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terça-feira, agosto 25, 2015

Contrato de professora exigia: 'Não beber cerveja, vinho ou uísque'

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Circula na inFernet um "Contrato de Professores" de 1923, mas direcionado exclusivamente às "senhoritas". Um verdadeiro show de machismo (institucionalizado): determina que a tal "senhorita" que assinasse o acordo para dar aulas num período de oito meses comprometia-se a, entre outras barbaridades, "não se casar" (!), "não andar em companhia de homens" (!!), "ficar em casa entre às [sic] 8h da noite e às [sic] 6h da manhã" (!!!), "não passear pelas sorveterias" (!!!!) e "não abandonar a cidade (...) sem permissão do presidente do Conselho de Delegados" (!!!!!). Mas não apenas isso. Também há cláusulas castradoras em relação ao fumo e à manguaça. Confiram:


Se a imagem dificulta a leitura, reforço os itens 6 e 7: "Não fumar cigarros. Este contrato ficará automaticamente anulado e sem efeito se a professora for encontrada fumando" e "Não beber cerveja, vinho ou uísque. Este contrato ficará automaticamente anulado e sem efeito se a professora for encontrada bebendo cerveja, vinho ou uísque". O contrato ainda arrematava: "Não viajar em carruagem ou automóvel com qualquer homem, exceto seu irmão ou seu pai". Se considerarmos que, de qualquer forma, uma professora já era, naquele tempo, mais independente e autônoma que as outras mulheres, fico imaginando as proibições "não escritas" às esposas e donas-de-casa da época. Impressionante.

Ps.: Segundo o leitor Renato, "este contrato é verdadeiro. Esta no livro “Trabalho docente e textos” (edição de 1995 da editora Artes Médicas, na página 68) de Michael Apple, sociólogo estudioso da área de currículo".

quarta-feira, outubro 15, 2014

A história dos que não foram

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O escritor (e saxofonista) Veríssimo
Na crônica “O Evangelho segundo...”, o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo brinca com a hipótese de os Beatles não terem ficado famosos. O que teria acontecido com eles? “Sou almoxarife da prefeitura. Quer dizer, era. Me aposentei. Nervos”, confessaria Ringo. “O que que eu faço? Na verdade, não faço nada. Me recolhi à minha mediocridade. Minha mulher é sócia num curtume. Eu bebo, quer saber? Eu bebo, e penso muito”, desabafaria Paul. O George também teria se tornado um pobretão bebum: “Tenho esta barraca, vou me virando, minha mulher diz que nós estamos quebrados, não sei não. Vai um mel puro?”. E John, no exercício de imaginação de Veríssimo, teria morrido com um tiro na cara, provavelmente em confronto com a polícia.

Porém, na vida real, tem gente que viveu/vive um dilema parecido. Ou quase isso: nove caras tiveram o gostinho de ser um beatle mas, voluntária ou involuntariamente, não prosseguiram na banda. E os motivos vão desde trabalho, estudos ou aposta em outra vocação até convocação para o exército, passando por uma prosaica bebedeira (que desandou em briga e rompimento de relações). E tem também os que apenas alugaram brevemente seus serviços ou foram mesmo chutados dos Beatles. Hoje, alguns levam uma vida de classe média, outros passam dificuldades e houve quem morreu na pobreza. Mas todos, invariavelmente, ficaram martelando no cérebro o que teria sido de suas vidas se tivessem ficado nos Beatles. A eles:

Tocando bateria, aos 75 anos
Colin no tempo dos Quarrymen
Colin Leo Hanton (baterista, 1956/ 1958) – Naquela fase embrionária em que os Beatles se chamavam The Quarrymen (Os Escavadores, em alusão à escola onde estudavam em Liverpool, Quarry Bank High School), Colin foi o primeiro colega de John Lennon a conseguir comprar um conjunto de bateria completo, pois, aos 17 anos, já trabalhava como aprendiz de estofador. Por isso, assumiu o posto na banda, sem concorrentes, por dois anos. Sobreviveu a todos os primeiros integrantes, que sumiram como apareceram (Pete Shotton, Eric Griffths, Bill Smith, Rod Davis, Ivan Vaughan, Nigel Whalley, Len Garry, John ‘Duff’ Lowe), e foi o único que sobrou, no fim de 1958, ao lado de John, Paul McCartney e George Harrison. Mas uma bebedeira estragou tudo. “Deixei os Quarrymen depois de tocar no Pavillon Theatre, em Lodge Lane. A gente tinha bebido muita cerveja durante o intervalo e uma briga começou na volta pra casa, de ônibus. Fiquei furioso, desci do ônibus e eles nunca mais me chamaram pra tocar”, conta Hanton, que passaria as décadas seguintes trabalhando como estofador.

