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Entrevista com Milena
Franco, da Galo Queer.
Por
Nicolau Soares
Futepoca – Como
surgiu o movimento? Quais suas motivações?
Milena
Franco – Sou atleticana desde sempre, mas
recentemente comecei a estudar gênero e teoria feminista e, por
isso, da última vez que fui ao estádio, fui com um outro olhar, e
fiquei muito incomodada com a homofobia e o machismo generalizados e
naturalizados por todos, mesmo por parte de pessoas que, fora do
estádio, têm uma postura política de respeito à diversidade.
Dessa angústia surgiu a ideia de fazer um movimento e várias
pessoas gostaram da ideia e se juntaram a ele. Agora o movimento
cresceu e é constituído por muitas pessoas. Somos atleticanos de
várias idades, gêneros, profissões e orientações.
Futepoca – A repercussão surpreende? Como está se dando esta repercussão, tanto positiva quanto negativa?
Milena – A repercussão surpreendeu muito. Nunca imaginei uma repercussão dessa magnitude. Fiz a página apenas para divulgar entre meus amigos, pensando que algum dia poderíamos nos organizar pra fazer algo maior. Mas em três dias a página foi curtida por mais de 3.000 pessoas. Acho que atendemos a uma demanda silenciosa. Pelo visto, muita gente que gosta de futebol já queria dar esse grito contra o machismo, a homofobia e a intolerância e ficamos muito emocionados com todas as manifestações de apoio. Infelizmente, há também muita repercussão negativa, mas isso já era esperado, já que estamos mexendo em um terreno muito machista e conservador, que é o do futebol. O problema são as ameaças que recebemos. As pessoas se oporem ao movimento é totalmente aceitável, mas ameaça não..
Futepoca – Há a ideia de levar isto à direção do Galo?
Milena – Ainda não recebemos uma resposta do time. Ficamos sabendo, no entanto, através da reportagem do Globo Esporte, que a diretoria é favorável ao movimento e ficamos muito felizes de ver que o nosso time tem essa postura de respeito á diversidade e combate ao preconceito.
Futepoca – A repercussão surpreende? Como está se dando esta repercussão, tanto positiva quanto negativa?
Milena – A repercussão surpreendeu muito. Nunca imaginei uma repercussão dessa magnitude. Fiz a página apenas para divulgar entre meus amigos, pensando que algum dia poderíamos nos organizar pra fazer algo maior. Mas em três dias a página foi curtida por mais de 3.000 pessoas. Acho que atendemos a uma demanda silenciosa. Pelo visto, muita gente que gosta de futebol já queria dar esse grito contra o machismo, a homofobia e a intolerância e ficamos muito emocionados com todas as manifestações de apoio. Infelizmente, há também muita repercussão negativa, mas isso já era esperado, já que estamos mexendo em um terreno muito machista e conservador, que é o do futebol. O problema são as ameaças que recebemos. As pessoas se oporem ao movimento é totalmente aceitável, mas ameaça não..
Futepoca – Há a ideia de levar isto à direção do Galo?
Milena – Ainda não recebemos uma resposta do time. Ficamos sabendo, no entanto, através da reportagem do Globo Esporte, que a diretoria é favorável ao movimento e ficamos muito felizes de ver que o nosso time tem essa postura de respeito á diversidade e combate ao preconceito.
Futepoca – Qual a
dimensão da homofobia e do sexismo no futebol brasileiro hoje? Qual
a importância de se mudar isto?
Milena
– Há muito machismo e muita homofobia no futebol e
estes são temas totalmente intocados. Enquanto essas arenas de
exceção continuarem existindo, arenas onde o preconceito é
permitido, o preconceito e a intolerância nunca acabarão. Discutir
machismo e homofobia no futebol é uma questão urgente.
Futepoca – Após a repercussão inicial do Galo Queer, uma página similar foi criada levando o nome do Cruzeiro e posteriormente várias outras torcidas de times de todo o Brasil. O que vocês acham disso?
Futepoca – Após a repercussão inicial do Galo Queer, uma página similar foi criada levando o nome do Cruzeiro e posteriormente várias outras torcidas de times de todo o Brasil. O que vocês acham disso?
Milena
– Achamos as iniciativa muito boas. A rivalidade faz
parte do futebol, mas a homofobia não. E é por isso que é
importante que haja um movimento amplo de combate à homofobia e ao
machismo dentro do futebol. Claro que temos orgulho do pioneirismo,
mas é essencial que o movimento se espalhe. Ficamos muito felizes.
Futepoca – Vocês
pretendem levar o movimento para o estádio?
Milena
– Frequentamos o estádio e temos sim esse objetivo.
Mas queremos fazer tudo com calma e no momento certo, é preciso
garantir a integridade física de todos os participantes.
Infelizmente a intolerância é muito grande e, a julgar pelas
ameaças que recebemos na página, sabemos que não será fácil
fazer protestos no estádio. Estamos pensando na melhor forma de
fazer isto. Mas o legal é que o movimento já começou a ir para o
estádio naturalmente, recebemos fotos de torcedores do Galo que
foram ao Mineirão no último jogo (contra o Villa) com cartazes de
apoio à Galo Queer e repúdio à homofobia. O triste foi saber que
os seguranças do estádio não permitiram a entrada dos cartazes,
com a justificativa de que "eles não tinham nada a ver com
futebol". E depois falam que o "políticamente correto"
é que faz censura.
Futepoca – Vocês
estão em contato com as outras torcidas anti-homofobia que surgiram
após a criação da Galo Queer?
Milena
– As outras torcidas anti-homofobia que surgiram
entraram em contato com a gente apenas para pedir ajuda na
divulgação. Mas estamos dispostos a, no futuro, organizar alguma
ação conjunta com as outras torcidas.
Futepoca – O que
vocês acham de expressões como "Maria" e "Bambi"?
Milena
– Expressões como "bambi" e "Maria"
são sim sintomas de uma cultura homofóbica. Se você não é
homofóbico nem machista, você simplesmente não usa tais termos
para ofender alguém. A rivalidade pode se expressar de várias
outras formas que não alimentem uma cultura opressiva. O argumento
de que "brincadeiras" desse tipo fazem parte da cultura do
futebol não se sustenta, a escravidão também fazia parte da nossa
cultura há alguns séculos atrás, mas a cultura é mutável, ainda
bem.
Futepoca – Na sua
opinião, os clubes brasileiros, a CBF e as federações não tratam
da forma devida o combate à homofobia no futebol? E a mídia
esportiva?
Milena
– Não. Acreditamos que não há nenhum empenho da
CBF em combater a homofobia e o machismo no futebol. Em outros
lugares do mundo existem iniciativas super interessantes, como a
campanha
da Holanda, mas no Brasil não há nada
parecido. A mídia esportiva parece seguir a mesma linha da CBF,
apesar de que ficamos felizes de ver tantas matérias sendo feitas
sobre a Galo Queer e as demais torcidas anti-homofobia e
antissexismo, parece que as coisas estão começando a mudar.