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quarta-feira, janeiro 28, 2009

Tudo menos a cervejaria

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Já que estou na toada da ciência e tecnologia... os EUA, cuja universidade é considerada hoje o modelo para o mundo em termos de produção científica e tecnológica, importaram o seu sistema universitário da Alemanha. Tanto que o sociólogo Max Weber disse certa vez que se alguém quisesse conhecer o desenvolvimento da universidade alemã deveria ir aos Estados Unidos. O padrão alemão reproduzido nos EUA consiste na organização em departamentos, no foco em pesquisa e na pós-graduação, a constituição de sociedades de pesquisa e na publicação de periódicos científicos.

Essas coisas eu aprendi numa palestra com a pesquisadora de educação Mirian Jorge Warde, professora da PUC-SP. Esse decalque do sistema teve no entanto uma adaptação importante (à qual naturalmente se seguiram muitas outras, pois os estadunidenses foram re-inventando à sua forma e conforme suas necessidades o seu sistema): ela conta que os estadunidenses importaram tudo, menos a cervejaria. Opa! Aí começa a parte interessante da história.

As universidades alemãs são bastante antigas, e em torno delas, como em torno de tudo no país de Beckenbauer, foram naturalmente se abrindo cervejarias (como a famosa Löwenbräu, de Munique, na foto ao lado), com o propósito de acolher os alunos após as atividades acadêmicas. Antes que alguém diga que este aspecto foi muito bem incorporado ao sistema universitário brasileiro, é preciso entender como as cervejarias se articulam com as aulas. Acontece que na Alemanha essas aulas são estruturadas na forma de leituras (a Lektüre), ou seja, explanações curtas, com começo, meio e fim, sobre um tema ligado às pesquisas deste professor.

As informações básicas, aquelas que qualquer um pode encontrar em livros, essas o professor nem aborda, já dá como pressuposto. Os alunos se viram, estudam, e fazem exames no fim do ano, pronto. Mas nas aulas vão ter contato com conhecimento de ponta, aquilo com que seus professores estão lidando naquele momento. Claro que surgem muitas dúvidas e abrem-se muitos caminhos para elucubrações, divagações, explanações... A cervejaria é então o foro adequado para se desenvolver os debates. Adequado sobretudo porque livre, democrático, animado e descompromissado: os manguaças intrigados pela palestra não têm que prestar contas a ninguém, e podem realmente levar ao limite as discussões.

Os estadunidenses, segundo a professora Warde, teriam "incorporado" a cervejaria à sala de aula, deixando sempre um tempo final aos debates. Perderam o principal, claro.

Mas está aí mais um aspecto a ser incorporado no Manguaça Cidadão: implantação de estruturas de excelência e adequadas à discussão científica nos arredores das nossas universidades. Mas nada de copiar a cópia: vamos direto à fonte alemã.