Destaques

sexta-feira, abril 24, 2009

Copa do Brasil: 1/16 avos de campeão

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Os times que continuam na Copa do Brasil (veja lista dos confrontos abaixo) começam a decidir o título na próxima quarta-feira, com chances rigorosamente iguais de 1/16 avos de campeão para cada um.


Sei que matemática e futebol raramente andam juntos, mas eu é que não vou fazer nenhum tipo de previsão num campeonato tão bom de assistir pelas zebras. 

Quem poderia, por exemplo, supor o CSA ganhando para desespero dos santistas do Futepoca? Ou o Flu com dificuldade para superar o Águia de Marabá.

Dos times que estão na primeira divisão do Brasileiro, vale destacar os confrontos entre Atlético (MG) X Vitória (BA), Atlético (PR) X Corinthians (SP), Goiás X Fluminense, além de Internacional (RS) X Náutico (PE), com jogos provavelmente mais equilibrados. 


Jogos de ida (29 e 30 de abril)

Vitória x Atlético
Atlético/PR x Corinthians 
CSA x Coritiba 
Vasco x Icasa 
Goiás x Fluminense 
Americano x Ponte Preta 
Flamengo x Fortaleza 
Náutico x Internacional

Jogos de volta (6 e 7 de maio)

Atlético x Vitória 
Corinthians x Atlético/PR 
Coritiba x CSA 
Icasa x Vasco 
Fluminense x Goiás 
Ponte Preta x Americano 
Fortaleza x Flamengo 
Internacional x Náutico

Para lavar os cabelos de Baco

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


Camarada Anselmo, semana passada, me mandou um release de vinoterapia (já não está na hora de fundar uma associação protetora dos jornalistas contra releases?).

Ele, que abriu interessado numa desculpa a mais para cair nas graças do deus do vinho, logo se decepcionou, era o lançamento de uma linha de xampus à base da bebida sagrada (foto).

Dizia o tal release a loja X, um dos mais charmosos e tradicionais espaços de vinho de São Paulo, promove workshop sobre vinoterapia com a Dra. XX, diretora da XXX, empresa que criou uma linha de cosméticos elaborados a base de ativos de uvas, como os extratos de uvas francesas, que passará a integrar a “carta de vinhos” da loja, fazendo companhia para os mais nobres tintos e brancos... O evento... é dirigido exclusivamente para as “lulus” enófilas, que poderão conferir todos os benefícios que as videiras podem proporcionar para a beleza e o bem estar. Prosecco e aperitivos animam o encontro...”

Fico cá pensando com meus parcos e encanecidos cabelos, qual será o teor alcoólico dos tais xampus? Em emergências, é possível beber? Haverá os reserva Malbec argentinos, uma de minhas preferências por custo/benefício? Serão importados os xampus de carménère do Chile? Por que só uvas francesas? Haverá uma linha masculina? O que vem a ser exatamente “lulus” enófilas?

Não pude deixar de lembrar da frase do dramaturgo e poeta romano Terêncio, que dizia: “Sou homem e nada do que é humano me é estranho.

Ok, tanta criatividade no que fazer com o bendito fruto das uvas pode nem me ser estranho, mas juro que (só por isso) hoje beberei umas taças em homenagem a Baco. Camarada Anselmo, o senhor está convidado.

'Cobrança da imprensa' influiu na saída de Adriano

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

A Interzionale de Milão comunicou hoje, em seu site, que chegou a um "acordo amigável" para a rescisão de contrato do manguaça brasileiro Adriano (foto). Segundo o clube, os documentos foram registrados na manhã desta sexta-feira. Em entrevista ao canal SporTV, o empresário Gilmar Rinaldi disse que o atacante já pensa em voltar ao futebol e que está mantendo a forma numa academia. "A rotina de Adriano é de cuidado com a forma física. Ele teve um problema no tornozelo e a parada ajudou para que ele pudesse se recuperar", disse. "Ele queria sair da Inter pelo desgaste que aconteceu, natural pelo tempo que esteve lá. E a mesma coisa acontece com o país, já que ele sofreu uma cobrança enorme da imprensa", emendou Rinaldi. Em oito anos, Adriano, que tinha contrato até 2010, marcou 74 gols pela Inter.

PQFMTMNETA 8 - Botafogo, campeão estadual (2006)

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Breve introdução aos que não conhecem a série: PQFMTMNETA é abreviação para "Parece que faz muito tempo, mas nem é tanto assim". Nesse espaço, mostraremos eventos do futebol acontecidos há, no máximo, cinco anos, que causaram polêmica na sua época, e que depois caíram no esquecimento.

PQFMTMNETA 8 - Botafogo, campeão estadual (2006)

A partir de domingo, Botafogo e Flamengo começam a decidir o Estadual do Rio. Será a terceira final seguida protagonizada pelos dois clubes. E a quarta em série que terá a participação do clube da estrela solitária.

Participando de finais desde 2006, em apenas uma ocasião o Botafogo foi o campeão estadual. Alguém saberia dizer quando, contra qual adversário, e quem era o técnico na conquista? As respostas são: no próprio ano de 2006, contra o surpreendente Madureira, e comandado por Carlos Roberto (foto).

O Cariocão de 2006 foi pródigo em zebras. O sistema de disputa daquele ano era similar ao de 2009 (e temporadas anteriores), com dois turnos, que eram decidos em semifinais e posteriores finais. Ou seja: a cada turno, quatro eram as equipes semifinalistas. E o inusitado é verificar que, de todos os times grandes, apenas o Botafogo disputou uma semifinal. E apenas a do primeiro turno (a famosa Taça Guanabara), quando venceu o América na decisão e se classificou para a finalíssima do estadual. Os outros times que jogaram aquela semifinal foram Americano e Cabofriense.

Na Taça Rio, os mesmos América, Americano e Cabofriense lutaram pelo título, acompanhados pelo Madureira, que foi quem se sagrou o campeão da etapa. O Botafogo, neste segundo turno, talvez tranquilizado por já estar garantido na decisão, fez campanha pífia, ficando na lanterna de sua chave, com apenas uma vitória em seis partidas.

Apesar de ter um retrospecto pior que o Madureira na somatória dos dois turnos, o Botafogo não teve dificuldades para vencer o Tricolor Suburbano na decisão. Ganhou os dois jogos (2x0 e 3x1) e assim conquistou o seu 18º título estadual, o último até a decisão que começará a ser jogada depois de amanhã. Azar de Odvan (ele mesmo) e Djair (ele mesmo), que jogaram aquela final do lado do Madureira.

