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segunda-feira, março 05, 2007

Sobre lança-perfume e rinhas de galo

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Estou lendo “Jânio Quadros – O Prometeu de Vila Maria”, do jornalista e semiólogo Ricardo Arnt. O livro, publicado pela Ediouro em 2004, faz parte da coleção “Avenida Paulista”, uma série de perfis de personalidades que marcaram a maior cidade do país. Por isso, não se trata de uma biografia, mas de um ensaio sobre o “fenômeno Jânio Quadros”, sem a pretensão de exaltá-lo ou execrá-lo.
Além da trajetória de glória e ruína do político, o livro traz detalhes sobre uma das faces mais polêmicas de Jânio: o moralismo exacerbado. Um aspecto curioso, já que seu pai, Gabriel Quadros, era médico e fazia abortos de prostitutas no bairro Bom Retiro. Segundo quem o conheceu, era mulherengo, irascível, emocionalmente desequilibrado e dado a exibicionismos e valentias (qualquer semelhança entre pai e filho, portanto, não é mera coincidência).
Na esteira de Jânio, elegeu-se vereador e deputado, sempre fazendo oposição – e massacrando – o filho. Em maio de 57, o governador Jânio Quadros, visivelmente constrangido, teve de comparecer ao velório do pai, que foi morto a tiros por um feirante na Mooca. Ele tinha roubado a mulher do feirante (uma empregada doméstica que era sua amante) e estava tentando levar também os filhos gêmeos da mulher, que alegava serem seus.
Outra revelação sintomática tem a ver com a expressão facial insana de Jânio, motivada pelo olho esquerdo, paralisado após um acidente na adolescência: a explosão de um vidro de lança-perfume. Como vingança, não sossegou até proibir a venda do produto no país. Já a proibição das rinhas de galo teria ocorrido depois que o pai de uma de suas amantes, Adelaide Carraro, foi assassinado em um desses locais.
E o mesmo Jânio que regulamentou as medidas dos maiôs em concursos de miss era freqüentador assíduo de um bordel na rua Martins Fontes e foi acusado inúmeras vezes de assédio sexual. Hebe Camargo revelou, em 1987, que ele a assediava insistentemente por telefone, quando estava na presidência. Isso sem falar na bebedeira constante, assunto que renderia muitos outros posts. Jânio era uma personalidade psicologicamente interessante, em termos de discurso e prática. Só por isso, o livro já vale apena.