Destaques

sábado, outubro 23, 2010

Pelé 70 - mais palavras para definir o indefinível

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Por algum tempo, em minha vida de torcedor, escutar o nome de Pelé não era algo bom. Santista desde que soube que a bola é redonda, ia aos estádios quando criança e depois adolescente, em anos amargos de fila, e escutava a torcida adversária gritando sempre a mesma coisa: “Pelé parou, o Santos acabou”. Aquele camisa Dez que eu nunca tinha visto jogar ao vivo era motivo de orgulho, mas também era um fardo, uma sombra que pairava sobre todo meia que vestisse o manto alvinegro. Qualquer outro time grande podia ter um meia ou um dez qualquer, o Santos não. Todos eram, em algum momento, comparados com o Rei. Os atletas sofriam, o torcedor sofria. E eu seguia incomodado por dizerem que um jogador podia ser maior que o meu clube.

O tempo passou e fui conhecendo mais a obra de Pelé e vi que, para alguns, era crível pensar que ele fosse maior que um time. Que fosse maior que a seleção brasileira ou que fosse, na verdade, maior do que o próprio esporte que praticava. Afinal, o que justificaria ele ser famoso até mesmo em lugares onde não se conhece a lei do impedimento ou se saiba o que é um escanteio, como nos Estados Unidos? Só de ver jogadas do Rei nota-se, e isso é claro mesmo para os que ignoram o futebol, que se trata de muito mais do que um simples atleta. Assistir alguns segundos de suas atuações é contemplar um artista genial, daqueles que impressionam os sentidos ainda que não se entenda exatamente o que é a sua arte. Em campo, era a tradução da transcendência.

No entanto, a comparação sobre quem ou que é maior não faz sentido. Santos e Pelé, encontro que só a metafísica poderia justificar, nasceram um para o outro. Juntos, ambos fazem sonhar até hoje. Aquele menino que veio de Bauru pelas mãos de Waldemar de Brito chegou a um time que era bicampeão paulista, em uma época em que o estadual era o torneio máximo. Tinha Jair Rosa Pinto, Zito e Pepe, jogadores que o futuro Rei admirava. Logo se enturmou e foi estrela maior em meio a uma verdadeira constelação. Se fosse para outro lugar, certamente não brilharia tanto tão cedo.

O futuro na Vila Belmiro ainda lhe daria seu maior parceiro, Coutinho, com quem, segundo os dois, se comunicava com o olhar. As tabelinhas, nunca treinadas, surgiam naturalmente. A seleção brasileira foi outro casamento perfeito, onde pôde conviver com gerações distintas de craques que incluíam Didi, Nílton Santos, Gérson, Tostão... E Garrincha, outra combinação sem igual que nunca viu uma derrota com a amarelinha.

Pelé foi Rei, numa época em que os brasileiros, na bola, eram soberanos em todo o mundo. Encantávamos pela técnica, pela habilidade e pela capacidade de vencer quase que nos divertindo. A jogada do quarto gol do Brasil na final da Copa de 70, com oito jogadores tocando na bola em pouco mais de 30 segundos, é a síntese de como o país impressionava o planeta. No lance, o passe de Pelé para o companheiro de Santos e da seleção, Carlos Alberto, sem olhar, é sinal de uma inteligência sem igual com a bola nos pés.

Por isso, Pelé e o futebol que ele representa serão eternos. Seu nome, adjetivo que se tornou no dia a dia sinônimo de perfeição, sempre estará presente quando alguém vir um gol bonito e disser, de forma profana, que é um “gol de Pelé”. Ou na alegria de um garoto que na pelada da rua, mesmo sem nunca ter visto o Rei jogar, vai reivindicar a autoria de um tento como se majestade também fosse. Hoje, parabéns e obrigado àquele que, se não tivesse existido, talvez não nos permitisse que ainda teimássemos em sonhar com o jogo bonito, bem jogado e que é patrimônio genuíno do nosso país. O futebol agradece a seu filho – e também pai – maior. 

