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sexta-feira, março 09, 2012

Meninos, Eu Vi!

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...só que ao contrário.
Pois recuso a vida que não pode ser sonhada.

Por Luciana Nepomuceno



Flamengo 1 X 0 Emelec. Mas não se deixe enganar pelo placar, esse foi um daqueles jogos épicos em que até a rodrigueana moça com narinas de cadáver suspende a expressão e se deixa envolver pela magia. Sigamos a jornada, bem do princípio. O Engenhão estava tendo seu dia, ou ainda, sua noite, de Maracanã. A torcida rubro-negra, empolgada, chegava em grande número. Cantando, mesmo antes dos times entrarem em campo, já apresentava o cenário. Faltavam protagonistas e enredo, eles logo chegaram, com seu sentimento-homenagem feito camisa.

Desde o apito, o time do Flamengo tomou as rédeas do jogo, uma defesa bem posicionada, avançada na marcação, um meio de campo criativo e colaborativo e, claro, a inspiração e precisão de Ronaldinho e Vagner Love. A bola demonstrava claramente suas preferências, deixava-se enrodilhar, mansa, nos pés brasileiros, ignorando os desesperados convites da equipe adversária. A bola e o pé, desenhando, no verde espaço, figuras de geometria incerta, reinventando as belezas da ocidental civilização. Um time misto, onde centauros e poetas se alternavam na construção da impossibilidade para o adversário. Épico, o jogo, disse eu, e confirmo: mesmo com o completo domínio rubro-negro, o destino tinha seus caprichos. Bolas na trave em randômica sucessão. Escanteios. Defesas milagrosas. O gol não se deixava fazer. E, aos 28 minutos, o engenho cede à biologia. Léo Moura, que vinha desfilando na avenida direita do campo, sente um estiramento da coxa. Lágrimas, dele, nossas. Entra o arisco Negueba, improvisado. E isso é só mais uma forma de jogar por música, logo todos percebemos o jazz sendo feito. Ritmo, baby. Irritados, os jogadores do Emelec promovem a caça às pernas dançantes e, assim, De Jesus, após um lance de forte pegada, é expulso. São 47 minutos do primeiro tempo, espetáculo feito, respirações suspensas, olhos cativos, mas nada de gol. Respira-se. E, logo que o jogo recomeça, a pintura. Ronaldinho, artífice, em lento planejamento e em explosiva execução, oferece a bola como se fosse um presente, um mimo, com um passe que só a quem a bola concede o dom pode pleitear. E a perna de Vagner Love, aparentemente autônoma em relação ao corpo, habitada por um portento, realiza o chute. O amor fica no ar, por uns instantes, acompanhando a decisão da bola em se fazer resultado. Gol. Goollll. Gooooolllllllllllll. O canto, místico, aprofunda-se em religioso transe.

Daí pra frente, intervenção dos deuses, pois claro. Ainda a beleza, o élan que ilumina cada jogador vermelho e preto, o suor feito louros, mas os deuses temem que a soberba se espalhe e mantém o ilusório 1 X 0. Que importa? A bola sabe a quem serve. Ao fim do jogo, os jogadores do Emelec traziam a vazia expressão de quem não entende direito o que lhes aconteceu. Não se sabe o que ainda vai acontecer na Libertadores, mas, ontem a noite, via-se a moça grã-fina, de narinas de cadáver, recusando-se a deixar a arquibancada, de pé, aplaudindo o que nem se sabia ser possível ver: a felicidade.


Fronha devidamente babada...

Luciana Nepomuceno, flamenguista, é dessas. Dessas que reescrevem tudo, que gostam de ficar na rua vendo a lua virar sol, que riem alto, que borram o batom e que se exaltam. Tem o hábito de ser feliz. Se espalha em alguns blogs, quase sempre no Borboletas nos Olhos

Ricardo Teixeira

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A licença médica de Ricardo Teixeira do comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é uma das melhores notícias sobre a Copa do Mundo de 2014 desde o anúncio que o Brasil sediaria o vigésimo mundial do ludopédio da história. Mas é uma notícia que pode durar seis meses.

Curiosa foi a escolha do e-mail como forma de avisar sobre a condição de saúde ganhar os títulos das primeiras notas que davam conta do afastamento. Curioso também que, na página da CBF na internet, não há menção ao fato. E, no organograma da firrrma, nem sinal de afastamento no nome do ex-genro de João Havelange.

