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quarta-feira, novembro 14, 2012

Um cachorro no Bar das Putas

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A história é verídica. No tradicional Sujinho, no centro da cidade, também conhecido como Bar das Putas, saboreio um belo filé mignon ao ponto com cebola assada, regado a Serra Malte, acompanhado de minha namorada. Por força do hábito, mesa na calçada, com vista para o trânsito da Consolação.

Na metade da segunda cerveja, chega um casal com um carrinho de bebê. Quer dizer, não exatamente. O olhar mais atento revela que o passageiro é um cachorrinho, desses peludos e pequenos. O veículo mesmo tem o tamanho adaptado para suas pequenas e barulhentas proporções.

O casal toma assento na mesa ao lado e pede uma salada, uns sucos e um contra-filé. O bichinho fica no carrinho, olhando para a dona. Quando chega a salada, começa a latir estridentemente. Os pedaços de verdura que a dona lhe dá na boca acalmam por pouco tempo. O silêncio só vem quando a dona, sorridente, pega o bichinho no colo. “No carrinho ele fica mais longe, por isso está agitado”, diz.

Chega a carne e o bicho volta a cobrar seu quinhão. O marido entra no jogo e dá um pedaço do bife para o cachorro, em vão. “Você deu carne, agora não pára”, diz a moça, ainda sorridente.

Por sorte, e é raro ouvir essa frase de minha pessoa, a cerveja acabou logo e fomos embora.

quarta-feira, novembro 16, 2011

É frescura. Mas se fosse cachaça...

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O segurança está na porta de um shopping center no centro de São Paulo e dialoga aos brados com um colega, à paisana, recém-saído do serviço e aprontado para as 36 horas de folga que se seguem às 12 em ritmo de plantão. A experiência do tempo livre mais recente do que assumiu o posto foi nova, inédita e reveladora. Com a patroa, o segurança foi a outro centro de compras, para adquirir sabe-se lá o quê.

A mulher e ele, empregados, e a vida dá até para agrados. Novo também era o programa pós-consumo.

– A mulher quis tomar café nuns lanches chiques do shopping. Não pense que era barato, porque não era – avisou.

O interlocutor só dava corda, não interrompia.

– Você já tomou café em um lugar desses?

O colega de trabalho disse que já tinha, mas não demonstrou lá muita confiança. É que, enquanto o fardado segurança descrevia o ritual de servir café expresso, o outro hesitava. Era o grão moído na hora, uma bolacha ou docinho qualquer ao pires, um pouco de água com gás para limpar o paladar e todo o barulho que o maquinário produz sob o comando do barista de plantão.

Para alguém acostumado ao café de coador, provavelmente adoçado, aquilo tudo era experimentar coisa muito diferente.

– Eu achei estranho. O café até que era bom, com a espuminha e tudo. Mas aí a moça pega e me põe um copinho. Eu digo: "Que é isso? É pinga". Frescura do cão! Um copinho desse assim de água (gesticula com o indicador e o polegar). Nem tira a sede e ainda dá vontade de tomar uma cana... Frescurada, eu digo.

Mas se fosse cachaça...

sexta-feira, dezembro 18, 2009

A despedida de Elias

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Por Mouzar Benedito

 

Quando Elias completou 31 anos como lateral esquerdo da Esportiva Nova Resende, resolveram fazer para ele uma festa de despedida do futebol, sem que ele soubesse. Um detalhe: os 31 anos não eram de idade (que devia estar por volta dos 50), mas só o tempo dele como titular do time. Se deixassem, ele continuaria ainda. A festa foi um jeito sutil de tirá-lo pelo menos da equipe principal.

A despedida seria contra o time da Ventania, que topou o acerto: a primeira bola que fosse na sua área, um zagueiro deveria pôr a mão intencionalmente. O Elias seria encarregado de bater o pênalti e o goleiro tinha a obrigação de não defendê-lo. Aí seria feita uma grande badalação, com discursos e tudo o mais. Depois recomeçaria o jogo, já com outro titular na lateral esquerda da Esportiva. E alguém daria também um pênalti intencional a favor do time da Ventania. Só daí pra frente o jogo seria pra valer.

Desde meia hora antes do início do jogo, todos os seresteiros da cidade se revezaram num microfone improvisado em cima de um caminhão, cantando "Ave Maria do Morro", a música preferida do Elias.

Com todo mundo em campo, fez-se um minuto de silêncio em homenagem a um ex-craque da Esportiva, que tinha morrido dias antes. Em seguida, o juiz deu o início à partida e tudo correu conforme o combinado.

Aos cinco minutos de jogo, veio o pênalti. Elias bateu e marcou o gol, foi carregado pelos jogadores até o caminhão que servia de palanque. O presidente do time discursou rememorando os grandes momentos do jogador que se despedia, o prefeito falou em seguida sobre o grande cidadão que honrava a cidade e, pra completar, foi designado para falar, representando os jogadores, o meia-direita Luizinho do Lica. O que ele fez não foi bem um discurso, falou apenas isso:

— Olha, gente, só de minuto de silêncio, o Elias tem um ano e meio!



Mouzar Benedito é amigo dos integrantes do Futepoca e, tal como eles, é apreciador de cachaça boa e já foi jurado do festival da cachaça de Sabará. Saciólogo, geólogo e jornalista, é autor dos livros João Rio, 45; 1968, por aí, entre outros.

terça-feira, outubro 20, 2009

Chute forte

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Por Mouzar Benedito


Mata do Sino é um lugarzinho bonito no município de Juruaia, Sul de Minas. A paisagem montanhosa impressiona bastante, mas representou durante muito tempo uma dificuldade para se jogar futebol: não tinha um lugar plano com tamanho suficiente para se fazer um campo. Não digo estádio, mas apenas um campo mesmo, com largura de pelo menos cinquenta metros e comprimento de uns setenta.