Ah, sim, hoje ouvir que sou "viúva do Pelé" não me incomoda nem um pouco. Afinal, se a bola é, porque eu, fã de futebol, não seria?

Mais Pelé no Futepoca:

Campanha repulsiva afugenta até eleitor tucano

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É natural que muitos dos leitores do Futepoca nos "acusem", nos comentários, de ser "petralhas" e de só defender o governo Lula, o PT e suas candidaturas. Deixamos bem claro, no "Quem escreve", que, em nosso coletivo de nove jornalsitas, "na política, sem tanta homogeneidade, todos pendem para a esquerda". Porém, justamente pela sinceridade, transparência e coragem de assumir um determinado posicionamento, muitas das reflexões, observações e/ou opiniões políticas de nossas postagens são desqualificadas e ironizadas, mesmo quando procedentes. Chego a pensar que, só se alguém aqui fosse eleitor do PSDB ou simpatizante dos tucanos, alguns desses textos iriam adquirir, para uma parcela dos leitores, maior "credibilidade".

Vai daí que, navegando pela internet, encontrei o blogue de um tucano assumido, o jornalista Paulo Nogueira (foto), ex-editor assistente da Veja, editor da Veja SP, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora Abril e diretor da Editora Globo. No post "A tomografia da fita crepe", ele resumiu, sem condescendência: "A campanha de Serra é repulsiva, e acabou por afugentar do PSDB gente que, como eu, tradicionalmente opta pelo partido". O texto é tão lúcido - e isento - que resolvi transcrever na íntegra:

Alguém se surpreendeu com as últimas pesquisas, que parecem consolidar a caminhada de Dilma rumo ao Palácio do Planalto? Eu não. A campanha de Serra é repulsiva, e acabou por afugentar do PSDB gente que, como eu, tradicionalmente opta pelo partido.

O episódio (...) no Rio é apenas mais um de uma lista de pequenas trapaças de Serra. Ele é provavelmente a primeira pessoa no mundo a fazer tomografia por receber uma fita crepe na cabeça. O médico que o atendeu disse, constrangido, que o exame acusara o que todo mundo já sabia. Não havia problema nenhum.

Serra aproveitou para fazer fotos no hospital, em meio a extemporâneas e descabidas declarações de paz e amor hippie. “Não entendo política como violência”, disse ele. Serra entende política como uma forma de triturar todo mundo para chegar à presidência. O melhor quadro do PSDB para suceder FHC era Pedro Mallan, que foi sabotado de todas as formas por Serra.

Serra quer muito ser presidente. O problema é que os brasileiros não querem que ele seja. Em farisaísmo, a tomografia da fita crepe equivale à célebre frase de Monica Serra segundo a qual Dilma é a favor de matar criancinhas. Não conheceríamos a capacidade de jogar baixo de Monica se um repórter não estivesse presente para registrar a ação maldosa da candidata a primeira-dama.

Dilma deve ganhar menos pelos seus méritos e até menos pelo apoio do Lula do que pelos vícios da campanha vale-tudo de Serra. Ele tem que sair de cena para que o PSDB se renove.

É possível que ele arraste Aécio na queda, agora que repousam sobre o mineiro as esperanças de operar uma reviravolta. Dilma bateu Serra no primeiro turno em Minas, e Aécio disse que vai mudar isso. Faz alguns mandatos já que quem ganha em Minas leva a presidência, e por isso as esperanças se reabriram. Só falta Aécio combinar com os mineiros.

A última pesquisa mostra que a distância de Dilma sobre Serra em Minas se ampliou em vez de diminuir. Serra talvez possa culpar Aécio se a virada não aparecer, e assim prosseguir, como um interminável Galvão da política, mais alguns anos em sua louca cavalgada rumo à presidência, num titânico duelo de vontades contra os brasileiros.

