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quarta-feira, setembro 29, 2010

Fontes da Folha são Datafolha e... repórter da Folha

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Todo mundo sabe que a credibilidade da Folha de S.Paulo está tão baixa quanto a do Fernando Henrique Cardoso, que disse à Reuters que vencer no 1º turno não será bom para Dilma Rousseff (!!!). Pois, agora há pouco, a Folha On Line publicou uma materinha intitulada "Mercadante aposta em popularidade de Lula na reta final da campanha" (coisa mais óbvia!), em que a cara de pau conhece novos patamares. Além de usar os números do não menos desacreditado Datafolha (desmentido sistematicamente pelos resultados do Ibope, Sensus e Vox Populi), o texto ainda usa aspas de apenas uma fonte. Sabem de quem? Daniela Lima, repórter do caderno "Poder", da... Folha de S.Paulo (!!!!). Está inaugurado o auto-jornalismo.

Ps.: Há dois anos, em setembro de 2008, às vésperas da eleição municipal em São Paulo, o Datafolha apontava empate entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, com 22%, atrás de Marta Suplicy, que tinha 37% (reprodução abaixo). Poucos dias depois, em 5 de outubro, Kassab teve 33,6% dos votos válidos, contra 32,8% de Marta e 22,5% de Alckmin, que ficou fora do 2º turno.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

VÁRZEA: vereador que vai à Câmara com camisas de futebol registra compra de votos em cartório!

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DIEGO SARTORATO*

Quando ouvi falar pela primeira vez, tardei a acreditar. Aí vi o papel, carimbado e protocolado, prova física do descalabro. Era verdade: o vereador Vandir Mognon (PSB), de São Bernardo do Campo (SP), registrou em cartório que ofereceria dois cargos públicos na Secretaria de Esportes a um cabo eleitoral – Júlio César Fuzari - caso ele conseguisse votos que garantissem a sua reeleição. Absurdo? Nem tanto quanto o parágrafo único do mesmo documento: "caso Vandir Mognon não seja nomeado secretário de Esportes no município, garante uma vaga no gabinete de vereador, na Câmara Municipal, com salário de R$ 3,3 mil ou mais". É sério isso! Quem duvida pode conferir com os próprios olhos:


Denunciei essa insanidade inacreditável no jornal ABCD Maior (que gentilmente cedeu ao blogue o fac símile e a foto abaixo, feita por Antonio Ledes). O grotesco da picaretagem formalizada começa pela linguagem cartorial: "As partes obrigam-se ao fiel e integral cumprimento deste contrato, que é firmado em caráter irretratável e irrenunciável". Encerrado o documento, está lá, oficializada, a compra de votos com registro em cartório. Não sei nem dizer quem estava mais manguaçado. Seria o escrivão, que lavrou uma ata de crime e nem se tocou? Ou o vereador-marreteiro, que voluntariamente registrou o crime eleitoral em cartório? Ou então o cabo eleitoral, que confia tanto no candidato que precisa fazer ele registrar a negociata pra ter certeza que vai ser cumprida?

Mas o mais engraçado é que o "compromisso legal" não serviu para seu devido fim: Mognon foi reeleito mas, como seu candidato a prefeito (o tucano Orlando Morando) não venceu as eleições, não teve como oferecer os cargos na Secretaria de Esportes. E mesmo o prêmio de consolação, o carguinho de assessor parlamentar que ele se comprometeu a ceder a Fuzari no documento oficial, o vereador ainda não pagou. Traduzindo: o maluco registrou a compra de votos em cartório, foi reeleito vereador e nem cumpriu o combinado com o comparsa! E depois o bêbado sou eu!

Mognon foi secretário de Esportes nos dois anos finais da gestão do ex-prefeito William Dib (PSB, 2002-2008) e é notório por ser o único vereador que não vai às sessões da Câmara com traje social: só usa camisetas de time de futebol (foto acima) - e nunca repetiu nenhuma! Dizem que tem mais de 200, de times latino-americanos, europeus, da primeira e da segunda divisão.

Mas parece mesmo que tem um gostinho todo especial pela várzea...

*Diego Sartorato é jornalista, corintiano, comunista, pró-palestinos, apreciador de 'vodka' Zvonka e colaborador bissexto do Futepoca.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Do PT seria caixa dois; do DEM, "doações ocultas"

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Tá lá na Agência Estado: o prefeito reeleito de São Paulo, queridinho da mídia Gilberto Kassab (foto), do ex-PFL (DEM), que arrecadou R$ 29,8 milhões na campanha deste ano, "justificou" simplesmente 95% (reforço: noventa e cinco por cento) do dinheiro como oriundos de "doações ocultas", segundo prestação de contas à Justiça Eleitoral. Gente, isso não é sério. É muito sério, pô! No total, R$ 28,5 milhões entraram na conta da campanha via partido político ou comitê partidário, operação que até é permitida pela legislação, mas dificulta a crucial identificação de quem financiou o candidato. E a mídia, pra variar, trata o assunto com total discrição.

Entenderam o golpe? Quando empresas e pessoas físicas fazem doações diretas aos candidatos, sua identidade é revelada na prestação de contas. Mas, quando a doação vai para o caixa do partido, é impossível saber quem a recebe efetivamente, pois o dinheiro pode ser repassado para mais de um candidato. E, enquanto as prestações de contas das campanhas são feitas até 30 dias após as eleições, os partidos só divulgam a lista de seus doadores no meio de 2009. Lembrete: Kassab teve a campanha mais cara entre os concorrentes e quase atingiu o teto previsto antes do início das eleições, de R$ 30 milhões. Repito o meu jargão: ah, se fosse o PT...

terça-feira, outubro 28, 2008

No butiquim da Política - A eleição na capital

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CLÓVIS MESSIAS*

Todo mundo sabe que os candidatos Geraldo Alckmin, do PSDB, e Marta Suplicy, do PT (fotos à direita), foram os grandes derrotados nas eleições municipais de São Paulo. E essa também é a avaliação da maioria dos deputados e assessores aqui no Palácio 9 de Julho. Segundo se afirma, o remédio principal para os dois será o tempo. As projeções de um mês atrás não servem para mais nada, devido os resultados atuais. Aqui no buteco especulam-se nomes para as futuras eleições majoritárias. Os partidos não rejuvenesceram, não apareceram novos líderes. As agremiações, em nome dos debates internos, sufocam novidades administrativas. Os militantes votam em cima do convencionalismo partidário e, conseqüentemente, o novo desaparece. Nesse momento, as conversas vão do céu ao inferno num estalar de dedos.