O craque do Botafogo naquele título foi Dodô, que justificou na decisão sua fama de "artilheiro dos gols bonitos" (confira no vídeo abaixo). Além dele, fizeram parte da campanha outros célebres como Ruy (o popular "Cabeção"), Scheidt (de bom começo de carreira no Grêmio e passagem caótica pelo Corinthians), Lúcio Flávio, hoje no Santos, e Zé Roberto, que está no Flamengo que encarará o próprio Botafogo na final de 2009.




Quanto ao técnico Carlos Roberto, ele permaneceria no comando do Botafogo até a sétima rodada do Brasileiro daquele ano, sendo demitido por Cuca - que permaneceu no time por muito mais tempo, mas, diferentemente do antecessor, não ganhou nenhum título. E alguém sabe por onde anda Carlos Roberto hoje em dia? Admito que nunca mais ouvi falar...

Geladeira escondia casa de jogos em buteco

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Essa aconteceu na simpática cidade catarinense de Itajaí, onde pude conhecer a tradicional festa portuguesa Marejada, há 18 anos: durante revista em um buteco, em março, os policiais resolveram abrir a geladeira - não sei com quais intenções... - e descobriram uma passagem secreta para uma casa de jogos clandestina (foto). Com fundo falso e embutido na parede nos fundos do bar, o eletrodoméstico ocultava um pequeno recinto com duas máquinas caça níqueis, cujo uso é proibido. Isso me lembrou de um episódio de mais de dez anos, na cidade em que nasci, no interior de São Paulo. Era dia de eleições e imperava a lei seca. Sem nada pra fazer e doidos pra molhar o bico, eu e outros dois colegas fomos a um bar obscuro para tentar beber qualquer negócio, pois um dos comparsas jurava que o dono do estabelecimento conhecia seu pai e iria se apiedar de nossa abstinência forçada.

Chegando no local, o camarada revelou nosso problema e o proprietário da birosca, solícito, pediu pra gente segui-lo por um corredor escuro. Na cozinha, arrastou um freezer vertical imenso, que escondia uma porta. Ele pegou uma chave, destrancou a passagem, nos deu uma garrafa de "uísque" Drurys e advertiu: "Daqui duas horas vocês saem". Lá dentro, em meia dúzia de mesas, umas 15 pessoas, homens e mulheres, bebiam, fumavam, conversavam, riam, cantavam e jogavam baralho. Acho que estavam ali desde o dia anterior. Puxamos copos e cadeiras e aderimos à saudável celebração da desobediência civil, sendo resgatados pontualmente duas horas depois. Mas o flagrante de Itajaí me fez recordar, também, de um certo buteco de esquina da rua Butantã, em São Paulo, que "mocozou" (ou "moscozou") duas máquinas caça níqueis semelhantes num espaço em frente aos sanitários, ao lado dos butijões de gás. Alguém aí também conhece?

quinta-feira, abril 23, 2009

A zebra pastou na Vila Belmiro

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Junte os seguintes ingredientes: falta de concentração em função de uma final à vista, elenco sem muitas opções e ainda reduzido por contusões, má pontaria e pouca sorte. Pronto, está aí a receita de uma zebraça, dessas que fazem a Copa do Brasil ser um torneio peculiar. A derrota do Santos para o CSA é a segunda do técnico Vágner Mancini em 17 jogos, e é impossível prever como influenciará o time para a partida de domingo na Vila Belmiro.

Até os 44 do segundo tempo foram 33 finalizações contra 4 do CSA, sendo que em apenas uma ocasião o time alagoano chegou ao gol. E bastou. A defesa alvinegra marcou mal e o toque errado de coxa do atacante Júnior Amorim o beneficiou e matou Fábio Costa, que saiu com os pés ao invés de fazê-lo com as mãos. Kléber Pereira, que entrou só aos 15 minutos do segundo tempo, perdeu três gols incríveis; Neymar perdeu um similar, apanhando dos rivais como sempre; Roni, nem isso conseguiu fazer, e Lúcio Flávio, como titular, mostra que não deve mesmo comer panetone na Vila Belmiro, saindo bem antes disso.



Agora, ao Santos resta o Paulista. Aliás, a displicência do clube em relação ao torneio nacional evidenciou a recuperação do estadual em termos de prestígio. Obviamente, isso só aconteceu por conta dos cruzamentos entre os quatro grandes nas finais. Santos e Corinthians pouparam titulares na Copa do Brasil, o Palmeiras não resguardou atletas para suas "decisões" na Libertadores e o São Paulo abriu mão de tentar uma pontuação maior que lhe permitisse cruzamentos mais generosos no torneio continental para tentar superar o Corinthians. Por isso, domingo promete...

O desfile de zebras

Mauro Beting publicou uma lista de zebras da Copa do Brasil desde o início do torneio, em 1989. À época, o critério de classificação era o desempenho em estaduais (ou competições realizadas em âmbito local como a Copa Bandeirantes, na terra de Anchieta) e não havia o famigerado índice técnico baseado no ranking da CBF que perpetuou os grandes na competição. Os times classificados na Libertadores também podiam disputar a Copa, o que deixou de acontecer em 2001.

Pela lista, pode-se concluir que o clube que mais propiciou zebras eliminando grandes do torneio é o Ceará. O clube nunca chegou a ser campeão como Paulista, Santo André, Criciúma e Juventude, mas foi vice em 1994, ano em que eliminou o Palmeiras e o Internacional. Em 1997, despachou o Fluminense e, em 2005, superou o Flamengo e o Atlético (MG).

Já a vítima contumaz do animal listrado parece ser o Vasco da Gama. Em 1991, foi eliminado pelo Remo e, no ano seguinte, pelo atual algoz do Santos, o CSA. O XV de Campo Bom, de Mano Menezes, superou os cariocas em 2004 e em 2005 viria a maior surpresa: o Baraúnas despachou o clube cruzmaltino com uma vitória de 3 a 0.

O treinador do Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo, também parece guardar um carinho especial pelo equino alvinegro. Era o comandante do Palmeiras quando a equipe perdeu para o Ceará, em 1994, e também na histórica derrota para o ASA de Arapiraca, no trágico ano de 2002. Pelo Santos, perdeu para o portentoso Ipatinga em 2006.