O desespero machucando o coração (4) - OU o Serra 'de esquerda' e os siris azuis

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O ridículo da mídia tucana não conhece mesmo limites. Depois de enfiarem uma foto do José Serra no encarte de um CD do Chico Buarque, de pagarem uma vidente pra dizer que Dilma Rousseff vai brigar com Lula, de esconderem a fundação do PT e apagarem suas bandeiras numa foto, e de - cúmulo do absurdo - tentarem justificar uma bolinha de papel ou fita isolante como "agressão violenta" (ver post abaixo e a denúncia da farsa aqui), a imprensa pró-PSDB achou neste sábado mais uma forma inacreditável de tentar influenciar possíveis incautos. Dessa vez, apelaram até para o reino animal...

Na impossibilidade de "contratar" o polvo Paul, sensação da última Copa do Mundo por acertar todas as escolhas que "fez", o Diário de S.Paulo (que em 2009 passou das mãos das Organizações Globo para o empresário J.Hawilla) traz hoje, como manchete de capa, "A voz do polvo". Temendo pelo pior, folheei um exemplar na banca até a página 3, onde uma materinha nonsense explicava que o "genérico" polvo Paulo, do aquário de Ubatuba, litoral de São Paulo, foi "consultado" para escolher entre Dilma Rousseff e José Serra. O texto diz que, abaixo da foto de cada presidenciável, foi colocado um siri azul (o grifo é nosso), como primeira refeição do dia para o polvo.

O jornal observa que a "experiência" foi "capitaneada" pela bióloga Carla Beatriz Barbosa. Já prevendo o resultado, fui até a página 7 e constatei, sem surpresa, que o polvo escolheu José Serra. Assim que soltaram o bicho, ele preferiu se alimentar do siri azul (mais um grifo nosso) que estava sob a imagem do nefasto candidato. Diz o "panfletário" texto: "Em nenhum momento ele titubeou. (...) 'Tucaneou' convictamente". Detalhe: sem motivo aparente, a imagem de Serra foi colocada à esquerda (festa de grifos) do polvo. Sinal de que, à confirmar a inclinação natural de direção, podemos supor que ludibriaram o pobre animal com a foto errada.

No mais, que triste observar que o debate político e os projetos nacionais, nessas eleições, foram transformados em dogmas religiosos, bolinhas de papel, rolos de fita crepe, polvos de aquário e siris azuis. PSDB (e mídia tucana) é isso aí.

quinta-feira, outubro 21, 2010

José Serra e o atentado da bolinha de papel

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Nesta quarta-feira, dia 20, um atentado vitimou o candidato tucano a presidência da República José Serra. Durante uma caminhada no Rio de Janeiro, a entourage do nobre estadista – formada em boa parte, segundo relatos, de seguranças grandalhões – entrou em conflito com representantes da horda de bárbaros famélicos que vêm para destruir a cultura e a civilização (by Laerte) que atende pelo nome de Partido dos Trabalhadores. Na confusão, um dos bárbaros atingiu Serra na cabeça com um objeto terrível, uma arma dos novos tempos. O ataque, que provocou imensa comoção nos meios de comunicação, levou o candidato a suspender sua agenda.

Os dados não são conclusivos, mas de acordo coma trajetória feita pelo projétil e pela reação do nobre candidato demonstradas nessa reportagem do SBT, tratava-se de uma BOLINHA DE PAPEL. Veja no vídeo abaixo, aos 34 segundos.

Outro momento digno de nota acontece a 1 minuto e 6 segundos: Serra recebe um telefonema, cerca de vinte minutos depois do ataque, e, ato contínuo, começa a sentir-se mal por conta do selvagem golpe desferido pelos monstros petistas. O candidato foi levado até um hospital, onde o médico Jacob Kligerman explicou que o golpe havia sido na região occitoparietal (se eu ouvi direito), mas que não houve ferimento aparente. Serra foi submetido a uma TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA para evitar complicações. Ufa!


(Vídeo via blog do Luís Nassif)

quarta-feira, outubro 20, 2010

Registros atrasados

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São notícias que aconteceram já há alguns dias, mas como ainda não haviam passado pelo Futepoca, simbora registrá-las.

Já há dois times garantidos na Série B do Campeonato Brasileiro em 2011 (e não estou falando do Grêmio Prudente). Tratam-se de Ituiutaba-MG e Salgueiro-PE.

Ambos triunfaram em mata-matas concluídos no final de semana.

