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Todo início de ano me lembro do saudoso sambista carioca Roberto Ribeiro (à direita). Mas por um motivo triste: ele morreu atropelado no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, há 13 anos - e justamente na data do meu aniversário, 8 de janeiro. O cantor tinha apenas 55 anos e estava praticamente cego. Havia perdido uma vista por contaminação de fungo causada pelo mau uso de lentes de contato e a outra terminou comprometida pela diabetes. Consta que o motorista que o atropelou fugiu sem prestar socorro.
Mas o que descobri recentemente é que Roberto, nascido Dermeval Miranda Maciel em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio, em 1940, começou sua carreira profissional como jogador de futebol. Especificamente como goleiro do Goytacaz Futebol Clube, de sua cidade natal, na década de 1960. Seu apelido como jogador era Pneu. E foi por causa do futebol que ele se mudou para a capital carioca, em 1965, para tentar a sorte num clube grande. Chegou a treinar no Fluminense, mas o samba mudou definitivamente o seu destino.
Com voz marcante, passou a se apresentar no programa "A Hora do Trabalhador", da Rádio Mauá, chamando a atenção da compositora Liette de Souza (que viria a ser sua esposa), irmã do compositor Jorge Lucas. Logo depois, foi convidado a ser o puxador do samba-enredo da escola Império Serrano, em 1971. Na sequência, gravou um LP com Elizete Cardoso, em 1972, e outro com Simone, registro de um show na Bélgica, em 1973 (reprodução à direita). Quando estreou em disco solo, em 1975, emplacou de cara os sucessos "Estrela de Madureira", "Só pra chatear" e "Proposta amorosa".
Dos discos seguintes, na década de 1970, sairiam os sucessos "Acreditar", "Liberdade", "Isso não são horas", "Resto de esperança", "Amei demais", "Propagas", "Triste desventura" e, principalmente, "Todo menino é um rei" e "Vazio" (que começa com os versos "Está faltando uma coisa em mim/ E é você, amor/ Tenho certeza sim..."). A produção fonográfica seguiu pela década seguinte, com hits como "Algemas" e "Amar como eu te amei", mas seu espaço no mercado foi diminuindo e, em 1987, saiu da EMI-Odeon, onde havia gravado 14 discos em 15 anos, para produzir seu último álbum, "Roberto Ribeiro", pela BMG, em 1988.
Infelizmente, quando o grande público começava a redescobrir sua obra, com o lançamento da coletânea "O talento de Roberto Ribeiro", pela EMI, em 1995, veio o acidente fatal. Em 2006, sua viúva, Liette, lançou a biografia "Dez anos de saudade", pela Potiguar Editora (reprodução acima, à esquerda). Já no ano seguinte, foi lançado em DVD o programa Ensaio gravado por Roberto Ribeiro em 1990 (reprodução à direita). Para quem não conhece sua obra, uma boa pedida é a coletânea de dois CDs reunidos em um só, "Meus momentos", da EMI, de 2002. E especialmente para os cervejeiros que fazem e leem o Futepoca, segue abaixo uma de suas composições:
DIVINA INVENÇÃO
(Serafim Adriano/ Liette de Souza/ Roberto Ribeiro)
Ela mexe com a minha cabeça
Ela faz o meu corpo girar
Como um cisco nos braços do vento
Ela me deixa no ar
Ela me deixa no ar
Ó, divina!
Divina invenção dos deuses
Que se espalhou por toda parte
O combustível da ilusão
Que hoje vou mostrar com samba e arte
É temperada pela flor
Que enriquece o dia-a-dia
Está no barraco, no palácio e no salão
Acompanhando a tristeza e a alegria
Chegou ao Rio
Casou com o samba e com esse clima tropical (tropical)
Surgiu o chope, a cervejinha e a crioula
Desse enlace matrimonial (ô, chegou ao Rio!)
Bebe o negro, bebe o branco
Empregado e patrão
A cerveja geladinha
No inverno e no verão
No inverno e no verão
Na sexta-feira quero horário e vou partir
E vou me vestir de ilusão
Passear nos braços da alegria
Mil litros de fantasia pra esquecer a irritação
Mergulhar no néctar dos deuses
E esbanjar descontração (lalaiá)
Afogar num mar de espuma
Da crioula e da loirinha
Do sabor e da magia
Esquecer o agora e sonhar com o amanhã
E despertar no novo dia
(Do LP "Corrente de Aço", EMI-Odeon, 1985)