12 do 12 de 2012. Data inspiradora dos místicos. No entanto, nesta
quarta, no Morumbi, na realidade concreta dos são-paulinos, não foi
o 12 o número mágico a trazer boas energias. A senha para alegria e
emoção vestia a camisa sete. E só precisou de um tempo para
cumprir roteiro digno de decisão. Lucas fez de tudo em 45 minutos:
gol, assistência. Agredido com chutes, pisão e cotovelada, o garoto
de 20 anos teve frieza de veterano e desmontou os adversários do
Tigre da Argentina, que apostavam num duelo mental baseado na
violência e intimidação.
De cara, era
possível perceber que o menino faria da partida o momento mais
importante de sua vida profissional até então. Desde o primeiro
minuto, chamava o jogo, pedia a bola e se movimentava pelo campo
todo. No meio, pelas pontas. Armava, mas também marcava, dividia.
Aliás, comportamento padrão. Ele não se limita a atacar. Auxilia
constantemente no combate.
Quando o Tricolor,
apesar das entradas duríssimas do maldoso time argentino, já
ganhava a maioria das disputas de bola e executava boas trocas de
passes, o personagem da noite, após pivô de William José e
tentativa de finalização de Jadson, tirou, de esquerda, do goleiro
Albil e inaugurou o placar. Eram 22 minutos da primeira etapa.
O gol desarticulou
as linhas de pancadaria, digo, de marcação, do Tigre. De novo, aos
27, o camisa sete brilhou. Serviu Osvaldo, impedido por centímetros
(lance dificílimo para a arbitragem), dar um toque preciso por
cobertura. Título definido.
Só que o papel
fundamental de Lucas não pararia por aí. Ele provocaria os
adversários a ponto de tirá-los de vez do prumo. Sem violência. Na
bola e na sutileza. Aos 37, o lateral Orban deu-lhe uma cotovelada
que fez jorrar sangue do nariz. Ainda assim, o meia, apesar da
agressividade adversária e da mansidão do árbitro chileno Enrique
Osses, seguiu insinuante.
Na saída ao
intervalo, sutilmente, o são-paulino mostrou o algodão
ensanguentado àquele que o havia agredido. Mais que o suficiente
para o Tigre colocar de vez no jogo a violência que o caracterizou
desde o primeiro confronto, disputado semana passada, na Bombonera.
Acima de qualquer
coisa, Lucas sempre quer jogar. E intensamente. A marca do menino
neste ano é de 76 jogos, 59 pelo São Paulo e 17 na seleção brasileira. Não teve uma expulsão sequer. Não ficou fora por
contusão. Que reúne agilidade, velocidade, resistência, conclui
movimentos com precisão, além de não cair em qualquer trombada,
era sabido. Porém, as capacidades de concentração e compromisso se
mostraram bem acima da média. Negociado desde julho por R$ 108
milhões com o Paris Saint Germain da França, jamais se poupou.
Disputou cada partida como se estivesse recém-saído da base. E é,
sem dúvida, o principal responsável, dentro de campo, tanto pela
conquista continental como pela bela campanha no segundo turno do
Campeonato Brasileiro.
Durante a
comemoração do título, Lucas pegou o microfone. Na rápida
declaração à torcida, foi espontâneo nas palavras como é nos
dribles. “Eu amo esse clube. Esse título é de vocês. Vou voltar
pra defender essa camisa maravilhosa e comemorar muitos títulos.
Obrigado por tudo”. Imagina, moleque do gol. Nós é que agradecemos.
A confusão
Este texto tem a
intenção de enaltecer a atuação de um jovem ídolo que, além de
jogar muito, fez a última atuação pelo time do São Paulo neste
ciclo. Tomara, seja só a primeira passagem de Lucas pelo Tricolor.
Além disso, o companheiro Glauco analisou bem os problemas na ação amadora da direção são-paulina em certos aspectos.
Contudo, impossível
não dizer que os argentinos usaram, em demasia, o recurso das faltas
e foram de uma violência injustificável nos gramados de La
Bombonera e Morumbi. Não estou entre os que consideram faltas duras
como “algo do jogo”. Se fossem, não seriam passíveis de punição
com bolas paradas, advertências e expulsões. Equipes como o Tigre
fazem o que fazem para compensar a fraqueza técnica e por que contam
com arbitragens coniventes. As duas opções não são bonitas de
ver.
POR Mauricio Ayer
Estádio Toyota lotado, bandeirões, bateria, e mais milhões de loucos plugados no mundo inteiro. A invasão alvinegra no Japão mostra como este torneio veste bem a camisa do Timão. A paixão corintiana foi é será assim, desloca multidões, se faz sentir, incomoda, dá vexame, ocupa lugares, abafa. Às vezes deve ser insuportável ser anti-corintiano, dá pra entender. Mas a vida é assim.