Amuados, os perdedores estão retornando com a impressão de que a Assembléia Legislativa não os projeta, não lhes dá destaque. Mas os culpados são eles mesmos, já que não sabem politizar os debates sócio-econômicos (afinal, o poder se destaca através dos seus membros). A verdade é que as convenções partidárias, com ou sem acordos, deixaram hematomas que não desaparecerão tão cedo. Dessa vez, a omissão das direções partidárias não foi o senhor da sabedoria. No PSDB, como se nada estivesse acontecendo, Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil do governador José Serra, continua acertando os ponteiros com o PTB, PV, PR e PMDB. Ninguém faz contraponto, mas o partido está em notória ebulição.

Do outro lado, com sua forma descontraída de participar da eleição, votando em Luiz Marinho (foto à esquerda) para prefeito de São Bernardo do Campo, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, projetou um novo líder petista estadual. Agora, com quase todos os nomes desgastados no PT, Marinho surge como um nome forte para futuras eleições. Numa das mesas alguém comenta que ele é um sindicalista vencedor. Como líder metalúrgico, por hábito, ouve bastante antes de tomar atitudes. Está na hora do partido voltar às origens, mas com novas lideranças. Na capital, o PT perdeu nas zonas Leste e Sul da capital e também nos bolsões da classe média. As propostas, aqui no buteco, são de reestruturação total. Lógico, isso é um pouco de exagero. Mas o novo é a construção.

Já os DEMocratas, vencedores na capital com Gilberto Kassab, não se abalam. Continuam compondo chapas. Estão contentes aqui no Legislativo de São Paulo.


*Clóvis Messias é jornalista, são-paulino, dirigente do Comitê de Imprensa da Assembléia Legislativa e colabora com esta coluna para o Futepoca.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Justiça eleitoral: pesos e medidas

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Nas eleições de 2004, em Mauá, minha cidade natal e domicílio eleitoral, o candidato petista Márcio Chaves teve sua candidatura cassada pela justiça eleitoral. O processo começou com uma representação apresentada pelo vereador Manoel Lopes, então no PFL, que viria a se tornar DEM, por uso da máquina administrativa municipal para fazer campanha. O crime foi a exposição Túnel do Tempo, criada pela gestão de Oswaldo Dias (PT, então em seu segundo mandato) para comemorar os 50 anos de emancipação da cidade, comemorados naquele ano.

Marcio venceu o primeiro turno, com 91.910 votos (45%) contra 79.584 votos (39%) do segundo colocado Leonel Damo, do PV. O candidato verde é um tipo de Paulo Maluf mauaense. Foi prefeito na cidade duas vezes, fez um monte de obras do tipo asfalto, prédios públicos, essas coisas de empreiteiras, ganhou uma penca de dinheiro. Tem esquemas com os principais empresários, como o famigerado Baltazar, proprietário das empresas de ônibus. É dono de uma casa que é uma espécie de sítio num bairro central da cidade, ocupando uns dois ou três quarteirões murados. Hoje, como em 2004, é visto como ultrapassado e corrupto e enfrenta uma rejeição enorme. Enfim, o petista tinha boas chances de vencer a disputa no segundo turno.

Mas a juíza eleitoral Ida Inês Del Cid aceitou o pedido e cassou Marcio. Não satisfeita, poucos dias depois da primeira decisão, proclamou Damo eleito. A decisão da juíza mostrar-se-ia acertada, mas um pouco apressada: recursos petistas ao TRE e TSE prolongaram a indefinição sobre as eleições por mais ou menos um ano, até que Damo fosse oficialmente empossado (nesse período, o então presidente da Câmara, Diniz Lopes – irmão mais novo do Manoel que fez a representação – governou a cidade interinamente, aumentou os salários dos servidores e formou uma base de eleitores que lhe rendeu 17% dos votos em 2008, quando se candidatou a prefeito).

Eu me lembro de passar pela malfadada exposição Túnel do Tempo. Era uma espécie de tenda em forma de, bem, túnel, com imagens históricas, alguns textos, coisa e tal, colocada no centro da cidade. Não vi nada demais e estranhei quando veio a notícia da cassação com base naquilo. Depois me explicaram que fazia parte da exposição um vídeo que tinha menções positivas a Marcio Chaves, que era secretário de Saúde na administração Dias. Segundo matéria que resgatei do Terra: “De acordo com a decisão, a exposição foi realizada fora do prazo legal de três meses que antecedem as eleições. Pires teria infringido o Artigo 73 da Lei Eleitoral, que caracteriza o ato de propaganda institucional proibida.”

Pois bem. A justiça eleitoral considerou justa a cassação da candidatura de Marcio Chaves por conta de um vídeo em uma exposição realizada por alguns dias no centro da cidade, o que provavelmente deve estar certo. Mas cabem algumas ponderações. Mauá não é São Paulo, mas é uma cidade grande, com mais de 200 mil eleitores. O tal vídeo poderia ter algum efeito, mas não creio que fosse determinante. Tanto que os jornais da região deram (me lembro bem) a foto de Damo sendo prematuramente empossado pela juíza, mas não fiquei sabendo de nenhuma repercussão ao tal do vídeo antes da decisão da justiça.

Agora, a mesma justiça aprecia o pedido de cassação da candidatura Kassab. Todo mundo no estado de São Paulo sabe qual foi o fato que levou ao pedido, o tal do checão. E todo mundo sabe porque a foto do ato apareceu na capa dos dois maiores jornais do estado e do país. E Kassab não é secretário municipal, é o próprio prefeito. E apareceu do lado do governador do estado, seu principal apoiador e padrinho político (atual, antes ele teve outros).

E a decisão (tanãm!) é uma multa de R$ 5.320,50. A diferença de pesos e medidas sempre me impressiona.

