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terça-feira, novembro 04, 2014

Existe amor em São Paulo!

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segunda-feira, junho 10, 2013

'Onda de retrocesso moralista'

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Há três anos, publiquei alguns posts, aqui no Futepoca, sobre o "cerco" que governos e legisladores moralistas estavam fazendo, no Estado de São Paulo, contra nós, os boêmios. Começou com a lei antitabagista de José Serra, que, se por um lado é louvável pela preocupação com a saúde dos fumantes passivos, por outro é nada menos que fascista por ser totalitária e não prever locais desobrigados de cumprir a Lei ou setores reservados nos estabelecimentos como opção aos fumantes (afinal, estamos numa democracia). Depois vieram mais medidas moralistóides e, agora, a investida é contra quem dirige alcoolizado.

Sim, claro, é completamente errado: ninguém pode dirigir bêbado. Mas a sutileza tucana sempre é a de cortar tudo, sem brechas, em vez de prever exceções e/ou dar opções - como, por exemplo, garantir transporte público de qualidade e por preço razoável ou colocar o metrô para funcionar 24 horas. Por isso, sem mais rodeios, reproduzo na íntegra o excelente artigo de Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, publicado hoje:

B de bêbado

Os tucanos de São Paulo acabam de contribuir para a onda de retrocesso moralista por que passa a legislação no país. O deputado estadual Cauê Macris propôs, e seus colegas aprovaram, a "ficha suja" para motoristas acusados pela polícia de dirigir embriagados.

Se o governador Geraldo Alckmin sancionar o texto - com o qual já disse simpatizar -, estará criada uma punição moral no Estado supostamente mais moderno da nação. O Detran passará a publicar o nome de todo cidadão cuja habilitação for cassada sob a acusação de conduzir com a "capacidade psicomotora alterada".

Para a humilhação pública tornar-se mais eficaz, que tal estampar também a foto do acusado? E divulgar ao final da novela e nos intervalos do "Jornal Nacional"?

Podemos adotar o método das autoridades de Ohio, nos EUA. Consiste em obrigar o apenado a usar no seu veículo uma placa de cor di-ferente, amarela e escarlate, para que todos saibam do seu crime.

Outra opção é o castigo dos puritanos que colonizaram o norte da América no século 17. Todo motorista acusado de dirigir bêbado será obrigado a ostentar, na parte da frente da roupa, uma letra B garrafal. Em azul e amarelo, cores do PSDB.

Que os execrados possam perder o emprego, ou ver explodirem seus custos com seguro, não é problema para nossos novos moralistas. Pelo contrário, esse é o efeito desejado pelo deputado Macris.

Tampouco os incomoda a perda da habilitação ser sanção apenas administrativa, que não passa por juiz. Delegados e burocratas do Detran terão o poder discricionário de expor o indivíduo à humilhação.

Isso importa menos diante da tentação de apelar aos anseios por vingança, e pela depuração de hábitos de vida, latentes em parte do eleitorado. Serve também de cortina de fumaça para o fracasso das autoridades na aplicação das leis vigentes.

terça-feira, junho 21, 2011

Com uma tocha na mão, rumo à Idade Média

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Os fantasmas exumados por José Serra (à direita) na execrável campanha presidencial de 2010 continuam assombrando nossa sociedade. Depois que o tucano criminalizou bolivianos e pautou a mídia por meses e meses com a questão do aborto e obscurantismo regilioso, internautas ficaram à vontade para esculhambar nordestinos logo após a eleição de Dilma Rousseff (PT), a juventude nazista lançou a famigerada defesa da "cultura paulista" e os Bolsonaros da vida ganharam novo fôlego na sua cruzada contra homossexuais e negros. Realmente, Serra consolidou uma "agenda" para o Brasil: retroceder à Idade Média, com uma tocha na mão e uma fogueira acesa contra as bruxas!

