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sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Dois toques

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Rodrigo Ponce Santos*

Quem acompanha meus posts já deve ter percebido que a lentidão está entre meus maiores defeitos como “blogueiro”. Estipular prazos nunca funcionou direito pra mim. Mas aos poucos estou aprendendo que a coisa funciona melhor assim: aconteceu ontem, tem que publicar ontem. Para tanto, é preciso sentar e começar. Pensar um pouco ajuda, mas só desenhar mentalmente o assunto não funciona. Não dá pra ficar prendendo a bola. O tempo te rouba a oportunidade e ninguém vai gritar “ladrão!”.

Em sua última coluna na Carta Capital, Thomaz Wood Jr. falou sobre a procrastinação . O famoso hábito de “empurrar com a barriga” foi objeto de pesquisa científica que apontou o seguinte: costumamos adiar a execução de uma tarefa que parece mais distante e abstrata. A dica dos pesquisadores é “apresentar certas tarefas de forma mais detalhada e objetiva”. O problema, acredito, é que detalhe não rima com objetivo. Como uma das infelizes pessoas que adoram chamar reuniões e discutir tudo em seus pormenores, estou em posição confortável para admitir que planejar demais deixa tudo mais distante e abstrato, ou seja, fácil de ser adiado.

Tanto pior se as intermináveis reuniões são uma conversa entre eu e eu mesmo. Pois ainda mais do que a conversa, o pensamento carrega esta terrível sina de ser intangível, incerto e inútil do ponto de vista prático. Hannah Arendt, ao defender a tarefa do pensamento nas considerações morais, também definiu sua inextricável consequência: “quando começamos a pensar em qualquer coisa, interrompemos tudo o mais” (A Dignidade da Política, Ed. Relume-Dumará, p. 149). Ora, definir os detalhes de uma ação é pensá-la exaustivamente e, portanto, se afastar dela. Não me entendam mal. Pensar é preciso e cada vez mais necessário em um mundo onde tudo se faz no modo automático. Mas se existe o momento (e por que não a tarefa) da ponderação, também existe o momento de agir sem planejar. Ninguém vai negar que existem coisas que precisam ser feitas quase sem pensar. Entre elas, o futebol.

Não prender a bola foi um dos méritos do time do Atlético na partida contra o Iguaçu. Basta ver os dois gols do Marcinho (foto) para entender o que estou falando. No primeiro, a bola atravessou todo o campo e chegou até a rede adversária na base do “dois toques” – um deles a letra do garoto Renan. No outro, depois de boa jogada individual de Wallyson (driblar é diferente de prender a bola e também exige uma boa dose de “irracionalidade”), Renan pegou o rebote e deu um tapa para o novo camisa 10, que arrematou de primeira.

A semana do Atlético teve duas notícias importantes: a saída de Ferreira e a entrada de alguns garotos da Copa São Paulo no time principal. Se a promoção dos guris deixa a torcida animada, a atuação de Marcinho serviu para tranqüilizar a torcida depois do empréstimo do colombiano para o Dallas após quatro anos sem títulos na Baixada. Apesar do carinho da torcida, acho que desta vez não vai ficar saudade. Se não houve jogada de craque, sobrou objetividade. Além dos gols, Marcinho jogou com velocidade, coisa que ainda falta para o Atlético. Pela esquerda, Márcio Azevedo também voltou muito bem e ajudou a fazer a bola correr. Mas o destaque na minha opinião é mesmo o outro cabeludo, Renan, que tem boas chances de ganhar a vaga ao lado do Valência. Tenho birra de dois volantes, mas dou aqui o braço a torcer. Nem precisa pensar muito.



*Rodrigo Ponce Santos é torcedor do Atlético-PR, escreve sobre o futebol do Paraná para o Futepoca e é autor do blogue Pretexto.


terça-feira, fevereiro 03, 2009

Futebol paranaense: para o Zênite ou Nadir?

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Rodrigo Ponce Santos*

Depois de três rodadas dá pra sacar que teremos uma boa disputa no Paranaense 2009. No meio da semana, durante a transmissão de Iguaçu (de União da Vitória) e Coritiba, Raul Plasmann destacou a qualidade que vem apresentando algumas equipes do interior. Sem dúvida a vontade de aparecer marca a participação de clubes com calendários que se resumem à disputa estadual. Além de garra e da correria, aqui e ali aparecem também um bom planejamento tático e alguns destaques individuais. Mas esta não é uma grande novidade. Nós é que esquecemos muito rápido das coisas ou temos esta mania muito paranaense de desvalorizar o que aparece por aqui.

