Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook
Há algum tempo se
falava muito entre comentaristas políticos sobre um tal “liturgia
do cargo”. Significava, grosso modo, que um presidente da República
deveria respeitar certos protocolos e rituais, assim como ministros,
deputados, senadores, juízes do Supremo etc e tal, para fazer jus e
honrar a função.
No Santos, a camisa que
abrigou o maior jogador da História deveria merecer algum respeito.
Claro que provavelmente nunca vai haver alguém que chegue perto do
Rei, mas pelo menos o dez poderia ser um meia ofensivo. Outro dia, um
volante-volante, Alan Santos, entrou no gramado com a camisa sagrada.
Hoje, Renato Abreu entrou com ela. Não podia dar certo.
Não sei se foi a
heresia que castigou a equipe ou se a esquizofrenia do pragmático
Claudinei Oliveira. Sim, pois este deixou o retranquismo de lado
quando estava atrás do placar na etapa final. De um meio de campo
com dois volantes, Alison e Renato Abreu, e outro par de meias quase
volantes, Cícero e Leandrinho, passou a certa altura para uma equipe
com quatro atacantes. Não, não podia dar certo...
O Santos criou mais e
jogou melhor no primeiro tempo. Thiago Ribeiro, mesmo mostrando um
indisfarçável cansaço, perdeu duas chances, uma delas preciosa
como a desperdiçada diante do Flamengo já no fim da última
partida. Gabriel, titular, afobado, até levou perigo, mas fez opções
erradas demais, cenário que se tornaria uma constante na sua atuação
no tempo final. E foi por não ter acompanhado a descida do lateral
rival Júlio César, função incumbida a ela por Claudinei, que saiu
o gol carioca na etapa inicial.
Depois do tento de
Elias, aos 38, o Peixe nada fez. No intervalo, esperava-se ao menos
uma substituição do treinador santista na meia, onde dois jogadores
estavam perdidos: Renato Abreu e Leandrinho, este, com deficiência
crônica de passe, o que é crucial no sistema de jogo peixeiro. Mas
o treinador não mexeu... E foi castigado.
Aos 10 da etapa final,
mais uma vez Elias marcou. Quem puder ver a “movimentação” de
Renato Abreu no lance nem precisa acompanhar o resto da peleja pra saber o
quanto o técnico se equivocou ao não tirá-lo antes. Saiu três
minutos depois, para a entrada de Neílton. Cícero, sempre ele,
artilheiro da equipe, fez um belo gol aos 21 e até deu a impressão
de que o Santos poderia empatar ou até virar. Mas o time foi
alterado novamente. Saiu Alison, aos 24, um dos melhores do time,
para a entrada de Arouca, que voltava de contusão. Dois minutos
depois, finalmente Leandrinho deixou o gramado para dar lugar a
Everton Costa.
Time ofensivo, com
quatro atacantes. Onde? O problema da equipe era o meio de campo,
setor castigado pela falta de inventividade desde a saída de
Montillo, contundido,contra o Grêmio pela Copa do Brasil. Testou-se, sem muito afinco,
Léo Cittadini e Pedro Castro na função em jogos anteriores. Léo,
que deixou a lateral pra se tornar meia, até entrou bem no segundo
tempo contra o Internacional, mas não parece opção válida para
Claudinei. Assim, resta a ciclotimia: ou entra um meia quase volante
ou um atacante. Deu no que deu.
As substituições
mataram o Santos, que não conseguiu articular uma jogada ofensiva
que prestasse. Um exemplo acabado do que não fazer para tentar
ganhar uma partida. Tranquilo, o Botafogo até foi dispersivo nos
contra-ataques, mas estava confortável com o ataque esquálido do
time da Vila. Se não forçou, foi porque não precisou.
Claro que se deve levar
em conta a quantidade de jogos em pouco tempo, mas a interferência
do treinador hoje foi decisiva para que a equipe não fizesse quase
nada na segunda metade do segundo tempo e fosse tão frágil no meio
de campo na etapa inicial. Além disso, uma quebra de mais de um ano
de invencibilidade na Vila Belmiro também dói mais no torcedor. É
pragmatismo demais pra quem se acostumou a sonhar.