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Dezembro está marcado por dois estudos de institutos britânicos que sugerem que o Brasil já seja a sexta maior potência econômica do mundo. A ultrapassagem do Reino Unido aconteceu em 2011, devido à crise econômica do país do Velho Mundo e pela pujança da nação emergente sul-americana.
Na segunda-feira, 26, o Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios britânico (CEBR, na sigla em inglês) conseguiu projeção por ter sido destaque em dois diários da terra da rainha – The Guardian e Daily Mail. A julgar pela edição de imagens, a economia canarinho é movida pela vista da Baía da Guanabara, pelo Cristo Redentor e pela ginga das mulatas sambando. Mas 13 dias antes, o lusitano Exame Expresso orgulhou-se de ver que a antiga colônia estava mesmo a cumprir seu ideal de tornar-se um imenso Portugal.
Mas não foi para fazer alusão ao Fato Tropical, de Chico Buarque e Ruy Guerra, que comecei este post.
Foi por me ver diante de um dilema e tanto envolvendo um gigante do samba, admirado por estas bandas tanto pela produção musical quanto, a despeito do fim trágico e prematuro, pelo desempenho em mesa de bar. Noel Rosa escreveu, com Orestes Barbosa, a divertidíssima Positivismo, em que começa logo ensinando que "verdade, meu amor, mora num poço". Nessa toada é que diz, mais adiante:
Vai, orgulhosa, querida
Mas aceita esta lição:
No câmbio incerto da vida
A libra sempre é o coração
Para alguém que viveu até 1937 e escreveu sete anos antes dos acordos e do sistema Bretton-Woods e muitos antes de sua supressão unilateral em 1971 pelos Estados Unidos, a libra até poderia ser a referência, o porto-seguro, a liquidez para onde correm os capitais no momento de incertezas. Se não o fosse, poderia cumprir a função no imaginário da população.
Mas as notícias de dezembro colocam a libra, enquanto representante da economia onde circula, como superada até pelo real. Mas será ufanista aquele que tentar colocar a moeda brasileira na poesia de Noel Rosa. Até porque, estabilidade mesmo não há com câmbio flutuante, como já leciona o sábio.
Então, se a petulante missão fosse atualizar a bela metáfora do poeta da Vila, o dólar poderia ser candidato. É para lá – mais precisamente para os títulos da dívida dos Estados Unidos – que corre boa parte do capital na hora da incerteza, apostando na liquidez. Mas mesmo esse bastião anda soluçando, com teto de endividamento estourando e um turbilhão de dúvidas desde a crise financeira de 2008. O euro, prometido como alternativa à moeda estadunidense a partir de 2000, também atravessa solavancos.
Diante da crise, estaria a metáfora comprometida? Ou seria o caso de apostar em um país que controla fluxos de capital e cotações da moeda, ainda que a patamares artificiais, como a China? Prefiro não imaginar intérprete algum cantarolando: "No câmbio incerto da vida, o yuan sempre é o coração".