E essa agenda continua pontuando manifestações extremistas. O bispo de Guarulhos, Luiz Gonzaga Bergonzini (à direita), que na época da campanha assinou uma carta recomendando "a todos verdadeiros cristãos e verdadeiros católicos a que não dêem seu voto à Senhora Dilma Rousseff", por conta do anacrônico debate sobre o aborto, volta agora aos holofotes. Sua hidrofobia, agora, tem como alvo a norma técnica do Ministério da Saúde que determina que a vítima de estupro não precisa apresentar um Boletim de Ocorrência (BO) para fazer o aborto, com base no Código Penal. Vamos diretamente às suas novas declarações:

“A mulher fala ao médico que foi violentada. Às vezes nem está grávida. Sem exame prévio, sem constatação de estupro, o aborto é liberado.”

“Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que foi vítima… É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é difícil.”

“Já vi muitos casos que não posso citar aqui. Tenho 52 anos de padre… Há os casos em que não é bem violência… [A mulher diz] 'Não queria, não queria, mas aconteceu…'.”

“Então sabe o que eu fazia?”. O bispo pega a tampa de uma caneta e mostra como conversava com mulheres. “Eu falava: bota aqui”, pedindo, em seguida, para a pessoa encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe. “Entendeu, né? Tem casos assim, do 'ah, não queria, não queria, mas acabei deixando'. O BO é para não facilitar o aborto.”

Sem comentários.

segunda-feira, maio 09, 2011

O 'monopólio da virtude' existe, de fato. Em São Paulo

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Muito curiosa a entrevista publicada pela Veja (aarrghh..) na edição que começou a circular no fim de semana, com o título "O estado não pode tudo". Nela, o filósofo Denis Izrrer Rosenfield (foto), professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), critica "a interferência cada vez mais frequente do estado na vida pessoal dos cidadãos por meio de decisões de órgãos governamentais". Até aí, sua postura é irrepreensível: o poder estatal não tem nada que apitar na vida particular e nos direitos pessoais e privativos dos cidadãos.

Quer um exemplo? A proibição do tabagismo nos bares, medida arbitrária e autoritária do então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), aprovada em 2008 - e que incentivou outros estados da União a fazer o mesmo. Quer outro exemplo? A recente probição da venda de bebidas alcoólicas em espaços públicos, durante a "Virada Cultural", decretada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab ("cria" política de Serra). É o prório filósofo Rosenfield quem sentencia, à Veja (aaarghh..): "Se alguém decide fumar ou beber, isso é um problema exclusivamente dessa pessoa, não é um problema do estado".

Porém, a Veja é a Veja (eecaaa!). E falar mal das administrações paulistas e paulistanas, dos tucanos e seus amiguinhos, é coisa que a revista nunca faria. Portanto, qual é o alvo da entrevista e do filósofo? O PT, lógico! "Quando o estado se apodera do monopólio da virtude, inicia um flerte inadmissível com o autoritarismo, danoso para qualquer sociedade", começa Rosenfield, para citar, como exemplo desse tipo de interferência, a recente tentativa da Anvisa de proibir a venda de remédios para emagrecer. "Essas medidas arbitrárias mostram como o PT, apesar de estar amadurecendo como partido, ainda atrai esquizofrênicos com mentalidade retrógrada e perigosa para a sociedade".

A partir daí, é só "cacete filosófico" em cima dos petistas: "Nos últimos anos, o governo se intrometeu em quase tudo. Recentemente, quis policiar um pretenso consumismo infantil e chegou ao cúmulo de discutir a tal Lei da Palmada, que pretende disciplinar a relação entre pais e filhos". E mais: "A Anvisa tentou proibir a publicidade de cigarro, de bebida e de alimentos. Parece inofensivo, mas sem publicidade a imprensa se torna dependente do governo, o que compromete a liberdade de expressão". Mas a liberdade que o filósofo gaúcho mais preza é a de cunho financeiro: "Isso sem falar no direito de propriedade, cada vez mais fragilizado".