A classificação das duas equipes é das mais surpreendentes. Analisemos caso a caso. O Salgueiro, de Pernambuco, é profissional apenas desde 2005 - ou seja, é um time mais novo do que Grêmio Barueri/Prudente e Ipatinga, que estiveram na elite nacional há pouco tempo e foram tão criticados por roubarem o espaço de clubes mais tradicionais, como Bahia, Santa Cruz, Remo e outros.

No caso do Salgueiro, a situação se acentua porque o time pernambucano despachou um "tradicional" dentro de campo - o clube derrotado no mata-mata derradeiro foi o Paysandu. Tal qual um Boca Juniors de 2003, o Salgueiro foi mal em seus domínios (1x1) e arrebentou o Papão da Curuzu em plena Belém (3x2).

Já o Ituiutaba, embora mais tradicional, é também um time pequeno. Como tantos de porte igual, tem uma trajetória de ioiô no campeonato estadual, conseguindo acessos e descensos no Mineiro com frequência. Um desses rebaixamentos ocorreu logo neste 2010, um ano após o time alcançar as semifinais do estadual. E aí, no ano em que o time cai em nível estadual, sobe na escala nacional. Curioso, no mínimo.

Os outros confrontos da Série C serão decididos no final de semana. Macaé e ABC jogam pelo empate contra Criciúma e Águia-PA, respectivamente.

Quarta
Descendo um degrau, a Série D já tem seus quatro "vencedores" definidos: América-AM, Madureira-RJ, Araguaína-TO e Guarany-CE estão promovidos para a Série C de 2011.

Agora, duelam para ver quem fica com a taça. Araguaína x Guarany e Madureira x América são os confrontos das semifinais, que começam no dia 23.

Segunda
Invertendo a lógica, fecho o post para falar da Série B nacional. Coritiba e Figueirense estão praticamente promovidos, Bahia e América-MG estão próximos do acesso; mas o registro a ser feito é sobre a mudança de cidade e nome do Guaratinguetá.

O time do Vale do Paraíba, também jovem, confirmou os rumores que circulavam com força e oficializou sua modificação: irá para Americana, e Americana será também seu novo nome. É na cidade que jogará a primeira divisão estadual e a segunda nacional (se não for rebaixado) no ano que vem.

Fui uma das poucas pessoas que até achou legal a transferência do Grêmio Barueri para Presidente Prudente. Meu entendimento, na época, era que o futebol ganhava mais tendo uma equipe competitiva em Presidente Prudente do que em Barueri - Prudente é grande e distante de qualquer outra cidade-sede de um time grande, enquanto Barueri pertence à região metropolitana de São Paulo e, por isso, é meio inviável acreditar que seus cidadãos poderiam deixar de lado um jogo de São Paulo, Corinthians, Palmeiras ou Santos para prestigiar a equipe.

Mas, quando falamos do caso Guaratinguetá/Americana, não há como aplicar essa regra. Porque Americana é sede do tradicionalíssimo Rio Branco, que volta e meia disputa a Série A1 Paulista. Ou seja: além de estragar uma tradição que vinha se consolidando, a modificação ainda não contribuirá para a formação de uma "nova cultura futebolística", até porque ela já existe na cidade.

Sem contar que o seu distintivo (na minha humilíssima opinião) é de gosto pra lá de duvidoso, lembrando mais um brasão de um destacamento do exército dos EUA do que o de um time brasileiro de futebol.

Em um dos últimos jogos realizados em Guaratinguetá, ontem, contra o Icasa, torcedores vaiaram a equipe o tempo todo e chegaram a queimar camisetas durante a peleja.






José Serra: mentira, fraude e falsidade ideológica

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Nesta semana, a guerra de campanhas eleitorais trouxe de volta a polêmica sobre o candidato José Serra (PSDB) ter ou não diploma universitário. Segundo consta, ele sempre se apresentou como "engenheiro e economista", desde os primeiros cargos públicos que ocupou e campanhas eleitorais que disputou. Acontece que Serra nunca concluiu o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Sendo assim, é impossível que tenha qualquer curso de pós-graduação minimamente "validável" - o que levanta suspeitas sobre como teria sido possível dar aulas na Universidade de Campinas (Unicamp), de 1978 a 1983.