Em 1957: Colin Hanton, Paul McCartney, Len Garry, John Lennon e Eric Griffths

Bebendo cerveja, na Alemanha
Stuart na capa de 'Sgt. Pepper's'
Stuart Sutcliffe (baixista, 1959/ 1960) – Ao entrar no Liverpool Institute, uma escola de artes, John Lennon mudou-se para uma república com três outros alunos de lá, incluindo Stuart Sutcliffe, um pintor talentoso. No final de 1959, Stuart conseguiu vender um de seus quadros em uma exposição. Os Quarrymen, reduzidos a John, Paul e George e rebatizados como Johnny and The Moondogs, viram ali uma oportunidade. “Ter um baixista que não sabia tocar era melhor do que não ter um baixista”, resumiria George. John e Paul convenceram Stuart e ele gastou o dinheiro ganho com o quadro na compra de um baixo. Por quase dois anos, cumpriu a função na banda, embora tocasse muito mal. O perfeccionismo e as críticas de Paul o irritariam ao ponto de largar tudo e voltar a ser pintor. Nessa época, os Beatles estavam em Hamburgo, Alemanha, onde Stuart se matriculou numa escola de artes. Foi lá que, em abril de 1962, quase um ano e meio após ter deixado a banda, morreu de hemorragia cerebral, aos 21 anos. Dizem que foi consequência das pancadas que havia levado na cabeça durante uma briga, após um show dos Beatles.

Hamburgo, 1960: Stuart Sutcliffe, Paul McCartney, George Harrison e John Lennon

No palco, entre John e Paul
Moore, em foto de 1971
Tommy Moore (baterista, 1960) – Depois de “inventarem” um baixista (Sutcliffe), a banda, rebatizada como Long John and The Silver Beatles, tratou de “caçar” um baterista. Brian Casser, líder da banda Cass & The Cassanovas, passou a John o endereço de Thomas Henry "Tommy" Moore, um músico veterano (tinha 28 anos) que trabalhava como motorista de empilhadeira numa fábrica de garrafas. Com ele, a banda seria aprovada num teste feito pelo empresário Larry Parnes, o que garantiu uma excursão à Escócia como acompanhantes do cantor Johnny Gentle. Nessa turnê, a primeira dos futuros Beatles fora da Inglaterra (quando se apresentaram como Silver Beats), a van que os transportava bateu em um carro e um estojo de guitarra voou contra o rosto de Moore, que perdeu alguns dentes. Ele foi hospitalizado mas, na hora do show, o empresário local foi até lá para tirá-lo da cama e o obrigou a tocar bateria. Na volta, sem dinheiro, Tommy ainda tocaria mais cinco vezes com os Silver Beatles, antes de desistir e voltar a dirigir empilhadeiras. Morreria em 1981, aos 50 anos, na miséria.

Maio de 1960: John Lennon, Tommy Moore, Paul McCartney e George Harrison

Baterista serviu exército por 2 anos
Norman e uma garrafa ao lado...
Norman Chapman (baterista, 1960) – Se tem alguém no mundo que seja acirradamente contra o serviço militar obrigatório, deve ser este cara aqui. Quando Tommy Moore ouviu os conselhos de sua noiva e abandonou os Silver Beatles por uma “sólida e garantida” carreira de motorista de empilhadeira, o empresário da banda na ocasião, Alan Willians, decidiu procurar um baterista decidido a permanecer no posto. Ele era dono do Jacaranda Club, em Liverpool, e sempre ouvia alguém ensaiando bateria do outro lado da rua. Um dia foi até lá e conheceu o carpinteiro Norman Chapman, que trabalhava numa loja naquele local e aproveitava o fim do expediente para ensaiar no sótão, por hobby. Ele aceitou prontamente o convite para ser um beatle (ou silver beatle) e, no verão de 1960, tocou com eles em três shows. Mas, quando poderia ter acompanhado a banda na Alemanha, apareceu uma convocação para o National Service, o exército inglês. Serviu por dois anos, no Quênia e no Kuwait. E é claro que os Beatles nunca mais tiveram qualquer notícia sobre ele.

