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quarta-feira, outubro 13, 2010

Mais sobre o saudosismo

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Esses dias, escrevi aqui no Futepoca o post Por mais critério com o passado. O texto tinha como gancho uma homenagem que o Palmeiras fez a seus ex-atletas e falava sobre o fato de que o tempo faz com que muitos jogadores medianos (no mínimo!) acabem por ganhar o status de craques consagrados, e que por isso todo saudosismo utópico merece ser visto com tudo quanto é ressalva.

Pois bem: aí ontem, navegando na net, acabei caindo no site do médico Drauzio Varella - mais especificamente em um texto escrito por ele durante a Copa do Mundo, em que ele comentou a ironia do gol de Lampard não validado no Alemanha x Inglaterra, que "corrigiria" a injustiça ocorrida na final do Mundial de 1966.

Drauzio conta no texto que estava na final de Wembley (e eu nunca o tinha visto falar sobre futebol!) e faz também outras divagações sobre o esporte bretão. Relembra de como vivenciou a derrota brasileira em 1950, e de toda a tristeza pela qual o Brasil passou.

E aí o médico fala sobre sua primeira experiência em um estádio de futebol. Garoto, vivia o esporte chutando bolas pelos campinhos próximos de sua casa e ouvindo todos os programas e partidas possíveis no rádio, o veículo das massas da época.

Ao falar sobre seu primeiro jogo no Pacaembu, Drauzio diz, sem meias-palavras:

Os jogadores de carne e osso, porém, deixaram a desejar: erravam passes, chutavam para fora e perdiam gols feitos, exatamente como a molecada na rua. Além de maldosos, porque empurravam uns aos outros e davam caneladas, ainda eram mal educados, xingavam e cuspiam no chão, prática que minha avó considerava a pior das grosserias, responsável pela transmissão da tuberculose.

Taí, mais um exemplo da mistificação caindo por terra.

A "perfeição" dos jogadores, times e competições do passado se justifica exatamente por toda essa imprecisão. Mais que humanos, os atletas dos anos 50 e 60 eram mitos - deles só se ouvia no rádio. Os privilegiados que podiam vê-los no campo eram pouquíssimos. A televisão era capenga.

Não havia o que temos hoje em dia, quando os jogadores são confrontados quase que diariamente. O mito de um ano é destruído por uma má performance no ano seguinte.

"Quem viu o Botafogo de 1953 jogar não consegue ver graça no futebol de hoje em dia ("
Botafogo" e "1953" são escolhas aleatórias, não levem a sério
)", clama um saudosista convicto. O único questionamento a se fazer é: você viu mesmo o tal Botafogo de 1953 jogar? Ou foi ao estádio uma ou duas vezes naquele ano, e o resto da sua percepção é fruto do que ouvia no rádio e, principalmente, de uma memória que quer evocar boas lembranças do passado? Vamos com calma.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Por mais critério com o passado

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Se tem uma coisa que eu sempre vi (e vejo) com ressalvas é o saudosismo exagerado no futebol. Já repararam como todo jogador dos anos 60 e 70 era "um cracaço, sabia o que fazer com a bola", todas as Copas pré-1986 foram "Copas de verdade, não essa coisa mixuruca de hoje", todos os campeonatos daqui eram muito mais emocionantes e tecnicamente superiores aos dos dias atuais?

E quando sai alguma notícia que algum jogador do passado está em mau momento financeiro? "Isso é um absurdo, o Brasil é um país sem memória, nossos craques são desprezados", e por aí vai; mesmo que o sujeito tenha sido um perna-de-pau, é alçado para a condição de "craque", apenas por ter pertencido à outras épocas.

Ter um pouco de "memória positiva" é algo inevitável e, cá entre nós, até um pouco positivo. É divertido lembrar das coisas do passado, e quando o fazemos nesse tom tão idealizado, é porque transferimos a elas lembranças da nossa própria vida, revivemos, por instantes, as emoções que passamos quando do tempo original dos acontecimentos.

Pois bem: aí eu ouço na Rádio Bandeirantes que o Palmeiras fez esses dias uma festona para homenagear seus ex-jogadores. Milton Neves, como lhe é peculiar, derrama elogios e mais elogios à iniciativa alviverde - e amaldiçoa o São Paulo que, segundo ele, fazia coisa parecida e deixou de fazê-lo há alguns anos.

Então são anunciados os atletas homenageados: Dudu, Ademir da Guia, César Maluco, Edmundo, Evair e... Alexandre Rosa, Índio e Magrão. Opa! Peraí! Esses três últimos eu vi jogar!

Alexandre Rosa não foi nada mais do que um zagueiro bem dos limitados, que nunca conseguiu se firmar de vez entre os titulares do Palmeiras. Já Índio foi meio vitalício na lateral-direita do Santos no início dos anos 1990, deixou o Peixe quando vivia seu melhor momento na Vila, até falando em seleção brasileira, mas no Palmeiras nunca fez nada que prestasse e sua passagem no Parque Antarctica foi curtíssima. E Magrão (o centroavante, não confundir com o volante) foi revelado pelo próprio Palmeiras, arrebentou nas seleções de base, mas, quando colocado para jogar no time titular, era mais xingado do que alvo de elogios.

Mas aí os três compartilharam da festa junto com os outros ídolos mencionados. E certamente estiveram lá outros ex-jogadores de tanto "gabarito" quanto Rosa, Índio e Magrão e que, ao menos por uma noite, foram equiparados a craques de verdade.

Não sei, sinceramente, qual foi o critério do Palmeiras para definir quem merecia ou não a homenagem. E acho que também nem cabem tantas críticas quanto a isso - o clube faz festa para quem quer, e ficar marcando em cima disso pode soar uma picuinha das mais chatas.

Os alertas que ficam são dois, na minha opinião. O primeiro é que jornalistas, historiadores e torcedores em geral precisam ter um pouco mais de critério na hora de elencarmos as virtudes do passado. Afinal, se o Palmeiras conseguiu colocar numa mesma cesta Índio e Magrão e Edmundo e Evair, pode-se também cometer erro similar na hora de falar dos "craques" de outrora.

E o segundo é: palmeirenses, preparem-se. Porque pela lógica mostrada agora, Maurício Ramos, Martinez e Élder Granja poderão estar numa lista de "craques históricos do Verdão" daqui a uns 10, 15 anos. Que acham?