PS: Para quem tiver paciência, veja aqui um vídeo que demonstra o alto nível da argumentação contra os petistas na cidade.

quinta-feira, outubro 23, 2008

MP dá parecer favorável à cassação da candidatura de Kassab pelo cheque dado ao metrô

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É claro que vão fazer de tudo pra não dar em nada, mas não custa registrar: o promotor eleitoral Eduardo Rheingantz apresentou parecer favorável à ação em que Marta Suplicy (PT) pede a impugnação da candidatura de Gilberto Kassab (DEM), com quem disputa a Prefeitura de São Paulo. Em solenidade na quarta-feira passada, dia 15, o atual prefeito repassou R$ 198 milhões ao governo do Estado para investimentos em obras do metrô. No ato, em que recebeu uma réplica de um cheque de 1 metro e meio das mãos de Kassab, o governador José Serra (PSDB) exaltou a parceria com o prefeito. O parecer do procurador é levado em conta pelo juiz eleitoral no momento de proferir a decisão final no processo. A representação ainda será julgada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da capital paulista e Kassab só tem a candidatura cassada caso a decisão seja confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pergunta que não quer calar: por que, em vez de dar dinheiro ao metrô, a Prefeitura de São Paulo não faz o dever de casa e resolve os problemas do trânsito que são de sua própria alçada?

O TRE deve julgar o pedido nos próximos dias. O TSE anunciou que vai acelerar o julgamento dos recursos de impugnação de candidaturas para que não haja atraso até a posse dos eleitos. A representação foi protocolada no último dia 17 por Marta, que acusa - corretamente - Kassab de utilizar a máquina na campanha à reeleição. A foto com Serra e o cheque foi veiculada no site do candidato. "Com efeito, os representados - especialmente o presidente do Metrô e o candidato Kassab, que são agentes públicos - usaram bens públicos móveis e imóveis para fins eleitorais", diz o procurador, no parecer. "De fato, fosse uma mera cerimônia administrativa de repasse de recursos, -como sustentam os representados -não precisava ser um espetáculo, que contou inclusive com artifícios visuais", completou o procurador, que defende que a representação deve ser julgada procedente.

Cinicamente, a assessoria do candidato do DEM alega que a cerimônia foi realizada respeitando-se a legislação eleitoral. A mídia finge que acredita e todo mundo fica feliz. Ah, se fosse a Marta a fazer um negócio desses...

Ps.: Visite o blogue coletivo clicando aqui e veja outros motivos para apostar na virada de Marta Suplicy no segundo turno.

Atualização:
Só multa: "Justiça" eleitoral premia crimes
Kassab e Marta vão recorrer de decisão sobre "checão do metrô"

quarta-feira, outubro 22, 2008

D'Urso não cansa de Kassab

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O líder do Cansei (lembra? ) Luiz Flávio Borges D'Urso apresenta motivos pelos quais vota em Kassab: porque ele é um excelente prefeito e porque o filho foi candidato pelo DEM. Simples assim. O contraste de tal figura com Dalmo Dallari é quase uma propaganda involuntária pró-Marta, dada a diferença de biografia entre os dois.

Serra/Kassab e os corredores

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Morei por 26,5 dos meus quase 27 anos no Campo Limpo, bairro da Zona Sul da Capital. Por andar de ônibus desde pequena, se tem uma coisa que eu conheço em São Paulo é o sistema de ônibus. Minha vida pode ser resumida assim:

escola em Santo Amaro = 10 quilômetros = 1h30 no ônibus, em pé.
cursinho na Paulista = 20 quilômetros = 2h no ônibus, em pé
faculdade no Butantã = 13 quilômetros = vontade louca de ter um carro para gastar menos com gasolina do que com passagem

Além disso, tinha o transporte clandestino. Quantas e quantas vezes tive que pegar uma kombi caindo aos pedaços e sentar atrás do banco (ou ficar em pé numa postura de corcunda) para poder chegar a tempo onde precisava?

Vida fácil, né?

Quando a Marta assumiu, as coisas foram mudando. No final do mandato dela, andar de ônibus era outra coisa.

No meu caminho, ela construiu o corredor de ônibus da Francisco Morato/Rebouças/Consolação. Isso, somado ao Bilhete Único, foi o que bastou para a mudança. Os trajetos pela Francisco Morato passaram a demorar muito menos. Até aos domingos, quando não havia trânsito, o ônibus chegava mais cedo que antes.

Passei a acompanhar de perto os problemas dos transportes logo depois de Kassab assumir a Prefeitura de São Paulo, assumindo a vaga deixada pelo Serra. Era claro que os corredores estavam sendo deixados de lado. Descobri, por exemplo, que há pouco menos de dois anos as duas horas do Bilhete Único não eram mais suficientes para alguém que pegava ônibus no extremo da Zona Sul fazer uma baldeação no Centro.

Mas o pior corredor entre todos que estavam em funcionamento era mesmo o da Francisco Morato. O asfalto ficava meses todo esburacado, só recebia vez por outra um tapa-buraco, que não resolvia o problema. Além disso, os ônibus intermunicipais, que servem os moradores de Embu, Itapecerica da Serra e Taboão da Serra, deixaram de usar a avenida paralela e entraram no corredor. Como dois corpos ainda não conseguem ocupar o mesmo lugar no espaço, o resultado foi trânsito no corredor. Todo o tempo de viagem que havia diminuído voltou a aumentar, sem que uma explicação plausível fosse dada para isso. Além disso, o plano de transportes da gestão, que previa a construção de vários terminais para diminuir o número de coletivos no Centro, foi abandonado. E nada foi colocado no lugar.

O único corredor construído pela gestão Serra/Kassab foi o Expresso Tiradentes. E só porque quiseram fazer algo com as ruínas do Fura-Fila deixadas pelo Pitta.

