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terça-feira, outubro 07, 2008

De novo, um dia de mesário

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A votação corria tranquilamente na seção quando, de repente, acontece aquilo que você acha que só pode ocorrer na zona eleitoral vizinha. A urna pára de funcionar. Os mesários correm e verificam a danada e a presidente de mesa chama alguém do cartório eleitoral para resolver a questão.

Os eleitores, que eram poucos, começam a se avolumar do lado de fora. Os bochichos começam e o primeiro mesário, por ser o único homem do local, é o responsável por organizar a fila. Avisa aos presentes o ocorrido e começa a sentir os olhares fulminantes. Quando volta para dentro da sala de votação, escuta a voz de um cidadão reclamando.

Nada de ajuda, nada da urna voltar a funcionar. Já se passaram dez minutos e a fila atinge a porta da seção vizinha. O burburinho aumenta, as pessoas esticam o pescoço para olhar a sala. O suor frio dos ameaçados serventes da Justiça Eleitoral mostra que é preciso agir. Acostumado a fazer e ver gambiarras de redes, computadores e quetais no lugar onde trabalha, o mesário tenta resolver do jeito que sabe. Muda a urna eletrônica de tomada e gira a chave da dita cuja para tentar religá-la. Ela demora, mas três minutos depois reinicia.

Ainda o burburinho e certa impaciência. O cidadão que reclamava agora já fala mais alto dizendo que todo ano (sic) é a mesma coisa. O mesário volta à fila e comunica aos primeiros que logo que a urna reiniciar, a votação volta. Procura quem é o exaltado. Um senhor de uns cinquenta anos e pouco mais de um metro e meio de altura. Chega perto dele e fala ao interlocutor do reclamão: “Tá tudo resolvido”. Olha para o cidadão, que cala. E assim permanece. Vinte anos a menos e trinta centímetros a mais às vezes resolvem impasses de forma rápida, sem discussão. Tudo em nome da democracia.

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O cidadão chega à fila da votação com todos os odores demonstrando que de fato a lei seca estava suspensa. Torto, pergunta se é ali o local em que ele vota, pois esqueceu o título.
- O senhor pode aguardar aqui que vou verificar.

- Pô, obrigado, irmão. Você é um abençoado, rapaz!

O mesário verifica a lista e vê que é ali mesmo que o ébrio vota. Comunica a ele e pede para que entre na fila. Quando chega a sua vez, o cidadão senta em frente à cabine. Demora, demora, fala consigo mesmo e não vota. A mesária pergunta se há algum problema.

- Esqueci os números. - comenta com a voz embargada, provavelmente lembrando que esqueceu a cola no balcão do bar.

- Não tem importância, o senhor pode consultar ali fora. - diz a mesária, apontando pra que o guardião da fila orientasse o cidadão, já que o voto dele estava em aberto e ninguém mais poderia votar se ele não o concluísse.

O mesário mostra a lista afixada para ele, que fica ali durante minutos, não sem antes agradecer de novo. Nova fila começa a se formar. Já vendo mais um momento crítico que se aproximava, o mesário vai até ele. 

- Não sei onde está o nome dos candidatos. – reclama, olhando para o papel onde estavam os nomes dos candidatos.

- Aqui estão os vereadores, e aqui, os prefeitos. O senhor precisa anotar os números. Os números... - orienta o mesário, já algo desesperado.

Ele começa a desenhar os algarismos no papel. Depois de anotar o número do vereador, o homem empaca.

- Mas não estou achando o nome do fulano pra prefeito. - protesta.

- Mas, senhor, ele é candidato a vereador, não a prefeito...

- Ah, tá. Então não dá pra votar nos dois.

- Não. Não dá pra votar nos dois... Os candidatos a prefeito são esses. - aponta o já impaciente auxiliar eleitoral.

O homem anota um número e volta a agradecer de forma enfática.

- Pô, cara. Tu é abençoado. Ainda bem que tu me ajudou porque estou com uma baita carga espiritual pesada...

O homem finalmente votou e o mesário adicionou ao seu vocabulário a expressão “Carga espiritual pesada” como sinônimo de embriaguez alcóolica. O bom das eleições é que a gente sempre aprende.

PS: o personagem da segunda história é exatamente o mesmo que propiciou outra cena nas eleições de 2006 .

quarta-feira, novembro 01, 2006

Vida de mesário - segundo turno

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A mãe sai da seção com o filho de uns sete anos de idade. Hoje é comum as crianças irem "votar" com os pais, cabendo a elas a gloriosa tarefa de apertar o número dos candidatos. O guri olha pra mãe e pergunta:
- A gente votou no Lula, né, mãe?
- Que, Lula, menino! - responde sem paciência.
- Mas, mãe, a gente tinha que ter votado no Lula!
- Fica quieto!
Já puxando a mãe de volta pra seção, o moleque começa a gritar:
- Mãe, vamos voltar! A gente tem que votar no Lula! A gente tem que votar no Lula!
O garoto é arrastado escada abaixo. De longe, ainda é possível ouvir seus berros. "Cala a boca, menino. Está todo mundo olhando", grita a mulher deseperada.

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A mesária libera a urna para um homem negro, tipo armário dois por dois, ir votar. Ele entra na cabine e senta na cadeira. É possível ver suas mãos entrelaçadas. Fica ali, um, dois minutos. Imóvel. E nada de teclar seu voto.
Em dado momento, coloca a cabeça pra fora da cabine e pergunta: "qual o número dos candidatos?". Informado, começa a repetir para si mesmo: " é treze, é treze, é treze", como se estivesse em transe.
Vota e sai da cabine, como que aliviado. Mira uma das mesárias e destila seu ensinamento:
- Precisamos de proteção divina, o Brasil precisa disso. Você, que é um espírito que veio de cima, sabe do que estou falando.
Diz isso e sai. A mesária, perplexa, tenta se compeender como um "espírito que veio de cima."

segunda-feira, outubro 02, 2006

Um dia de mesário

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O primeiro voto é pra deputado federal. Às vezes a pessoa entrava, e nada de ouvir o barulho do botão “Confirma”. Nisso, outros eleitores começam a chegar. A fila se avoluma. Um burburinho aqui e ali, a insatisfação no rosto de todos. E você não pode ajudar a pessoa na cabine. Um tempo depois e pode se escutar o barulho de confirmação. Agora, vai.

Não. O voto seguinte é para deputado estadual. Cinco números. Trava de novo.

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Depois de alguma demora para dar os três primeiros votos (deputados federal e estadual e senador), o eleitor sai da cabine. Sem finalizar os votos, impossível liberar a urna para o seguinte. A mesária o chama: “o senhor não votou para governador e presidente”. O cidadão, com cara de “te peguei”, vira pra ela e grita: “como você sabe? Como você sabe?”. Volta para a cabine sem tempo de ouvir explicações e vaticina: “sabia que era tudo arranjado”.

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Outra eleitora demora pra votar em deputado federal. Fica na cabine, começa a resmungar e a mesária pergunta se há alguma coisa errada. Ela, revoltada, desabafa: “estou digitando o número do meu deputado e aparece esse careca aqui. Esse careca comprou a urna!”. Algumas tentativas depois e a foto do seu deputado surge. O careca liberou a urna.

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Uma questão: se o presidente do TSE, responsável, entre inúmeras outras tarefas, pela garantia legal do processo eleitoral e da apuração dos votos, diz a um jornalista que prefere que haja segundo turno para a eleição presidencial, pode um mesário dizer ao eleitor que prefere que ela termine no primeiro?