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Claro que a longa
negociação que envolveu a transferência de Paulo Henrique Ganso
para o São Paulo desgastou não apenas as partes envolvidas, mas
também o torcedor santista. Até porque não é de hoje que o meia é
alvo de especulações. A imprensa já tinha “vendido”
o atleta para outro time no ano passado. Ainda que a diretoria do
Santos tenha sempre negado ter recebido propostas oficiais por Ganso
nesse período de dois anos, com exceção de uma feita pelo Porto,
de cerca de US$ 8 milhões, o torcedor tinha conviver com a
possibilidade de saída do jogador a cada janela, para diversos
times.
Quando questionado, na
coletiva de domingo, 23, sobre o que teria sido determinante para que
desejasse sair da Vila Belmiro, Ganso desconversou. Disse que há
dois anos a relação só se desgastava. De fato, o jogador queria
sair desde então do clube. O que não havia, até agora, era uma proposta formal que contemplasse, principalmente, o
que o Santos queria para liberar o atleta. Ele queria sair, mas
ninguém queria bancar o risco de contratá-lo.
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Faz tempo que Ganso está em outra... (Ricardo Saibun/Santos FC) |
É quando tem início a
novela que durou 32 dias, que revelou bem o modus operandi das
partes. Em um domingo, salvo engano no dia 26 de agosto, ouvi pelo
rádio uma coletiva quebra-queixo do vice-diretor de futebol do São
Paulo, João Paulo de Jesus Lopes, na qual dizia que o clube do
Morumbi não iria fazer outra proposta por Ganso. A primeira dava ao
clube da Vila aproximadamente R$ 12 milhões. O Santos já havia recusado a proposta oficialmente. Ao mesmo tempo em que
negava disposição de fazer outra investida, o cartola não dizia que o Tricolor havia desistido do
negócio. Ou seja, obviamente o São Paulo contava com a vontade do
atleta de sair e com o constrangimento do Santos por parte da DIS e,
diga-se, de boa parte da mídia esportiva que joga junto com o grupo
e com o clube paulistano. A ideia era forçar a saída por menos do
que aquilo que o clube praiano achava justo.
Mas os santistas
fizeram jogo duro. O grupo, dono de 55% dos direitos econômicos de
Ganso, mais o próprio atleta poderiam até tentar a liberação na Justiça, mas
os problemas decorrentes disso seriam inúmeros. Ainda mais porque o
Santos nunca negou ao boleiro o direito de trabalhar. Ao fim, o clube
conseguiu quase o dobro do que o São Paulo propôs inicialmente,
além de 5% do valor de eventual transação futura (sem prejuízo dos 5% que já tem direito por ser o
clube formador). E ainda trocou a penhora de 20% de parte de suas receitas –
que iriam ser depositadas judicialmente, não podendo ser utilizadas
pelo clube – pela penhora de um dos seus centros de treinamento, o
CT Meninos da Vila.
Para se ter uma ideia do
quanto o Santos lucra com o negócio, cabe um exercício:
imaginem que Ganso estoure, jogue como nunca, não sofra mais com
contusões e instabilidade emocional e seja vendido daqui a um tempo
pelo valor da sua atual multa rescisória, 60 milhões de euros ou,
pela cotação de hoje da moeda, R$ 156,6 milhões de reais. Viriam
para os cofres da Vila Belmiro R$ 15,6 milhões. O São Paulo
embolsaria R$ 45,12 milhões, o equivalente a 32% do restante,
porcentagem que adquiriu ao pagar R$ 16,4 milhões (a outra parte do
pagamento feito ao Santos para se chegar aos R$ 23,9 milhões veio da
DIS, que subiu sua participação nos direitos econômicos do atleta
de 55% para 68%).
Resumindo, fazendo as
contas da transação de um Ganso mais que recuperado e valendo mais
do que vale Neymar hoje, o Tricolor teria como “lucro”,
descontando o investimento feito para levá-lo do Santos, R$ 28,72
milhões. O Alvinegro, somando o que ganhou agora com o que receberá
caso a transação para o exterior ocorra nesses termos, R$ 40,3
milhões. Pode-se incluir mais ganhos de marketing e venda de
produtos para o São Paulo, mas também é preciso levar em conta o
salário pago ao atleta. Em um ano, o Tricolor deve gastar
praticamente o que o Santos pagou a Ganso durante todo seu período
como profissional.
Ainda assim, a venda de
Ganso não envolve só dinheiro. Existe o ganho intangível, que
envolve possíveis títulos e futebol bem jogado. Isso o ex-Dez já
deu aos santistas, sendo fundamental, em menor ou maior grau, em
cinco títulos nos últimos três anos. Mas o fato é que ele já não
estava na Vila há muito tempo. Seus belos lances eram lampejos em
meio a uma aparente apatia e constantes visitas ao departamento
médico.
Fui a um jogo no Pacaembu neste ano no qual ele sequer
saudou a torcida quando teve seu nome entoado pela massa. Se o Santos já não
poderia tê-lo, que fizesse uma boa negociação. E foi, de fato, das
melhores que se podia fazer.
Memória
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Sebastían Pinto, presente da DIS |
A diretoria do Santos
pode ter sido inábil nesse período em que Ganso esteve no clube
insatisfeito, mas é bom lembrar que o atleta já se envolveu em
confusão com seu “descobridor”, o eterno Giovanni, que diz ter
direito a parte dos direitos econômicos do meia, mas nem se anima a
ir à Justiça por eles. A DIS, que detém 55% dos direitos, é outro
“parceiro” difícil, que já se envolveu em imbróglios em vários
outros clubes. E essa é uma “herança maldita” de nosso dileto
ex-presidente Marcelo Teixeira, que trouxe o grupo como parceiro
preferencial.
Pra quem não lembra, o
grupo traria reforços de peso para o time em 2008, mas chegaram
Molina, Michael Jackson Quiñones, Sebastían Pinto e Trípodi.
Levaram embora o lateral Kléber para o time de coração do dono do
grupo, o Internacional, e ainda compraram, a preço de banana, parte
dos direitos econômicos de jogadores da base do clube, como Neymar,
Ganso, André e Wesley.
No caso do meia, a DIS também gerencia sua
carreira, o que não acontece (ainda bem) com Neymar, por exemplo. Daí toda a dificuldade enfrentada pelo clube para lidar com Ganso.
Antes de falar mal da
atual gestão, é bom lembrar quem trouxe esse “parceirão” para
o Santos...