Propriedade! Propriedade! Abra as asas sobre nós!
Para Rosenfield, "(...) no Brasil o direito à propriedade é relativizado pela função social, pela função indígena, pela função racial e pela função ambiental da terra. O que acontece é um descalabro. Um exemplo trágico é a proliferação dos tais quilombolas pelo país. Isso não tem mais limite". Veja que pérola de raciocínio "filosófico": "Se mais de 60% de uma população é dona de seus imóveis, essas pessoas podem se unir com força contra qualquer ameaça à propriedade. Se menos de 30% forem proprietários, abre-se espaço para a aplicação de ideologias que comprometem esse direito".

E você acha que ficou por aí? Não, não. Tem mais: "No Brasil, o processo notório de enfraquecimento do direito de propriedade por meio da desapropriação de terras está sendo combatido por uma reação da sociedade contra os movimentos de orientação esquerdista, como o MST e a Comissão Pastoral da Terra". Pois é. Já dá pra perceber o motivo da indignação do filósofo e da publicação que o entrevistou. E a culpa é de quem? Um maço de cigarro e uma garrafa de pinga pra quem adivinhar...

"Em seu segundo mandato, Lula se excedeu. O presidente deu muito poder a esses movimentos e limitou cada vez mais os direitos de propriedade. Foi exorbitante. Lula abriu a porteira. O mesmo aconteceu com relação à imprensa", arremata Rosenfield.

Ou seja, para NÃO variar, A CULPA É DO LULA!

Só nos resta fumar e beber. Dentro de casa...

quarta-feira, abril 20, 2011

Lei Seca é prejudicial à saúde!

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A esdrúxula e incongruente imposição de Lei Seca pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, durante a Virada Cultural, no fim de semana, teve como efeito colateral um problema de saúde muito pior do que possíveis ressacas. Segundo o portal IG, em materinha intitulada "Vinho químico é o crack das bebidas", a proibição da venda de bebidas pelos estabelecimentos comerciais legalizados durante o festival de eventos públicos que atravessou todo o sábado e domingo fez com que milhares de ambulantes clandestinos oferecessem ao público "uma perigosa mistura artesanal de etanol (o mesmo vendido em postos de gasolina), pigmento e doçura similar à groselha e corante". De acordo com a reportagem, "com 96% de álcool, bebida apreendida em São Paulo é altamente tóxica e compromete fígado e cérebro".

Mais de 17 mil litros (!!!) do chamado "vinho químico" foram apreendidos. A bebida era oferecida em garrafinhas (foto acima) com valores entre R$ 1,5 e R$ 10 - um convite tentador aos milhares de manguaças que se viram privados de beber enquanto se divertiam. Segue o texto do IG: "O que assusta é a quantidade elevada de etanol, que representa 96% da mistura. Esse índice supera o teor alcoólico de bebidas fortes como a cachaça, que tem de 38% a 54% de álcool no Brasil. A graduação máxima permitida por lei, de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é de 54%. (...) Se comparada a outras bebidas, a discrepância é ainda maior. Vodca e uísque variam o teor alcoólico entre 40% e 50%. Um vinho de verdade apresenta em torno de 12%, enquanto uma cerveja pilsen, o tipo mais consumido no país, contem entre 4,5% e 5% de álcool". Uma médica ouvida pela reportagem classificou a mistura como "uma bomba".

Pois é, moralistas de plantão (ou pior que isso: políticos moralistas de plantão). Proibir não resolve, quando as pessoas querem consumir, sempre vai ter alguém querendo ganhar dinheiro em cima. O problema não é proibir, é controlar, fiscalizar, acompanhar, punir excessos e prestar assistência. Moralistóides como Gilberto Kassab só conseguem regredir o Brasil ao início do século passado, quando a Lei Seca foi adotada nos Estados Unidos e, como consequência, criou uma das quadrilhas mafiosas mais notórias de todos os tempos, além de matar milhares de pessoas com bebidas da pior qualidade e procedência desconhecida - porque, óbvio, ninguém deixou de beber! É o que acontece agora, com o tal "vinho químico". Essa é a política de saúde (moralista e irresponsável) da maior cidade da América Latina.

sábado, maio 22, 2010

A esquerda que joga bola

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A notícia já foi dado no ótimo texto de Pedro Ribeiro Nogueira no portal Terra, mas como se trata de uma rara simbiose entre futebol e política, não pode passar batido aqui. O St. Pauli conseguiu assegurar o acesso à primeira divisão alemã em 2011, fato que seria irrelevante nas bandas de cá não fossem as peculiaridades do clube: ele e sua torcida se posicionam ao lado de movimentos anticapitalistas, contra o sexismo, o racismo, o fascismo e a homofobia.

