Antonio Schank Filho, 74 anos (foto abaixo), dá aulas de futebol para garotos de 7 a 16 anos no Ipec (Instituto Palestra de Ensino e Cultura), em São Bernardo do Campo (SP). Provavelmente, nenhuma dessas crianças sequer imagina que aquele senhor participou de um evento histórico e crucial para o esporte mundial: a primeira partida de Pelé como profissional, em 7 de setembro de 1956, no extinto estádio Américo Guazelli, em Santo André (SP). Schank era o volante do time adversário, o Corinthians de Santo André, que foi derrotado por 7 a 1. Na época, Ary Fortes descreveu o primeiro gol do Rei da seguinte forma no jornal A Tribuna, de Santos: ‘‘Tite com lançamento já na área a Pelé. Em meio de vários defensores contrários, atirou Pelé com sucesso, passando a pelota sob o corpo do guardião Zaluar’’. Mas vejam, na entrevista exclusiva, que a história não foi tão simples assim:
FUTEPOCA - Quando o senhor começou a jogar futebol?
Antonio Schank Filho - Com 14 anos, em 1948, no juvenil do São Caetano, um time que já não existe e não tem nada a ver com o que está aí. Depois, em 1951, fui para o juvenil do Nacional, na capital. Fomos campeões paulistas da categoria naquele ano, derrotando o São Paulo na decisão. Foi 2 a 1, no Pacaembu.
FUTEPOCA - Foi lá que o senhor se profissionalizou?
Schank - Sim, mas fiz apenas algumas partidas e depois fui para o Juventus. Joguei o Paulistão de 1954 e o do ano seguinte pelo time da Mooca. O Oberdan Catani, em fim de carrei
ra, era o nosso goleiro.
FUTEPOCA - E depois, como o senhor foi parar no Corinthians de Santo André?
Schank - O Palmeiras estava querendo me contratar, mas eu quebrei a perna e fiquei três meses parado. Daí me emprestaram para o Corinthians de Santo André, entre 1955 e 1956.
FUTEPOCA - E aquela partida, a primeira do Pelé como profissional, o senhor se lembra de detalhes?Schank - Sim, lembro muito bem, joguei a partida inteira. O Pelé era um menininho franzino, entrou no segundo tempo, no lugar do Del Vecchio.
FUTEPOCA - O senhor se lembra do lance do primeiro gol do Pelé?
Schank - Lembro. O Hélvio, zagueiro do Santos, disputou um lance de cabeça e a bola sobrou no meio-de-campo para o Pelé. Eu era volante e fui o primeiro a dar combate. Ele me driblou, depois passou por um de nossos zagueiros e entrou na área. O Zaluar, goleiro, tentou se jogar nos pés dele, mas o Pelé tocou a bola entre suas pernas. Bonito gol.
FUTEPOCA - O talento do moleque chamou a atenção do senhor, naquele momento?
Schank - Não, ele era muito menino. Eu nunca poderia considerar que ele se tornaria o melhor jogador de todos os tempos.
Ficha técnica
Corinthians de Santo André 1 x 7 Santos
Amistoso/ 7 de setembro de 1956
Estádio Américo Guazelli (Santo André-SP)
Juiz: Abílio Ramos
Renda: Cr$ 39.910,00
Corinthians - Antoninho (Zaluar); Bugre e Chicão (Talmar); Mendes, Zico e Schank; Vilmar, Cica, Teleco (Baiano), Rubens e Dore. Técnico: Jaú.
Santos - Manga; Hélvio e Ivan (Cássio); Ramiro (Fioti), Urubatão e Zito (Feijó); Alfredinho (Dorval), Álvaro (Raimundinho) e Del Vecchio (Pelé); Jair e Tite. Técnico: Lula.
Gols: Alfredinho (30), Del Vecchio (32), Álvaro (36), Alfredinho (41), Del Vecchio (61), Pelé (81), Vilmar (86) e Jair (89).