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"De tudo, o que valeu foi a vontade" . Foi assim o zagueiro Fabão, ao fim da partida, resumiu a verdadeira batalha que ocorreu Vila Belmiro na noite de ontem.
As dificuldades não eram poucas para o Santos. Com um grupo já limitado tecnicamente, dos 25 atletas inscritos no torneio, Leão não podia contar com Felipe, Adaílton e Adriano, todos contundidos; além de Dênis e Alemão, com problemas contratuais; e Sebástian Pinto, dispensado. Nenhum grande jogador, mas a falta deles limita reduz mais as alternativas táticas do time.
Em Oruro, o Chivas só precisava vencer o desmotivado San Jose, e torcer para o Santos não ganhar. E era isso que acontecia aos 37 minutos do primeiro tempo. Mesmo com um volume muito maior de jogo que o Cúcuta, na única finalização do time colombiano, Henry faz um golaço de falta aos 22 minutos.
Molina sente o que seria uma contusão logo no início. Pede pra ficar, mas parece não ter condições. O time pressiona, tem posse de bola, mas não cria chances. O Cúcuta defendia com duas linhas de quatro. Chute de fora, pega em algum defensor. Cruzamentos na área, e estava lá uma cabeça adversária tirando.
Segundo tempo. Sai Tabata, entra o argentino Trípodi. O Chivas já vence por dois a zero. Com dois minutos, a fumaça dos sinalizadores interrompe a partida. Depois, a partida é quase uma repetição do primeiro tempo. Mas Wesley parece mais solto, Kléber Pereira começa a aparecer mais. A torcida acompanha o time.
E, à medida que o tempo passa, cada jogador santista parece dois. O esforço de um Betão improvisado como lateral direito, de um Marcinho Guerreiro se desdobrando no mano a mano contra atletas bem mais habilidosos que ele. Todos correm atrás da bola como se aquilo valesse, de fato, a vida de cada um. Mas cada um lutava por si, pelos outros companheiros e pelos torcedores, os que estavam na Vila e os que sofriam à distância.
Era impossível não se emocionar. Achei a certa altura que teria um ataque cardíaco. Lavei o rosto, andei. Mas não era possível deixar de se envolver com aqueles que viviam um drama típico do futebol que parece reproduzir ali a vida de qualquer um. Naquele momento, cada atleta que se doava no gramado era como se fosse um amigo meu ou um familiar. Sofria por todos e não deixava de pensar: vocês merecem.
E o gol veio. Wesley fez linda jogada, serviu Kléber Pereira que virou e empatou. Eram 23 minutos. O clima ainda é tenso. Quatro minutos depois, Domingos se estranha com Henry, que dá um tapa em Betão. Domingos e Henry são expulsos. Betão volta a ser só zagueiro e o incansável Molina vira lateral. Leão, que quase bate no bandeira que dedurou uma suposta agressão do zagueiro santista expulso, também é excluído. Mais drama.
O Chivas faz o terceiro gol e o San Jose tem um a menos. Em Oruro, fatura liquidada. O Santos precisa vencer. Aos 33, Urbano entra sozinho pelo lado direito da área. Olho pra trás do gol. Ali estão estampados nas bandeiras os rostos de ídolos eternos do Santos. Pelé, Pepe, Coutinho, Gilmar, o técnico Lula... E Fábio Costa faz um milagre. No rebote, Betão é providencial e também salva. A bola ainda é do Cúcuta, mas James Castro chuta pra fora. Nada me tira da cabeça que a bola procurou aqueles com quem ela sempre teve intimidade, que estavam atrás da trave santista.
Aos 43, Kléber Pereira tenta fazer um cruzamento. Ou uma finalização. O certo é que a bola bate no travessão. No rebote, o argentino Trípodi fuzila. É o gol da classificação. A torcida explode. Não aguento, desabo e choro. Não de alegria, nem de tristeza. É alívio. Alívio.
Oito minutos de acréscimo. Molina, que havia sangrado em um choque com o goleiro colombiano, joga com uma proteção no rosto. É o retrato do time.
Das arquibancadas, a torcida canta o hino. "Nascer, viver, e no Santos morrer. É um orgulho que nem todos podem ter". Nunca os versos foram tão verdadeiros. Verdadeiramente, um jogo de Libertadores. Daquele que só os grandes sabem fazer.