Quando a banda ficava sem baterista, Paul McCartney se encarregava da função

Foto promocional dos Beatles
Best hoje: eterno 'injustiçado'
Pete Best (baterista, 1960/ 1962) – O mais famoso dos “quase beatles”. Logo depois que Norman Chapman largou a banda, surgiu o convite para trabalharem na Alemanha. Foi então que George se lembrou de Pete, filho de Mona Best, dona da boate Casbah. Ele tinha uma bateria nova e tocava eventualmente com algumas bandas no local. Sem opção, foi com ele que a banda seguiu para Hamburgo. Lá, com a saída de Sutcliffe e a efetivação de Paul como baixista, os Beatles assumiram seu nome definitivo e criaram um estilo próprio. Em junho de 1962, já com Brian Epstein como empresário, a banda conseguiu um teste em Londres, na gravadora Parlophone, subsidiária da EMI. Apesar de serem aprovados e contratados, o produtor George Martin reclamou do som da bateria. Foi a deixa para John, Paul e George, que já planejavam substituir Pete (sua fama de “galã” roubava a atenção das fãs e sua mãe, Mona, insistia em se intrometer nos negócios do conjunto). Em agosto, às vésperas da primeira sessão de gravação e à beira da fama mundial, Best foi posto pra fora. Anos depois, trabalhou como padeiro e virou funcionário público.

Cavern Club, 1962: Paul McCartney, John Lennon, Pete Best e George Harrison

Baixista e canhoto, como Paul
Relembrando o tempo de músico
Chass Newby (baixista, 1960) – No fim de 1960, quando os Beatles regressavam de uma de suas excursões a Hamburgo, Stuart Sutcliffe saiu da banda e resolveu morar na Alemanha. Em Liverpool, os Beatles já tinham alguns shows agendados. Pete lembrou-se do baixista Charles “Chass” Newby, com quem tinha tocado no trio The Blackjacks. Ele estava em férias da universidade, onde cursava engenharia química, e tocou por quatro vezes, em dezembro daquele ano, com os Beatles. O curioso é que, apesar de ser um ano mais velho do que Paul, Chass nasceu no mesmo dia que ele (18 de junho) e também tocava o baixo ao contrário, por ser canhoto como McCartney. Como os Beatles tinham que voltar a Hamburgo no início de 1961, John convidou Newby para seguir com eles. O universitário recusou a oferta. “Eu queria estudar química. John, Paul e George queriam ser músicos”, explica o ex-baixista, que tornou-se professor de matemática. “Às vezes as pessoas não acreditam quando eu digo que não me arrependo. Mas realmente não. Eu aproveitei minha vida imensamente”, garante.

George, John e Paul no fim de 1960, quando tocaram com Chass Newby em Liverpool

'Hutch' foi chamado antes de Ringo
Foto atual do baterista do Big Three
Johnny Hutchinson (baterista, 1960 e 1962) – Esse foi “quase beatle” em duas oportunidades, e na última poderia ter se efetivado no cargo. Em maio de 1960, quando o empresário Larry Parnes foi a Liverpool escolher bandas de apoio para seus cantores, Tommy Moore chegou atrasado, quando Long John and The Silver Beatles já estavam no palco. Por isso, a banda precisou emprestar, nas primeiras músicas, o baterista Johnny Hutchinson, de outra banda que aguardava a vez de tocar, Cass and The Cassanovas. Dois anos depois, quando Pete Best foi demitido, o empresário Brian Epstein chegou a oferecer a vaga para “Hutch”, como era chamado, que agora pertencia ao grupo The Big Three. Ele não aceitou. “Pete Best é um amigo meu e eu não podia fazer essa sujeira com ele”, justificou. De qualquer forma, enquanto Ringo cumpria os últimos compromissos com a banda Rory Storm and The Hurricanes, antes de estrear nos Beatles, Johnny Hutchinson quebrou novamente o galho tocando com John, Paul e George (e com The Big Three nas mesmas datas).

