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Em 1997, no Clube de
Regatas Santista, o Raimundos terminava seu show por volta das três
horas da manhã, e apenas uma das cinco escadarias para a saída
estava liberada. O excesso de pessoas e, consequentemente, de peso,
fez os degraus cederem e o resultado do pânico que se instalou e do
despreparo do clube foi um saldo de oito mortos e 63 feridos.
Não havia internet e
só soube do acidente pela namorada de um amigo, que me acordou no
dia seguinte com um telefonema angustiado. Ele havia ido ao show e
ela não conseguia localizá-lo; o desencontro de informações fazia
com que se pensasse no pior. Comecei a ligar pra outros amigos pra
saber se ele havia dormido na casa de algum deles, já que não
estava em casa. Como não havia nenhum telefone para informações,
liguei para a redação do jornal A Tribuna. Ali, perguntei se
tinham a lista de mortos e feridos, e havia somente a de óbitos.
Perguntei pelo meu amigo, Kléber, e dei o nome, mas meu interlocutor
falou que só iria ler a lista, e não conferi-la. Respirei fundo,
àquela altura já com taquicardia, e pedi para ele fazer aquele
favor. Não constava o nome na lista, e depois viemos saber que ele
havia dormido na casa da madrinha.
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Deivid Dutra / Agência Freelancer |
Além de não haver internet, celular era artigo de luxo. Conhecia muitas pessoas que nem telefone
residencial tinham. Hoje, a tragédia ocorrida em Santa Maria, que já
conta mais de duas centenas de mortos e outros tantos feridos,
repercutiu rapidamente em todo o mundo por conta das novas
tecnologias. Mas estas também criaram uma cena típica de um filme
de terror ou de catástrofe.
Foi ouvindo a Rádio
Bandeirantes, no Domingo Esportivo do Milton Neves – aliás, nesse
tipo de cobertura, as emissoras de rádio batem a internet e dão
goleada nas TVs –, que escutei um depoimento chocante. Um
tenente-coronel contou que, ao chegar no local da tragédia, viu a
triste cena de vários corpos no chão, obstruindo que se chegasse
até o fundo da casa noturna. Ao mesmo tempo, uma sinfonia macabra de
sons de celulares, tocando de forma incessante melodias distintas,
enquanto os bombeiros e o pessoal do resgate tentavam achar
sobreviventes e remover os corpos. Os aparelhos tocavam no chão, nos bolsos e nas bolsas, sem parar. Mais tarde, um soldado pegou um
dos celulares e viu 104 chamadas perdidas. Impossível não pensar e
se comover com a angústia daqueles que buscavam notícias de suas
pessoas queridas.
Nossos sentimentos a
todos.