Em uma outra crise política envolvendo a CBF, em 2000, durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Nike, ele se afastou. Como em 2002 a seleção venceu a competição disputada na Coreia do Sul e Japão.

Mau sinal.

Foto: Ricardo Stuckert/CBF

Ricardo Teixeira, animado na volta do carnaval


Houve ainda licenças médicas por problemas, digamos, médicos. Consta que, em outubro de 2011, o cartola ficou internado com diverticulite. E ele tem problemas cardíacos.

Coincidência interessante lembrar que o relator daquela CPI era o atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Para além do talendo de fazer rugirem moto-serras por aí, ele se diz amigo de Teixeira.

Mas a pressão vinda de investigações em Zurique, todo o imbroglio do tio demitido com indenização milionária e mesmo as caneladas desastradas de Jêrome Valcke e nossos traseiros chutados formam um quadro curioso.

O lado ruim é que o afastamento tem toda a cara de manobra política para reduzir a pressão, que incluía denúncias pululando aqui e ali. Se havia possibilidades de se desvendarem suspeitas de desvios e condutas questionáveis por parte do comandante da CBF desde 1989, elas ficam menores. Se sequer existia essa chance, muda pouco no futebol brasileiro.

quinta-feira, março 08, 2012

Um Santos mais organizado e o "imparável" Neymar

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Já de antemão recomendo a leitura dos posts do santista Edu e do colorado Daniel Cassol aqui e aqui. Isto posto, um rápido comentário sobre a peleja da Vila Belmiro ontem, que envolveu cinco títulos da Libertadores, acompanhada pela internet, com narração em espanhol, graças à disputa de monopólios de comunicação que priva a maioria dos torcedores de espetáculos como esta partida.

O show de Neymar pode ofuscar a nova organização tática santista, mas é preciso ressaltar que o time é outro. Conta com um meio de campo mais móvel, colaborativo ofensivamente e na marcação, com Ganso imprimindo o ritmo tanto mais atrás quanto próximo à área. Essa condição física que lhe faltou em 2011 faz com que todos os seus companheiros rendam mais, com Arouca se soltando para conduzir a bola com velocidade e Ibson chegando para finalizar. Henrique também tem se tornado um marcador que não foi no ano passado. Assim, mesmo com uma defesa lenta, o Peixe alcançou sua oitava vitória seguida, mantendo o tabu de nunca ter sido derrotado pelo Internacional na Vila Belmiro.



Dorival Junior tentou minar o meio de campo/ataque santista ocupando o setor com três volantes. Mas, com todos marcando atrás da linha da bola, propiciou que sua equipe fosse amplamente dominada no primeiro tempo, quando poderia ter ido para o intervalo perdendo não de um, como foi, mas de três. Equilibrou um pouco mais no segundo tempo e, quando ameaçou de fato o time da casa, o Internacional sucumbiu moralmente diante do terceiro gol de Neymar. Quando foi chamado, decidiu.

O atacante marcou seu 90º gol pelo time da Vila Belmiro, e já é o quinto maior artilheiro pós Era Pelé, a quatro do próximo na lista, Robinho, e a 14 de João Paulo e Serginho Chulapa, que estão no topo. Fora os bailes, como o dado no segundo e terceiros gols ontem, que levaram o locutor Pedro Ernesto Denardin, da Rádio Gaúcha, a se curvar diante do talento do menino. Claro, com o devido exagero que caracteriza o narrador gaudério:



"Todas as pessoas aqui na Vila Belmiro deveriam se ajoelhar, estender as mãos ao céu e agradecer ao Senhor que mandou pra Vila Belmiro um jogador dessa categoria. Todos deveriam se ajoelhar e agradecer a Deus. Que jogador extraordinário! 19 minutos, o Inter recém tinha feito o gol e ele escapou pela meia esquerda, ganhou de todo mundo e fez mais um gol como já tinha feito o segundo. Ele é 'imparável', 'imarcável', ele é demais, torcedor! (...) Neymar faz 3 a 1, é ruim para o Inter, mas o futebol... Ah, o futebol! O futebol sabe das valências, o futebol sabe da qualidade, e Neymar dá um show extraordinário de bola"

Exagero, sim, mas que dá gosto de ver... Como dá.

quarta-feira, março 07, 2012

Os "alternativos" da Copa do Brasil 2012

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E a Copa do Brasil já começou. A partida que terminou em 0 a 0 entre Boavista (RJ) e América (MG) abriu a segunda competição nacional mais importante que, pela última vez, não contará com os times que disputam a Libertadores.