O mistério do troféu da Libertadores

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Uma coisa que me chamou a atenção quando o São Paulo ganhou o terceiro título da Libertadores, em 2005, foi o troféu levantado pelo capitão Rogério Ceni (à esquerda). A base da taça, de madeira, onde os clubes costumam pregar pequenas placas para marcar suas conquistas, me pareceu bem maior do que nos tempos de Raí (abaixo, à direita). De fato, quando fui observar uma foto aproximada, pude perceber que, para caber novas plaquetas, colaram uma nova base circular de madeira, aumentando a altura do troféu. Mas, pesquisando pela internet, não consegui descobrir quando ou por quem isso foi feito, muito menos qualquer vestígio da história dessa taça, seu desenhista ou construtor. É um descaso total com a saga de um dos objetos mais desejados pelos torcedores do planeta. E pelo o que parece, nem é possível afirmar, com certeza, que todas as placas grudadas ali são originais ou que estão dispostas da forma como os clubes pregaram.

Isso porque, numa imagem recente feita em Quito, onde a atual campeã, LDU, ainda guarda a taça, vi num detalhe que as três plaquinhas do São Paulo estão coladas lado a lado, na nova base de baixo (foto acima), que não existia pelo menos até 1999, seis anos após o bicampeonato sãopaulino, quando César Sampaio levantou o troféu pelo Palmeiras (foto à direita). Com certeza, os registros de 1992 e de 1993 não teriam como estar ao lado do de 2005. Portanto, o que aconteceu? Será que arrancaram as placas originais e dispuseram de outra forma, para aproveitar melhor o espaço? Mas quem é responsável por isso, a Conmebol ou os clubes? Em 2007, quando o Internacional ainda detinha o troféu em Porto Alegre, li uma reportagem em que gremistas reclamavam que suas placas haviam sido danificadas pelos colorados e que outras, antigas, também estavam avariadas. A diretoria do Inter insinuou que já havia recebido assim, mas o São Paulo, campeão do ano anterior, apressou-se em comunicar que havia feito uma reforma geral na taça antes de devolvê-la à Conmebol. Mas como assim, reforma? Por conta própria, sem orientação?


Não sei. Tudo isso, para mim, está envolvido em muito mistério - até porque, como disse, não encontrei absolutamente nada sobre a história do troféu na internet (se alguém tiver qualquer tipo de informação, por favor, publique nos comentários do post). A única coisa a destacar é o charme e a história da taça, a mesma que esteve presente em todas as 49 decisões, sendo levantada por 22 times de 7 países diferentes. Como os brasileiros Rogério Ceni, Raí e César Sampaio, nas fotos acima, e, nas imagens das laterais desse parágrafo, Mauro Ramos de Oliveira (pelo Santos, 1962), Nelinho (Cruzeiro, 1976), Zico (Flamengo, 1981), Hugo de León (Grêmio, 1983), Mauro Galvão (Vasco, 1998) e Fernandão (Internacional-RS, 2006). Até onde pesquisei, cada clube recebe uma réplica para guardar em sua sala de troféus. E a original continuará em posse transitória de um ano para cada campeão (também não descobri se ficará definitivamente com algum clube que conquiste tantas ou quantas vezes a Libertadores). De qualquer forma, uma coleta iconográfica e dos muitos "causos" das idas e vindas do troféu pela América do Sul nesses 49 anos, das histórias de cada decisão, do mistério dessas "reformas" e das tradicionais plaquinhas já renderia um livro bem interessante. Todos os capitães que tiveram a honra de levantar esse troféu poderiam dar depoimentos, bem como os técnicos e dirigentes. Aguardemos, pois, que alguém se entusiasme pelo assunto.

Editor de revista científica escrevia com um copo de uísque nas mãos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


A The Economist desta semana publicou um longo perfil do Sir John Maddox, editor da revista britânica Nature, considerada uma das mais influentes do mundo. O jornalista manteve-se no cargo por 22 anos, a partir de 1966. E morreu em 12 de abril deste ano.

"Um sério tributo ao jornalista científico e editor, John Maddox, só pode começar realmente um longo tempo depois do deadline [o prazo], com auxílio de um cigarro e um copo de vinho", começa o texto. "Assim ele notadamente começava a trabalhar seus editoriais", prossegue. Ele também poderia optar por uísque se fosse o caso.

Segundo consta, ele se sentava em uma poltrona e ditava seus textos, de uma tacada só, para sua secretária datilografar em uma máquina de escrever eletrônica.

Apesar das dificuldades com o prazo em tempos de tipos móveis e das preferências etílicas, o perfil ressalta o papel de Maddox para o jornalismo científico mundial. Isso inclui editar textos acadêmicos para que se tornassem mais palatáveis e criar uma rede de especialistas com agilidade para determinar se um artigo deveria ou não ser publicado. Com rapidez, não foi difícil recuperar o terreno então perdido para a estadunidense Science.

Maddox teve ainda um importante papel histórico relacionado à homeopatia. Ele comandou uma equipe de analistas que acompanharam estudos de Jacques Benvenistes em 1988 com pessoas alérgicas (a fonte da alergia era diluída homeopaticamente e produziam reações iguais a se não estivesse diluído). Não se provou muita coisa, mas o papel do editor é considerado chave.

Meu palpite de leigo é que faltou diluir em soluções alcoólicas para acharem alguma resposta. Mas eu devo estar errado.

O enigma Dagoberto

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O São Paulo continua jogando de forma apática e sonâmbula, mas, mesmo assim, conseguiu virar o placar ontem à noite, em pleno Morumbi, e derrotou o América de Cali por 2 a 1, classificando-se em primeiro lugar no seu grupo da Copa Libertadores. A surpresa foi Dagoberto (foto), que engatou a quinta marcha no início do segundo tempo e perdeu vários gols antes de fazer os dois da vitória. Muito aquém daquilo que a imprensa dizia quando o Tricolor o contratou, o atacante até que teve boa participação nos títulos brasileiros de 2007 e principalmente de 2008, mas nunca justificou sua fama. Nos dois anos de São Paulo, Dagoberto fez apenas 17 gols (o mesmo tanto que o manguaça Adriano fez em seis meses de clube, em 2008). Jogou a maior parte do tempo na reserva e longe de empolgar a torcida. Até ontem.

