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sábado, abril 19, 2014

Luciano do Valle e o Show do Esporte de cada um

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Quando era pequeno, na minha casa em São Vicente pegavam apenas dois canais em VHF (não sabe o que é isso, vai no Wikipedia): Globo e Bandeirantes. Como meu pai não gostava de novelas tampouco da programação da emissora carioca, invariavelmente a TV estava ligada na concorrente.

E, no domingo, quando estava em casa, também lá estava o Show do Esporte. 

Pra quem não viu, era um dia inteiro de transmissões esportivas, com esportes inusitados como sinuca, em partidas que por vezes contavam com os comentários de Juarez Soares, passando por jogos de futebol de veteranos, os chamados “masters”, e também inesquecíveis lutas de boxe de Adilson Maguila Rodrigues no encerramento. Dele e de outros pugilistas que foram longe na carreira como Francisco Tomás da Cruz.

Antes da TV a cabo, a Band era quem trazia modalidades e ídolos em modalidades ou eventos até então pouco vistos. Ali começaram as transmissões da NBA de Larry Bird e Magic Johnson; da NFL; da Fórmula Indy, com Emerson Fittipaldi, Al Unser Jr. e Mario Andretti; do futebol feminino dos tempos da Michael Jackson e Sissy; do vôlei, do basquete, do boxe, antecipando tendências e enfrentando o boicote da muito mais poderosa Rede Globo, que ignorava jornalisticamente quase toda referência a eventos transmitidos pela emissora paulista.

Todo esse introito acima é para lembrar um pouco da importância de Luciano do Valle, falecido hoje aos 66 anos, e que foi o grande idealizador da Bandeirantes como “canal do esporte”. Depois de sair da Globo, onde teve momentos marcantes como a narração da Copa de 1982, tornou-se um manager na emissora paulista, além de ser narrador e até técnico da seleção de Masters na qual teve oportunidade de treinar Pelé, Rivellino, Cafuringa, Edu e tantos outros craques que tiveram uma prorrogação em seus tempos de glória em função da ideia transmitir veteranos em campo.

Foi ele também que comandou um programa chamado Apito Final, elaborado para Copa do Mundo, mas que ganhou sobrevida por conta do sucesso. Tinha Silvio Luiz, Armando Nogueira, Julio Mazzei. E Toquinho. No final, surgia o músico, fanático por futebol e pelo Corinthians, tocando e/ou cantando, algo absolutamente inovador à época. Nunca vou esquecer quando ele interpretou a Marcha da Quarta-feira de Cinzas depois da eliminação do Brasil na nada saudosa Copa de 1990. 

Aqui não se trata de falar ou julgar pessoas, mas de reconhecer alguém que, profissionalmente, foi um dos melhores da sua área. É dar a dimensão de História e de quanto Luciano do Valle fez parte da vida de tantas pessoas, prestar uma última homenagem a alguém que passou emoção em momentos importantes do esporte quando ele era voz solitária, porque ninguém mais transmitia. Abaixo, alguns destes momentos. Sentimentos à família.


sexta-feira, abril 18, 2014

"Desejo, de todo coração, que o mundo seja socialista. E tenho certeza que cedo ou tarde ele será"

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Gabriel García Marquez (1927-2014). Por que o homem, o escritor e o político sempre foram um só.


quarta-feira, abril 16, 2014

Projeto principal da oposição: contra os trabalhadores

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Armínio e Aécio: pelo mínimo mais mínimo
"O salário mínimo está muito alto." A afirmação do economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (nos tempos bicudos de FHC) e escolhido pelo candidato tucano à presidente Aécio Neves como seu futuro ministro da Fazenda, não chega a surpreender. Fora o fato de que fornece uma oportuna lenha para a imprensa queimar e jogar fumaça sobre a notícia de que o governo federal projeta valor de R$ 780 para o mínimo a partir de 2015, um aumento nada desprezível de 7,7% sobre os R$ 724 atuais, a declaração apenas corrobora o único projeto nítido, coeso e concreto da oposição brasileira: desmerecer, desacreditar e destruir toda e qualquer política voltada para os trabalhadores.

