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terça-feira, fevereiro 03, 2009

Futebol paranaense: para o Zênite ou Nadir?

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Rodrigo Ponce Santos*

Depois de três rodadas dá pra sacar que teremos uma boa disputa no Paranaense 2009. No meio da semana, durante a transmissão de Iguaçu (de União da Vitória) e Coritiba, Raul Plasmann destacou a qualidade que vem apresentando algumas equipes do interior. Sem dúvida a vontade de aparecer marca a participação de clubes com calendários que se resumem à disputa estadual. Além de garra e da correria, aqui e ali aparecem também um bom planejamento tático e alguns destaques individuais. Mas esta não é uma grande novidade. Nós é que esquecemos muito rápido das coisas ou temos esta mania muito paranaense de desvalorizar o que aparece por aqui.

Naquele jogo, o Iguaçu deu uma canseira no Coxa e se a zaga tivesse dado um chutão ou evitado o cruzamento do Marlos aos 48 do segundo tempo, o clube da capital não estaria hoje nem entre os dez na tabela. Aliás, na rodada seguinte o Iguaçu (que fez apenas dois jogos) conseguiu seu primeiro pontinho contra o J. Malucelli e impediu que o time alcançasse o Atlético na liderança. Com o empate no clássico deste domingo (Coxa 0 x 0 Atlético), o rubro-negro garantiu o primeiro lugar com dois pontos de vantagem sobre o rival. Mas entre eles estão Foz do Iguaçu, J.Malucelli e Toledo. Logo atrás vem o Nacional, Cianorte (também com dois jogos), Engenheiro Beltrão e só depois o Paraná Clube.

A próxima partida do Atlético é contra o J. Malucelli. E não adianta querer mudar de nome, porque vai ser sempre o Malita, o Jotinha, irmão mais novo, chato pra caralho. Mas agora, pra piorar, aquele irmão rebelde que não quer ser ele mesmo, foge de casa e muda de identidade. Ora, eu sempre achei legal você ter o direito de mudar de nome quando alcança a maioridade. Afinal, ninguém merece a má sorte de ser batizado com um nome escroto. O nome de J. Malucelli é sem dúvida um dos maiores erros de batismo da história do futebol mundial. Seria absolutamente compreensível se este fosse o único motivo da mudança. Afinal, como é que você pode conquistar torcedores para um clube que carrega o sobrenome de uma família? Até ditadores como Franco e Berlusconi foram espertos o bastante pra comandarem clubes de futebol sem emprestarem suas alcunhas.

O Malita já tinha uma tarefa difícil: ser o quarto maior clube de uma cidade. É só olhar para a Portuguesa em São Paulo ou o Vasco no Rio (gostou, Yuri? hehe). Que força de vontade, que disposição, que empenho para manter um clube e uma torcida nestas condições. Mas os dois exemplos ainda carregam toda a tradição da colônia portuguesa. E o Malita? Bom... Agora ele quer carregar a história de um dos maiores clubes do país. Assim, de lambuja. De uma hora para outra, deixar de ser um time quase sem apoio para se transformar em uma paixão. O Corinthians Paranaense. Mas não é bem assim... Aqui em Curitiba, pelo menos, o que estão conseguindo é perder a simpatia dos rivais.

Li em algum lugar o presidente Malita chorando porque o time não tinha torcida. Mas se eles tem a estrutura, porque não investir em uma parceria e montar um time realmente forte no interior? Lá, infelizmente, a maior parte de quem gosta de futebol prefere acompanhar apenas os times de São Paulo e Rio de Janeiro. Isto ficou evidente na pesquisa que aponta o Corinthians como clube de maior torcida no estado. Assim... de boa... é uma vergonha. Entre as dez maiores torcidas, apenas três são do Paraná. Sei que a informação é antiga, mas olhe a lista:

1 – Corinthians, 12,5%
2 – Atlético-PR, 9,6%
3 – Palmeiras, 7,6%
4 – Coritiba, 7,5%
5 – São Paulo, 6,5%
6 – Flamengo, 6,2%
7 – Santos, 4,3%
8 – Paraná, 3,2%
9 – Grêmio, 2,6%
10 – Internacional, 1,4%

Considerando que os números que apontam os três clubes de Curitiba são, em sua grande maioria, de curitibanos, fica evidente que pelo menos no futebol o interior do Paraná não é paranaense. E onde é que estão os clubes do interior? Não é brincadeira não! Em Londrina, segunda maior cidade do Estado com mais de 500 mil habitantes, o clube da cidade fica atrás de cinco clubes paulistas e cariocas na preferência dos torcedores. O diretor de marketing do Corinthians, Luís Paulo Rosemberg, que classificou o negócio como uma “grande tacada mercadológica”, expôs com todas as letras o provincianismo do nosso Estado: “O norte paranaense é paulista”.

Não pensem que estou defendendo algum tipo de bairrismo ou segregação. De jeito nenhum. Direita pra mim é apenas uma posição dentro do campo, não na esfera política. Mas a subserviência é uma posição política. E quem invoca a posição de “democrático, liberal e livre de preconceitos” para defender um negócio cujo único objetivo é o lucro, está de fato defendendo apenas um “direito comercial”. Mas ok, pra terminar, vou dar o braço a torcer. O J. Malucelli nunca foi nada diferente disto, quer dizer, como Linhares Junior – defendeu hoje em sua coluna, um “clube” que nasceu pra ser uma empresa, revelar jogadores e dar lucro para seus empresários. Eu ainda acho que embora o futebol possa ser comprado e vendido, não se pode dizer o mesmo da relação de uma torcida com seu clube ou sua cidade.

*Rodrigo Ponce Santos é torcedor do Atlético-PR, escreve sobre o futebol do Paraná para o Futepoca e é autor do blogue Pretexto.

5 comentários:

Marcão disse...

Seria possível afirmar que todos os antigos torcedores do Pinheiros e do Colorado são hoje paranistas? Ou não?

Glauco disse...

Marcão, acho que isso só o Rodrigo pode responder, mas esse processo de "transferência de torcida" é algo que não consigo entender.

Unknown disse...

Olha, Marcão, esta é uma boa pergunta... Quando mudei pra Curitiba já não existia nem Colorado nem Pinheiros. Então não conheci torcedores dos dois times. Mas vou pesquisar.

Marcão disse...

Para quem ficou boiando:

O Paraná Clube foi fundado no dia 19 de dezembro de 1989, após uma fusão entre Colorado Esporte Clube e Esporte Clube Pinheiros. O Colorado, fundado em 1971, era uma grande força popular daquela época, e o Pinheiros era também um grande clube social e foi fundado em 1914. (Wikipedia)

Anônimo disse...

ótimo texto. Norte Paulista e Sul gaucho-catarinense.