Com os dois gols, sendo o primeiro a conclusão de uma jogada individual do volante Jean e o segundo de bunda (isso mesmo, de bunda) após uma rebatida bizarra do goleiro colombiano Mesa, o atacante foi ovacionado pelos 23 mil sãopaulinos no estádio, que haviam gasto a maior parte do jogo vaiando merecidamente a equipe. A atuação de Dagoberto tem a ver com uma nova aposta de Muricy Ramalho. Sem Zé Luís e Arouca, o técnico escalou o atacante ali, como uma espécie de meia direita - mais ou menos o que Jorge Wagner faz pela esquerda, só que este tem Júnior César, um lateral de ofício, para cobrir a retaguarda - e Dagoberto não tem ninguém. Não por outro motivo, Parra abriu o placar para o América justamente pelo setor direito, o mesmo pelo qual o Tricolor vem sofrendo os gols mais previsíveis das últimas temporadas. No segundo jogo da seminfinal do Paulistão, contra o Corinthians, Ronaldo arrancou livre justamente por ali, contra um Rodrigo com freio de mão puxado. Aliás, a zaga bateu cabeça novamente ontem, comprovando que, por mais esforçado que seja, André Dias faz muita falta.

A aposta em Dagoberto pela direita ainda é um enigma, mas pode ser interessante caso Zé Luís volte ao time como lateral recuado e Muricy retome o esquema com dois zagueiros. Assim, teríamos uma espécie de 2-4-2-2, com Miranda (ou Rodrigo) e André Dias na zaga, Zé Luís, Jean, Hernanes e Júnior César na linha central, Dagoberto e Jorge Wagner no meio, caindo pelos flancos, e Borges e Washington na frente - apesar da temporária má fase dos dois. É um padrão tático estranho e arriscado, mas pode funcionar caso os laterais protejam bem a zaga e Jorge Wagner tome a mesma iniciativa que Dagoberto tomou ontem. Porém, penso que dois titulares correm sério risco de perder a posição: Bosco, que parece estar meio sem ritmo de jogo, e Hernanes, para quem a seleção brasileira e as propostas européias fizeram muito mal. O grandalhão Fabiano, que já fez uma (ótima) partida no gol do São Paulo, contra o Fluminense, no Maracanã, e o volante de origem Arouca são opções interessantes para essas posições. Só que o mais importante é que Muricy terá uma boa folga para treinar jogadas e recuperar os contundidos.

Sequência carioca

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook



Saímos da sala de cinema vivamente ligados pela amizade. Os que estávamos ali sabíamos algo que outros não sabiam. Não havia nenhum orgulho poluindo de vaidade o que era apenas o sincero prazer de compartilhar algo que custou esforço e foi recompensado com uma experiência mágica. A experiência do cinema de Marguerite Duras, que não é fácil, mas que é gigantesca. A cópia em 35 milímetros do filme Aurélia Steiner (Vancouver) estava sendo estreada ali (para o contexto, leia aqui). A qualidade da imagem é brutal. E o filme é pura fotografia: a investigação do espaço, as texturas da praia, das pedras, as paisagens da Normandia, suas falésias, seu vento, suas árvores no inverno, o cemitério de troncos cortados no pátio de uma madeireira. E a voz da sereia Marguerite, sensual, com pausas tão densas quanto o chumbo.

Em meio a esse êxtase estético, pensei que havia uma coerência daquele sentimento com o lugar onde ele acontecia. A amizade soa carioca, principalmente essa amizade inconsequente, que se perde na primeira esquina. Perdemo-nos na sequência, de fato, e já só, na avenida Rio Branco, tomo o metrô no largo da Carioca até a estação Siqueira Campos, de onde caminho ao boteco Pierrot, na rua Domingos Ferreira, em Copacabana. Ali José Murillo, um filósofo chileno, deveria me encontrar. Uma cerveja e, na televisão, Palmeiras vs. LDU. Chegou meu amigo com mais dois chilenos, e outras três garrafas de cerveja agora se viam sobre a mesinha – na verdade um barril de chope com uma tábua redonda em cima.

Não íamos ficar ali. José tinha trazido três vinhos excelentes de Santiago, e uma garrafa de pisco Malpaso. Acontece um estranho evento na TV, em que a bola vence todos os esforços contrários (voluntários ou não) e cruza a linha. Gol da bola, abrindo o placar para o Palmeiras. Era a senha para irmos. Ao entrar edifício, deparamos com um distinto senhor em uniforme impecável, o porteiro:

– Olha só, subiu agora há pouco um cara, não liga não se ele começar a gritar. É que ele chegou doidão. Não pega mulher e fica enchendo a cara. Ele grita, mas não faz nada não, não precisa se preocupar. Mas se ele fizer alguma coisa você chama que a gente vai lá dar um jeito.

Ele me alertava pensando sem dúvida na minha mulher e meu filhinho que já estavam no apartamento, no mesmo oitavo andar que o manguaça. Foi certeiro, ao sair do elevador, um homem visivelmente alterado, meio elétrico, só de bermuda, num movimento frenético de lá pra cá, nos mirou, e seus olhos tremiam internamente. Estava mais pra cheirado que mamado.

– Vocês vão se mudar pra cá? Pô, bem-vindos, pô, certo, desculpa qualquer coisa, aí, sejam bem-vindos mesmo.

E desapareceu, sem que pudéssemos explicar que éramos apenas turistas. Entramos no apartamento, tocamos violão e degustamos vinhos excepcionais, como o Santa Rita (o único de que me lembro o nome). O problema da fartura de bebida boa é a euforia, tudo parece bom demais. Eu mesmo me sentia como um atacante em dia feliz, músicas que não tocava há anos vinham aos dedos como se as treinasse todo dia, lembrava das letras. Tocamos velhos clássicos latino-americanos, como canções de Silvio Rodrigues. A onda era tão boa que nem mesmo com a barulheira que fazíamos o bebê acordou. Brindamos com pisco, antes que os outros dois chilenos se fossem.



