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Baloubet du Rouet concedendo uma entrevista à imprensa internacional
No auge de sua sabedoria, há milhares de anos, proclamava o Eclesiastes. "Debaixo do sol, observei ainda o seguinte: a injustiça ocupa o lugar do direito, e a iniqüidade ocupa o lugar da justiça."
Lembrei do dito quando vi um título em matéria do
G1 sobre um dos maiores e mais mal cuidados ídolos do esporte tupiniquim. Baloubet du Rouet, o alazão de ouro. Diz o título: "Aposentado das pistas, cavalo Baloubet continua a render dividendos procriando". Mas a crueldade vinha logo abaixo, onde se lê: "
Famoso pela refugada nas Olimpíadas de Sydney e campeão olímpico em Atenas, cavalo rende ao seu proprietário € 5 mil por ampola de sêmen."
Famoso pela refugada??? Trata-se do cavalo mais vitorioso da história da República. Foi simplesmente tricampeão da Copa do Mundo em 1998, 1999 e 2000, e, depois, campeão olímpico em 2004. Mas, ainda assim, querem lembrar do triste momento em que ele, como todos nós em diversas ocasiões, refugou três vezes e foi eliminado. Tal qual Pedro, que diante dos acusadores e ímpios romanos negou Cristo por três vezes, o nobre eqüino também se furtou a seguir adiante.
Mas como o apóstolo virou santo, mostrando sua recuperação moral, Baloubet também soube dar a volta pro cima. Sim, amigos, um exemplo de superação. Ele, que era a última esperança de ouro daqueles Jogos de Sidney, recebeu toda uma carga que não era sua. Ou alguém cobrava Luxemburgo e seu patético time que perdeu para Camarões com dois jogadores a mais? Alguém por acaso fala que Luxemburgo é o treinador que refugou na Austrália? Vejam a injustiça...
Ninguém acreditava naquele animal em 2004. Discutia com colegas de redação e afirmava que ele nos traria uma medalha. Não que eu apostasse em cavalos, nem no jockey nem na internet, mas acreditava que aquele ser de quatro patas poderia dar um exemplo a toda a humanidade.
E ele deu. Conquistou uma prata gloriosa. Mas logo viria a verdade. Para ganhar daquele obstinado, talentoso e astuto Baloubet, os adversários precisariam trapacear. Seu rival Waterford Cristal, montado por um irlandês, foi flagrado no exame antidoping e desclassificado. Nosso animal era ouro, calando os críticos e todos que ousaram difamá-lo durante quatro anos.
E hoje, aposentado, ele é vítima do espúrio capitalismo. Seu sêmem é vendido a peso de ouro, mas o pobre sequer pode cruzar com uma de sua espécie. "Se ele toma um coice da égua, corre o risco de ficar aleijado", explica seu dono, Eraldo Grilo de Souza, privando o herói dos prazeres da carne. Gerou 500 filhos pelo planeta, mas não pôde desfrutar do amor.
Como Sansão, o cavalo da
Revolução dos Bichos, Baloubet serviu a uma causa que, ao fim, não era sua. E recebeu a ingratidão como companheira inseparável. Mas neste humilde espaço, recebe uma justa homenagem. Obrigado, Baloubet!