Ao abandonar o curso na Politécnica da USP e exilar-se no Chile, Serra teria feito um "Curso de Economia" na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), entre 1965 e 1966, especializando-se em Planejamento Industrial. Parece óbvio que um curso de graduação de dois anos não pode ser formal. Depois disso, fez "mestrado" em Economia pela Universidade do Chile, em 1968, onde seria "professor" até 1973. Em 1974, faria "mestrado" e "doutorado" em Ciências Econômicas na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, sem ter concluído faculdade.

No Chile e nos EUA não é exigido curso superior para fazer pós-graduação, o que não é permitido aqui no Brasil. Além disso, os cursos de pós-graduação que Serra cursou na Cornell não são strictu senso mas lato senso, como os fornecidos pela rede privada brasileira. Resumindo: não valem nada em termos acadêmicos. Bom, mas, no frigir dos ovos, deve-se considerar que, para sua carreira política, ter ou não graduação não faz diferença alguma. O problema é não ter e dizer que tem. E, ao dar aulas no ensino superior (sabe-se lá como conseguiu isso), configura-se crime.

Recentemente, o Conselho Regional de Economia da Paraíba fez interpelação judicial e pedido de enquadramento de José Serra no Artigo 47 do Decreto-Lei 3.688/41, sobre falsidade ideológica e charlatanismo, pelo "uso indevido da qualificação de economista pelo candidato, que não tem bacharelado em economia nem é registrado em qualquer Conselho Regional de nenhum estado brasileiro". O pedido foi endossado pelos Conselhos Regionais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Maranhão, Rondônia e Tocantins, e por dois membros do Conselho Federal de Economia. Porém, o Conselho Federal de Economia nunca se manifestou sobre isso.

Folheando o livro "O sonhador que faz", de Teodomiro Braga (Editora Record, 2002), encontrei a confirmação pela própria palavra de Serra:

(...) Em 1967, apesar de não ter feito graduação, eu entrei na Escola de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Chile, que era chamada Escolatina.

Como conseguiu ser admitido se não tinha graduação em economia?
Eles exigiram que eu fizesse um exame equivalente a todo o curso de graduação em Economia.

(Trehco extraído da página 102)

Um exame? Assim, simples? Sem graduação, como pôde ser admitido como professor pela Unicamp? Dilma Rousseff (PT) foi acusada de não ter mestrado nem doutorado pela Unicamp, e reconheceu isso. O que importa, na verdade, é que ela nunca deu aulas - o que até poderia ter feito, pois tem, pelo menos, graduação. Já José Serra atuou profissionalmente de forma indevida. É uma fraude. Porém, como a Unicamp pertence ao governo de São Paulo, comandando pelo PSDB, qualquer possibilidade de investigação ficará no campo de nossas ilusões. E a imprensa pró-Serra não fará o menor esforço para retirar a pedra de cima desse assunto.

Os times de cada candidato

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A Folha publica hoje "intelectuais" que estariam apoiando um ou outro candidato à sucessão presidencial.


Nesses tempos de campanha, de obscurantismo religioso e intelectual, é bom ver com quem cada candidato anda.

Por isso, a partir da lista da FSP, montei dois times para fazer um racha, sem me preocupar muito com posições Quem você acha que ganha a partida eleitoral? Não preciso dizer para qual vou torcer, né?

Time da Dilma:
Oscar Niemeyer, Chico Buarque, Otto, Fernando Morais, Chico César, Beth Carvalho, Leonardo Boff, Alceu Valença, Hugo Carvana, Gilberto Gil, Frei Betto. Técnico: Lula

Time do Serra:

Hélio Bicudo, Carlos Vereza, Tarcísio Meira, Hector Babenco, Glória Menezes, Ferreira Gullar, Rubens Ewald Filho, Maitê Proença, Nicette Bruno, Fernando Gabeira, Silas Malafaia. Técnico: FHC

terça-feira, outubro 19, 2010

Falar aos pobres

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Acabo de encontrar meu amigo George, brasileiro que vive em Londres. Ele me contou que seus amigos tucanos estão em polvorosa no Facebook. Em plena mobilização, clamam para que todos falem com suas empregadas, com os porteiros de seus prédios, com as faxineiras de suas avós ou com os seguranças e a mulher do cafezinho do trabalho... com toda essa gente aí, para não deixar a Dilma se eleger.