José e eu decidimos caminhar um pouco, até, ocasionalmente, aportar nalgum bar. Éramos dois bêbados andando pelo calçadão de Copacabana, desdobrando os mais improváveis assuntos, como fenomenologia política ou o cinema de Marguerite Duras, enquanto o olhar dançava pelas ondas de Burle Marx. Uma criança me pediu dinheiro, depois surgiu uma adolescente, como uma visão, tinha os olhos embaçados e uma voz distante pedindo algo para comer, um menino com alguma deformação facial puxava o canto da boca para baixo, rostos de zumbis que atravessavam meu percurso pelo calçadão. Um frio soprou, era como se estivesse dando os primeiros passos em um pesadelo. Noto que José não está ao meu lado, volto-me, estão todos sobre ele, uns oito, puxando a camisa, remexendo os bolsos, sacando-lhe o relógio...

– Corre, Compay – gritei em espanhol.

José se desvencilhou e os pequenos mortos vivos instantaneamente cruzaram a avenida Atlântica. Ainda atônitos, nos certificamos de que estávamos nós vivos. Vimos os meninos do outro lado, decidimos um caminho por onde voltar. Numa esquina, encontramos com uma viatura de polícia. Relatamos o ocorrido. O guarda, que na verdade queria continuar sua conversa com o senhor que passeava com seu chiuaua, deve ter se sentido constrangido, pois entrou no carro e saiu "em busca" daquelas crianças. Não tinha a menor cara de que ia fazer qualquer coisa, mas pediu para esperarmos no bar da esquina seguinte.

Pedimos duas doses, de Vale Verde e Magnífica. Estranho sabor o da madeira extraída ao tonel pela cachaça quando se mistura ao coquetel de adrenalina e outros alcoóis que circulava nas nossas veias. Não esperamos muito. Seguimos de volta ao apartamento, ainda filosofando, agora já não eufóricos, apenas um pouco mais bêbados. Não sei em que momento de meus descaminhos lógicos eu estava, mas era exatamente ali que se acabava a calçada, e eu pisei em falso no breu do asfalto. Torci o tornozelo esquerdo. Tenho larga experiência no assunto, e percebi imediatamente que era uma torção grave, tinha esgarçado os ligamentos. Era agora um amargo déjà-vu que me assolava. Uma vez, com 17 anos, torci o pé (direito) exatamente desse jeito, na porta de um bar em Santo Amaro, quando não percebi este pequeno abismo que há depois do meio-fio. Não tinha nenhuma saudade daquela dor.

José entrou no último bar da noite, para pedir gelo. Enquanto tentava conter o inchaço, fui me deprimindo nas minhas próprias histórias, contando os últimos 15 anos de minha vida, tão limitados por torções de ambos tornozelos, umas depois das outras, que acabaram me fazendo desistir do futebol, do basquete, do vôlei... Já fui um atleta que bebia, hoje do esporte só sobraram as torções.

Meu colega chamou um taxi, o que foi sensato. Eram três quadras, mas teria sido patético e, talvez, trágico tentar transpor aquele pedaço de chão confiando o agora imprescindível apoio ao equilíbrio de um bêbado. Chegamos, tomei meia garrafa de água (o que deprime também) e me joguei na cama onde dormiam minha mulher e meu filho. Entregue à dor e à momentânea mas intensa depressão, sinceramente chorei. Cris me perguntou o que acontecia, compartilhei minha dor moral, meu sentimento de recorrente derrota para um par de articulações. O bebê, que ainda não fez dois anos, acordou com o balanço do colchão. Limpou os olhinhos com as costas da mão. Me observava muito sério, enquanto sua mãe explicava “O papai está chorando, Chico, ele está muito triste”.

Ele me olha, apenas. Estou rendido, olho para ele também, sem poder interromper os soluços, que cedem agora um pouco à respiração. O Chico inclina um pouco a cabeça, e me olha mais de perto, compenetrado, sempre. Finalmente consigo uma única respiração mais longa e funda. É nessa hora que o Chico ergue as duas mãos e, sem desviar um segundo os olhos, coloca-as sobre a minha perna, como se adivinhasse que a dor nascia ali. E começa a fazer um carinho, movendo suas mãozinhas sem peso de um lado para o outro. Primeiro na perna, depois no ombro e finalmente na cabeça, com todo cuidado. Não tive como, devolvi-me ao choro e murmurei:

– Obrigado, Chico, obrigado.

quarta-feira, abril 22, 2009

Governo Lula regulamentou a cachaça

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Descobri recentemente que, apesar de ser produzida há mais de quatro séculos, a legítima cachaça brasileira só foi regulamentada há pouco tempo, no primeiro ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda, provando uma branquinha). No Decreto 4.851, de 2003, o artigo 92 diz o seguinte: "Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius (°C)". Não bastasse isso, o governo brasileiro ainda editaria um texto regulamentar básico para disciplinar a produção e comercialização de cachaça no país. Trata-se da Instrução Normativa nº 13, de 29 de junho de 2005, baixada pelo Ministro da Agricultura e publicada no Diário Oficial da União de 30 de junho de 2006. Conforme este regulamento técnico, a "Cachaça é (...) obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até 6 g/L, expressos em sacarose". O bom desse governo é que ele estabelece prioridades! Manguaça Cidadão já!

A gravidez polêmica de Bussunda

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Em junho completaremos três anos sem o genial humorista (e flamenguista) Bussunda, que morreu de um ataque cardíaco fulminante em plena cobertura da Copa da Alemanha, após jogar uma pelada com os companheiros Hélio de la Peña, Beto Silva e Cláudio Humberto. E falando nisso (pelada), resgatei uma impagável sátira da extinta revista Casseta Popular - uma das duas publicações que deram origem ao grupo Casseta & Planeta (a outra foi o jornal Planeta Diário). Em 1991, a atriz Demi Moore causou escândalo aos posar nua e grávida na capa da revista Vanity Fair. Sem perder tempo, o humorista contra atacou na revista brasileira mostrando seu imenso barrigão de cerveja, sob a seguinte chamada: "Desafio à ciência: A gravidez polêmica de Bussunda". Mais indecente, impossível...

A cachaça na gênese da diversidade

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Lendo uma reportagem sobre umbanda, candomblé e suas entidades espirituais, me deparei com uma interessante descrição:

OXALÁ - Chamado de Grande Orixá, é o criador do homem, senhor do princípio da vida, da respiração e do ar. Castigado por Exu por não lhe oferecer uma oferenda [sic], bebeu muito e, bêbado, não pôde criar o mundo. Restou a ele criar os humanos. Ainda embriagado, modelou seres distintos, dando origem à diversidade.