Campos e Jorge Bornhausen: a 'nova política'
Mês passado, o outro candidato de oposição, Eduardo Campos (PSB), já havia soltado - despudoradamente - outra pérola que faz côro com o economista preferido de Aécio Neves: "Não tem mais como crescer pela quantidade [de trabalhadores] no mercado de trabalho." Traduzindo: para Campos, parceiro de Marina Silva, o Brasil não pode basear seu crescimento econômico na geração de emprego (e renda). Detalhe: o absurdo mereceu o aplauso de alguns dos mais significativos "escudeiros" de sua campanha, gente do naipe do ultra-reacionário PFL-DEM Jorge Bornhausen, do "cristão novo" Heráclito Fortes e do tucanaço Pimenta da Veiga. Resumo da "nova política" anunciada pelos novos "salvadores da Pátria" Eduardo e Marina...

Aécio e Merval: convergentes
Ano passado, o camarada Glauco chamou a atenção, aqui neste blog, para o discurso do Merval Pereira, um dos baluartes do conservadorismo na mídia nacional, a respeito das manifestações das centrais sindicais durante os protestos de rua de junho (o grifo é nosso): "As reivindicações eram coisas muito específicas da classe trabalhadora." "Ou seja", concluiu o Glauco, "como o trabalhador, pelo silogismo mervaliano, não é 'povo', suas bandeiras não interessam ao resto da sociedade". Exato. Merval é símbolo da imprensa elitista que critica diuturnamente políticas como a progressiva valorização do salário mínimo (acertada por Lula com as centrais, em 2007) e a permanente geração de postos formais de emprego.

José Serra e Maria Helena de Castro
É um discurso que agora tem convergência entre os candidatos de oposição Aécio Neves (via Armínio Fraga) e Eduardo Campos, mas que é recorrente entre políticos e gestões conservadoras. Em 2007, o mesmo camarada Glauco reproduziu, no sarcástico post "Ganhar pouco é bom para o trabalhador", a estapafúrdia declaração da então secretária estadual de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, de que "não há uma relação direta entre salário e qualidade do ensino" - para "justificar" a mixaria paga pelo então governador José Serra aos professores (situação que se agravou decisivamente nas gestões do PSDB, com Mário Covas, Geraldo Alckmin e o próprio Serra). O trabalhador sempre ficou ostensivamente em último plano.

Pois é. Não é a toa que um certo partido apanhe tanto, desde quando surgiu, por se denominar "dos trabalhadores". Essa é, talvez, a bandeira mais ofensiva e perigosa para a classe dominante brasileira. E não foi a toa que a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, tenha afirmado recentemente, durante um evento em Porto Alegre: "Jamais enfrentamos a crise à custa do trabalhador." O "recado" confirma que o discurso, ou melhor, o projeto maior da oposição, é mesmo o de conter, castrar e "enquadrar" a classe trabalhadora. Seja afirmando que "o salário mínimo está muito alto" ou que o crescimento econômico não pode se basear na geração de empregos. Se você é trabalhador, já entendeu o que está em jogo.

segunda-feira, abril 14, 2014

'Porto de Lenha, tu nunca serás Liverpool!'

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Hodgson: declaração infeliz
Diz uma das mais sábias das Leis de Murphy: "Toda vez que se menciona alguma coisa, se é bom, acaba; se é ruim, acontece". O técnico da seleção inglesa, Roy Hodgson, devia ter lembrado da última parte dessa máxima ao afirmar, na véspera do sorteio dos grupos para a Copa do Mundo de 2014: "O clima tropical de Manaus é o problema. Manaus é o lugar ideal para se evitar e Porto Alegre o lugar ideal para jogar" (leia aqui). A declaração pegou mal e mereceu resposta indignada do prefeito da capital amazonense, Arthur Virgílio Neto (PSDB): "Nós, amazonenses, também preferimos que a Inglaterra não venha. Torcemos pra que venha uma seleção melhor, com mais futebol... e com técnico mais sensível, culto e educado" (leia aqui).