Quer dizer, estão conclamando o pessoalzinho – que fez escola particular e universidade pública, que tem bons empregos, que lê jornal, bem, que, em suma, não é analfabeto – a formar a opinião dos pobres... Na cabeça deles deve passar algo como: “Gente, eles são analfabetos, desinformados, não são más pessoas, mas não sabem o que fazem. Você que ‘trata bem’ e é até meio amigo do seu porteiro, pois fala com ele sobre futebol, não deixe ele cometer essa burrada de ignorante e votar na Dilma, faça ele votar em gente como a gente”.

Está claro que também estão respondendo ao apelo do candidato Serra de que cada um conquiste mais um voto e estão fazendo a parte deles com os pobres mais à mão, aqueles sobre os quais sentem que têm até alguma obrigação de influência. Herança genética dos tempos do cabresto?

Será que essa mobilização confirma a opinião de Maria Rita Kehl de que não há respeito pelo voto do pobre, que aprendeu a votar em causa própria em vez de votar pela causa de seus patrões, aquela exata opinião que lhe valeu a demissão de O Estado de S.Paulo?

Espetada em Serra sobrou até para Boris Casoy

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No Rio de Janeiro, durante o ato de apoio de artistas e intelectuais à campanha de Dilma Rousseff para a presidência da República, o cantor/compositor/escritor Chico Buarque resumiu o motivo de sua opção (o grifo é nosso):

‎- Eu vim aqui reiterar meu apoio entusiasmado à Dilma, essa mulher de fibra, essa mulher que já passou por tudo, que não tem medo de nada, e que, sobretudo, vai herdar o senso de justiça social, que é a marca do governo Lula, governo que não corteja os poderosos de sempre. Porque não é de sua índole desprezar os sem-terra, os professores, os garis. Temos hoje um país que é ouvido em toda parte porque faz de igual pra igual com todos - não fala fino com Washington nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai. E que, por isso mesmo, é ouvido e respeitado no mundo inteiro, como nunca antes na História desse país (risos).

Ou seja, além de botar a carapuça em José Serra, que, em vez de dialogar, criminaliza os movimentos sociais, e que costuma botar a polícia para bater nos professores (além de representar a linha política de submissão a Washington e de prepotência com os países sul-americanos mais pobres), Chico ainda deixou uma espetada sutil no apresentador de telejornal Boris Casoy, que este ano classificou dois garis como "o mais baixo da escala do trabalho" (reveja o vídeo aqui). Abaixo, a íntegra do discurso de Chico Buarque e de Leonardo Boff:

segunda-feira, outubro 18, 2010

Quem orientou esses ignorantes?

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No sábado faleceu o psicanalista José Ângelo Gaiarsa, aos 90 anos. Há oito anos, eu e o companheiro Anselmo fizemos uma entrevista com ele que, logo de saída, nos desafiou: "Vocês vão fazer as mesmas perguntas de sempre para que eu dê as mesmas respostas de sempre ou vamos tentar ir além?".

Tentamos ir além. Não sei se conseguimos, mas o resultado da entrevista se mostra atualíssimo, ainda mais em tempos em que a discussão política se torna tão impregnada por moralismos de ocasião e de religiosidade duvidosa. A entrevista completa está aqui, mas abaixo vão alguns trechos que têm a ver com o momento do Brasil e impressionam ainda mais tendo vindo de um senhor, à época, com 82 anos.