F-Mais Umas - A carroça vermelha

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

CHICO SILVA*

Imagine uma equipe que venceu seis dos nove últimos títulos mundiais de pilotos. Imagine um time que, na temporada passada, lutou pelo campeonato até a última curva da derradeira prova do ano. Imagine uma escuderia que dispõe do maior orçamento da categoria. Imagine uma marca que é quase um sinônimo da F-1. Agora imagine essa mesma equipe passando pelo vexame de não conseguir marcar um mísero pontinho sequer nas três primeiras disputas do ano. Pois essa é a vexatória situação da Ferrari em 2009. De favorita absoluta, disputa agora o título de "carroça do ano" com as cadeiras elétricas da Force Índia. A pane no carro de Felipe Massa no GP da China foi o último ato dessa ópera buffa protagonizada por Massa, Kimi Raikkonen e Stefano Domenicali, o diretor esportivo da escuderia do cavalinho (acima), que está mais para cansado do que rampante.

A última vez que tal fato havia ocorrido foi em 1981. Naquele ano, o canadense Gilles Villeneuve e o francês Didier Pironi (à esquerda) passaram em branco nos GPs da Argentina, Brasil e EUA. Os primeiros pontos só vieram na quarta corrida do ano, o GP de San Marino, com a quinta colocação de Pironi. Ali tinha início uma das disputas internas mais ferozes da história da categoria. Na luta para ficar à frente do inimigo de equipe, os limites do frágil carro da escuderia foram ultrapassados. Resultado: no ano seguinte, Villeneuave perderia a vida num bárbaro acidente nos treinos para o GP da Bélgica, em Zolder. Meses depois, Pironi fraturou as duas pernas durante os treinamentos para o GP da Alemanha. No Youtubeum vídeo que mostra Nelson Piquet prestando socorro ao colega acidentado. Só para informação, Piquet seria o campeão de 1981. Foi a primeira de suas três conquistas.

Voltando à atual temporada, é certo que o regulamento provocou uma revolução nos carros. Por ter disputado o título do ano passado até os últimos metros, a Ferrari acabou atrasando o desenvolvimento do novo protótipo. Mas não há desculpas que justifiquem tamanho fiasco. A equipe está lembrando os piores momentos da era pré-Schumacher, quando tinha ao volante barbeiros como Ivan Capelli, Jean Alesi e Nicola Larini (à direita), entre outros "braços". O time italiano promete reação. Na Espanha, estreará a sua versão do difusor, a peça chave da categoria em 2009. Resta saber se haverá tempo para uma reação. Tudo indica que não. Mas, pelo menos, uma boa notícia. Com Massa andando lá atrás nossos ouvidos serão poupados dos berros estrionicos do Galvão Bueno. Como se vê, nem tudo está perdido.

Qualquer semelhança será mera coincidência?
O ano é 2002. Na última rodada o Santos garante vaga entre os oito times que disputarão a fase final do Brasileiro. A classificação veio no saldo de gols, graças a uma goleada do Gama no Coritiba, que lutava pela vaga com o alvinegro. O futuro não era animador. Um bando de moleques iria enfrentar o São Paulo, time de melhor campanha da primeira fase. Com atuações inesquecíveis da dupla Diego e Robinho, então com 17 e 18 anos, respectivamente, despachou o time do Morumbi e rumou para um título que há 18 anos não via. Estamos em 2009. Dessa vez, o campeonato é o Paulista. Como há sete anos, o Santos se classificou no limite, aos 42 minutos do segundo tempo de um jogo contra a Ponte Preta. Como em 2002, iria encarar o melhor da fase anterior, nesse caso o Palmeiras. Em vez de Diego e Robinho, Paulo Henrique e Neymar, 19 e 17 anos, que comandam o show e acabam com o sonho do bi verde. Para completar, o adversário da final será o mesmo Corinthians de 2002. Daqui a dois domingos, saberemos se a história se repetirá...

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

terça-feira, abril 21, 2009

Vitória sobre a LDU para se apegar à calculadora e mudar de assunto

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Na penúltima partida pela fase de classificação da Libertadores da América, o Palmeiras venceu a LDU no Palestra Itália por 2 a 0, placar do segundo tempo. Depois do empate diante do Sport na semana passada, o time foi para sete pontos, e fica na segunda posição do grupo até amanhã, quando os pernambucanos enfrentam o Colo Colo em Recife. O resultado praticamente eliminou a atual campeã do torneio.

Depois de um primeiro tempo fraco, o time da casa achou um gol em um lance estranho envolvendo o goleiro Cevallos e o zagueiro Marcão, autor do tento, logo aos 3 minutos. A trombada pareceu falha, mas o arqueiro saiu contundido.

Diego Souza, mais lúcido depois da lambança do fim de semana, teve atuação razoável, fez o segundo gol aos 37. Keirrison perdeu pelo menos três chances de gol. Lenny só correu, ainda não entendi por que é a primeira opção de ataque do treinador na ausência de Willians.

Com a vitória, são mantidas as esperanças alviverdes na Libertadores como forma de não tornar o primeiro semestre catastrófico. A desclassificação do Paulista é da vida, acontece. A eliminação na fase de classificação do continental é bem mais complicado.

Então, calculadora na mão. Se o time de Nelsinho Baptista perder em casa para o Colo Colo, o que é pouco provável, o Palmeiras precisará vencer os chilenos em Santiago e torcer para que a desclassificada LDU impeça uma vitória ampla do Sport que reverta o saldo de gols. Em caso de empate ou vitória do tetracampeão pernambucano amanhã, o Verdão dependerá apenas de si para ter a vaga – de si é jeito de falar, depende de o ataque funcionar, a defesa não dormir, da providencia divina e do imponderável.

Se minhas contas estiverem certas, o melhor para os palmeirenses é torcer pelo rival brasileiro amanhã. Ou não assistir ao jogo e refazer as contas depois.

"De novo?", quatro vezes

O primeiro repeteco visto na partida foi a formação tática, o retorno ao 3-5-2 ao entrar em campo, e mudança no segundo tempo, tirando o lateral-direito Fabinho Capixaba. Foi o único dos "de novo?" sem um fim trágico.

Quem entrou para pôr o time para frente foi Marquinhos, protagonista de uma falta em Bolaños. O equatoriano revidou com uma cabeçada que por pouco não vira o segundo pega-pra-capar em dois jogos consecutivos no Palestra Itália. Ambos foram expulsos. Segunda quase repetição, desta vez de sábado.