De resto, a única coisa que a Prefeitura fez nos últimos quatro anos foi aumentar a passagem de ônibus sem necessidade antes da eleição, para agora fazer um populismo básico, e obrigar os empresários a comprar novos ônibus. Isso não me parece um plano. Como a diminuição do trânsito em São Paulo passa necessariamente pela ordenação do sistema de ônibus (que colocaria os veículos no lugar certo e mais gente dentro do ônibus), acho que vamos viver nesse inferno por muito tempo, se Kassab se reeleger. Afinal, em suas propostas está prevista a aplicação de R$ 0 (isso, zero), nos corredores.

Ah, sim, Kassab "dá" dinheiro para metrô. Ele não conseguiu explicar ainda o motivo disso, já que sua responsabilidade são os ônibus, que não estão bem. Mas ok, deve ser porque ninguém perguntou.

terça-feira, outubro 21, 2008

No butiquim da Política - 'Muro das lamentações' OU esqueceram o 2° turno da capital

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CLÓVIS MESSIAS*

"Pequeno expediente" é a denominação que se dá para a primeira fase da sessão ordinária da Assembléia Legislativa. O deputado usa a tribuna, fala sobre o que quiser, sem ser interrompido: é o momento do monólogo. Pois esse palco foi o escolhido pelos parlamentares, na volta ao "trabalho", para "muro das lamentações". O comportamento mais incisivo, nesse sentido, foi o dos tucanos. Na tribuna, pregaram vingança contra os membros do partido que se distanciaram da campanha do candidato Geraldo Alckmin na capital. O mais irritado foi o deputado Pedro Tobias (foto à esquerda), da região Lins/ Bauru, que pediu punição para o que ele chamou de "traidores", com o objetivo de que fatos semelhantes não venham a ocorrer no futuro. Depois disso, em apoio ao colega, vários membros do PSDB têm esbravejado pelos corredores do Palácio 9 de Julho.

Aqui no butiquim dizem que, se as manifestações forem acolhidas, mesmo passadas as eleições, haverá desdobramento. Parece até que nem teremos 2ª turno na capital. Vários deputados vieram derrotados de seus redutos, falaram de suas decepções, mas ninguém ostentava o mesmo amargor do deputado Pedro Tobias em suas palavras. No buteco, ninguém acredita que as coisas vão ficar paradas. Tem muito tucano de bico caído.

O contraponto a isso foi feito pelo Mário Reali, do PT (foto à direita), eleito prefeito em Diadema, que agradeceu aos eleitores que entenderam suas propostas administrativas para a sua cidade. Por outro lado, seu concorrente (e perdedor), o também deputado José Augusto da Silva Ramos, do PSDB, reclamou que houve reflexos na sua cidade e em outras da grande São Paulo das posições negativas da campanha do PSDB na capital. Enquanto isso, prosseguem as conversas sobre as candidaturas tucanas para governador do Estado e para a Presidência da República. Na bolsa de cotações, Aloísio Nunes Ferreira e José Serra seguem favoritos.


*Clóvis Messias é jornalista, são-paulino, dirigente do Comitê de Imprensa da Assembléia Legislativa e colabora com esta coluna para o Futepoca.

Bronca do ombusdman da Folha expõe o 'trabalho sujo' da mídia nas eleições paulistanas

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No buteco, sempre comento que o "fenômeno" Gilberto Kassab, que superou Marta Suplicy no 1º turno na cidade de São Paulo, não foi nenhum fenômeno para mim. O fato de ele ter começado a campanha tão atrás da candidata petista só me fez desconfiar mais ainda das pesquisas - que davam como certa a vitória petista, mesmo que por um ou dois pontos. Furo n'água. Sempre achei que Kassab disputaria de igual para igual com quem quer que fosse no segundo turno. E não digo isso considerando apenas a fritura pública de Alckmin pelo próprio PSDB (ou melhor, pelo José Serra). Pensem comigo: além de nunca ter disputado uma eleição sequer - e, conseqüentemente, nunca ter "apanhado" de fato como Marta, Geraldo Alckmin e Paulo Maluf já "apanharam" na vida -, Kassab tem a máquina municipal e estadual a seu favor e, vantagem das vantagens em qualquer disputa eleitoral, a mídia todinha ao seu lado.

Prova disso é que, na edição do último domingo da Folha de S.Paulo, o próprio ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva, criticou a berrante diferença de tratamento para os dois candidatos neste 2º turno. "Marta Suplicy recebeu nestes cinco dias uma carga de matérias negativas absolutamente desproporcional em relação a seu adversário", disparou Silva, sem rodeios. "Por exemplo, ela foi alvo de oito textos opinativos críticos; Kassab, de nenhum. Das 19 cartas publicadas, 15 foram contra Marta. Registre-se que o 'Painel do Leitor' recebeu 224 cartas contra ela e 55 a favor. Mas para o ombudsman, a relação foi inversa: 36 pró e 8 contra a ex-prefeita", prosseguiu. E, no desfecho, além de criticar a postura da Folha, ainda esculachou a concorrência: "(...) o jornal abriu mão de fomentar o debate sadio. Ele nunca deveria se prestar ao trabalho sujo que outros veículos fazem com muito prazer e competência."

Pois é: apesar de eu não ser nenhum entusiasta da função de ombudsman (e muito menos da Folha de S.Paulo), ele disse pouco, mas disse tudo. Só que essa - previsível e explícita - fuzilaria contra Marta pode ser um tiro no pé, uma percepção que talvez tenha motivado a bronca de Carlos Silva nos colegas de redação. O povo não é bobo. Vamos pra virada, Marta!

segunda-feira, outubro 20, 2008

F-Mais Umas - A dura vida de Marta e Massa

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CHICO SILVA*

Por dever do ofício, tive a infelicidade de perder meu sono para assistir a uma das mais enfadonhas corridas que vi nos meus 28 anos de F-1. Tenho um dispositivo que me tira do ar quando assisto a algo que não me agrada. Isso vale para filmes, peças de teatro, espetáculos cênicos e coisas que o valham. E não deu outra. Lá pela 30ª volta do GP da China, mais ou menos seis da manhã no novo horário de verão, apaguei. E quando voltei à vida tudo estava exatamente como eu havia deixado. Lewis Hamilton (foto acima) a léguas de distância na frente, Kimi Raikkonen longe, apenas escoltando o líder e Felipe Massa perdido e sem ter muito que fazer. A única mudança nessa seqüência foi a previsível ordem da Ferrari para Raikkonen inverter a posição com Massa. Nem vale a pena perder linhas questionando isso. Até porque essa mesma Ferrari já fez coisa pior, como tirar de Rubens Barrichello a vitória no GP da Áustria em 2002 e entregá-la para Michael Schumacher.