Stuart Sutcliffe, John Lennon, Paul McCartney, Johnny Hutchinson e George Harrison
 
Baterista gravou 'Love Me Do'
Andy aponta foto de Ringo Starr
Andy White (baterista, 1962) – Menos de um mês após ter substituído Pete Best na bateria, Ringo Starr teve sérias dúvidas sobre seu futuro nos Beatles. Na primeira sessão oficial na EMI, em 4 de setembro de 1962, quando gravaram “Love Me Do”, o produtor George Martin voltou a torcer o nariz para o som da bateria. Por isso, uma semana depois, a banda foi convocada novamente ao estúdio, para refazer a gravação. E, ao chegarem lá, Martin os esperava com um baterista de estúdio, Andy White, de 30 anos. Humilhado, Ringo participou apenas tocando pandeiro. Para completar, Martin obrigou os Beatles a gravarem, no mesmo dia, uma música “melosa” (e alheia) chamada “How Do You Do It”, por não acreditar que “Love Me Do” tivesse chance no mercado musical. Com seu poder, parecia que, se quisesse, mandaria os Beatles trocarem Starr por White. Mas, lógico, não foi o que ocorreu. Andy seguiu como baterista de estúdio e, nos anos 1980, tornou-se professor de bateria e de gaita escocesa. Chegou a pregar um adesivo com a inscrição “5º Beatle” em seu carro. “Foi um aluno que me deu”, disfarçou.

Andy White visitou os Beatles no set do filme 'Help', em 1965; Ringo não deu as caras

Na turnê de 1964, com John Lennon
Baterista hoje vive recluso, em Londres
Jimmie Nicol (baterista, 1964) – Esse é o que tem a história mais incrível (e triste). No ápice da beatlemania, após conquistar os Estados Unidos, a banda preparava-se para sua primeira turnê mundial quando Ringo Starr foi internado às pressas com amigdalite. Desesperado, o empresário Brian Epstein contemplou a falência definitiva por ter que cancelar a turnê, devolver o dinheiro de ingressos de shows e pagar pesadas multas. Foi quando o produtor George Martin sugeriu o baterista londrino James George Nicol, que havia acabado de tocar em gravações cover dos Beatles. Aprovado em um teste-relâmpago nos estúdios de Abbey Road, Jimmie Nicol seguiu com John, Paul e George para shows na Dinamarca, Holanda, Hong Kong e Austrália, onde Ringo, recém-saído do hospital, reassumiu seu posto. A experiência de ter sido um beatle por dez dias, no período de maior assédio dos fãs e exposição na mídia mundial (1964), mexeu com a cabeça de Nicol. No torturante ostracismo em que caiu depois disso, passou por várias bandas obscuras até largar tudo e viver misteriosamente por décadas, no México. Hoje, aos 75 anos, vive recluso e quase sem dinheiro em Londres.

Três momentos de Jimmie Nicol: 'no topo do mundo', com John, Paul e George,...
....sendo posto 'de lado' pouco depois, enquanto Ringo reassumia o posto nos Beatles,...
...e deixado sozinho no aeroporto, para voltar a Londres, enquanto os Beatles dormiam.

quinta-feira, março 31, 2011

A saída, o percurso, a chegada... e a cerveja!

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No livro "Graça", do premiado escritor mineiro Luiz Vilela (Editora Estação Liberdade, 1989), o personagem Epifânio recorda-se do professor Leitão, da faculdade, que sempre se perdia em digressões sem fim e, confuso, perguntava aos alunos: "Mas onde é mesmo que estava eu?". Às vezes se irritava e dizia que "aos diabos onde é que estava eu! O que importa é onde eu estou agora. Não é mesmo?". Mas a própria justificativa caía por terra: "Mas onde é mesmo que eu estou agora?...". Perdido nesses cacoetes, o professor resolveu, um dia, expor uma curiosa tese sobre tipos de pessoas de acordo com suas preferências em uma viagem.

