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terça-feira, julho 28, 2009

Mário Gobbi Filho, este intelectual

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O leitor Leandro mencionou em dois comentários (aqui e aqui) a recente declaração do dirigente do Corinthians Mário Gobbi Filho em resposta a protestos de torcedores pelo "desmanche" por que passa o time. O parceiro Vertebrais Futebol Clube mostrou com precisão um aspecto importante da "bola fora" de Gobbi, ou seja, como ele "errou" ao não esclarecer as reais razões por que um clube não consegue manter os craques no elenco por muito tempo, em vez disso perdeu a oportunidade de ficar calado e cuspiu grosserias à torcida.

Mas o "erro" de Gobbi vai um pouco além. Vamos ao que ele disse, em entrevista ao Globo Esporte:

– Não podemos cair nesse discurso medíocre e hipócrita de torcedor de arquibancada, que não tem cultura para falar disso. É ignorar que o objetivo final do futebol seja dar retorno financeiro ao clube. Não há desmanche, há um ciclo no futebol – opinou Gobbi.

O senhor Gobbi tem a si mesmo em tão alta conta, mas tão alta conta, que não se considera nem medíocre, nem hipócrita, nem inculto – portanto não é como esses corintianos favelados e ignorantes, esses que se autodenominam maloqueiros e sofredores. Que me perdoe este intelectual, mas na minha modesta opinião a sua segunda frase é uma pérola rara, para se gravar no bronze.

É incrível a inspiração de certos burocratas ao declarar o seu amor incondicional às atividades meio. Olha só que impressionante: o time de futebol é uma coisa que existe, segundo Gobbi, não para jogar futebol e ganhar títulos; até faz isso, claro, é inevitável, mas o seu objetivo final é outro, é gerar dinheiro para o clube.

Corrijam-me os semiólogos se eu entendi errado, mas minha impressão é de que o senhor Gobbi discordaria absolutamente de mim se eu dissesse que a a direção do clube tem a obrigação de fazer a sua boa gestão financeira, que inclui a compra e venda de jogadores, com o objetivo final (este sim) de manter o time jogando bem, garantir certo equilíbrio no elenco, sem grandes quebras entre os picos de qualidade. Num momento em que o clube dá mostras de que pode disputar e vencer o título do mais importante campeonato nacional, visando ainda a chegar em boas condições de disputar o continental, isso é crítico.

Uma discreta inversão de valores: o futebol existe para o clube, não é o clube que é uma estrutura administrativa que existe para o futebol. Me lembrei de uma célebre declaração do ditador João Batista Figueiredo (na foto) em resposta à ingênua pergunta de um repórter: "mas presidente, e o povo?". O que ele retrucou foi: "O povo?! Ora, o povo não me interessa, o que interessa é o Brasil".

Se a gente pensar a coisa pelo avesso, será que os medíocres, hipócritas e incultos "torcedores de arquibancada" não têm alguma razão em protestar quando veem metade do time (a metade melhor) ir embora? Independente da justificativa que se dê? Não seria este um erro ou pelo menos um problema de administração que deve ser explicado, justificado, pelos responsáveis?

O torcedor de arquibancada talvez não precise de muito mais que um futebol decente para ver e alguma esperança de que o time possa ser campeão. (Alguns precisariam apenas de uma cerveja.) No meu modo de entender (serei hipócrita? ou medíocre?), ele é uma importante razão de ser do espetáculo, e não um incômodo, uma excrescência com a qual os dirigentes infelizmente se veem obrigados a conviver. Mas, se os gênios proliferam no futebol de hoje, nós certamente não estamos entre eles.