Com Marquinhos fora, Luxemburgo não queria correr riscos, e tratou de recompor a zaga deixar a retaguarda com Sandro Silva. O lateral/volante passou cinco minutos em campo até avançar pela esquerda, ser derrubado e cair de mau jeito, deslocando o ombro. Foi diferente, mas também em um tombo que Edmilson fraturou o cotovelo. Triste semelhança.

Quatro minutos depois, ao marcar o segundo gol do Palmeiras, Diego Souza saiu feliz e contente. Tirou até a camisa para festejar o que poderia ser a forma de evitar a fama de mau. E levou cartão amarelo como Wilson e Kleber já na mesma competição. Seguiu passos para um lado não muito astuto.

segunda-feira, abril 20, 2009

Luxemburgo, o ilusionista, e a hipocrisia da mídia esportiva

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Tem certas coisas que acontecem com tanta frequência no futebol que dá até desgosto de comentar. Mas é necessário. No sábado, depois de sofrer nova derrota para o Santos, o técnico do Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo, como não tinha motivos para reclamar da arbitragem e teria (se algum repórter perguntasse) que justificar o resultado e a atuação do seu time, quis mudar o foco. Como fez o presidente da Lusa (aliás, cadê a punição para o dirigente?), acusou dizendo que não estava acusando, e culpou Vágner Mancini por ter colocado Domingos com a única intenção de cavar a expulsão de Diego Souza.

De repente, hoje, no Globo Esporte, o comentarista e ex-dublê de meia-atacante Caio Ribeiro diz que o culpado pela confusão foi unicamente Domingos,e  o apresentador engraçadinho bradou que ninguém ali iria ser "hipócrita" culpando o atleta palmeirense, justificando que Diego Souza "tinha sentimentos". Bastante curioso. A Vênus Platinada faz campanhas em prol da "paz nos estádios", mas justifica agressões físicas como algo que vem de alguém que "tem sentimentos". Provavelmente, quem pensa assim deve ter saudades da época em que maridos matavam esposas e eram absolvidos por terem agido em "legítima defesa da honra". Diego Souza, para estes verdadeiros hipócritas, agiu da mesma forma, o que valida sua reação destemperada após a expulsão.

Mas o que impressionou foi que a atitude do meia, de voltar e agredir Domingos, foi saudada e aplaudida pela torcida alviverde. Uma das imagens televisivas mostra um garoto de uns 11 anos vibrando como se fosse um tento do seu time, algo simplesmente pavoroso. E essa imprensa, que acha mais grave a provocação de Edilson com embaixadas do que a voadora de Paulo Nunes na decisão do Paulistão de 1999, é a mesma que culpa as organizadas - só elas - pela violência dentro e fora dos estádios. Para esses jornalistas, uma provocação verbal, dessas que acontecem a partida inteira, é mais merecedora de punição do que um soco ou um pontapé. Aliás, Madson saiu do jogo de sábado acusando defensores palmeirenses de terem o ameaçado mais de uma vez, inclusive de "jogá-lo na arquibancada" se continuasse fazendo "firulas" (alguém duvida que pela diferença de portes físicos isso seria possível?). E aí, quantas expulsões teríamos por "provocação" no jogo?

Curioso da história é que o mesmo Luxemburgo é quem disse que a arbitragem estava "protegendo" Neymar, porque qualquer em "encostão" era marcada falta. A propósito, será que nenhum atleta do Palmeiras tentou intimidar o menino como fez Domingos com Diego Souza? Mas, para falar isso, talvez Luxa não tenha visto as cotoveladas que o menino tomou, por exemplo, contra o Rio Branco pela Copa do Brasil. De novo, fica claro que bater, pode, xingar... nossa, que grave!

O futebol tem se tornado mais sem graça e mais violento por conta de gente como o tal técnico que muda de conceito ético literalmente de acordo com a camisa, e que é tido como "ofensivo" (em termos táticos, claro), mas que pelo jeito gosta de verdade é de embate físico no futebol. E culpa também da imprensinha que apoia e vai na onda do dito cujo. A torcida - quase todos que vão ao estádio, e não só as organizadas - já estão pegando o gosto pela apologia à violência em São Paulo, e os tais 5% para o vistante só vão perpetuar esse estado de coisas. Enquanto vemos brincadeiras e galhofas no Maracanã, na final da Taça Rio, em São Paulo a preocupação é com o quebra-pau durante e após as partidas. Talvez falte praia a São Paulo. E os cartolas bandeirantes sejam menos, mas muito menos, sérios do que se acredite.

*****

Outro fato risível ainda é o comandante do Palmeiras evocar o "histórico" de Domingos. Não, ele não estava falando do estilo agressivo do atleta, mas sim do fato de o zagueiro ter "provocado" a expulsão de Adriano no clássico do Paulista de 2008 contra o São Paulo. Bom, se o árbitro fizesse ponderações sobre "histórico", o que dizer de Diego Souza e suas expulsões? Por exemplo, contra a Ponte Preta em uma final ganha no ano passado, sendo excluído em seguida contra o Coritiba? Foi julgado por expulsão também na partida contra o Bragantino este ano e não vou continuar contando seus cartões vermelhos porque será improdutivo, além das vezes em que poderia ter sido expulso e não foi. O post vai ficar muito longo.

Corinthians: vitória para dar moral

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

E a final será alvinegra. O Corinthians e Santos ignoraram as melhores campanhas e vantagens trazidas por Palmeiras e São Paulo nas semi-finais do Paulistão e despacharam os rivais com vitórias categóricas, em casa e fora dela.



O Timão foi a Morumbi com os mesmos três atacantes do jogo anterior. No entanto, Dentinho e Jorge Henrique atuaram mais próximos do meio campo, ajudando muito na marcação – especialmente Jorge Henrique, que tinha por missão acompanhar o lateral Júnior César. Isso reflete a opção tática de Mano Menezes: se o time escalado era o mesmo, a postura era um pouco diferente, e o contra-ataque foi a principal arma. O São Paulo, por sua vez, precisando do resultado, colocou Dagoberto no time e foi para cima, com ele, Hernanes e Jorge Wagner trabalhando as jogadas para a conclusão de Washington e Borges.

