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domingo, outubro 10, 2010

Olhando o Brasil de fora

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Dois dias atrás em Madrid, agora aqui em Bordeaux, França: a admiração pelo momento que vive o Brasil é enorme. Em 2001, quando vim à Europa pela primeira vez, só me perguntavam do Ronaldo. Agora todos querem saber como fizemos para dar o chapéu na crise e emplacar o melhor desempenho no mundo em relação aos seus efeitos.

Ontem, eu e Cristina Ortiz, a pianista brasileira com quem estou aqui trabalhando, fomos jantar na casa de um casal de americanos, com um casal de franceses (estes, já viveram no Rio como adidos culturais, conhecem muito bem nossa terra). Todos me perguntaram animados, sedentos por notícias da grande sensação mundial. Chegam a pensar que o Brasil erradicou todos os seus problemas, que vivemos no paraíso. Tive que explicar que, apesar de estarmos muito melhores, ainda temos problemas e contradições históricas para solucionar.

Comentaram como enxergam o Brasil como o país mais apto a negociar internacionalmente, não apenas pelo seu sucesso econômico, mas também pela sua tradição pacifista e postura independente, em episódios como os do Irã e de Honduras. Em Madrid, um amigo espanhol chegou a brincar que invertemos os papéis: são eles que têm crise econômica, desemprego de 20% e ganharam a Copa do Mundo.

Ou seja, nada como sair desse mar de boatos que tomou conta do Brasil para recuperar um pouco de clareza: até muito pouco tempo atrás, o orgulho de ser brasileiro se apoiava quase que só no futebol (e um pouquinho no samba e na cachaça). Agora, já podemos começar a ter orgulho da política.

Mudamos. Estamos mudando.

6 comentários:

Anselmo disse...

excelente depoimento. que bom ler linhas suas, Maurício! Escreva mais, hermano.

Curioso saber dessa visão de gringos. Divertidíssima (embora trágica) a relação entre os 20% de desemprego com o título mundial.

Nicolau disse...

Essa campanha eleitoral tem me deixado bastante decepcionado por isso: temos um govenro com uma cacetada de conquistas pra mostrar, dois candidatos com projetos já experimentados e diferentes, e o qyue domina o debate é uma enorme cortina de fumaça mezzo pseudo-ética, mezzo moralmente retrógrada. Dizem que a Dilma foi mais agressiva no debate da Band, nesse domingo, botou algumas cartas na mesa sobre a questão do aborto e botou na roda a questão das privatizações, exemplo mais palpável da diferença de projeto de Estado entre PT e PSDB - ou no mínimo entre o goveno FHC e o governo Lula. Em 2006, a campanha petista conseguiu mudar a pauta da sociedade no segundo turno politizando o programa eleitoral e jogando temas de governo nos debates. Dessa vez, há mais resultados pra mostrar. Espero que seja possível mudar o canal novamente.

Marcão disse...

Testemunhei a mesmíssima coisa no tempo em que passei na Irlanda, ano passado. A crise estava pegando feio por lá, na época, e as notícias sobre crescimento do comério e da indústria e a geração de empregos no Brasil repercutiam muito - e com espanto. O Lula é visto como um dos melhores governantes de todos os tempos. Quando eu contava alguma história sobrer ter feito cobertura política em algum evento em que ele compareceu, era como se eu estivesse falando sobre ter encontrado o Pelé.

O engraçado é que, na escola onde eu cursava inglês, os professores puxavam esse assunto com os brasileiros durante as aulas de conversação, e os filhinhos de papai reagiam indignados, dizendo que aqui tudo é corrupção, roubalheira, o PT é uma quadrilha, o Lula é analfabeto etc etc etc. Os professores ficavam surpresos e confusos, pois, para eles, todos os brasileiros deviam estar dando pulos de alegria e muito orgulhosos do governo que tem.

Essa era a minha deixa para comentar que uma das provas de que o governo era bom era justamente o fato de a elite estar enfurecida, pois já não tem muitos dos privilégios que tinha antes e assistia horrorizada o acesso dos mais pobres aos bens, serviços e prazeres que, antes, só eles conheciam. Os professores, um inglês e outro irlandês (muito politizados), sorriam quietos, compreendendo. Só posso dizer que eu não era um aluno muito querido pelos coleguinhas...

fredi disse...

Neste ano, quando fui à Argentina e ao Uruguai, a sensação era exatamente a mesma.

Os argentinos chegavam a dizer que tinham inveja do Lula comparado aos Kirchner.

E mesmo o povo da direita lá achava a mesma coisa.

Um motorista de táxi, que falava mal dos kirchner a ponto de chamar Cristina de p... e era adepto de Macri, disse que o Brasil antes era um pedinte e agora havia se tornado uma potência, pagado sua dívida etc.

Como diz o Nivaldo, é esse o debate que está faltando.

Enquanto isso, discutimos de maneira rasa aborto, igreja etc.

Quanto aos filhinhos de papai de classe média/burguesia citados pelo Marcão, deixe eles morrerem com seu preconceito...

hrpman disse...

Estamos mudando,mas correndo o perigo do tucanato neoliberal volta!
Cruz credo!

Daniel disse...

Isso, deixem a classe média/burguesia com seus preconceitos...afinal, eles só bancam esta festa toda.

Bando de analfabeto político e econômico.