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quinta-feira, abril 02, 2009

Precursor do fair play batizou gandulas

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Muitos termos que ainda usamos no meio futebolístico têm origem inglesa, como o próprio esporte. Beque, por exemplo, vem de back, aquele que "volta". Chute, ainda mais óbvio e direto, é shoot (atirar). Mas existem outros termos sem explicação aparente. Um deles, por exemplo, é gandula. Pesquisando, descobri que a palavra deriva do jogador argentino Bernardo Gandulla (foto à direita), contratado pelo Vasco da Gama em 1939. Existem duas versões sobre o assunto: a de que, quando ainda jogava pelo Boca Juniors, corria voluntariamente atrás da bola quando ela saía de campo, para recomeçar a disputa o mais rápido possível. E a de que, impedido de jogar pelo Vasco, mostrava-se prestativo como apanhador de bolas durante os jogos, não só quando a reposição era para o seu time, mas também quando favorecia o adversário - o que configura um curioso caso "ancestral" de fair play no futebol mundial.

Também há duas versões para o fato de não ter jogado pelo Vasco. A primeira, pura e simples, leva a crer que o argentino não agradou nos treinos e não se adaptou ao futebol brasileiro, sendo apartado do elenco. A segunda é mais verossímil, pois Gandulla era considerado um grande meia-esquerda em seu país. Revelado pelo Ferro Carril Oeste em 1934, integrou a famosa linha de ataque chamada de "La Pandilla", ao lado de Además, Maril, Bornia, Sarlanga e Emeal. Porém, ao ser trazido pelo Vasco em 1939, junto com o ponta-esquerda Emeal, teve problema com a legislação da época sobre transferências internacionais. Como não era dono de seu próprio passe e a negociação foi confusa, ficou impedido de jogar. Nesse afastamento, para sentir-se útil, passou a repor voluntariamente as bolas que saíam de campo.

Mesmo com essa frustrada passagem pelo futebol brasileiro, Bernardo José Gandulla foi destaque na Argentina, pois era exímio armador e goleador. Em 1940, transferiu-se para o Boca Juniors, onde marcou 18 gols em sua primeira temporada e sagrou-se campeão argentino em 1940 (conquistaria o título novamente em 1943). Chegou a disputar uma partida pela seleção de seu país e, em toda a carreira, fez 123 gols em 249 jogos. Além do Ferro Carril Oeste, Vasco e Boca Juniors, Gandulla defendeu o rival River Plate, o Auxerre, da Suiça, e o Manchester City, da Inglaterra. Mas também batia um bolão fora de campo: a foto acima reproduz a capa da revista "Cine Argentino" de março de 1941, onde ele "divide" uma bola com a jovem atriz Eva Duarte - ninguém menos que a futura primeira-dama da Argentina, rebatizada como Evita Perón.

Depois de pendurar as chuteiras, treinou as categorias de base do Boca e revelou jogadores como Rattin, Ponce e Monzo, ganhando o apelido de "Maestro". Mais tarde, treinou a equipe profissional em 1957, 1958, 1967, 1971 e 1972. Nascido em 1º de março de 1916, Gandulla faleceu em 7 de julho de 1999, aos 83 anos, em Buenos Aires. Seus restos mortais estão sepultados no Panteon do Boca Juniors, no cemitério de Chacarita. Mas foi imortalizado com a criação do "Trofeo Gandulla", que é dado todos os anos ao melhor jogador argentino. Maradona, por exemplo, o recebeu em 1981.