Três argumentos sobre o instinto de cooperação

Vou passar rapidamente por três gigantescos argumentos para provar que o instinto de cooperação é muito maior que o de autodefesa, muito maior que o do sexo. Em primeiro lugar, alguns dos maiores biólogos contemporâneos defendem a idéia de que toda a vida é simbiótica. Os organismos simples foram se juntando e criando organismos cada vez mais complexos. Bactérias foram se unindo, formaram protozoários e assim por diante... Nosso corpo é uma gigantesca colônia de subcolônias. O fígado, os rins, o cérebro, todos são colônias que rendem muito mais funcionando juntos. Uma forma espontânea de cooperação que se aplica aos vários níveis biológicos. Qualquer ecossistema é cooperativo, se você tira três elementos ele se desorganiza completamente.

Uma frase ficou muito marcada para mim, de dois "animantropólogos" - que estudam os homens dado o comportamento animal. Só a espécie humana faz trocas. "Me dá seu marreco porque você tem dois, que eu te dou dois peixes porque tenho três". Os primeiros conquistadores da humanidade foram os pescadores, que iam pelo mundo trocando. A raiz civilizatória é muito mais comercial que guerreira, o que acho muito bonito. Trocas são a essência da economia. O que é a economia de um país senão a soma de todas as trocas que acontecem a cada instante retratadas na bolsa de valores? A bolsa é uma feira instantânea, quantos caminhões de urânio por quantos navios de petróleo. A troca nos uniu completamente. Tudo o que você faz é para os outros, e tudo o que você tem foi feito pelos outros.

Quer prova mais absurda de que nós somos nós, e não eu? Imagine-me, coitado de mim, no meio da floresta amazônica, pelado. Não duro três dias. Então veja como é profundo esse instinto de cooperação, que não é falado. Predomina a frase capitalista: "O homem é naturalmente egoísta", e a lei número um do capitalismo: "se dá lucro, está certo". "Olha, que sujeito sensacional, ficou rico! Era um bandido como o Fleury, roubou até os colarinhos e foi eleito outra vez, e está aí para roubar mais".

Lado sombrio da família 

Por cinquenta dos meus 82 anos, de 6 a 8 horas por dia eu só ouvi queixas familiares. Ninguém conhece o lado sombrio da família melhor que eu. Sinto-me plenamente autorizado a falar mal dela, o que tem de ruim não está escrito. Ela é o eixo do conservadorismo, sim. "Pai e mãe estão sempre certos": isso é o próprio tiranismo à Saddam Hussein. E o pior é que muitas mães e pais acreditam nisso. Embora hoje a garotada mais escolada, mais violenta e mais rebelde, já esteja consertando isso. Mãe, pai e filho num apartamento é uma loucura, muita convivência não funciona. Mais filhos é até melhor que um ou dois, porque dá diversidade de contato. Mas a criança mesmo muito pequena já vai para a escola maternal, creche. Desde pequeno começa a afrouxar essa intensidade de contato, que é a causa das neuroses. Psicanálise quer dizer afrouxar laços familiares. Complexo de Édipo é o que tem nos Jardins, na favela é encrenca de família, mas é a mesma coisa. Todo mundo vive por aqui com a família em particular. Exceto em público, a família da TV no programa da Hebe: "Nossa, eu sou tão feliz, meus filhos são uma jóia" (risos).

Segunda escola de família

Depois de ouvir tudo isso sobre família a solução que eu vejo, idealista - duvido que aconteça -, é uma escola de família. A sociedade deveria ter dois tipos de casamento. A pessoa se casa com quem quiser e vai morar com ela. Se depois de dois anos de convivência o casal achar que está se entendendo, fica autorizado a ter filhos e a juntar bens. Mas para ter filhos é preciso passar por uma educação especial. Dizem que os pais não orientam os filhos, mas quem orientou esses ignorantes? Metade dos pais brasileiros são alcoólatras crônicos, têm quantos filhos quiserem, um exemplo doméstico mortífero, horrível. A família é muito falada, elogiada e em nada cuidada. Na América do Norte isso está começando a brotar. Os cientistas fizeram um boneco que tem todas as necessidades fundamentais do bebê. Ele faz xixi, cocô, quer mamar, chora, esperneia. Quando aparece um casalzinho dizendo querer filhos, leva o boneco por dois meses. Se acharem que está tudo bem acordar no meio da noite, berrando, se fizerem a experiência do bebê dois meses e acharem ótimo podem ter o nenê. Porque um nenê é um inferno, algo que só se descobre quando se tem.