Como em geral só se fala das equipes do mainstream do futebol brasileiro, vamos dar um panorama de como estão alguns dos clubes que são candidatos a zebra (animal que costuma dar as caras na competição) por meio de alguns dos parceiros do Série Brasil.

O ABC-RN enfrenta o Trem-AP e deve repetir a formação que empatou no campeonato potiguar contra o Corinthians local, sendo que a única mudança é o possível retorno do lateral-direito Murilo. Já pelo lado amapaense, o desentrosamento pode ser fatal para que a peleja seja única e encerre sua participação no torneio. O campeonato amapaense só tem início no dia 30 de março e em um recente amistoso contra o Paysandu o time levou um 3 a 0. O vencedor do confronto pega o melhor de Vitória e São Domingos-SE.
Estádio do Espigão, cidade em que teria nascido Mauro Beting

Por falar no Paysandu, a equipe paraense vai ter pela frente o Espigão-RO, de Espigão D'Oeste, cidade que tem menos de 30 mil habitantes. O esquadrão rondoniense é um clube novo, com três anos de vida, e participa pela primeira vez do torneio. Se resistir ao Paysandu, que conta com o meia Harison, ex-São Paulo, o clube de Rondônia enfrenta o vencedor de Sport e 4 de Julho-PI.

Clássicos

Um desavisado pode olhar a tabela da Copa do Brasil e pensar: um clássico local logo na primeira rodada? Mas o Náutico não vai enfrentar o Santa Cruz do seu estado, sim o xará do Rio Grande do Norte. O pernambucanos estão em terceiro no Estadual e não têm empolgado a sua torcida. Caso vençam, podem fazer, aí sim, um clássico regional com o Fortaleza, que enfrenta o Comercial-PI.

O rival do Náutico, Santa Cruz, vai a Manaus enfrentar o Penarol-AM. O Santinha, de Dênis Marques e dos ex-santistas Dutra, Geílson e Luciano Henrique, está preocupado com o clima da capital amazonense, o que motivou uma preparação especial dos atletas (não, não consta que houve qualquer hidratação etílica específica, leitor). O Penarol, que no último domingo perdeu a vaga para a final do 1º turno do Estadual para o para o Princesa, deve optar pela cautela. Em treino realizado ontem, segundo o Futebol do Amazonas Estatísticas, “o técnico Roberto Oliveira aproveitou para treinar exaustivamente o posicionamento da defesa e saída de contra-ataque, além de aperfeiçoar o toque de bola e finalização dos jogadores de frente”. Quem sair vitorioso pega o melhor da disputa entre Atlético-MG e Cene-MS.

O Sampaio Corrêa pega o Atlético-PR e terá novidades no ataque, em relação à equipe que derrotou o Maranhão no último fim de semana, com a entrada de Júnior Chicão. Como lembra o Maranhão Esportes, as duas equipes já se encontraram quatro vezes em competições nacionais, sendo que os paranaenses sempre levaram a melhor. Na Copa do Brasil de 2010, foram um empate e uma vitória atleticana em casa. No campeonato maranhense, o Sampaio vem de uma sequência de cinco vitórias consecutivas. Embalado.

Rogério Ceni vai pra Macapá?

Mais uma vez vamos fazer o exercício já realizado em 2011, em memória à declaração do humilde goleiro são-paulino que, depois de um jogo do Brasileiro de 2008, disse: "Com todo respeito à Copa do Brasil, mas eu não consigo me ver jogando em Macapá [capital do Amapá], e sim em Maracaibo".

O goleiro está contundido, mas nada impede que viaje com os companheiros de time para dar aquele apoio moral, né? Como no torneio de 2011, a chance do São Paulo ir a Macapá é se o Tricolor e o Trem-AP chegarem até as semifinais.

Veja outros times que podem surpreender na Copa do Brasil aqui

domingo, março 04, 2012

Santos supera ex-invicto na volta da Vila (visão santista)

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Vice-artilheiro do Santos no campeonato, Ibson começa a se afirmar
A partida entre o atual campeão da Libertadores e o atual campeão brasileiro marcou a volta do santo gramado da Vila Belmiro ao futebol em 2012. Se não foi um grande espetáculo, a partida marcou a sétima vitória consecutiva do Peixe no ano, quebrou a invencibilidade corintiana e a quinta partida em sequência sem derrota do Alvinegro Praiano contra o coirmão da capital dos negócios. Em outros tempos neste Futepoca, menos que isso já configurou “freguesia”, mas o santista é um torcedor humilde, não tem a arrogância dos adversários...