Agora a decisão da temporada vai para Interlagos. Pela primeira vez na história um piloto brasileiro terá a chance de decidir um título em casa e ao lado de sua torcida. Infelizmente, o candidato em questão não é nenhum Emerson, Piquet ou Senna. Se para eles já seria difícil descontar a diferença de sete pontos que separa o líder do vice, imagine então para Massa, que apesar de bom piloto está longe desse trio de gênios. Comparo a missão de Massa com a de Marta Suplicy (foto à direita) na disputa com Gilberto Kassab pela Prefeitura de São Paulo. Muito atrás de seus adversários, ambos contam com um fato novo para mudar seus destinos. E Marta e Massa ainda têm outra coisa em comum além do vermelho, cor do PT e da Ferrari. Os dois cometeram deslizes no embate contra seus adversários. Ou a atitude de Massa de jogar seu carro deliberadamente contra a McLaren de Hamilton no GP do Japão não remete ao infeliz questionamento de Marta a respeito da vida íntima de seu rival?

De toda a forma, que Massa e Marta mantenham a serenidade e tentem virar o jogo com ética, contundência cirúrgica e equilíbrio. E se perderem, que tenham a sabedoria para cair de pé. É preciso ser grande até nas derrotas.

Parabéns, Nelsão!
Enquanto aguarda a definição sobre o futuro do filho, o tricampeão mundial Nelson Piquet teve nessa semana um bom motivo para comemorar. No último dia 15 completaram-se 25 anos de seu bicampeonato mundial. Apesar de moleque, eu me lembro muito bem. Ao volante da Brabham azul motor BMW turbo e calçada com pneus Michelin (foto à esquerda), Piquet teve uma árdua disputa contra os franceses Alan Prost, da Renault, e Renê Arnoux, da Ferrari. Passou a maior parte do campeonato atrás de Prost, que tinha um equipamento mais confiável. A Renault foi pioneira na implantação da tecnologia turbo na F-1. Começou a desenvolver esses motores em 1977. A Brabham de Piquet havia estreado esse motor apenas no ano anterior.

A quatro provas do final, Piquet estava a 14 pontos de Prost. Mas duas vitórias, uma em Monza e outra no aposentando circuito inglês de Brands Hatch, o colocaram de novo no jogo. O bi veio na última corrida da temporada, realizada no autódromo de Kyalami, na então África do Sul do apartheid. O quente circuito africano vitimou Prost e Arnoux, que abandonaram a prova com problemas mecânicos. Após as desistências, Piquet, que liderava a corrida, tirou o pé do acelerador e fechou a prova na terceira colocação, levando para Brasília seu segundo caneco. O brasileiro foi o primeiro piloto campeão do mundo com um carro equipado com motor turbo. E também o primeiro a vencer com pneus da francesa Michelin. Felipe Massa seguirá seu caminho? Difícil...


*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

sexta-feira, outubro 17, 2008

Por que voto Marta, o exemplo de Dona Maria

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Dona Maria migrou de Minas com marido, dois filhos (os outros nasceram depois) lá pelo final da década de 1960 para o começo dos anos 70. Foi para Santo André, Vila Luzita, depois para a periferia Leste de São Paulo, Parque São Rafael. Ali pegou o milagre econômico dos militares numa vida pobre, numa casa de dois cômodos alugada, mas razoavelmente tranqüila com os filhos com saúde e sem faltar roupa, comida e escola. Apesar de tanto ela quanto o marido terem estudado pouco fizeram questão de que os filhos estudassem para ter um futuro melhor. Daí o direito a luxos como gibis, livros e discos com historinhas.


Passam os anos, vem a crise econômica dos anos 80, a família afetada, Dona Maria tem de arrumar emprego como costureira, trabalhar fora para que não falte comida na casa e para pagar o aluguel. A sina de não ter a casa própria, sonho de tanto tempo, só acaba no final da década de 1980, no governo Erundina. Ela, que nunca fora militante de nada em política até então, participa de ocupações de áreas, entra para um mutirão e com as próprias mãos ajuda a construir o lugar em que mora até hoje.

Além da casa, outra base plantada então foi a militância no bairro. Dona Maria, que nunca gostara tanto de política, passa a fazer campanhas, discute na rua, torna-se uma líder comunitária ao descobrir que a vida pode mudar quando as pessoas se organizam e lutam pelo que acreditam.

Mais anos se passam, acaba o governo Erundina, as casas não podem ir pro nome das pessoas, a dupla Maluf-Pitta deixa tudo esburacado, sem asfalto, sem escola, com cada dia uma desculpa diferente porque o Jardim São Francisco, lá no extremo da Zona Leste, não é prioridade para tanta obra, melhor gastar com túneis nos jardins e ganhar dinheiro na Faria Lima e nos precatórios.

Vem o governo Marta e o mutirão é regularizado, asfaltado e começa a construção de uma escola infantil lá dentro. Antes, a coisa de alguns quilômetros, é erguido o CEU do Parque São Rafael. As crianças passam a brincar, praticar esportes, nadar e Dona Maria volta a ir ao cinema, passa a ver peças de teatro junto com as pessoas do bairro.

Marta perde a eleição, assume a dupla Serra/Kassab. A escola que havia sido iniciada anos antes é inaugurada pelo atual candidato a prefeito. Kassab tenta fazer média: - Como ficou bonita a escola... Justo com quem foi falar. Dona Maria responde na cara dele: - Você está inaugurando, mas quem construiu foi a Marta.

Hoje, neste momento, ela está lá no extremo da Zona Leste fazendo campanha. Passou por cima da depressão, do cansaço dos seus 63 anos e vai para a rua ganhar votos, discutir com aqueles que moram num bairro pobre e abandonado pela atual administração, que a única coisa que fez por lá foi colocar uma guarnição permanente da Polícia Militar em barracas de campanha, como se estivesse na guerra.

