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sábado, maio 22, 2010

A esquerda que joga bola

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A notícia já foi dado no ótimo texto de Pedro Ribeiro Nogueira no portal Terra, mas como se trata de uma rara simbiose entre futebol e política, não pode passar batido aqui. O St. Pauli conseguiu assegurar o acesso à primeira divisão alemã em 2011, fato que seria irrelevante nas bandas de cá não fossem as peculiaridades do clube: ele e sua torcida se posicionam ao lado de movimentos anticapitalistas, contra o sexismo, o racismo, o fascismo e a homofobia.

Localizado no bairro homônimo de Hamburgo, o clube tem estreita ligação com o local, região portuária que tem 27,9% da sua população composta por migrantes. Também está próximo de Reeperbahn, lugar de agitada vida noturna que conta com muitos estudantes, artistas e "alternativos". Não à toa, a torcida do time, que tem fãs-clubes em todo o planeta, adotou o punk-rock nas arquibancadas e o time entra em campo ao som de "Hells Bells", do AC/DC.  Aliás, reza a lenda que o primeiro show internacional dos Beatles foi feito no bairro, em 1961.

Nos anos 80, o clube colocou em seu estatuto cláusulas específicas contra o fascismo, o racismo e a homofobia e vários episódios mostram que, para os torcedores do St. Pauli, há valores mais importantes que o futebol jogado em campo. Em 2002, por exemplo, no estádio Millerntor havia uma publicidade de uma revista masculina que foi considerada sexista, já que depreciava as mulheres. A direção mandou retirá-la. Atitudes como essa garantem a maior torcida feminina da Alemanha ao time. E isso não tem qualquer relação com falsos moralismos. Afinal, o presidente da agremiação, o diretor teatral e homossexual assumido Corny Littman, fechou recentemente um contrato de patrocínio com uma empresa de produtos eróticos vendidos na internet.

Mais à esquerda

Mas o St. Pauli não é o único exemplo de um clube de futebol - e uma torcida - identificado com a esquerda. O Livorno, da Itália, localizado na cidade de mesmo nome e também região portuária, tem forte tradição socialista e sua torcida leva bandeiras com rosto de Che Guevara e Antonio Gramsci ao estádio.

Uma de suas figuras mais célebres foi Cristiano Lucarelli, ex-atacante da seleção italiana que não só realizou um sonho de infância ao jogar no clube de seu coração, aos 28 anos (entre 2003 e 2007 e de volta agora), como também fez de sua carreira futebolística uma missão política. Além de eternizar suas comemorações com o punho direito erguido, causou polêmica ao comemorar um gol em 1997, atuando pela seleção sub-21 da Itália, exibindo uma camiseta com a imagem de Che Guevara por baixo do uniforme.Também é um dos fundadores da torcida organizada do Livorno, as Brigadas Autônomas Livornesas (BAL, na foto abaixo), que costumam animar as arquibancadas inflamando os torcedores com gritos de "quem não pula é fascista".


Já na Espanha são célebres os bukaneros, uma torcida organizada criada em 1992 por fãs do Rayo Vallecano. Sua principal preocupação é adotar uma postura anti-fascista, mas eles também se colocam contra o "futebol negócio" e pregam respeito absoluto ao adversário, incentivando gritos e canções originais e criativas para serem usados nas partidas, ao invés dos corriqueiros xingamentos.

O Brasil também tem sua torcida de esquerda que combate a homofobia e o racismo. Trata-se da Ultras Resistência Coral, do Ferroviário (adesivos ao lado), que diz em seu site não enxergar os torcedores de outros times como "potenciais inimigos, já que a composição social das torcidas no Brasil é principalmente de trabalhadore(a)s ou jovens filho(a)s de trabalhadore(a)s". E seguem: "Nossos reais inimigos são os cartolas burgueses, capitalistas, que exploram trabalhadore(a)s em suas empresas e ainda comandam nossos clubes, planejando os aumentos abusivos de ingressos, nos impossibilitando de vermos nossos times de coração, limitando, assim, nosso direito ao lazer." Quem disse que o futebol é o ópio do povo?