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Na maior emissora do
país, uma torcida descarada no confronto entre duas equipes
estrangeiras. Louvava-se o Barcelona, o locutor lamentava a derrota
parcial, 1 a 0 àquela altura, por conta das “crianças que torcem”
pelo time catalão, junto a um ex-jogador assumidamente
"comentarista-torcedor", o ex-jogador Beletti. No segundo
gol dos visitantes alemães, Galvão Bueno se entristece com o gol
contra de Piqué, "que não merecia" fazer aquela jogada
(sim, criamos o conceito de gol contra por mérito...).
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Barcelona quase não saiu na foto |
A Globo e parte da
mídia esportiva brasileira chorou pelo Barcelona. No placar
agregado, um 7 a 0 inapelável para o Bayern de Munique. Não foi
aquele acaso que pode acontecer em uma partida única, onde o pior
pode vencer ou o melhor goleia de forma inapelável, mas foram duas
partidas nas quais os alemães foram superiores em quase todos os
aspectos, dentro e fora de casa, com torcida a favor e contra. Na
primeira peleja, o 4 a 0 foi quase uma bênção para os catalães
que poderiam ter tomado seis ou sete.
Logo após aquela
goleada, justificativas de todos os lados. Messi estava “baleado”.
Sim, estava, mas vi comentarista dizendo que ele resolvia jogo “com
uma perna só” por ter dado um passe para um jogador dar uma
assistência para um gol na segunda partida contra o Paris Saint
German (veja bem, um passe para um jogador dar uma assistência...).
Em uma partida, aliás, que o Barcelona, em casa, jogou pior que o
adversário, conseguindo se classificar com dois empates. Os
catalães, antes, já tinham perdido a primeira partida do confronto
contra o duvidoso Milan, que hoje pena no campeonato italiano para
conseguir um terceiro lugar que o garantiria na Liga dos Campeões de
2013. Mesmo assim, teciam-se loas. Do outro lado, um adversário que
chegou na final da Liga dos Campeões na temporada 2009/2010 e também
no último campeonato.
E o pessoal corre para
justificar a derrota catalã, em especial o vareio gigantesco da
partida de Munique. Neste
vídeo
aqui, além de mencionar erros de arbitragem e desfalques como o
do capitão Puyol e Mascherano (curiosamente, desfalques de rivais do
Barcelona não são levados em conta quando perdem), o comentarista
José Trajano faz uma analogia incrível ao dizer que, “mal
comparando”, o Barcelona com Messi em condições precárias ou sem
o argentino é igual ao Santos sem Neymar. Em parte, verdade, Messi provavelmente não teria sido suficiente para que o Barcelona se classificasse, mas tornaria o decantado time menos previsível e chato. Mas a comparação leva a outra reflexão. O Santos é um
time coalhado de jogadores medianos, e por isso depende do Onze, além
do fato de ter um padrão tático que muitas vezes varia entre o
quase nada e o “joga no Neymar que ele resolve”. A diferença é
que o atual Alvinegro não é considerado um dos maiores times de
todos os tempos, sequer é um dos maiores da
vasta
história do Peixe.
Daí fica a questão:
como os boleiros que idolatravam o Barcelona como um dos maiores da
história agora insinuam uma “Messi-dependência”? Pode um
esquadrão histórico depender de um jogador só? Lembrando de um
grande da história, o Santos dos anos 60. Na melhor de três contra
o Milan, em 1963, o Santos perdeu a partida de ida por 4 a 2. Na de
volta, não pôde contar com Pelé (só) e sem o capitão Zito, além
de Rildo. Mas
Pepe resolveu a parada na volta contra um dos grandes
esquadrões milaneses da História. Na partida-desempate, ainda sem
Pelé e Zito, deu Santos de novo. Pelé também desfalcou a seleção
em 1962, mas Garrincha e Amarildo deram conta do recado. E olha que
aquele seleção está abaixo da de 1970 e, para muitos, aquém da
1958 também...
Em síntese, a nova
desclassificação do Barça na Liga dos Campeões, desta feita com
requintes inolvidáveis de crueldade, não apaga o que essa equipe já
fez. Mas justamente aquilo que ele fez recentemente não deveria
apagar o que outros grandes fizeram anteriormente, por mais
deslumbrados que os comentaristas tenham ficado, perdendo um pouco do
senso crítico e histórico. Um dos grandes de todos os tempos? Sim. Maior de todos os tempos? Não.
A História é uma senhora que caminha a passos lentos, como diria
Galeano, mas resolveu andar um pouco mais rápido.
E como é feriado e não
é o caso de escrever mais, coloco aqui um trecho de um post
do ano passado, quando o limitado Chelsea tirou os catalões da Liga
com a clássica retranca dos mais fracos: “E se eu, mesmo
reconhecendo que o Barcelona é um dos times mais competitivos da
história, não for tão fã do futebol deles? Pode ser? E se eu
achar que a troca quase infindável de passes às vezes é
necessária, em outras pode ser interessante, mas muitas vezes faz o
jogo ficar chato pra burro?” O pensamento único do futebol tomou
mais um golpe.
Ah, sim. Gol do Bayern (não tem vídeo dos gols porque a Uefa caça todos no YouTube, veja
aqui...).