Para quem mora longe de lá onde vive Dona Maria, como eu, a discussão entre um candidato e outro pode cair nas besteiras se é casado, tem filhos etc... Mas, para mim, o voto em Marta é para melhorar a vida de todas as Donas Marias.

Para quem não sabe, Dona Maria é minha mãe.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Blogueiros com Marta - o debate político na internet

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Em vista da intensa movimentação que vem acontecendo na blogosfera em função da campanha eleitoral paulistana, o Futepoca resolveu se posicionar de forma clara diante do atual cenário. O site dá seu apoio a Marta Suplicy na disputa eleitoral em São Paulo e lança o site Blogueiros com Marta, agregando outros titulares de blogue que tenham postura semelhante.

Assumir uma posição em eleições é algo absolutamente corriqueiro entre veículos da imprensa de outros países, como os estadunidenses, por exemplo. Aqui no Brasil, o Estadão já declarou seu apoio em editorial à candidatura Collor, em 1989, e Serra, em 2002, para citar dois exemplos; enquanto a revista Carta Capital apoiou Lula em 2002. Informação pode e deve ser tratada de forma honesta e transparente e o leitor, quando sabe de que lado está o site ou jornal que lê, pode julgar e ponderar melhor a respeito daquilo que consome.

Como é um blogue coletivo, dentro do Futepoca há visões de mundo diferentes e inúmeras divergências. Mas, em relação às opções que se colocam no segundo turno na capital paulista, há consenso em apontar a candidatura da ex-prefeita como a melhor opção para a cidade. Outros blogueiros que também entendem a questão da mesma forma já aderiram à iniciativa. Caso você tenha um blogue e queira participar, entre em contato pelo blogueiroscommarta@gmail.com. Se quiser divergir e debater, fique à vontade, o espaço está aberto.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Serra, Microsoft e um acordo genial

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Serra e Steve Ballmer, presidente da Microsoft. Acordo bom pra quem? (foto de Milton Michida)

O governador José Serra e a gigante com instintos monopolistas Microsoft fecharam um ótimo acordo ontem, um exemplo de sagacidade e inteligência do presidenciável tucano. A empresa estadunidense vai disponibilizar, por meio de um site do governo estadual, um serviço e-mail grátis semelhante ao seu Hotmail, com a expectativa de abrir 5,5 milhões de contas para alunos e professores da rede estadual de ensino. Assim, poderão ser feitas contas de e-mail do tipo "numseiquelá@professor.sp.gov.br" e outros, sendo que a caixa de mensagens terá os mesmos 5 Gbytes para armazenamento do Hotmail.

O governo paulista diz que, caso a Microsoft não fosse tão caridosa, gastaria R$ 5 milhões para oferecer tal serviço. Como lembra Sérgio Amadeu , portais como o Hotmail vive de visitantes únicos e acessos, além de anúncios e links patrocinados. Nesse caso, não é a empresa que faz uma doação, mas sim Serra que está “doando” mais de cinco milhões de visitantes para o portal, além de milhões de acessos por mês. Quanto isso representará em ganhos para a Microsoft?

Mas, se era o caso de contratar empresas para fazer tal serviço, será que o Google, que oferece o Gmail com 7 Gbytes de armazenamento, ou o Yahoo, que tem caixa de mensagens com capacidade ilimitada, foram consultados ou instados a fazer tal “doação”?

Mas não se pode falar de Serra sem citar também o prefeito Gilberto Kassab. A administração municipal também firmou um protocolo com a Microsoft em outubro do ano passado, no qual a empresa cedeu licenças de software para os novos telecentros. Claro que, para fazer a atualização, a prefeitura no futuro terá de pagar, além de ser obrigada a gastar com o necessário incremento na configuração dos computadores.

Só pra lembrar, quando a prefeitura implantou o Plano de Inclusão Digital e fez os Telecentros à época da gestão Marta Suplicy, a opção pelo Software Livre foi feita não somente pela redução de custos, mas também pelo combate à tendência monopolista do mercado de softwares. Kassab e Serra deram um passo atrás e ajudaram a Microsoft a expandir seu domínio.

terça-feira, outubro 14, 2008

"Não sou homossexual e está cheio de mulheres querendo casar comigo"

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A declaração que dá título a esse post foi proferida pelo prefeito e candidato à reeleição Gilberto Kassab (DEM) na sabatina do jornal Folha de S. Paulo. Ele fazia referência à campanha de Marta Suplicy, que questionava em uma peça de propaganda, já retirada do ar, se o alcaide "era casado e tinha filhos".

A condenação à conduta martista foi de uma quase unanimidade na mídia. Este Futepoca não fugiu à regra, sendo que tal prática, quando ainda não incorporada oficialmente pela campanha, foi rechaçada aqui . Depois de adotada, idem . Atitude equivocada dos petistas e que, sem dúvida, instiga o preconceito.

Mas o detalhe (que não é tão "detalhe" assim) é que a resposta do prefeito também é passível de condenação. Afinal, se não é homossexual, é só negar e pronto. O adendo que diz respeito às "mulheres que querem casar" com ele é uma forma machista e sexista de afirmar sua dita masculinidade. Lembra as pueris respostas a acusações de "veado" feitas na infância, respondidas com argumentos à altura do tipo "sua irmã não disse isso ontem à noite".

E se Kassab fosse homossexual, qual o problema? Talvez fosse isso que ele devesse responder. Ou, melhor, deveria dar uma resposta indignada ao jornalista que o questionou, dizendo não falar da sua vida privada porque esta não interessa (ou não deveria interessar) ao eleitor. Preferiu a saída de "macho", fez sua "defesa" para o eleitorado e colaborou com o preconceito.

E a imprensa "grande"? Essa, tão preconceituosa e que invadiu por demais a vida privada de candidatos outrora (lembram da Miriam Cordeiro em 1989?), tem o direito de fazer o que quiser. Hoje, a mídia é vestal, mesmo com um passado (e um presente) em que cansou de chafurdar na lama do preconceito, chamando políticos de analfabetos (ou insinuando), condenando divórcios – coisa que mulher "direita" não faz –, e que alimenta cotidianamente o desrespeito à diversidade em novelas e programas de humor.