Localizado no bairro homônimo de Hamburgo, o clube tem estreita ligação com o local, região portuária que tem 27,9% da sua população composta por migrantes. Também está próximo de Reeperbahn, lugar de agitada vida noturna que conta com muitos estudantes, artistas e "alternativos". Não à toa, a torcida do time, que tem fãs-clubes em todo o planeta, adotou o punk-rock nas arquibancadas e o time entra em campo ao som de "Hells Bells", do AC/DC.  Aliás, reza a lenda que o primeiro show internacional dos Beatles foi feito no bairro, em 1961.

Nos anos 80, o clube colocou em seu estatuto cláusulas específicas contra o fascismo, o racismo e a homofobia e vários episódios mostram que, para os torcedores do St. Pauli, há valores mais importantes que o futebol jogado em campo. Em 2002, por exemplo, no estádio Millerntor havia uma publicidade de uma revista masculina que foi considerada sexista, já que depreciava as mulheres. A direção mandou retirá-la. Atitudes como essa garantem a maior torcida feminina da Alemanha ao time. E isso não tem qualquer relação com falsos moralismos. Afinal, o presidente da agremiação, o diretor teatral e homossexual assumido Corny Littman, fechou recentemente um contrato de patrocínio com uma empresa de produtos eróticos vendidos na internet.

Mais à esquerda

Mas o St. Pauli não é o único exemplo de um clube de futebol - e uma torcida - identificado com a esquerda. O Livorno, da Itália, localizado na cidade de mesmo nome e também região portuária, tem forte tradição socialista e sua torcida leva bandeiras com rosto de Che Guevara e Antonio Gramsci ao estádio.

Uma de suas figuras mais célebres foi Cristiano Lucarelli, ex-atacante da seleção italiana que não só realizou um sonho de infância ao jogar no clube de seu coração, aos 28 anos (entre 2003 e 2007 e de volta agora), como também fez de sua carreira futebolística uma missão política. Além de eternizar suas comemorações com o punho direito erguido, causou polêmica ao comemorar um gol em 1997, atuando pela seleção sub-21 da Itália, exibindo uma camiseta com a imagem de Che Guevara por baixo do uniforme.Também é um dos fundadores da torcida organizada do Livorno, as Brigadas Autônomas Livornesas (BAL, na foto abaixo), que costumam animar as arquibancadas inflamando os torcedores com gritos de "quem não pula é fascista".


Já na Espanha são célebres os bukaneros, uma torcida organizada criada em 1992 por fãs do Rayo Vallecano. Sua principal preocupação é adotar uma postura anti-fascista, mas eles também se colocam contra o "futebol negócio" e pregam respeito absoluto ao adversário, incentivando gritos e canções originais e criativas para serem usados nas partidas, ao invés dos corriqueiros xingamentos.

O Brasil também tem sua torcida de esquerda que combate a homofobia e o racismo. Trata-se da Ultras Resistência Coral, do Ferroviário (adesivos ao lado), que diz em seu site não enxergar os torcedores de outros times como "potenciais inimigos, já que a composição social das torcidas no Brasil é principalmente de trabalhadore(a)s ou jovens filho(a)s de trabalhadore(a)s". E seguem: "Nossos reais inimigos são os cartolas burgueses, capitalistas, que exploram trabalhadore(a)s em suas empresas e ainda comandam nossos clubes, planejando os aumentos abusivos de ingressos, nos impossibilitando de vermos nossos times de coração, limitando, assim, nosso direito ao lazer." Quem disse que o futebol é o ópio do povo?

quinta-feira, abril 01, 2010

O cerco é por etapas. Mas constante

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Depois da proibição do cigarro no bar e da possibilidade de sermos obrigados a desembolsar 20% do valor da conta para o garçom, mais uma medida anti-manguaça na cidade de São Paulo: a Câmara Municipal começou a debater um projeto que reduz de 1h para meia-noite o limite para o fechamento dos bares sem isolamento acústico. "Quero fechar os botecos que ficam com mesas nas calçadas e atrapalham os moradores vizinhos", brada o autor do projeto, vereador Jooji Hato (PMDB). "A noite foi feita para dormir", acrescenta o político. Pô, se é assim, proibam os caminhões de lixo e as britadeiras da Comgás de me atrapalharem o sono de madrugada!

Pelo menos, dessa vez, alguém levantou a voz contra mais esse ataque moralista. Percival Maricato, diretor da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), resumiu bem o cenário: "A sociedade está em um momento conservador (...) E alguns políticos aproveitam esse filão conservador, no embalo do anti-tabagismo e da lei seca, para tentar ganhar atenção com projetos contra os bares". Falou e disse. Quanto a nós, manguaças (ou "inconvenientes"), só nos resta a desobediência civil. Ou o anarquismo, como sugere o colega jornalista Paulo Gilani (na foto, à direita). "Temos que ter ações consistentes", comanda, sem revelar o que tem em mente. Alguém tem alguma outra estrategia para a resistência manguaça?

quinta-feira, março 11, 2010

O cerco aos manguaças continua

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Ser um manguaça, no Brasil, está ficando cada vez mais complicado. Ter uma infinidade de estabelecimentos que oferecem bebida e um bom papo não significa, necessariamente, que você pode frequentar todos. Antigamente, o bebum podia selecionar seu reduto por questões ideológicas: sempre evitava bares com "aquela velharada tucana dos infernos" ou "aqueles estudantes petistas insuportáveis". A escolha podia ser futebolística: "como tem corintiano chato naquele buteco", "mas que barzinho bambi, não vou lá de jeito nenhum!" etc etc. Tinha aqueles que não bebiam em lugares que só vendiam Kaiser ou Nova Schin. Que não tinham nenhuma comida "segura". E outros que não suportavam bar com karaokê, ou muito iluminados, ou onde não vai mulher, ou muito lotado, enfim, havia critérios plausíveis e para todos os gostos. Hoje não há opção, há cerco. Exclusão.

Numa cidade do tamanho de São Paulo, buteco longe é problema. É caro chegar lá, o trânsito emperra e, se depender de transporte público, meia-noite é o limite. Por isso, os manguaças começaram a se afeiçoar por bares no caminho do trabalho ou de casa (e vice-versa). E nem sempre são bons ou agradáveis - apenas é menos complicado ir até eles. Essa é uma das exclusões. As outras começaram há alguns anos, com uma ofensiva conservadora que lembra regimes fascistas. Em 2008, o desgovernador de São Paulo, José Erra, digo, Serra (PSDB), proibiu o cigarro no bar. Não vamos discutir o mérito da questão, apenas concluir que, se tinha quatro bares no caminho do trabalho ou da casa para o pinguço, agora ele se obriga a ir só naquele em que é possível fumar sentado, na calçada (no meu caso, só conheço dois: o Gaspar e o da esquina da Benedito Calixto, ambos no bairro Pinheiros).

Não importa se o cachaça fuma ou não; com certeza, conhece muitos amigos (e principalmente amigas...) que fumam. E ficar levantando toda hora pra acender cigarro e interromper a conversa é, para citar o filósofo Emerson Leão, desagradável. Somando com as tradicionais idas ao banheiro, não há tempo para falar nada. E agora a seleção de bares vai ficar ainda mais trabalhosa. Além de ficar perto e de liberar a fumaça na calçada, vai ter que ser do tipo que não cobra porcentagem para o garçom ou que funcione no esquema self service (você vai até a geladeira e pega sua cerveja, como no saudoso Bar do Vavá). Porque a Comissão de Assuntos Sociais do Senado acaba de dar parecer favorável ao projeto de Marcelo Crivella (PRB) instituindo gorjeta de 20% para o garçom, após as 23h, em bares, restaurantes e similares. Ou seja: se você gastar R$ 50, por exemplo, vai ter que desembolsar mais R$ 10. O preço de duas saideiras.

Já saquei, o sistema quer nos obrigar a beber e fumar só em casa. De preferência, assistindo novela ou Big Brother. E, no país da piada pronta, a comissão que deu o tal parecer é de "Assuntos Sociais". Mas tá ficando cada vez mais difícil para nós, manguaças, se socializar...

quinta-feira, abril 09, 2009

A fronteira invisível no coração dos homens

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Revisando a tese de doutorado de meu amigo Max Gutiez, aprendi que na semana passada, dia 1º de abril, completaram-se 70 anos do fim da Guerra Civil Espanhola. É um dos conflitos mais emblemáticos daqueles anos entre as duas Grandes Guerras. Opunham-se republicanos, em grande parte anarquistas, e falangistas, fascistas, liderados por Francisco Franco. Gente de todo o mundo vai à Espanha lutar contra o avanço fascista e sonhar com um mundo socialista, inspirados na vitoriosa Revolução Russa – em 1934, quando começa a guerra, ela ainda não havia sido traída por Stálin e seus burocratas. Do outro lado, a Alemanha nazista aproveita para testar seus armamentos sobre o povo espanhol, antes de levar a ferro o seu expansionismo.

A guerra se inicia com um dos episódios mais brutais de que ouvi falar. Em Gijón, na região de Astúrias, um importante porto de exportação do minério espanhol, sindicalistas anarquistas organizados se levantam contra a opressão e por melhores condições de vida e trabalho. Tem início a revolução. Avançam e ganham forças. O general Franco é então designado para negociar com os revoltosos. Vai a Astúrias, se reúne com cada líder e cada grupo revolucionário, diligente e amistosamente anota-lhes o nome e o endereço. Na semana seguinte, o Exército espanhol passa em arrastão pela cidade matando um por um todos os líderes, dentro de suas casas e com suas famílias. Foram centenas de mortos em um dia. O telegrama que Franco envia a Madrid diz: "resolvido o problema asturiano". Tamanha atrocidade e infâmia não poderia ser suportada pelo aguerrido povo espanhol, que se levanta, e a guerra se deflagra.

Mais que o heroísmo e sua complementaridade de horror, a guerra civil instaura o pânico e uma total desrazão. Morre-se mais por fuzilamentos do que em confrontos com os inimigos. Uma denúncia era o suficiente para que alguém fosse morto, muitas vezes por companheiros do próprio lado que defendia. E, se hoje parece fácil olhar retrospectivamente e assumir o lado dos republicanos, para quem vivia ali era quase impossível ter clareza do que de fato significava ser anarquista ou fascista, sobretudo o cidadão comum, sem formação política.

Ninguém descreveu esse estado de coisas tão bem quanto Antoine de Saint-Exupéry (foto à esquerda) – ele mesmo, o autor do Pequeno Príncipe, era também piloto e repórter de guerra. O Max o cita em sua tese (ainda inacabada), dizendo que a Espanha é neste momento um lugar onde as “mães (...) não sabem, quando dão à luz, que imagem da verdade irá inflamar, mais tarde, os seus filhos, nem quais os partisans que os irão fuzilar, segundo sua justiça, quando eles tiverem vinte anos”.