"Há aquelas pessoas que preferem a saída, praticamente ignorando o percurso e a chegada. Já outras preferem a chegada, mal se dando conta da saída e do percurso. E, finalmente, há aqueles que preferem o percurso, ou seja: para elas o importante é a estrada."
Fez uma pausa.
"Esse terceiro grupo, confesso-lhes, é aquele em que me incluo. E acho mesmo, se me permitem, que são as pessoas desse grupo os verdadeiros viajantes; as outras, as outras apenas se deslocam no espaço e no tempo, apenas saem e chegam; na verdade, elas não viajam. Agora, essas pessoas que falei, não: essas realmente viajam. Para elas, a saída e a chegada são quase que abstrações. O real é o percurso, são as paisagens que elas vão vendo, as pessoas que vão conhecendo, os pontos de parada... Quer coisa melhor do que uma cervejinha num boteco à beira da estrada? Não é mesmo?..."
Váras cabeças balançaram, concordando. Ele ficou olhando.
"É", disse, "muita gente concordou... Acho que vocês andam bebendo muita cerveja, hem?..."
A turma toda riu.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Água gelada (potável) e cerveja aguada (bebável)

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Conversando com meu colega carioca João Lacerda (legítimo sobrinho-neto daquele Lacerda), perguntei o motivo de a Skol ser a cerveja preferida no Rio de Janeiro. Resposta sincera:

- É que o Rio tem clima quente o ano todo, dá muita sede e todos acabam preferindo uma bebida alcoólica que lembre água gelada...

Depois, o João me mostrou um post do professor de Linguística da Unicamp, Sírio Possenti, sobre uma propaganda dessa mesma marca de cerveja:

BEBABILIDADE? - Uma fábrica de cerveja botou propaganda na praça dizendo que seu produto não dá aquela sensação de barriga estufada. Termina afirmando que sua cerveja tem bebabilidade. Não quero discutir com publicitários (se nem com os de campanhas políticas, imagine com os de cervejas!). Mas aproveito a deixa para uma consideração. "Beber" é verbo da segunda conjugação (como "mexer"). Uma coisa que pode ser bebida é uma coisa bebível (potável, claro, mas essa é outra história), assim como uma coisa que pode ser mexida é mexível.

Se uma coisa é bebível, ela tem... bebibilidade. Para ter bebabilidade, a cerveja teria que ser bebável, de um hipotético verbo "bebar". Talvez o "erro" se explique. A conjugação produtiva é a primeira. Todos os verbos novos (neologismos ou estrangeirismos) são da primeira conjugação. Pode ser por isso que uma palavra nova, inventada, mas derivada de um adjetivo que deriva de um verbo, "faça de conta" que se trata de um verbo da primeira conjugação. Mas eu preferia que a cerveja fosse bebível. Cerveja não pode ser só potável.




Curioso é que a tal propaganda de um "novo tipo" dessa marca (acima) diz que ela "não estufa e não empapuça". Ora, bolas, então reconheceram que não é mesmo cerveja de verdade! Pelo menos para o meu paladar, de potável só tem a (cada vez mais predominante) água. Bebível ou bebável, deixo para os cariocas.

terça-feira, outubro 06, 2009

"Fenômeno Lula" daqui cem anos

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A caminho do almoço, na rua do Comércio, dois transeuntes caminham em ritmo de pós-refeição e conversam em clima de bar. Enquanto os ultrapasso, escuto uma única frase jogada no ar e descontextualizada:

— Pode escrever: daqui 100 anos, as crianças na escola vão aprender com a professora sobre o "fenômeno Lula".

O que surpreende menos na profecia captada de orelhada:

a) O fato de Lula ser um fenômeno
b) O fato de, daqui 100 anos, ainda haver escola em um formato quase igual ao de 200 anos atrás
c) O fato de ser necessário escrever para a profecia ter relevância
d) O fato de o profeta da rua do comércio apostar em um prazo de um século para previsões que caberiam para daqui cinco anos
e) A ausência de atribuição de culpa ao presidente (porque, afinal, a culpa é do Lula)

Foto: Ricardo Stuckert/Pr



Presidente Lula
lancha, em 2005,
com crianças da
Escola Municipal
Pérola Gonçalves,
em Bagé (RS),
atendidas pelo
"Fome Zero na
rede escolar
do município"

quarta-feira, junho 18, 2008

Dimenstein diz que "sindicato quer motel em escola"

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Sim, caro leitor do Futepoca. Ao ler este texto, você pode dizer que apelamos para o sensacionalismo. Mas não fomos nós, o título da coluna de Gilberto Dimenstein na Folha OnLine é "Sindicato quer motel em escola."

