador e/ou apoiou a ditadura militar, assim como tem muito corintiano (idem parênteses anterior) que sim. No que se refere especificamente aos cartolas, "é sempre bom lembrar" - como diz aquela música do Gilberto Gil - que patrão é patrão, em time "da elite" ou "do povo". E o patronato geralmente costuma simpatizar com governos ditatoriais, apoiá-los, financiá-los e tê-los como aliados. Ou, pelo menos, não afrontá-los.
Rose Nogueira no ato do dia 27 de outubro
Vai daí, fiquei sabendo que, no último dia 27 de outubro, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo fez, em sua sede, um ato em memória dos 40 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, e, na ocasião, a jornalista (e atualmente uma das diretoras da entidade de classe) Rose Nogueira, que foi presa e torturada pela ditadura militar, lembrou que naquela época Wadih Helu era um dos deputados estaduais que cobravam na Assembleia Legislativa repressão aos
jornalistas comunistas. O mesmo Helu que foi presidente do Corinthians entre 1961 e 1971 e que, mais tarde, ocuparia o cargo de secretário estadual de Administração no governo - biônico, ou seja, nomeado sem eleição - de Paulo
Maluf. Aliás, foi Helu quem apelidou o Palmeiras de "porco" (leia aqui) numa polêmica com o rival.
Enfim, Zé Rodrix já observava que "cada um acredita naquilo que quer, pode e consegue". Mas sempre é bom evitar maniqueísmos. Sãopaulinos e corintianos, uni-vos - no bar!
CLARICE SPITZ da Folha Online, no Rio de Janeiro (07/09/2006)
A 24 dias das eleições, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, lançou nesta quinta-feira sua proposta de governo para a educação, com a promessa de aumentar o número de horas-aula. Em visita à favela de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio, Alckmin disse que seu plano também prevê o reequipamento de escolas e a melhoria do acesso as creches.
O candidato afirmou que sua meta é de [sic] estabelecer um padrão de 5 horas aula para o ensino fundamental em todo o país e disse que, em alguns lugares, as crianças ainda permanecem somente 3 horas na escola. O tucano ainda afirmou que vai trabalhar para melhorar a qualidade da educação básica e universalizar o ensino médio. "Hoje, o grande gargalo é o ensino médio: não deixar o aluno terminar a oitava série e parar de estudar", disse ele.
No programa de governo, o comitê de campanha afirma que a oferta de vagas no ensino médio ainda é insuficiente aos 10 milhões de jovens nessa idade escolar.
Segundo o livro "O marechal da Vitória", de tom Cardoso e Roberto Rockmann (já citado neste post aqui), em março de 1942, o empresário Paulo Machado de Carvalho, um dos proprietários da Rádio Record, estava disposto a reforçar o São Paulo Futebol Clube, do qual era diretor de Esportes, com "um jogador tecnicamente brilhante, experiente, que melhorasse a autoestima dos outros atletas e da torcida". A duas semanas do início do Campeonato Paulista, não havia qualquer atleta com essas características no mercado. Foi então que o "Acaso de Almeida" deu as caras. Conta o livro:
"Paulo Machado chegou desanimado à Rádio Record. (...) Ao notar que o patrão, normalmente de bom humor, estava ansioso, angustiado, o cantor de emboladas Manezinho Araújo decidiu puxar conversa:
- Boa tarde, doutor Paulo, como vai o São Paulo? Pronto para o título?
- Estamos trabalhando para isso, Manezinho.
- Tenho um amigo que adoraria jogar no São Paulo.
- Quem?
- Leônidas da Silva.
Manezinho, o amigo de Leônidas
O cantor pernambucano, e também redator da Record, estava de gozação, pensou Paulo Machado. Leônidas da Silva, "O Diamante Negro", era um dos maiores craques do mundo, artilheiro da Copa de 1938, na França, e estrela maior do futebol do Rio de Janeiro, onde atuavam os melhores jogadores do país. Paulo Machado pensou em encerrar a conversa, mas antes, por curiosidade, quis ver até onde o empregado levaria aquela história:
- É mesmo, Manezinho? O Leônidas sairia do Rio para jogar em São Paulo?
- Sim, doutor Paulo. Ele está sem clube, mas quer jogar, não importa o lugar.
- E o Flamengo?
- Ele não quer jogar nunca mais no Flamengo.
- Quem disse isso?
- No Rio não se fala em outra coisa."
Leônidas da Silva no Flamengo
Como se diz na gíria, "o peixe estava fisgado". Curioso, Paulo Machado de Carvalho descobriu que, em 1941, Leônidas se recusara a viajar com o Flamengo numa excursão à Argentina, alegando que estava machucado. O clube, que receberia cachê menor sem o astro, queria obrigá-lo a jogar, acusando-o de fazer corpo mole porque queria ficar no Brasil para atuar em campanhas publicitárias. Leônidas rompeu com o clube carioca, que, como vingança, recuperou uma acusação antiga para que ele fosse preso: fraude num certificado de reservista para escapar do Exército. Assim, em 25 de julho de 1941, pouco depois de brigar com o Flamengo, o atacante, com o menisco do joelho direito recém-operado (prova de que não mentira ao recusar a excursão), foi detido numa Vila Militar, onde passou oito meses. Liberto em março de 1942, deu uma entrevista a "O Globo Esportivo" afirmando que preferia abandonar o futebol a retornar ao clube da Gávea, que ainda detinha seu passe. Prossegue o livro:
"Desencantado com o futebol, em litígio com o Flamengo, Leônidas havia se isolado e pedia aos empregados que não abrissem a porta para ninguém. (...) A comitiva do São Paulo estava pronta para fazê-lo abandonar o pijama e voltar a jogar. Além de Paulo Machado e [Roberto] Gomes Pedrosa [ex-goleiro e, na época, dirigente do SPFC], desembarcaram no Rio de Janeiro Manezinho Araújo e Raul Duarte, eterno homem de confiança de Paulo Machado. O primeiro [Manezinho] teria a missão de avisar Leônidas do interesse do São Paulo e fazer a proposta milionária. Já Raul Duarte, se tudo desse certo, colaria no craque até a sua chegada à Estação do Norte (depois Estação Roosevelt), no bairro do Brás. Quando chegou ao Rio, Manezinho telefonou:
- Como vai a vida, Leônidas?
