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"Sem medalha
olímpica, a gente volta pro buraco de novo". Era assim que o
lutador de taekwondo Diogo Silva avaliava sua participação, um
brilhante quarto lugar, nas Olimpíadas de Londres. Pode parecer
choro de perdedor, mas não é. O atleta, que é diferenciado não só
em sua modalidade, mas também em termos de consciência política,
já viveu exatamente essa situação.
Em 2004, Diogo
conseguiu um quarto lugar, feito histórico até então. E não houve
reconhecimento. Ao voltar para o Brasil, no aeroporto, ninguém o
esperou, ele pegou um ônibus e seguiu para casa.
Não conseguiu patrocínio também, embora alguns
contatos tenham sido feitos, mas nada que fosse realmente relevante.
“Eram propostas superexploradoras. Para ser explorado, preferia
ficar sem nada”, disse, nessa matéria.
Mas não foi só a sua classificação que chamou
a atenção em Atenas, em 2004. Na ocasião, ele repetiu o gesto de
por Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros rasos
nas Olimpíadas de 1968, no México. O gesto feito no pódio lhe
rendeu o banimento da competição pelo Comitê Olímpico
Internacional (COI). De novo remetendo à matéria
da Fórum:
“Sempre fui ligado a grupos de consciência
negra e era bem politizado. Pensei que o que eles fizeram foi
demonstrar o que sentiam: desprezo. E era isso que sentia naquele
momento. Desprezo.” A ideia era fazer o gesto no pódio, mas,
prevendo a derrota, levou a luva já para a semifinal. Conseguiu
chamar a atenção. “Logo depois do meu protesto, o ministro do
Esporte ligou pra gente conversar”, recorda. No entanto, o momento
de holofotes não durou. “Depois ninguém falava mais disso. Se
você não foi campeão, não medalhou, ninguém lembra de você.”
Oito anos depois, o
mesmo medo do esquecimento volta ao lutador. É necessário levar em
consideração as ponderações de Diogo Silva que, ao contrário de
muitos dos atletas que estão em Londres ou aqui, tem perfeita noção
do que representa e de qual é a situação de boa parte dos
esportistas brasileiros. Adriana Araújo, medalhista do boxe
brasileiro, por exemplo, só tem passagem de volta até São Paulo,
onde fica a sede da Confederação Brasileira de Boxe. Até sua casa,
em Salvador, quem banca a passagem é ela.
É hora, e o país tem
essa chance com as Olimpíadas do Rio em 2016, de pensar no esporte
de alto rendimento, mas também de aliar a massificação da prática
esportiva à educação. Assim, talvez possamos produzir mais atletas
com a consciência de Diogo Silva, que vão fazer valer os seus
direitos e o reconhecimento de quem pena para representar o Brasil.
Abaixo, o início da
matéria feita com Diogo Silva, após sua medalha de ouro no Pan do
Rio, em 2007:
As muitas lutas de Diogo Silva
Não era pra menos. Após a luta que decidiu o primeiro lugar da competição no taekwondo, na categoria até 68 kg, foi uma rotina incessante de entrevistas e compromissos. No dia da sua vitória, Diogo saiu do exame antidoping às 18 horas e até a meia-noite não parou de entrar ao vivo e fazer gravações nos mais diversos programas de televisão e rádio. Pouco tempo de sono depois, seu longo dia começou às seis e sua última entrevista foi às 11 da noite. Nem mesmo a segunda medalha do Brasil, de Thiago Pereira na natação, fez com que o assédio a ele terminasse.
Na verdade, o título pan-americano vinha sendo trabalhado desde 2006, com o lutador pensando justamente na possibilidade de tornar sua imagem mais visível em uma competição que mobilizaria toda a mídia brasileira, atraindo possíveis patrocínios. O fato de ser o ouro inaugural do país – algo que não era previsto – fez com que a projeção fosse maior que a esperada.
Mas o atleta já tinha atraído a atenção da imprensa anteriormente, na Olimpíada de Atenas, em 2004, quando conseguiu o quarto lugar, um feito histórico na competição mais importante do mundo para o esporte amador. A responsabilidade em representar o país era tamanha que fez uma vítima antes do início dos Jogos. Seriam escolhidos dois atletas na modalidade e a direção técnica tinha que decidir entre três. Mas houve uma desistência. “O atleta não suportou a pressão”, relembra. O mesmo tipo de estresse sofrido pelo lutador desistente também afetaria Diogo na sua volta dos Jogos.
No período de preparação para Atenas, ele havia passado três meses morando na Coréia do Sul, a pátria-mãe da modalidade. Foi um grão-mestre do país, Sang-Min-Cho, que introduziu o esporte no Brasil na década de 1970. Mesmo assim, Diogo avalia hoje que a quantidade de treinos foi um erro. “Eles eram excessivos e ainda tinha o choque cultural, comida diferente e a saudade de casa.” Após esse período, voltou ao Brasil e 40 dias depois estava em Atenas.
A sorte não estava do seu lado. Dos quatro favoritos, três caíram em sua chave. “Não tinha um trabalho tático, era chegar lá, lutar e ver o que dava.” Passou pela primeira luta, mas, na segunda, enfrentou o iraniano Hadi Saei Bonehkohal, que seria campeão olímpico. Como o adversário que o derrotou chegou à final, Diogo podia ir para a repescagem para tentar o bronze. Conseguiu chegar até a disputa da medalha, mas seu adversário era o sul-coreano Myeong Seob Song, um dos maiores do mundo. “A Coreia não tinha ganho nenhuma medalha até ali e tem um jogo político muito grande atrás disso. Um atleta sul-americano contra alguém de um país tradicional na modalidade pesa muito, por exemplo, na hora de validar um ponto”, sustenta Diogo. “Quando comecei, já sabia que não iria ganhar. Ele era bem mais técnico do que eu, mais bem condicionado, ali foi mais vontade mesmo.”
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