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sábado, fevereiro 28, 2009

Em busca do marafo perdido – Capítulo 4

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MARCÃO PALHARES

Nevoeiro. Denso, cerrado, intransponível. Saio da neblina e entro numa casa. Tudo difuso, vago. Não enxergo claramente. Há um vulto, uma mulher sorrindo – ou algo do tipo. Me oferece uma garrafa esverdeada. Tento alcançar, mas a distância aumenta. Ela começa a gargalhar. A garrafa cai no chão e se estilhaça. Eu grito. E desperto do sono profundo...

Sol na cara, muito forte. Os olhos embaçados não suportam a claridade excessiva. Deve ser meio-dia ou perto disso. Estou deitado num beco, dentro de uma lixeira. Os lábios doem. A cabeça lateja. O corpo está moído. A boca seca guarda um gosto horrível de bebida fermentada, areia e sangue. Acho que arrumei briga. E acho que apanhei muito.

Tento levantar, zonzo. O sol desnorteia as ideias. Quando comecei a beber, chovia e fazia frio. Deve ter sido há muitos dias. O clima agora é exatamente inverso. Calor, sede, tontura. Alguma coisa está errada, alguma costela fora do lugar. Ponho os pés no chão – e desabo. Calça suja, pés descalços, camisa rasgada e repleta de sangue seco. Um cheiro azedo de cerveja.

Levanto, caio novamente. Rastejo e me apóio na parede. Vou cambaleando, meio louco de dor, tremedeira e uma vontade apavorante de morrer. Preciso beber alguma coisa. Chego na porta do bar e ele está fechado. Tudo bem: não tenho mais dinheiro, mesmo. Nem carteira, nem documentos, nem nome, nem futuro, nem alma, nem nada. Tanto faz.

Deito na calçada, meio morto. Passa uma nuvem e a sombra alivia um pouco os olhos doloridos. Tento ficar sentado. Chega uma senhora e me atira umas moedas. Os dedos trêmulos fazem um esforço desumano até conseguir reuni-las. Dois contos e vinte e cinco centavos. Acho que está na hora de voltar a beber. E retirar o lucro líquido de uma vida bruta. Salute!

quarta-feira, maio 28, 2008

Você tem medo de quê?

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Da última vez que reboquei meu corpo ao Bar do Vavá, levei um papo (de bar, óbvio) deveras interessante com o camarada Don Luciano, basicamente, sobre como o medo é a base e/ou força motriz de quase tudo na sociedade ocidental dita civilizada: política, religião (futebol dentro disso), relações sociais, escolhas, preferências, paranóias, desvios, vícios etc etc. O assunto vai longe e, por isso, durou até a última garrafa possível, com a porta do bar já descerrada.

Curiosamente, dois dias depois, recebi um emeio que dizia o seguinte: "O dicionário 'Aurélio' define medo como 'um sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real, imaginário ou de uma ameaça'. Fala ainda em 'susto, pavor, temor, terror'. Nos anos 30, o médico inglês Edward Bach, com base na constatação de que a falta de harmonia interior era a principal causa de doenças – se dedicou a criar um sistema de cura natural que fosse acessível a todas as pessoas".

Tratava-se de uma propaganda dos tais Florais de Bach, ressaltando que "fazem parte do Grupo do Medo cinco florais: Mimulus, Aspen, Rock Rose, Red Chestnut e Cherry Plum". Não resisti e encaminhei o emeio para o Don Luciano, com a ressalva de que, "agora sim, todos os nossos problemas estão resolvidos!". Ele me respondeu o seguinte: "Fantástico, depois desse grande texto, deveríamos nos dedicar mais a essa parte filantrópica que faz parte da nossa busca cotidiana para nos tornar pessoas menos indecentes e formular os preceitos de uma nova(?) religião(?): os FLORAIS DE BAR".

E ainda sugeriu quatro deles, todos com alto teor alcoólico: Caipirense (para não ter vergonha de falar com a língua mole), Casa Grande (para quem nunca consegue chegar na porta de casa), DaKana (para quem tem medo de acordar no xadrez) e Pitu (para quem tem medo de acordar com dor no local onde as costas mudam de nome). É ou não é uma idéia revolucionária?