- Estou bem aqui, sossegado em meu canto.
- Um pessoal do São Paulo quer vê-lo.
- Diga a eles que não falo mais sobre futebol.
- Eles vão pedir alto para comprar seu passe, Leônidas.
- Não estou à venda, Mané.
- Nem por 200 contos de réis?
- O quê?
- Isso mesmo, 200 contos de réis: 120 para você e 80 para o Flamengo.
- Traga eles aqui. Vamos conversar."
1 conto de réis (Caixa de Conversão, 1907)
O espanto e a imediata mudança de atitude de Leônidas justificam-se: segundo Laurentino Gomes, no livro "1808", um conto de réis (ou 1 milhão de réis) equivaleria, hoje, a cerca de R$ 123 mil (leia sobre isso clicando aqui). Ora, 200 contos seriam, portanto, R$ 24,6 milhões - praticamente o mesmo valor pago pelo São Paulo, 71 anos depois, para tirar o meia Paulo Henrique Ganso do Santos. Caso essa estimativa esteja próxima do que realmente valia em março de 1942, significa que a proposta do São Paulo foi dar algo como R$ 9,8 milhões para o Flamengo e nada menos do que R$ 14,7 milhões para Leônidas da Silva. Não admira que tanto o clube carioca como o atleta tenham aceito o negócio na hora.
Segundo o livro, "hábil nos bastidores, bom de papo, conciliador, o diretor de esportes [do SPFC, Paulo Machado de Carvalho] foi aos poucos convencendo os conselheiros do clube e empresários ligados ao esporte de que a contratação de Leônidas mudaria para sempre os negócios do futebol em São Paulo". Ou seja: a fortuna gasta teria retorno para todos, pois o negócio do futebol passaria a outro patamar na capital paulista, multiplicando os lucros com rendas e transmissões radiofônicas das partidas, propagandas nos estádios e nas emissoras, incremento do comércio (e da indústria) etc etc. O espetáculo de massa da chegada de Leônidas a São Paulo confirmou que a aposta era certeira:
"O bacteriologista Alexander Fleming levou um susto ao desembarcar no bairro do Brás, em São Paulo, no dia 10 de abril de 1942, onde dez mil pessoas se espremiam em frente à Estação do Norte. Famoso no mundo inteiro por ter descoberto a penicilina, o primeiro antibiótico moderno, o médico escocês não esperava ser recebido com tanta atenção e carinho pelo povo paulista. Mas Alexander Fleming caminhou despercebido entre a multidão. [Ao contrário do que pensava,] Todos estavam ali para ver de perto o homem negro que sentara ao seu lado na primeira classe: Leônidas da Silva".
Multidão carrega Leônidas nos braços em sua chegada a São Paulo (10 de abril de 1942)
Apesar de não ter ganho o Campeonato Paulista daquele ano de 1942, o São Paulo, com Leônidas da Silva, conquistaria cinco títulos estaduais em oito anos, alcançando o mesmo status de Corinthians e Palmeiras e transformando-se num dos grandes esquadrões brasileiros dos anos 1940. Com o apelido de "Rolo Compressor", na segunda metade daquela década, o Tricolor só encontrava concorrência nos timaços do Internacional-RS e do Vasco da Gama. Infelizmente, para Leônidas, a Segunda Guerra Mundial fez com que as Copas de 1942 e 1946 não fossem disputadas e, em 1950, ele já estava abandonando o futebol, aos 36 anos. Mas Paulo Machado de Carvalho colheu todos os méritos por ter apostado no veterano jogador e, em 1958, coordenaria a seleção brasileira que traria nosso primeiro título mundial, na Suécia, consagrando-se eternamente como o "Marechal da Vitória".
Paulo Machado (em pé, à esquerda) e Leônidas (centro, agachado): bi paulista em 1946
Fica a dúvida, que a biografia de Paulo Machado não soluciona: será que, com tanto dinheiro envolvido, Leônidas ou o São Paulo recompensaram Manezinho de Araújo? O mais provável é que o cantor, compositor, jornalista e pintor nordestino tenha sido levado pelo colega jogador para comemorarem em longas noitadas de boemia. Curioso é que Manuel Pereira de Araújo, o Manezinho, nasceu em Cabo de Santo Agostinho em 27 de setembro de 1913, exatamente 21 dias depois de Leônidas vir ao mundo, no Rio. Empregado das rádios Mayrink Veiga e Philips a partir de 1933, na capital fluminense (e, então, do Brasil), Manezinho gravou discos e atuou no cinema sempre interpretando emboladas de sua autoria. Atuou também como jornalista no rádio e na mídia impressa e foi um dos primeiros artistas a trabalhar na recém-criada televisão brasileira. Em 1954, decidiu abandonar a vida artística. Depois disso, dedicou-se a um restaurante de comida típica nordestina e, mais tarde, à pintura. Aqui, uma de suas raras reaparições, no filme "Amor para três", de 1960: