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Sim, caro leitor do Futepoca. Ao ler este texto, você pode dizer que apelamos para o sensacionalismo. Mas não fomos nós, o título da coluna de Gilberto Dimenstein na Folha OnLine é "Sindicato quer motel em escola."
Ele se refere à greve dos professores da rede pública de ensino, que teve como estopim o Decreto 53037/08, publicado no dia 28 de maio no Diário Oficial do Estado que limita a transferência dos profissionais entre as escolas e prevê aplicação de provas de avaliação de desempenho aos professores temporários. Diz Dimenstein que "o sindicato dos professores de São Paulo decidiu decretar uma greve para evitar que se implementem medidas destinadas a reduzir a rotatividade dos docentes nas escolas públicas --uma das pragas, entre tantas, que explicam a péssima qualidade de ensino. É um caso explícito de greve contra o pobre."
Curioso. Ele fala de "greve contra pobre" como se uma categoria que tem piso de R$ 668 fosse composta por "ricos". E segue: "é impossível oferecer aos mais pobres boa educação com tanta rotatividade de professores e diretores. Tal rotatividade destruiria rapidamente até mesmo as empresas mais eficientes. Há casos, neste ano, de escolas que tiveram até cinco diretores."
A rotatividade é um fato. Quais as causas? São múltiplas, e o decreto do governador não mexe com nenhuma. Ao contrário, mexe para pior, afinal, é sempre mais fácil lidar com os efeitos. Faltam condições de trabalho, segurança, material, as salas são superlotadas... E o problema é ainda pior nas periferias, como mostra matéria que fiz com Brunna Rosa na revista Fórum. O dia-a-dia do educador paulista é refletido em uma pesquisa realizada em 2006 e publicada em 2007 pelo Sindicato dos Professores da Rede Pública do Estado de São Paulo (Apeoesp), em que, dos 684 professores entrevistados, 96% citaram agressão verbal como a forma de violência mais comum nas escolas. Já 88,5% presenciaram atos de vandalismo; 82% viram atos de agressão física e 76,4% casos de furto.
Na prática, o que Dimenstein e o governo do estado querem é apelar para a "vocação" do professor, o chamado "sacerdócio", que obrigaria os profissionais a suportar toda sorte de péssimas condições para permanecer em sala de aula e arriscar mesmo a sua integridade em troca de uma remuneração pífia.
Mas a comparação com motel, dada pela dita alta rotatividade dos profissionais de educação, além de ser expressão do mais puro mau gosto, é ofensiva. Mas tudo bem, pela ótica dele. Professor deve aturar ofensas, afinal, faz parte do "sacerdócio". Enquanto categorias como médicos reclamam, com razão, de falta de condições para trabalhar em hospitais da periferia de São Paulo, locais em que o governo só aparece em situações lamentáveis, os professores devem aguentar calados, sem pestanejar, e ainda serem acusados de querer transformar escolas em motéis. Depois a imprensa grande não quer ser chamada de preconceituosa...