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Foi curiosa a justificativa do voto do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo arquivamento da denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal a partir de inquérito da Polícia Federal contra Antonio Palocci. O deputado federal e ex-ministro da Fazenda era acusado de ter mandado violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que testemunhava na mídia e na CPI dos Bingos sobre a "República de Ribeirão", uma mansão onde havia festas (ou orgias) com lobistas.
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
"Não há dúvida quanto ao recebimento por Palocci dos extratos, mas não foi ele quem acessou a conta, e sim, funcionários da Caixa, autorizados por suas competências funcionais a acessar os dados".
Então ele recebeu os extratos, mas não violou. Teve com a papelada em suas mãos, mas não olhou.
À minha cabeça (fervilhando bem menos do que a do réu na foto) veio a famosa declaração do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, quando disputava a eleição, em 1996. Inquirido se já havia fumado maconha, ele respondeu: "Fumei, mas não traguei". Tudo bem que o legado de Monica Lewinsky e do promotor Kennedy Star e as aulas sobre o que é ou não relação sexual teve mais projeção do ponto de vista do folclore político.
O agora defensor da descriminalização das drogas Fernando Henrique Cardoso teria dito: "fumei mas não gostei". O condicional "teria" se justifica por todo o ranço dos desmentidos à ainda mais polêmica "esqueçam o que eu escrevi".
Por outro lado, é melhor o ex-ministro se safar com o "vi mas não li" do que com um "me perseguem pelo que eu represento pra..." em que "..." pode ser substituído por "a esquerda deste país", a luta de algum setor da sociedade, a liberdade de expressão, a governabilidade da gestão do presidente Lula etc. E aqui não quero desprestigiar os representantes do que quer que seja, porque essa é ainda uma retrospectiva por vir.
O Palocci era alvo de denúncias porque era quem faltava atacar na cúpula do governo, depois das quedas de José Dirceu e Luiz Gushiken, em 2005.
Mas ele poderia representar uma candidatura que empolgaria menos a petistas do que a certos setores do empresariado. O passado trotskista, com direito a passagem pela Libelu e tudo, se transformou em uma trajetória no comando da economia de opções conservadoras. Apesar de ele considerar natural a reação do PT à época, não quer dizer que o ressentimento entre os críticos tenha passado. Mesmo ele se considerando certo ao fazer o que fez na economia, não quer dizer que não poderia ter sido mais favorável ao crescimento.
Então, se fosse para representar algum setor, teria gente que diria que ele representou a "traição" do governo de Lula. Outros diriam que representou uma das faces pragmáticas da gestão. Outros a simples oportunidade que as pessoas têm de mudar de ideia.
Mas esse retrospecto, aliado às 21 denúncias arquivadas – a maioria por falta de provas – contra ele durante suas gestões como prefeito de Ribeirão Preto e como ministro da Fazenda, tornam-no "o cara" de Lula para enfrentar o PSDB de José Serra e Geraldo Alckimin em São Paulo em 2010? O Emídio de Souza, então pré-candidatíssimo, já disse que sim.
Pessoalmente acho que não é tão simples.