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terça-feira, janeiro 20, 2009

Reunião do Copom dessa quarta pode ser a última de Henrique Meirelles

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A revista Carta Capital desta semana traz em sua capa uma boa notícia para quem acredita na possibilidade de outros rumos para a economia brasileira, especificamente na política monetária: o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já comunicou ao presidente Lula que se desligará do cargo em breve. A notícia ainda tem que se confirmar, mas a revista não costuma ser leviana com informações.

Nessa quarta-feira, temos nova reunião do Comitê de Política Monetária do BC, que definirá o patamar da taxa Selic para os próximos 45 dias. Na última reunião, ocorrida no início de dezembro, apesar de vários sinais da economia apontarem para a necessidade de redução dos juros (inclusive com desaceleração da inflação, obsessão de Meirelles e cia.) e em meio à já declarada crise do sistema financeiro internacional, o comitê decidiu manter a taxa em 13,75%.

Já naquele momento, vozes econômicas menos ligadas ao sistema financeiro já avisavam que o grande vilão deixava de ser a inflação, mas o risco cada vez maior de uma recessão. Se isso já era verdade há quase dois meses, hoje está mais cristalino do que nunca. Após a decisão do BC de dezembro, seus congêneres de outros países realizaram agressivos cortes nas taxas de juros. Um artigo da revista The Economist informa que o Banco da Inglaterra cortou 1% em dezembro, seguindo um corte de 1,5% no mês anterior. O Banco Central da Suécia cortou sua taxa de 3,75% para 2%. Mas o foco do artigo foi a redução realizada pelo Banco Central Europeu, responsável pela estabilidade do Euro, que fez o maior corte em sua taxa de juros desde sua criação, há dez anos: 0,75%. Apesar disso, a revista, uma das mais influentes publicações do mundo, considerou o corte tímido para enfrentar as circunstâncias decorrentes da crise de crédito internacional para a economia européia.

Pois é exatamente esse valor tímido que o “Mercado”, essa entidade que nos governa a todos, amém, aponta como expectativa para o corte da Selic: 0,75%. Como o BC de Meirelles (e Lula, pois manter o cara no cargo é dar aval para suas decisões, convém lembrar) em geral não gosta de desapontar seus amiguinhos da banca, é daí para baixo. Será que não caberia um pouco mais de ousadia nem durante a maior crise na economia mundial dos últimos 80 anos?

É verdade que a crise não atingiu o Brasil de forma tão grave ainda. Enquanto a maior parte do mundo avalia qual será o tamanho da recessão em 2009 (ou seja, o quanto o PIB vai encolher), as previsões para o Brasil falam no máximo em uma redução do ritmo de crescimento, que ficaria entre 2% e 4%. Ou pelo menos esse era o quadro que se via há até pouco tempo. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho mostram o fechamento de 654,9 mil vagas formais em dezembro do ano passado no país, quase o dobro da média para o mês (em 2007, as demissões líquidas foram de 319,4 mil no mesmo mês, e em 2006, de 317,49 mil). É caso de luz amarela e medidas consistentes para estimular a economia.

O cenário ainda não parece crítico e o governo tomou diversas medidas para diminuir os impactos da crise. Basicamente, a receita é facilitar o crédito e aumentar investimentos para combater o desemprego e a queda do nível de renda dos trabalhadores. Assim, as pessoas teriam mais dinheiro para gastar, impulsionando a economia como um todo e combatendo o estrangulamento da economia.

As medidas podem funcionar, mas é preciso que o Banco Central, essa entidade autônoma, que parece pertencer ao governo só no papel – diga-se aqui que o PT e Lula, que quando na oposição ajudaram a barrar a discussão sobre a autonomia do Banco Central, deram ao órgão um grau de independência maior até que o dado por FHC... - faça sua parte: derrube os juros.

A queda dos juros não é a panacéia para todos os problemas, mas faz parte dos mecanismos que a sociedade tem para enfrentar uma crise como essa. Uma das conseqüências seria a diminuição dos gastos do governo com a dívida pública (boa parte da dívida é atrelada à Selic), o que deixaria mais recursos para serem aplicados diretamente na economia via PAC e outros programas, gerando empregos.

Além disso, a Selic tem influência nos juros praticados por todos os outros agentes (bancos, financeiras). No entanto, nessa frente outra batalha precisa ser travada. A maior parte dos juros praticados hoje pelos bancos não vem da Selic, mas sim do chamado spread bancário – a diferença entre o custo que o banco tem para captar dinheiro (a remuneração de uma aplicação, por exemplo) e o quanto ele cobra para repassar esse dinheiro para a sociedade (a taxa de juros de um empréstimo ou financiamento.

Os bancos brasileiros não estavam expostos na jogatina do mercado financeiro estadunidense e foram pouco prejudicados pela crise. Apenas os bancos pequenos e médios estavam em posição mais frágil, mas por conta do aumento mundial dos custos de captação de dinheiro. Os grande bancos podem agüentar mais esse tipo de situação.

O governo modificou algumas regras – principalmente, diminuiu os depósitos compulsórios que todo banco é obrigado a recolher para o BC – para garantir que os bancos aumentassem sua disposição em oferecer crédito para a sociedade, o que ativa a economia. No entanto, os grandes bancos se sentaram em cima do dinheiro liberado, esperando a quebradeira dos bancos menores para comprá-los. O tal spread continua nas alturas, tornando os empréstimos cada vez mais caros.

O fato é que o governo precisa enquadrar os bancos de alguma forma para que eles cumpram seu papel social de intermediação financeira - lembrando que a atividade bancária é concessão do Estado. Acontece que a regulação do sistema financeiro nacional também é função do Banco Central. Ou seja, se o presidente Lula acordar amanhã e decidir derrubar drasticamente os juros e peitar a turma da grana, terá que procurar o presidente do BC para efetivar essas decisões. Alguém aí vê Henrique Meirelles tomando essas atitudes? Eu não. Torçamos, pois, para que Carta Capital esteja bem informada e que Lula decida colocar à frente do BC alguém afinado com ala mais desenvolvimentista do governo.


















E aí, presidente, quem é que manda no Banco Central?

PS.: Um nome que já foi cotado para o cargo em outros momentos da administração petista foi o de Luiz Gonzaga Belluzzo, hoje candidato a presidência do Palmeiras, e que já falou bastante sobre a crise financeira, inclusive para este Futepoca. Creio que seria uma excelente escolha para o cargo e todos deveríamos trabalhar para sua indicação. Inclusive os palmeirenses.


(Fotos de José Cruz e Marcello Casal JR, da Agência Brasil)