Um dos parágrafos mais fortes é este, com citações de Saint-Exupéry:

“O que o espanta é saber que a aparência de uma cidade como as outras mascara um drama que ‘para descobrir (...) será necessário procurá-lo’. ‘Porque’, diz Saint-Exupéry, ‘na maioria das vezes ele se apresenta não no mundo visível, mas na consciência dos homens’. Essa visão aérea da Espanha (é o piloto adentrando o país pela região da Catalunha) mostra aquilo que depois será constatado em terra. Ao entrar em Barcelona, formula a pergunta inevitável: ‘Mas onde está o terror em Barcelona? Além de uns vinte prédios queimados, onde está a cidade em cinzas? À parte algumas centenas de mortos (...) onde estão essas hecatombes?... Onde, essa fronteira sangrenta por sobre a qual se dispara?’. A resposta nos dá o próprio autor: ‘Não encontrei facilmente essa fronteira. É que nas guerras civis ela é invisível e passa por dentro do coração do homem’.”

Às vezes penso que hoje o que vivemos é algo próximo à guerra civil. Não é, como pode parecer, uma alusão ao Capitão Nascimento: a guerra dele tem front e interesses claros. Penso em nossa vida comum, nas cidades, na vida que ainda se pretende política, porque pública. Se mata e se morre sem saber muito bem por quê, se assume causas e se condena por questões circunstanciais – ou por questões de fundo que se perdem em meio à espessa cortina de fumaça das falsas notícias e opiniões infundadas. Qualquer semelhança com o nosso futebol não é coincidência. Mas nem só de futebol se vive, e se mata, no nosso mundinho.

Como outras guerras, a moral da história dessa Guerra Civil, que termina com a vitória fascista, em 1939, às vésperas da invasão nazi da Polônia, talvez seja que, haja o que houver, é a democracia radical – que imprescinde do conflito aberto, do reconhecimento da diferença e sua verbalização clara e respeitosa – que permite a existência de algo que se possa chamar de civilidade. Alguns de nós estamos aprendendo, mas não falta quem fuzile os que se levantam pelo direito de dar voz ao outro e polemizar com ele.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Você batizaria seus filhos como Mussolini?

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Tá sobrando dinheiro por aí: sem mais o que fazer (ou propor), um partido italiano de extrema direita está oferecendo 1.500 euros para quem der aos filhos o nome do falecido ditador italiano Benito Mussolini (à direita) ou de sua mulher, Rachele. O nanico Movimento Sociale-Fiamma Tricolore argumenta candidamente que esses dois nomes são "muito agradáveis". Na cara larga, o partideco acrescenta ainda que o incentivo "não tem nenhuma intenção fascista ou racista" - Ma che! Catzo! Só que uma das condições é exatamente que pelo menos um dos pais seja italiano (xenofobia?). Para facilitar as adesões, o "Bolsa-Mussolini" é oferecido em cinco áreas pobres do Sul de Itália. Aí o manguaça vira pra mulher, com um olhar pra lá de mal intencionado: "-Chega pra cá, minha porpêta! Vamo fazer outro bagulino? Esse vai se chamar Benitinho! Mas me diz uma coisa, pêpa: quanto será que dá, em vinho tinto, 1.500 euros?".

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

O vinho e a barbárie

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Esses dias revi um documentário genial. Chama-se Mondovino.

O diretor Jonathan Nossiter chega próximo a cada personagem que compõe o complexo, apaixonado e conflituoso mundo do vinho. Temos o velhinho da Toscana que com um largo sorriso fala do vinho que produz como herdeiro de uma milenar tradição civilizatória: o vinho é o que alimenta os laços da comunidade, que rega as amizades e produz a festa. É o vinho contra a barbárie. Mas há também os produtores do Napa Valley, na California, em particular os megaprodutores da família Mondavi, que sonham um dia, quando já sentirem que a Terra é pequena, poder produzir vinho em Marte...

É na proximidade com essas pessoas que o filme realiza sua proeza, e desenha um dos retratos mais nítidos do meio cultural em que estamos mergulhados, ao qual damos o nome difuso de “sistema”. De um lado, uma diversidade enorme de pequenos produtores, em geral em idade avançada, e particularmente fortes na França, defende os chamados terroirs (os territórios vinícolas) e os vinhos feitos numa relação de intimidade entre o homem e a natureza, únicos a cada safra, e que ganham complexidade de degustação e personalidade em lentos processos de envelhecimento.