O único lugar que arrumaram, que aplainando um pouco (não existiam máquinas de terraplenagem por lá) podia ter essas dimensões, sobrando pirambeiras bem íngremes dos dois lados, foi na saída para Nova Resende, mas com um problema: a estrada passava pelo meio do campo. Mas antes isso do que nada. Assim, lá era o único lugar que tinha uma regra diferente mesmo nos jogos oficiais: quando apontava um veículo qualquer se aproximando do campo para atravessá-lo, paravam o jogo, mas sem tirar a posse da bola do jogador que estivesse com ela, e depois que o veículo passava o jogo continuava. Ainda bem que o movimento de veículos lá era muito pequeno, na época.

Em Nova Resende não chegou a ser assim. Não tinha um terreno plano, mas um com um declive pouco acentuado, que tinha espaço suficiente para se fazer um campo até maior, com largura para uma futura arquibancada e tudo mais, até um vestiário. Bastava aplainar. Assim foi feito, e o campo ficou até grande e bom, virou Estádio Olegário Maciel, nome da rua em que se situava, e mais tarde, já com muros e até uma pequena arquibancada, Estádio Vicente Maldi, em homenagem a um antigo e fanático torcedor que por sinal teve uns dos filhos que foi um beque lendário na Esportiva Nova Resende, o Vâni. Outro filho, Cesário, foi goleiro.

Bom, mas antes da arquibancada, muita gente assistia aos jogos de pé, nas laterais do campo. Porém, muitos preferiam ficar em cima de um barranco, atrás do chamado “gol de cima”, pois depois de aplainado o campo sobrou um declive forte atrás do “gol de baixo” e um barranco de mais ou menos um metro e meio atrás do outro, que por sinal era vizinho ao cemitério. Chutes muito altos caíam dentro do cemitério e era uma diversão para a molecada pular o muro e disputar quem achava a bola no meio dos túmulos.

E quando algum jogador se machucava, ficando estatelado no chão, a torcida gritava animada: “Joga no cemitério”.

Explicado isso, vamos ao que justifica o título desta crônica.

Zeca, pescador e caçador que garante nunca ter contado uma mentira em toda a vida, um dia assistia a uma discussão no “Bar Esportiva Nova Resende” sobre quem tinha o chute mais forte em toda a história do futebol da cidade. Uns diziam que era o Celinho, que jogava na Esportiva e mudou-se para Juruaia. Era beque de espera, e os tiros de meta que batia atravessavam o campo e caíam atrás do gol adversário, às vezes até dentro do cemitério. Outros diziam que era o Toniquinho, e havia quem defendesse o Zé Leopoldo...

No meio da discussão, Zeca, que estava calado até essa altura, resolveu entrar na conversa e todo mundo se calou, sabendo que ele tinha sempre alguma coisa "inédita" pra contar (e quem é que tinha coragem de chamar suas histórias de mentira?).

— Não é nenhum desses aí. O chute mais forte que já teve aqui era o do Tião Folheiro.

— Como é que o senhor sabe? — provocou o Alcindo.

— Rá! Eu era menino quando reinauguraram o campo da Esportiva, que foi aplainado, acabando com a inclinação. Fiquei sentado no barranco, bem atrás do gol, e vi o primeiro pênalti batido nesse campo novo, pelo Tião Folheiro. Sabe o que aconteceu?

— Nunca ouvi falar!

— A bola enterrou um metro e meio no barranco!



Mouzar Benedito é amigo dos integrantes do Futepoca e, tal como eles, é apreciador de cachaça boa e já foi jurado do festival da cachaça de Sabará. Saciólogo, geólogo e jornalista, é autor dos livros João Rio, 45; 1968, por aí, entre outros.

domingo, julho 05, 2009

O Salomão do futebol

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O amigo dos futepoquenses e escritor Mouzar Benedito (que já teve lançamento de livro comentado aqui), nos deu a dica de uma crônica que tem muito a ver com os temas desse blogue. A história faz parte da obra Santa Rita Velha Safada, da Editora Busca Vida e mostra um pouco da sapiência dos árbitros que andam por aí...

O Salomão do Futebol

O time de futebol de Santa Rita Velha estava jogando na vizinha cidade de Presépio, contra seu adversário, o Presépio Sport Club. A bola, velha e meio torta, meio oval, não atrapalhava em nada a qualidade de jogo. Combinava bem com a forma de jogar dos dois times.

Aos 40 minutos de jogo, a bola sobrou pingando para o centroavante Cavadeira, de Santa Rita, que encheu o pé, chutou com toda força mas o goleiro estava bem colocado e pulou, agarrando a redonda no peito.

Acontece que a bola não resistiu. Ao bater no peito do goleiro, estourou, e ele ficou segurando o capotão, enquanto a câmara do ar soltou pra dentro do gol. Aí começou a discussão.

Os jogadores de Santa Rita começaram a comemorar, gritando que valia, era a cãmara
de ar, enquanto os de Presépio afirmavam que o capotão era que valia e este o goleiro pegou. Os 22 jogadores e mais os reservas falavam sem ninguém ouvir:

- O que vale é a câmara...

- Não foi gol não, om capotão não entrou...

Quando já estavam partindo pra briga foi que o juiz resolveu fazer valer sua autoridade:

- Priii, priiii, priiii - apitava alucinado para chamar a atenção dos jogadores, até que resolveram ouvi-lo.

- Quem entende de regra aqui sou eu! Eu é que sei o que vale e o que não vale.

- Então como é que é? É gol ou não é?

- Tá na regra: quando a câmara de ar entra e o capotão não entra, vale meio gol!

Foi o único jogo até hoje que terminou meio a zero.