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Parte de uma torcida não reconhece talento |
Depois de cinco
partidas na temporada na Vila Belmiro, todas vencidas pelo Santos, o
Alvinegro empatou com o Mogi Mirim em 2 a 2. Claro que não é o
resultado dos sonhos de ninguém, mas o adversário tem o melhor
ataque do Paulista, com 29 gols, e está à frente de Corinthians e
Palmeiras na tabela. Os donos da casa vacilaram em momentos cruciais
da partida e tomaram dois gols mesmo tendo o domínio da partida
durante a maior parte do tempo.
A torcida, além de
“marcar” alguns jogadores, vaiou o time ao fim dos 90 minutos. E
alguns deles vaiaram Neymar, algo que toma proporções anormais para
parte da mídia esportiva que sempre procura pauta em ovo. O garoto
deu assistência, se movimentou, mas não brilhou como costuma. Está
há seis jogos sem marcar, e ainda assim foi fundamental para a
equipe.
Em outro contexto, mas
no mesmo campeonato, vi o Santos perder por 3 a 1 para o Paulista, no
Pacaembu. Com Neymar. O gol de honra, dele, veio perto do final e,
quando estava 3 a 0, boa parte do estádio cantou, apoiando os
jogadores. Falo da diferença entre o comportamento santista ontem e
o daquele jogo para falar da necessidade de o Alvinegro mandar mais
jogos em São Paulo.
Na Vila, mesmo na época
de vacas magras, o Santos era soberano. O folclórico Viola dizia que
no estádio o adversário era como Miojo, entrava duro e saía mole
em função da pressão dos torcedores. Mas os tempos foram mudando e
há algum tempo o estádio e seus torcedores não têm cumprido seu
papel a contento, o de ser um caldeirão para os rivais. Aquela parte
da torcida que em outros clubes se chama de “turma do amendoim”
cada vez ganha mais relevo.
Lembro que em 2003,
quando Robinho passava por má fase após ser o principal
protagonista do título Brasileiro de 2002, tirando o time de uma
fila de quase 18 anos, era xingado por torcedores que esqueciam o que
havia acontecido três meses antes. Um cara que estava perto de mim
em um jogo disse que “Robinho é um enganador, que nem o Gil do
Corinthians”. O santista Renato conta outra passagem, de um
torcedor que xingou durante boa parte do primeiro tempo o meia Diego.
Cada vez que ele pegava na bola, era uma ofensa. O problema é que o
xingado era Preto Casagrande e o jovem sequer estava em campo naquele
dia. Muitos provavelmente pegaram no pé de Pelé e cia. também.
Saem alambrados, entram camarotes térreos |
Esse tipo de torcedor
que mais xinga do que apoia e acha ruim até quando o time vai bem
sempre existiu na Vila, mas parece, como disse acima, que vem se
tornando mais importante, não só pelas mudanças pelas quais o
estádio passou, mas pelo fato
de, com públicos pequenos, sua voz se sobressair mais. E também se
sobressaem aqueles que querem conturbar o ambiente, movimentos
interessados em forçar ou criar clima para justificar saída de
jogadores cuja parte dos direitos federativos pertencem a empresas ou
empresários.
Na peleja contra o
Mirassol (alô, Palmeiras), o Santos
teve prejuízo e ontem o time, mesmo com a volta de Neymar e
Montillo, jogou diante de 6.054 pagantes. Ainda assim, o clube tem a
segunda melhor média de público do Paulista, mas certamente não é
por causa da Vila e sim pelos dois jogos que mandou na capital, conta
o Paulista, no Pacaembu, e contra o Corinthians, no Morumbi, ambos
com mais de 18 mil pagantes cada.
O bairrismo já foi
arma eleitoral na disputa entre Luís Álvaro e Marcelo Teixeira em2010 e volta à tona impulsionado também pela TV de propriedade da
Família Teixeira. Como querela política, impede a discussão sobre
o clube ampliar seus horizontes, já que estima-se que a torcida
santista seja pelo menos dez vezes maior do que a população da
cidade que abriga a equipe.
Para mim, que sou
santista de nascimento e vi jogos mais na Vila do que em qualquer
outro lugar, ela é insubstituível afetivamente. Mas é impossível
fechar os olhos às necessidades que regem um clube grande no futebol
de hoje. Para buscar visibilidade e torcedores o Santos precisa sair
mais da Vila. E, hoje, faria bem a torcida de Santos refletir mais
sobre seu comportamento nas arquibancadas, torcendo mais e chiando
menos.