De outro, os seguidores da “filosofia” Mondavi, de produzir vinhos jovens, vibrantes e expansivos, de fácil apreciação pelo “bebedor comum”, mas sem a riqueza de aromas, cores e sabores dos vinhos mais “lentos”. Em vez dos territórios, que produzem sabores singulares em cada localidade, resultado do clima, do solo e do trato com as uvas, valorizam recursos tecnológicos que permitem homogeneizar a produção e, em tese, gerar o mesmo vinho em qualquer lugar do mundo onde cresçam uvas.


Os degustadores


Nossiter vai então desvendar os mecanismos que permitiram aos Mondavi tornarem-se o modelo de sucesso no mundo do vinho contemporâneo. Percebe-se como umas poucas pessoas acabam determinando o mercado vinícola mundial. Para começar, um degustador chamado Robert Parker, famoso por seu virtuosismo técnico, que tem influência direta nos preços internacionais. O preço da garrafa acompanha as notas dadas por Parker. Este homem gosta de vinhos jovens, de sabor vibrante, exatamente como os que são produzidos pelos Mondavi, e começou a dar notas baixas aos vinhos de Bordeaux e Borgonha, pelo menos desde os anos 1980.

Isso só não bastaria. Há um enólogo francês chamado Michel Rolland – que presta consultoria a mais de 300 produtores em todo o mundo, como os Mondavi e outros dentre os maiores. Ele é quem sabe produzir vinhos de notas altas. O filme acompanha Rolland em suas visitas às vinícolas, e o seu conselho é um só: “microoxigenação”. Seu bordão é “precisa microoxigenar este vinho”, e é curioso que todos os vinhos precisem da mesma coisa. Outro recurso que se difunde são as chamadas barricas de madeira jovem, que dão sabor de baunilha ao vinho. É também algo que valoriza (e uniformiza) os produtos ao redor do mundo.

Esse mesmo Michel Rolland será o principal consultor dos produtores argentinos e chilenos, que tanto cresceram no mercado mundial nos últimos anos. E muitos produtores mesmo nos rincões mais tradicionais começam a entrar na onda, e aproximar seus vinhos do chamado “gosto moderno”. E são eles que vão chamar os "resistentes" de "terroiristes", quando fazem campanha pelas práticas tradicionais e pela preponderância dos terroirs sobre as marcas.

Mas o que me parece mais belo (e terrível) neste filme é como ele mostra o que significa esse estabelecimento de um mundo dominado pelos interesses comerciais, que começa a se habituar e se moldar por um vocabulário publicitário (que chama de “filosofia”) e já não reconhece mais as coisas genuínas e complexas. Mais que isso, percebemos o quanto se deve compreender a uniformização, o já tediosamente chamado “pensamento único”, como a própria imagem do fascismo. O fascismo não é um regime de Estado nem um conjunto de práticas, é precisamente um estado de anulação do indivíduo em nome de uma massificação que avança subterrânea mas evidentemente e que se dissemina na exata proporção de sua simplificação do que seja o ser-humano, a vida e a cultura. “Fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer”, alertou Rolland Barthes, mostrando que não é na repressão, mas na proliferação que o verme se instala.

Mais que diversidade, valores ou o que quer que seja, perdemos é intensidade de vida, o contato com coisas insubstituíveis, que valem por si, pela experiência que proporcionam, e não pelo que são capazes de comprar. Lembrei muito de As Invasões Bárbaras, realizado pelo canadense Denys Arcand, selecionado em Cannes em 2003, um ano antes de acontecer o mesmo com o filme de Nossiter. Nesse filme, há uma geração (ali com os seus 60 anos), cuja intensidade estava no sexo e no pensamento livre, e a geração aos 30 anos, cuja intensidade se encontra na heroína e no “gerenciamento de risco dos investimentos em petróleo no mundo”.

É isso. Paro por aqui, recomendando vivamente a todos que assistam a Mondovino.