Muito bem, vencido o “Cabo Mazembe” diante do Al Ahly, o Corinthians cumpriu sua maior missão do ano: chegar à final da Copa Toyota Mundial Interclubes. Esta semifinal é um pequeno purgatório entre o inferno da zoeira eterna e a possibilidade do paraíso. Qualquer adversário que venha será difícil, mas nenhum é o Barcelona, o que permite acreditar que é possível.
Em campo, o Corinthians regrediu aos tempos dos empates e vitórias de um a zero que celebrizaram o estilo Tite durante pelo menos todo o primeiro ano em que esteve à frente da equipe. Um jogo truncado, sem criar muitas oportunidades, mas sem dar chances ao adversário.
No primeiro tempo, é verdade, o time egípcio armou uma sólida plateia no meio campo para ver se o Timão conseguia jogar. Trancou a rua, e muito pouca coisa aconteceu. Os erros na narração do Teo José foram reveladores: ele chamou o Danilo de Douglas, Paulinho, Guerrero, Ralf e até de Paulo André; parecia que tinha um time em campo, mas quem se deslocava e dava algum movimento ao jogo era principalmente o Danilo.
Mas o gol só poderia sair de dois lugares: poderia ser de um contra-ataque iniciado pelo Paulinho, mas o meio-campista não esteve bem. Mas o gol saiu de um toque genial de Douglas, um totó de pé esquerdo meio improvável, esquisito, mas nem por isso menos preciso, que encontrou o peruano Paolo Guerrero livre na cara do gol, e ele completou com uma cabeçada também um tanto esquisita, igualmente precisa.
A partir daí, o time egípcio teve que ir pra cima e criou bem mais. A confiável defesa do Corinthians segurou o resultado por mais ou menos 60 minutos. Um desempenho medíocre. Mas, missão cumprida.
O grande acontecimento desta edição do Mundial está mesmo por conta da torcida: 31 mil torcedores, sendo uns 30 mil corintianos, segundo a transmissão da Band.
E que venha o outro finalista! Contra o Chelsea, trata-se de jogar de igual pra igual, com um grande time. Com o Monterrey aconteceria de transformar a conquistada boa esperança em possibilidade de novas tormentas, a obrigação voltaria inteira aos pés dos nossos jogadores. Que vença o melhor e vamos nos concentrar no nosso trabalho.
Não se sabe e talvez
nunca se saberá o que de fato aconteceu nos vestiários do São
Paulo. A única certeza é de que houve uma briga entre seguranças
privados do clube e jogadores e comissão técnica do Tigre. Se foi
emboscada, quem começou, se a PM agiu de forma correta e se os
argentinos exageraram sobre o que ocorreu, provavelmente vai ser
daqueles mistérios incorporados ao futebol que vão gerar lendas e
versões em profusão.
Mas há duas certezas
sobre a final de ontem. A primeira é que, após um início tenso, o
São Paulo colocou a bola no chão e dominou o jogo. Fez dois gols
(um deles, irregular, a bem da verdade) e os rivais praticamente não
ameaçaram o gol de Ceni. O Tricolor foi, realmente, soberano,
justificando não só a diferença de tradição dos dois times como
a distinção técnica dos dois elencos. Nada que justificasse,
claro, a declaração tosca de João Paulo de Jesus Lopes que disse
que até “há quinze dias nunca tinha ouvido falar” do Tigre. Só
confirmou dois esteriótipos: o de que cartolas não costumam dar
declarações muito sagazes e que torcedor só afirma a grandeza de
seu time diminuindo os rivais (o que é um contrassenso, aliás).
Mas a segunda certeza é
que, embora tenha sido gigante em campo, o São Paulo agiu como um
clube mediano no tratamento dispensado aos argentinos, como mostra
essa matéria
na página eletrônica da ESPN. Aos fatos: o ônibus que trouxe
os jogadores do Tigre foi atacado por torcedores que estavam
aglomerados no estádio, quatro janelas foram quebradas por pedras e
latas arremessadas.
Além disso, os atletas
não puderam fazer o reconhecimento de gramado no dia anterior à
peleja, como está previsto no regulamento da Conmebol. Cerca de 40
minutos antes do início da final, o os jogadores foram impedidos de
aquecer no gramado, e forçaram a entrada depois de discutirem com
seguranças do clube. A justificativa foi a de que o gramado
precisava de “descanso” depois dos shows da Madonna. Ora, se não
havia condições de se cumprir o que o regulamento exigia, porque
não mandar o jogo em outro estádio, como no Pacaembu? Durante o
jogo, já com a vantagem, ainda no primeiro tempo os gandulas
são-paulinos sumiram das laterais, mais uma mostra daquilo que muito
se condena quando acontece lá fora contra equipes brasileiras. Mas
quando é aqui...
Pode-se reclamara da
Conmebol, da arbitragem ou do comportamento de equipes rivais de
países vizinhos. Mas uma coisa é certa: em certos aspectos, os
clubes brasileiros não são nem um pouquinho melhores, ainda que
parte da imprensa e da torcida acredite em suas ilusões xenófobas.