Hoje, não sei o que causa mais asco, se a atitude em si ou se a repercussão que esta causou. O falso moralismo e a hipocrisia estão em alta nessas eleições.

Marta Suplicy 'ligeiramente' perdida

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A estratégia de investir contra a vida pessoal de Gilberto Kassab (DEM), seu adversário na disputa em segundo turno pela Prefeitura de São Paulo, foi mesmo um tiro no pé para Marta Suplicy (PT). Após ser criticada publicamente até pelo ex-marido, a candidata, que é psicóloga e sempre defendeu a diversidade sexual, perdeu ontem um importante grupo de apoio neste segmento. Com tantos argumentos para politizar a campanha, Marta parece "ligeiramente" perdida, ainda refém de decisões desastradas de sua assessoria de marketing. E nas ruas paulistanas mostra-se ainda mais desnorteada, cumprimentando até "eleitor" inanimado. Confiram:

sexta-feira, outubro 10, 2008

"Quem é esse aí?"

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Em Peruíbe, a eleição para a prefeitura foi vencida por Milena Bargieri (PSB), filha do ex-prefeito Gilson Bargieri. Até aí nada de mais, não fosse pelo fato de que a candidatura de Milena foi oficializada dois - isso mesmo, dois! - dias antes das eleições. 

O cabeça de chapa era Gilson, pai da agora futura prefeita. Ele conduziu toda a campanha mesmo sob a possibilidade de uma possível impugnação, já que as contas de sua administração na prefeitura (finalizada em 2004) estavam sob a mira do Tribunal de Contas. E, na sexta-feira anterior ao pleito, o golpe final: a Justiça havia determinado que Gilson não poderia mais ser candidato, então a coligação (que, além do PSB, envolvia mais oito partidos) deveria indicar outro nome. Milena foi a escolhida.

A substituição, ainda que de última hora, é prevista em lei. E a legislação determina outra questão que torna a situação ainda mais pitoresca - como não havia tempo hábil para a alteração da foto do candidato na urna eletrônica, quem digitou os números de Milena Bargieri deu de cara com Gilson na tela. Por isso a pergunta que dá título a esse post. Deve ter tido eleitor tomando um susto danado ao topar com a cara de Gilson ao invés da jovem candidata, de 30 anos. Mas é mais provável que tenha ocorrido o contrário. A militância do PSB, aliás, merece parabéns por ter esclarecido a situação aos eleitores a tempo.

Eleita, Milena disse que seguirá a proposta de administração apresentada pelo pai durante a campanha. Ela toma posse em 1º de janeiro, a não ser que, por motivos de força maior, seja obrigada a se ausentar por algum período - é que ela está grávida de oito meses e o intervalo da eleição até a posse é menor do que a licença-maternidade prevista em lei. Esperemos.

Marta, politize a eleição!

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Em 1994, durante a campanha presidencial, passava pelo Vale do Anhangabaú quando presenciei um diálogo entre um rapaz que tomava conta de uma barraquinha do PT e um transeunte. O pedestre provocador brincou: "De novo o Lula? Esse não vai ganhar nunca!". O petista respondeu, raivoso: "Claro que não vai. O povo é burro".

Pensei comigo que se os militantes tivessem essa atitude, Lula não venceria nunca mesmo. O tempo passou, o partido e seus adeptos mudaram, assim como a cena política. Mas quando vejo alguns e-mails circulando "culpando" a população por dar a vitória a Kassab no primeiro turno, o fantasma desse petista de 94 volta à minha mente.

Desnecessário dizer que existe uma carga de preconceito muito grande contra Marta Suplicy, por inúmeras razões. Também fica claro que a classe média paulistana, inclusive muitos daqueles que ascenderam à classe C, portam valores segregacionistas e que colaboram para perpetuar a desigualdade que ofende qualquer pessoa com o mínimo de sentimento de justiça social. Mas, para se vencer uma eleição, é preciso trabalhar com esses dados, só lamentar ou xingar não adianta. E não dá para dizer também que todos os eleitores de Kassab são preconceituosos ou elitistas e aí está o "X": saber porque essas pessoas votam nele.

O PT ganhou duas eleições municipais na capital paulista. Ambas graças, em grande medida, ao voto útil anti-malufista que trouxe parte da classe média para junto das candidatas do partido. Com a derrocada do malufismo, o PSDB e agora Kassab ocuparam o posto de opositores ao PT e, pior para Marta, o alcaide não carrega a enorme rejeição que o pepista Maluf sempre trouxe consigo.

Portanto, resta a Marta fazer algo que não foi feito no primeiro turno: tentar desconstruir a administração Kassab. Dizer que ele teve mais dinheiro à disposição na prefeitura é praticamente admitir que ele fez uma boa gestão, uma capitulação antes da hora. É preciso atacar os pontos fracos e que afetam o dia-a-dia da população. Um deles é o trânsito que se encontra nessa situação caótica também por conta dos parcos investimentos feitos no transporte coletivo nos últimos quatro anos. A gestão de Marta tinha um bom plano para a área com a construção de corredores em toda a cidade, que foi praticamente abortado pela atual administração. Por que não discutir isso? Porque aceitar a agenda imposta por Kassab com o lenga-lenga do investimento do metrô, algo que não vai representar melhora a curto ou médio prazo, algo que o paulistano exige ou deveria exigir?

Marta adotou jingles da campanha de Lula, mas poderia adotar também uma atitude que ajudou o petista a superar Alckmin no segundo turno em 2006. Ali, ele politizou o debate quando colocou em pauta a questão da privatização e encurralou o tucano. Por que não fazer o mesmo com Kassab, comparando as prioridades de cada uma das duas administrações – a antiga e a atual - e também cobrando dele posições tomadas como deputado federal e secretário de Celso Pitta? Mesmo que venha a perder, Marta estará dando uma contribuição importante a um processo eleitoral tão pobre em idéias e discussão política de fato.

*****

Em tempo. Assim como Marta foi alvo de ataques homofóbicos na eleição de 2000, agora Kassab também vem sendo vítima do mesmo tipo de expediente. Além de ser algo absolutamente condenável, é um tiro no pé de quem acha que isso hoje em dia ainda funciona.