Com isso, a bola passou muito tempo perto da área corintiana. Mesmo assim, pode-se dizer que o São Paulo perdeu apenas duas chances claras de gol no primeiro, uma com Washington (que chutou fraco) e outra com Jorge Wagner (que errou o gol). Outras chegadas foram travadas pela zaga. Isso não que dizer que a etapa tenha sido fácil para os alvinegros – que tiveram sua melhor chance em boa bola enfiada por André Santos para Ronaldo, que chutou para defesa de Bosco. Foi um jogo tenso, pegado e extremamente perigoso para os corações corintianos.

Na volta do intervalo, o São Paulo deu mostras de que estava disposto a resolver o jogo: perto de um minuto e Borges cabeceou no travessão de Felipe. Antes dos três, Jean mandou chute perigoso de fora da área. A pressão se manteve até os 10 minutos, quando Douglas puxou um belo contra-ataque, tocou para Ronaldo na esquerda que inverteu lindamente o jogo para Jorge Henrique. O baixinho chutou na trave e ela voltou nos pés do camisa 10, que só empurrou para o gol. No agregado das duas partidas, 3 a 1 Corinthians e a Fiel extravasou a tensão da primeira etapa.

Dois minutos depois, o alívio se transformou em festa: novo contra-ataque, lançamento perfeito de Christian para Ronaldo que ganhou na corrida (!) de Rodrigo e tocou com classe para liquidar a fatura. Mano Menezes disse que brincou com o atacante depois do gol: "Que velocidade, hein, Gordo!"



Precisando de três gols para virar o jogo, o Tricolor se perdeu. Não conseguiu mais pressionar e o Timão começou a tocar a bola com tranqüilidade, cozinhando o proverbial galo. A facilidade gerou ainda mais duas ou três chances claras de gol para o Alvinegro, uma delas desperdiçada claramente por Douglas, mas foi o bastante para a Fiel gritar Olé em pleno Morumbi.

Os jogadores

Christian e Elias fizeram novamente boas apresentações, dessa vez mais presos na marcação. Chicão segue quase impecável e corrigiu alguns lances de William, que é lento. Felipe defendeu bem quando exigido e não comprometeu. Jorge Henrique também cumpriu função tática importante e fez o que dele se espera no primeiro gol – um atacante veloz e definidor, não um cai-cai pouco funcional.

Os destaques ficam para os autores dos dois gols. Ronaldo se mexeu bastante, abriu opções e teve duas chances claras de gol. Uma, botou pra dentro. Douglas fez uma grande partida, talvez a melhor do ano, e não só por conta do gol. Distribuiu o jogo e errou menos passes, arriscando algumas enfiadas boas.

Mano Menezes mandou a campo o melhor time que tinha e conseguiu um bom resultado. Teve sucesso em anular as principais jogadas do São Paulo, mas se arriscou a levar gols ao atrair tanto o adversário. A diferença, pelo menos na minha impressão sobre o jogo, é que em nenhum momento, mesmo quando pressionado, senti que o Corinthians não tinha como agredir o adversário. Pareceu um time mais coeso, com mais noção do que cada um devia fazer em campo. Isso não muda o fato de que, se Borges tivesse acertado aquela cabeçada no início do segundo tempo, talvez eu estivesse aqui pedindo a cabeça da besta. Como dois contra-ataques funcionaram, elogio o bestial treinador.

Final alvinegra

Segundo consta, o Corinthians NUNCA ganhou uma final relevante do Santos – a exceção é a final da gloriosa Copa Bandeirantes, que se bem me lembro foi um sonoro 6 a 3, de óbvia irrelevância histórica. Não são tantos confrontos assim: nove, segundo o Lance, incluindo aí quatro Paulistas (1955, 1962, 1968 e 1984), dois Rio-São Paulo (1963 e 1966), um Brasileiro (2002), um tal de Torneio Nacional (1996) e a tal da exceção já citada.

Se na história a supremacia peixeira é pra lá de ampla, no campo, o jogo é equilibrado. O Corinthians é um time mais montado, com jogadores que se conhecem a mais tempo, o mesmo técnico e filosofia de jogo. O Santos se construiu durante o torneio, a partir da chegada de Vagner Mancini, e vem crescendo muito.

O fato dos atletas se ajoelharem no gramado no final do jogo de sábado me deixou até preocupado com a motivação do pessoal, que poderia desequilibrar. Aí, no domingo, boa parte dos corintianos ficaram em campo também, comemorando com a torcida. Fiquei mais tranqüilo quanto ao fator anímico da peleja. Na bola, espero um jogo lá e cá, bem jogado, e nenhum resultado é impossível. Mas só pra registrar o óbvio, eu acredito no Corinthians.

domingo, abril 19, 2009

Arruaceiros no catecismo, maconheiros no exército

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

No vestiário do Sesc Pinheiros, dois barrigudos dividem o banco, em momentos diferentes de suas manhãs. Um já nadou e expõe o fruto da manguaça fora do cinto. O outro, esconde a barriga com uma sunga. Enquanto isso, meia dúzia de moleques fazem a esbórnia batendo portas de armário, embora ficasse longe de danificar o equipamento. Um dos pançudos começa a palestra:

– É sempre igual, criança faz uma bagunça...
– Só tem que aparecer um bagunceiro que entram todos.
– Nada muda a natureza...

Diante de uma profunda conclusão de sentido absolutamente obscuro, a conversa poderia ter acabado, mas a pausa retórica durou mais ou menos o tempo de se ler essa frase.

– Queria ver é se eles faziam isso na casa deles... Queria ver é o pai e a mãe desses moleques deixarem barato. Esse negócio de não cuidar do que é de todo mundo não tá certo.
– O pior é que os pais não faziam nada, só passam a mão na cabeça. Isso só vai se resolver no exército, aí é que tomam jeito.
– É nada! Os que vão para o exército viram tudo maconheiro – discordou abotoando a camisa.
– Melhor maconheiro que ladrão – devolveu inacreditavelmente o da sunga preta sem discordar do maior absurdo dito até então.

Então, o manguaça vestido começou a dissertar sobre como o suposto maconheiro acabaria por se transformar no citado ladrão para sustentar o vício ou sei lá o quê.

Enquanto terminava por falta de novos delírios uma conversa continuei tentando entender como a coisa tinha chegado até ali. Mas começava outro papo, agora entre a criançada. Um dos guris, o mais espivetado, vira para o outro:
– Ô! Você não faz catecismo aqui nessa igreja atrás?
– É.
– Sabia que te conhecia – e jogou as coisas do outro no chão.