O adversário veio a campo sem supostos setes titulares (digo “supostos” porque para termos certeza é necessário ver com que time o Corinthians vai entrar em campo na quarta-feira). O Santos entrou com seus titulares, não só por ter um elenco menos numeroso em termos de qualidade (para os esquemas adotados) do que o rival, mas pela simples justificativa apresentada por Muricy Ramalho antes da peleja. “Os torcedores pagaram o ingresso pra ver Neymar e Ganso, é brincadeira o treinador não colocar.” Vejam só, alguém pensou (ou diz que pensou) no dito torcedor.

As propostas das equipes eram claras. O Santos tomava a iniciativa e o Corinthians contra-atacava. Esse é o padrão de Tite que fez do Timão campeão do último Brasileiro, mas o padrão santista em partidas fora de casa também é priorizar a defesa. Entretanto, já é possível observar um tal “efeito Barcelona” na equipe da Vila, ainda que comentaristas que não veem jogos do Santos insistam na tese da “Neymardependência”. E vejam, Neymar nem jogou grandes coisas hoje... Muricy tenta fazer da equipe um Alvinegro menos óbvio, com os jogadores trocando de posição de acordo com a circunstância, o que também evidencia a novo posicionamento dinâmico de Paulo Henrique Ganso, que atribuiu sua recuperação a Muricy Ramalho. 

E mudar o estilo de se jogar não é fácil de se fazer, exige treino e certa perseverança do treinador, dos jogadores e da diretoria. Mas é só ver os gols santistas, melhor ataque do campeonato, e comprovar a tese. As bolas paradas têm sido fundamentais, com diferentes batedores: Neymar, Ganso e Elano (reserva). Ibson, autor do vitorioso gol de hoje, já marcou indo pela direita e pela esquerda do ataque. E também por isso ganhou a vaga do Elano.

Mas Neymar e Ganso jogam mais próximos pela canhota. Juan, que vem em um desempenho bem acima do apresentado no Tricolor Paulista, às vezes aparece na ponta, em outras na meia. O time toca mais a bola, sem perder a vontade de atacar e sem vergonha de tocar a pelota atrás na hora em que é preciso. As estatísticas da peleja mostram isso: o Peixe trocou 363 passes certos e 32 errados, segundo o IG, enquanto o rival trocou 286 passes certos e 44 errados. O Santos também desarmou mais, e continua como a equipe que mais foi eficiente nesse quesito até o momento no Paulista, algo que quase o time não fez contra o Barcelona na final do Mundial.

Ao fim, vitória merecida de quem foi mais à frente e teve mais chances (incluindo dois gols justamente anulados) e que dá esperanças para a partida contra o Internacional quarta-feira, na Libertadores. Um novo Santos parece estar em gestação e o torcedor merece esse novo time.

***** 

Há pouco vi um desses comentaristas esportivos dizer, com toda pompa e circunstância, que Tite é mais "maduro" que Muricy por poupar alguns titulares em vista de uma partida a Libertadores na quarta-feira. O dito douto não deve lembrar que os titulares da Vila, em 2012, voltaram mais tarde que os dos outros times paulistas, e que, por poupar titulares na reta final da temporada de 2011, muitos comentaristas criticaram Muricy depois da derrota para o Barcelona, dizendo que a equipe perdeu ritmo de jogo. Discordar sobre a atitude de um treinador ou da diretoria é uma coisa, já adjetivar alguém só porque não fez algo que está longe de ser uma receita pronta é só uma amostra de arrogância.

Outro ponto foi o mesmo comentarista criticar Neymar por ter feito "gracinhas" quando estava a partida em zero a zero. Oras, o que se critica de boleiros que fazem "gracinhas" é que eles só o fazem quando o placar lhes está favorável. Jorge Henrique, por exemplo, caiu bem menos ou quase nada quando sua equipe perdia a partida, e não prendeu a bola como costuma fazer para irritar rivais. Normal. O fato de Neymar fazer "gracinhas" mesmo quando o placar é adverso siginfica que ele pode achar que, em dado momento, tal lance seja a melhor saída, prova de que a estratégia em si não é para demoralizar ou enfezar o rival. Coerente.

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Emerson Sheik, que devia estar preocupado com outras coisas. Não foi desta vez.