'Trapiche 15 de Novembro', estrutura flutuante apelidada de 'Porto de lenha'
Pois é. Pela já citada Lei de Murphy, não deu outra. O sorteio definiu que a Inglaterra estreará na Copa contra a Itália, em 14 de junho, justamente na "indesejável" Manaus. Tudo isso acabou por reavivar o brio dos amazonenses. Um sentimento que é embalado, há mais de 30 anos, por uma música local que, curiosamente, cita os ingleses. A canção, chamada "Porto de lenha", é considerada um hino extra-oficial da cidade de Manaus. Seu nome tem origem no antigo tablado de madeira, batizado de "Trapiche 15 de Novembro", que deu origem ao porto da cidade, na margem do Rio Negro. Tratava-se de uma estrutura flutuante construída propositadamente desta forma para acompanhar as cheias e vazantes do rio, sem ser submersa. Esse cais foi projetado por ingleses e inaugurado quando a cidade vivia o apogeu da época áurea da borracha. Mais tarde, quando a economia amazonense entrou em decadência, a obra tornou-se um símbolo da pretensão ridícula, por parte daquela elite da época, de ostentar uma "superioridade europeia" que, na verdade, era só verniz "pra inglês ver".

Música batizou um disco de Zeca Torres
Muitos anos depois, no fim da década de 1960, o poeta nativo Aldísio Filgueiras se inspirou em uma tema instrumental dos músicos e compositores amazonenses Zeca Torres (o Torrinho) e Wandler Cunha para escrever um extenso poema. Ao saber disso, a dupla resolveu musicar alguns trechos do texto. “A intenção era transformar em uma suíte com vários movimentos. Devem ter saído quatro ou cinco canções e ‘Porto de lenha’ foi uma delas", diz Torrinho. Nem Zeca nem Aldísio imaginavam, mas a música se tornou um sucesso em Manaus já no fim dos anos 1970, quando fez parte da peça "Tem piranha no pirarucu", dirigida por Márcio Souza. Seus versos iniciais conclamam o orgulho dos nativos contra a "europeização" dos gostos e costumes: "Porto de lenha/ Tu nunca serás Liverpool/ Com uma cara sardenta/ E olhos azuis". Outros trechos desdenham os artistas locais que sonham com o "sucesso sulista" e também a invasão das "quadrilhas de turistas" (veja a letra e o vídeo com a gravação abaixo).

A identificação dos habitantes de Manaus foi tão forte que, desde então, a música passou a ser entoada como um hino. Em 2012, o jornal "A Crítica" fez uma enquete para que elegessem a música que melhor identificasse a cidade, nas comemorações de seus 393º aniversário. "Porto de lenha" venceu com 41,2% dos votos (leia aqui). E é curioso pensar, como bem observa o colega jornalista Diego Sartorato, que a canção cai como uma luva para ser entoada na Arena Amazônia, após as declarações do técnico Roy Hodgson. Ainda mais se pensarmos que o Liverpool, time da cidade portuária citada na letra, está prestes a ser campeão na Inglaterra...


PORTO DE LENHA
(Letra: Aldísio Filgueiras/ Música: Torrinho)

Porto de lenha
Tu nunca serás Liverpool
Com uma cara sardenta
E olhos azuis

Um quarto de flauta
Do alto Rio Negro
Pra cada sambista
Para-quedista

Que sonha o sucesso
Sucesso sulista
Em cada navio, em cada cruzeiro

Das quadrilhas de turistas



'És o maioral!' *

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*Título do post é um trecho do Hino do Ituano, campeão paulista de 2014: "Ituano, Ituano, Ituano…/ Que coisa linda, és o maioral!/ Dentro de campo, um só pensamento/ Outra vitória, seu lema é ganhar" (veja - e ouça - a íntegra aqui).