Ele se refere à greve dos professores da rede pública de ensino, que teve como estopim o Decreto 53037/08, publicado no dia 28 de maio no Diário Oficial do Estado que limita a transferência dos profissionais entre as escolas e prevê aplicação de provas de avaliação de desempenho aos professores temporários. Diz Dimenstein que "o sindicato dos professores de São Paulo decidiu decretar uma greve para evitar que se implementem medidas destinadas a reduzir a rotatividade dos docentes nas escolas públicas --uma das pragas, entre tantas, que explicam a péssima qualidade de ensino. É um caso explícito de greve contra o pobre."

Curioso. Ele fala de "greve contra pobre" como se uma categoria que tem piso de R$ 668 fosse composta por "ricos". E segue: "é impossível oferecer aos mais pobres boa educação com tanta rotatividade de professores e diretores. Tal rotatividade destruiria rapidamente até mesmo as empresas mais eficientes. Há casos, neste ano, de escolas que tiveram até cinco diretores."

A rotatividade é um fato. Quais as causas? São
múltiplas, e o decreto do governador não mexe com nenhuma. Ao contrário, mexe para pior, afinal, é sempre mais fácil lidar com os efeitos.
Faltam condições de trabalho, segurança, material, as salas são superlotadas... E o problema é ainda pior nas periferias, como mostra matéria que fiz com Brunna Rosa na revista Fórum. O dia-a-dia do educador paulista é refletido em uma pesquisa realizada em 2006 e publicada em 2007 pelo Sindicato dos Professores da Rede Pública do Estado de São Paulo (Apeoesp), em que, dos 684 professores entrevistados, 96% citaram agressão verbal como a forma de violência mais comum nas escolas. Já 88,5% presenciaram atos de vandalismo; 82% viram atos de agressão física e 76,4% casos de furto.

Na prática, o que Dimenstein e o governo do estado querem é apelar para a "vocação" do professor, o chamado "sacerdócio", que obrigaria os profissionais a suportar toda sorte de péssimas condições para permanecer em sala de aula e arriscar mesmo a sua integridade em troca de uma remuneração pífia.

Além disso, como lembra o presidente da Apeoesp, Carlos Ramiro de Castro, a aplicação de provas de avaliação a professores temporários, alguns nessa condição há mais de década por conta da escassez de concursos promovidos durante os últimos 15 anos, é simplesmente avalizar uma condição absolutamente irregular. São profissionais que estão em situação precária por conta da falta de vontade dos últimos governadores paulistas em efetivar professores.

Mas a comparação com motel, dada pela dita alta rotatividade dos profissionais de educação, além de ser expressão do mais puro mau gosto, é ofensiva. Mas tudo bem, pela ótica dele. Professor deve aturar ofensas, afinal, faz parte do "sacerdócio". Enquanto categorias como médicos reclamam, com razão, de falta de condições para trabalhar em hospitais da periferia de São Paulo, locais em que o governo só aparece em situações lamentáveis, os professores devem aguentar calados, sem pestanejar, e ainda serem acusados de querer transformar escolas em motéis. Depois a imprensa grande não quer ser chamada de preconceituosa...

terça-feira, outubro 16, 2007

Ganhar pouco é bom II

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Escrevo complementando o post do Glauco abaixo. Foi aprovado recentemente na Comissão de Educação da Câmara um projeto de lei acalentado pelo Executivo federal que garante um piso nacional de R$ 950 para os professores. Agora, a proposta deve seguir direto para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara e depois para votação no Senado.

Eu já tinha ouvido falar do projeto e achava muito positivo. Principalmente para os municípios e estados menores, onde sempre ouvimos falar de professores que ganham salário mínimo para trabalhar.

Pois fiquei sabendo agora, em entrevista do presidente da Apeoesp Carlos Ramiro ao Conversa Afiada, que o piso do professores paulista é de R$ 668 sem as gratificações. Com as gratificações chega a R$ 900.

Ou seja, o governo tucano (que é tucano desde 1994, aliás, já vão 13 anos) do glorioso estado de São Paulo, locomotiva dessa nação, vai ser forçado a aumentar o salário de seus professores caso o piso nacional seja aprovado.

Ramiro ainda destaca ainda que os docentes estão a dois anos sem aumento salarial, caminhando a passos largos para o terceiro, já que a database da categoria foi em março e até agora nada de manifestação do patrão, o governo Serra. Ele diz ainda que, “de 1980 para cá, o professor perdeu poder aquisitivo em mais de 70%”. Depois, vão me dizer que educação é prioridade.