Publicado originalmente no Blog do Rovai

quinta-feira, outubro 09, 2008

Kassab, o católico evangélico

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Candidatos que buscam diversas linhas religiosas para angariar apoio não é propriamente uma novidade na política, seja aqui ou em qualquer outro país do mundo. Mas esta é a primeira vez que eu vi um candidato se "converter" em uma dessas incursões.

A Thalita indicou um post do blogue Sal com Pimentas, que retrata  uma visita do candidato à reeleição na capital paulista Gilberto Kassab (DEM) a uma vigília da Igreja Comunhão Plena, no ginásio da Portuguesa, em 29 de agosto. Ali, o prefeito "aceita Jesus" e se ajoelha no palco repetindo a cantilena do apóstolo Sérgio Lopes.



O site da igreja neopentecostal, fundada em 1999, até hoje destaca em sua primeira página o vídeo com a chamada "Prefeito Gilberto Kassab aceita Jesus durante a ministração do Apóstolo Sérgio Lopes". A igreja tem razoável penetração em São Paulo e já conseguiu eleger um deputado estadual, o pastor e diretor da rádio Musical FM Lelis Trajano (PSC). Segundo o parlamentar , Deus falou por meio do apóstolo Lopes para orientá-lo a se candidatar. "Todo trabalho político foi planejado por uma equipe de profissionais de comunicação preparada por Deus, para que o Pr. Lelis Trajano tivesse uma campanha fundamentada em propósitos sérios e relevantes", descreve sua página eletrônica.

Como já disse, conversar com lideranças religiosas e de outros segmentos da sociedade é papel de qualquer homem público, mas beira o ridículo quando o mesmo protagoniza uma cena de "conversão". Ainda mais quando o cidadão se diz católico e recebeu até homenagem do padre pop star Marcelo Rossi, o neopentecostal da igreja de Pedro. O que não se faz para ganhar uma eleição...

Leia também: Os cobiçados votos de Deus.

terça-feira, outubro 07, 2008

No butiquim da Política - Com o segundo turno, as férias continuam

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CLÓVIS MESSIAS*

Férias brancas. A Assembléia Legislativa de São Paulo está com as portas abertas, mas em clima de nada acontecendo. Não está trabalhando. Semana passada foi aprovado um projeto criando a inspeção veicular anual que, entre outras coisas, prevê vistoria no chassi, para coibir a clonagem de veículos. Em resumo: outra taxa foi criada. A matéria passou praticamente sem discussão. Os prefeitos farão estas vistorias em seus municípios e cobrarão taxas pelos serviços. Todos aumentarão a arrecadação, prefeituras e o governo do Estado. E, mais uma vez, pagaremos a conta. O projeto ficou 15 dias em pauta, aguardando ser votado. Ele é de autoria do deputado licenciado e candidato a prefeito de Santo André, agora em segundo turno, Vanderlei Siraque (PT).

"-Aqui, até quando dormem, os parlamentares estão com os olhos bem abertos!", comentou um desavisado freqüentador do buteco. Bem, mas as férias continuam, uma vez que a eleição prossegue. Com o segundo turno também na capital, ninguém presta atenção no Legislativo. "-Vai ser aquela história de um olho no peixe e outro no gato", concluiu o tal desavisado no buteco. Dos 32 deputados que saíram candidatos a prefeito ou vice, cinco se elegeram: Antonio Carlos da Silva, do PSDB (à direita), que obteve 25.283 votos (50,44% dos válidos), em Caraguatatuba; Cido Sério, do PT, com 43.093 votos (43,02%), em Araçatuba; Dárcy Vera, do DEM, com 154.793 votos (52,04%) em Ribeirão Preto; Marco Bertaiolli, outro do DEM, com 103.439 votos (53,24%), em Mogi das Cruzes; e Mário Reali, do PT, com 133.893 votos (58,26%), em Diadema.

Outros quatro deputados vão para o segundo turno. Além do já citado Siraque, Orlando Morando, do PSDB, que concorre em São Bernardo do Campo; Sebastião Almeida, do PT (à esquerda), em Guarulhos; e Valdomiro Lopes (PSB), em São José do Rio Preto. Portanto, só 23 parlamentares estão voltando ao batente agora. Como cinco vão sair para assumir prefeituras, a composição da Assembléia Legislativa muda após estas eleições. Das eleições de 2006, os três primeiros suplentes da coligação PSDB-DEM já estão em exercício do mandato. Um deles é justamente Bertaiolli, eleito em Mogi, que ocupou o lugar do secretário municipal de Desburocratização da cidade de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM).

Os outros suplentes que tornaram-se deputados foram Eli Corrêa Filho, do DEM (à direita), que substituiu o secretário especial de Participação e Parceria do município de São Paulo, Ricardo Montoro (PSDB), e Gilson de Souza (DEM), ocupante da vaga deixada por Sidney Beraldo (PSDB), atual secretário estadual de Gestão Pública. Conforme determina a Constituição, Bertaiolli será convocado para substituir Dárcy Vera, como efetivo, mas deverá renunciar em seguida, abrindo espaço para Eli Corrêa se efetivar. Gilson de Souza, por sua vez, receberá a cadeira deixada por Antônio Carlos.

Já no caso dos dois deputados petistas eleitos prefeitos (Cido Sério e Reali), o primeiro suplente a assumir será o colega de partido e ex-deputado Fausto Figueira. Depois vem o suplente Francisco Brito, também do PT, recém-eleito prefeito de Embu. Ao optar por seu novo cargo, Brito abrirá espaço para a ex-deputada petista Beth Sahão (à esquerda), que não se elegeu prefeita de Catanduva. Todos esses suplentes serão convocados por meio de ato do presidente da Casa, deputado Vaz de Lima (PSDB), publicado no Diário Oficial. Quem optar por não assumir a vaga de deputado terá de apresentar termo de renúncia.


*Clóvis Messias é jornalista, são-paulino, dirigente do Comitê de Imprensa da Assembléia Legislativa e colabora com esta coluna para o Futepoca.