Machões 

Durante muitos anos, morria de inveja dos machões. Era difícil chegar perto das moças pra conversar, o que eles faziam bem. Isso foi até eu saber que eles não faziam nada. Os homens são extremamente monótonos na cama. Em média, são 10 minutos de agrados e 2 de sexo, e isso já é excepcional. E todos sabemos que os machos são absolutamente dispensáveis, já que um homem numa só ejaculação bastava para fecundar todas as mulheres dos EUA. Por isso é que eles precisam se exibir, se mostrar tanto para parecerem úteis. Fizeram todas as guerras assim, homens matando competidores e rivais. E criaram ainda o assalto coletivo, saqueando uma cidade inteira, estuprando as mulheres e levando os que sobraram como escravos. Mas os machos não são grande coisa.

domingo, outubro 17, 2010

Emocionante

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O confronto entre São Paulo e Santos seguia empatado em 3 a 3 até os 47 minutos do segundo tempo, com virada de placar, bolas na trave, expulsão e defesas inacreditáveis dos dois goleiros. Se o juiz apitasse ali, o clássico paulista igualaria em qualidade e placar o Fluminense x Flamengo de 19 de setembro, que também testou a resistência dos cardíacos. Mas eis que Marlos pegou uma bola na lateral e cruzou para Ricardo Oliveira, que fulminou de primeira e obrigou defesa milagrosa de Rafael. Houve rebote e Jean, que já havia perdido dois gols feitos, completou de cabeça e definiu a vitória sãopaulina: 4 x 3. Só por isso, o clássico paulista superou, em emoção, aquele Fla-Flu de setembro. Quem foi ao Morumbi viu um jogaço, na acepção da palavra. (Foto: Rubens Chiri/SPFC)

Quando cheguei em casa e liguei o rádio, o jogo estava no início do segundo tempo. Assim, não ouvi a movimentada primeira etapa, quando o Santos saiu na frente e Dagoberto virou o placar com dois gols; o São Paulo fez mais um e o Santos ainda teve tempo de diminuir para 3 x 2. Daí, lógico, o que se esperava dos 45 minutos finais seria o ótimo e perigoso time do Santos partir para o "abafa" e o São Paulo segurar as pontas e tentar alguma coisa no contra-ataque. Foi o que aconteceu, mas os santistas só conseguiram o gol após a expulsão (justa, segundo os comentaristas) de Richarlyson, jogador que, quando não apanha muito, bate muito. Pouco depois disso, o Santos insistiu mais no ataque até que Alex Silva fez pênalti em Neymar, que converteu e empatou a partida.

Curiosamente, mesmo com um a menos, o São Paulo seguiu levando perigo - e foi premiado no final. Pouco antes do gol de Jean, Rogério Ceni jogou uma bola para escanteio em defesa "impossível", e poderia ter sido o herói sãopaulino, ao lado do goleador Dagoberto. Mas a equipe da Rádio Globo apontou Ricardo Oliveira como o craque da partida, e parece que ele foi mesmo o fator de desiquilíbrio, com assistências e frequentes investidas contra a defesa santista. Alguém chegou a fazer um comentário que achei procedente: "Em forma, o Ricardo Oliveira é outro jogador, imprescindível". Porém, ainda considero o time do São Paulo inferior aos cinco ou seis primeiros na tabela e, apesar das vitórias e da reação no campeonato, é cedo para qualquer avaliação - mesmo porque, com uma ou duas derrotas, o São Paulo pode voltar ao "inferno astral" e clima de crise.

Mas, enfim, dou a mão à palmatória: Paulo César Carpegiani injetou novo ânimo num time que, antes dele, era apático e presa fácil, principalmente em clássicos. Prova do trabalho do técnico é que até Carlinhos Paraíba jogou bem! Quem diria...