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Trecho inicial da crônica "Os bares morrem numa quarta-feira", de Paulo Mendes Campos (1922-1991), que dedico a todos os saudosos do Bar do Vavá e de outros "fóruns adequados" extintos pela sanha capitalista:
Um amigo de Kafka conta que este arquitetava o seguinte: um homem desejando criar uma reunião em que as pessoas aparecessem sem ser convidadas. As pessoas poderiam se ver ou conversar sem se conhecerem. Cada uma fariao que lhe aprouvesse sem chatear o próximo. Ninguém se oporia à entrada ou à saída de ninguém. Não havendo propriamente convidados, não se criariam obrigações especiais para com o anfitrião. E o espinho da solidão doeria mais ou menos.
É possível que Kafka não haja escrito esta alegoria por ter percebido que a mesma já existia corporificada sob a forma de cafés, restaurantes e bares. Mas o episódio pode levar-nos a considerar com súbita estranheza o mil vezes conhecido: os bares já eram kafkianos quando surgiram no mundo. Ou este, o mundo, é que foi o primeiro bar, quando se encontraram duas criaturas desconhecidas, e a mulher, buscando comunicação, ofereceu ao homem uma fruta. Naquele Garden Bar principiaram os equívocos. Foi o primeiro ponto de encontro. E não durou muito.
Pois os bares nascem, vivem, parecem eternos a um determinado momento, e morrem. Morrem numa quarta-feira, como diria Mário de Andrade. O obituário dessas casas fica registrado nos livros de memórias. Recordá-los, os bares mortos, é contar a história de uma cidade. Melhor, é fazer o levantamento das cidades que passaram por dentro de uma cidade. (...) O curioso é que os bares do presente, por seus serviços e sua frequência, podem merecer até o nosso entusiasmo, mas não recebem jamais o nosso amor. O bom freguês só ama o bar que se foi. Só na lembrança os bares perdem suas arestas e se sublimam.
Um bar que se foi, mas que não sai da memória: bebendo vodka com tubaína, eu ouvia do João a descrição de mais um lance magistral de Pelé