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sábado, outubro 08, 2011

Sobre gritos de torcida

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Ontem o Sidney Garambone levantou um tema em seu Twitter que despertou várias lembranças de idas a estádio. Ele sugeriu que as pessoas relembrassem cânticos de torcida e as pérolas que começaram a surgir me trouxeram à mente várias que escutei in loco e também pela rádio ou TV.

Muitos dos gritos provocativos das torcidas envolvem preconceito social, homofobia, misoginia etc e tal, mas também há aqueles que são criativos e puxam pela história do rival, tem como alvo um atleta adversário ou aproveitam determinada situação para fazer graça. Como santista, era particularmente cruel ver clássicos na época em que o Santos ficou sem ganhar títulos (1985-2002), especialmente depois que o Palmeiras saiu da fila em 1993 e deixou o Peixe como primeiro. Em clássicos, era só aguardar o momento em que alguma das torcidas do Trio de Ferro começaria a contar (em geral antes do jogo começar) “1,2,3,4,5...” até chegar ao número de anos que o time não ganhava um título para cantar “Parabéns, pra você...”. A torcida são-paulina, diferentemente das outras, costumava fazer provocações “patrimoniais” quando ia à Vila Belmiro: “A, e, i, estádio é o Morumbi”, gritavam.

Castigo de artilheiro: ter o filho goleiro
E, claro, também tinham os gritos de “Pelé parou, o Santos acabou” ou “É, é, é, viúva do Pelé”. Para o São Paulo, a resposta passou a ser “Telê parou, São Paulo acabou” e, para o Corinthians, lembro da igualmente infantil “Em, em, em, viúva de ninguém”. Em dado período, a resposta era “familiar”: “Pelé parou, Edinho começou”, um exercício de auto-heresia visto poucas vezes no ludopédio mundial. Hoje, o grito “Santos, o c...alho/lugar de Peixe é dentro do aquário” soa como música perto dos gritos dessa época... Mas junto com o o título do Brasileiro de 2002, que tirou o Peixe da fila, veio um dos gritos mais caros ao torcedor alvinegro: “Diego joga bola/Robinho deita e rola/E só dá Santos”. Desde então, os adversários não lembram da viuvez de Pelé e nem cantam mais parabéns.

A disputa entre jogadores também era um espetáculo à parte. Quem não lembra da Fiel cantando “Chora, porco imundo/Quem tem Viola, não precisa de Edmundo”. Na segunda partida da final do Paulista de 1993, quando o Verdão conquistou o título, veio o troco em relação à primeira partida da final, quando o atacante corintiano imitou um porco ao fazer o gol da tarde: "Chora Viola/imita o porco agora". E, ironicamente, o futebol dito “muderno” (pós-moderno?) levaria mais tarde Viola ao Palestra Itália e Edmundo ao Timão.

Originalidade

Mas um dos gritos citados no Twitter foi dos mais inusitados já cantados em um estádio no Brasil. A história toda está aqui, mas resumindo, Maurinho, lateral-direito que se destacou no Bragantino, foi chamado pelo treinador dantão, o mesmo de hoje, Vanderlei Luxemburgo. E numa partida do Olaria contra o rubro-negro, no dia 1 de abril de 2000, o atleta foi “homenageado” pela torcida. Após gritarem “Ão, ão, ão, Maurinho é seleção”, os torcedores completavam com “Il, il, il, Primeiro de abril”. "Homenagem" similar surgiu anos mais tarde, com o grito "Obina, melhor do que o Eto'o". Ironia fina da torcida.
O Flamengo do "pior ataque do mundo"
O bom humor carioca criou outros cânticos interessantes. Em 1995, o Flamengo formou o que boa parte da imprensa do Rio e de outros cantos considerava o “melhor ataque do mundo”, com Sávio, Romário e Edmundo. A combinação redundou em fracasso e, de acordo com o Wikipedia, foi a torcida do Vasco que, após um empate em zero a zero com o Flamengo, criou a paródia de um jingle de comercial de companhia aérea. “Pior ataque do mundo, pior ataque do mundo/ Para um pouquinho, descansa um pouquinho, Sávio, Romário, Edmundo.”

Em 2008, novamente a torcida do Flamengo fez das suas. Logo depois de ganhar a Taça Guanabara em cima do rival Botafogo, os torcedores, na peleja diante do Cienciano, cantaram para provocar os rivais, que reclamaram da arbitragem. “E ninguém cala esse chororô! Chora o presidente, chora o time inteiro, chora o torcedor!”. Digamos que, nesse caso, a reação botafoguense à perda do título justificou o sarro rubro-negro...

Músicas “adotadas”

Além dos gritos, não raro as torcidas adotam músicas famosas, ou nem tanto, para chamar de suas. Ivete Sangalo já teve músicas suas cantadas por diversas torcidas e, na partida entre Ponte Preta e Sport, na Série B hoje, era possível escutar uma versão de O Meu Sangue Ferve por Você, sucesso de Sidney Magal que também é cantado por outras torcidas, como a do Remo. Mamonas Assassinas e sua Pelados em Santos foram inspiração para a torcida do Inter criar Camisa Vermelha, que tem em seus versos uma referência a um dos temas desse site: "Minha camisa vermelha/ e a cachaça na mão/ o gigante me espera/ para começar a festa" (Veja vídeo aqui).

O caso mais emblemático na área talvez seja o da torcida do Fluminense, que adotou A benção João de Deus na final do primeiro turno do campeonato do carioca de 1980, ano da primeira visita de Karol Wojtyla ao Brasil (leia a respeito). O Tricolor superou o Vasco nos pênaltis e a canção acompanha o clube até hoje.

Ainda se ouve na Argentina o Ilariê de Xuxa
Já “Vou festejar”, do flamenguista Jorge Aragão, celebrizada na voz do botafoguense Beth Carvalho, virou hit entre a torcida do Atlético-MG, que recebeu a sambista para cantar na despedida da equipe da Série B do Campeonato Brasileiro, em 2006. E também foi entoada por outras torcidas, como a do Botafogo do coração de Beth Carvalho, aqui e aqui.

No entanto, o que sempre foi muito curioso pra mim foi ver Ilariê, da multi-artista Xuxa, ser cantada em estádios argentinos. Isso acontece há muito tempo, a brasileira já fez muito sucesso por aquelas plagas, e na Libertadores 2011, tanto a torcida do Vélez Sarsfield, semifinalista da competição, como a do uruguaio Peñarol, entoaram a canção, como se vê aqui. Isso é que é perenidade.

E, você, caro leitor futepoquense, qual o seu grito ou cântico de torcida predileto?