Naquele jogo, o Iguaçu deu uma canseira no Coxa e se a zaga tivesse dado um chutão ou evitado o cruzamento do Marlos aos 48 do segundo tempo, o clube da capital não estaria hoje nem entre os dez na tabela. Aliás, na rodada seguinte o Iguaçu (que fez apenas dois jogos) conseguiu seu primeiro pontinho contra o J. Malucelli e impediu que o time alcançasse o Atlético na liderança. Com o empate no clássico deste domingo (Coxa 0 x 0 Atlético), o rubro-negro garantiu o primeiro lugar com dois pontos de vantagem sobre o rival. Mas entre eles estão Foz do Iguaçu, J.Malucelli e Toledo. Logo atrás vem o Nacional, Cianorte (também com dois jogos), Engenheiro Beltrão e só depois o Paraná Clube.

A próxima partida do Atlético é contra o J. Malucelli. E não adianta querer mudar de nome, porque vai ser sempre o Malita, o Jotinha, irmão mais novo, chato pra caralho. Mas agora, pra piorar, aquele irmão rebelde que não quer ser ele mesmo, foge de casa e muda de identidade. Ora, eu sempre achei legal você ter o direito de mudar de nome quando alcança a maioridade. Afinal, ninguém merece a má sorte de ser batizado com um nome escroto. O nome de J. Malucelli é sem dúvida um dos maiores erros de batismo da história do futebol mundial. Seria absolutamente compreensível se este fosse o único motivo da mudança. Afinal, como é que você pode conquistar torcedores para um clube que carrega o sobrenome de uma família? Até ditadores como Franco e Berlusconi foram espertos o bastante pra comandarem clubes de futebol sem emprestarem suas alcunhas.

O Malita já tinha uma tarefa difícil: ser o quarto maior clube de uma cidade. É só olhar para a Portuguesa em São Paulo ou o Vasco no Rio (gostou, Yuri? hehe). Que força de vontade, que disposição, que empenho para manter um clube e uma torcida nestas condições. Mas os dois exemplos ainda carregam toda a tradição da colônia portuguesa. E o Malita? Bom... Agora ele quer carregar a história de um dos maiores clubes do país. Assim, de lambuja. De uma hora para outra, deixar de ser um time quase sem apoio para se transformar em uma paixão. O Corinthians Paranaense. Mas não é bem assim... Aqui em Curitiba, pelo menos, o que estão conseguindo é perder a simpatia dos rivais.

Li em algum lugar o presidente Malita chorando porque o time não tinha torcida. Mas se eles tem a estrutura, porque não investir em uma parceria e montar um time realmente forte no interior? Lá, infelizmente, a maior parte de quem gosta de futebol prefere acompanhar apenas os times de São Paulo e Rio de Janeiro. Isto ficou evidente na pesquisa que aponta o Corinthians como clube de maior torcida no estado. Assim... de boa... é uma vergonha. Entre as dez maiores torcidas, apenas três são do Paraná. Sei que a informação é antiga, mas olhe a lista:

1 – Corinthians, 12,5%
2 – Atlético-PR, 9,6%
3 – Palmeiras, 7,6%
4 – Coritiba, 7,5%
5 – São Paulo, 6,5%
6 – Flamengo, 6,2%
7 – Santos, 4,3%
8 – Paraná, 3,2%
9 – Grêmio, 2,6%
10 – Internacional, 1,4%

Considerando que os números que apontam os três clubes de Curitiba são, em sua grande maioria, de curitibanos, fica evidente que pelo menos no futebol o interior do Paraná não é paranaense. E onde é que estão os clubes do interior? Não é brincadeira não! Em Londrina, segunda maior cidade do Estado com mais de 500 mil habitantes, o clube da cidade fica atrás de cinco clubes paulistas e cariocas na preferência dos torcedores. O diretor de marketing do Corinthians, Luís Paulo Rosemberg, que classificou o negócio como uma “grande tacada mercadológica”, expôs com todas as letras o provincianismo do nosso Estado: “O norte paranaense é paulista”.

Não pensem que estou defendendo algum tipo de bairrismo ou segregação. De jeito nenhum. Direita pra mim é apenas uma posição dentro do campo, não na esfera política. Mas a subserviência é uma posição política. E quem invoca a posição de “democrático, liberal e livre de preconceitos” para defender um negócio cujo único objetivo é o lucro, está de fato defendendo apenas um “direito comercial”. Mas ok, pra terminar, vou dar o braço a torcer. O J. Malucelli nunca foi nada diferente disto, quer dizer, como Linhares Junior – defendeu hoje em sua coluna, um “clube” que nasceu pra ser uma empresa, revelar jogadores e dar lucro para seus empresários. Eu ainda acho que embora o futebol possa ser comprado e vendido, não se pode dizer o mesmo da relação de uma torcida com seu clube ou sua cidade.

*Rodrigo Ponce Santos é torcedor do Atlético-PR, escreve sobre o futebol do Paraná para o Futepoca e é autor do blogue Pretexto.